O Lago Azul escrita por Yoopí


Capítulo 3
Capítulo 3.


Notas iniciais do capítulo

"Vivemos em cidades que você nunca verá na TV
[...] Vivendo nas ruínas em meus sonhos.
E, você sabe,
estamos no mesmo time."

Team - Lorde.



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Tinha se passado exatamente uma semana, e minha vida em Megalópodes estava estabilizada. Ta bom, não a minha vida, mas os empregos dos meus pais, a casa e a escola estava certo. Meu pai continuava no Jornal, mas agora de Megalópodes, e minha mãe começou cuidar de crianças na parte da manhã.

Eu já estava me acostumando com essa mudança. As roupas não podiam ser qualquer uma, porém meu quarto estava cheia de qualquer roupas. Todo mundo ia estiloso como em uma festa para escola, e eu me sentia completamente diferente com as roupas simples. Era ignorada como se estivesse invisível.

Apesar disso, os professores me apresentaram e fizeram todos dizerem um breve "Olá". As carteiras eram novas e individuais. As paredes pintadas de Azul escuro como o oceano e subiam clareando, e, ao alcançar o teto, eram da cor do céu. As cortinas eram brancas e junto a parede lembravam as nuvens.

Tudo era diferente do que já se tinha visto em Atacity. Os professores davam aulas em losas digitais. As aulas eram dadas em "slides" e os alunos só anotavam o necessário. Menos eu, escrevia tudo, na esperança de poder mostrar aos meus velhos amigos aquilo que era de pouco conhecimento.

Era uma terça-feira, estava me sentindo super bem, apesar de tudo. Vestia roupas confortáveis, porém procurei a melhor do meu guarda-roupa. Meu cabelo preso. Almoçava enquanto fazia os exercícios de matemática.

Estava sentada na mesa mais perto da porta do refeitório, comendo o meu almoço depois de me perder no labirinto que era essa escola. Observava o menino, que desde a minha chegada, sentava na mesa do outro lado do refeitório, também sozinho, e olhava para mim. Talvez tentando disfarçar, talvez não, eu pelo menos percebia.

Era careca, branco. Devia ser rico pois usavas umas roupas bem incríveis, tudo indicava que ele estava aqui a mais tempo do que eu. Seu olhar era de tristeza e revolta. Tinha encontrado ele pelos corredores da escola algumas vezes, tinha olhos castanho-esverdeado, era bem claro. Alguém trocou em meus ombros.

– Olá, você é a garota nova, não é? - eram duas garotas, gêmeas. Assenti com a cabeça.

– Eu sou Gabriela, ela é Vanessa. - disse apontando para sua irmã.

Eram altas, e, de um jeito um pouco ridículo, usavam roupas quase iguais. Enquanto uma usava saia coladinha rosa a outra azul. Uma usava blusinha bege, a outra branca. Tinham cabelos castanhos, e olhos bem escuros.

– Lolla! - disse.

– Legal, é algum abreviamento, tipo de Lollita ? - Vanessa disse, meio chute, meio pergunta.

– Não, simplesmente Lolla.

– Interessante!

– Qual o seu sweetchie ? - Gabriela perguntou, se entrometendo no meio.

– oi? - perguntei surpresa e confusa.

– Um aplicativo. - Vanessa disse, erguendo o celular.

– Hãn, não.

– Tudo bem.

As duas saíram cochichando alguma coisa. Tentei ver se alguém tinha escutado a nossa conversa, ou visto a minha expressão de retardada. Provavelmente uma pessoa viu, e eu olhei rapidamente para a mesa no outro canto do salão. Ninguém, bateu o sinal.

Cheguei em casa, joguei a bolsa no sofá e sentei na mesa da cozinha. Minha mãe estava lavando a louça, com um avental rosa. Ela era bem delicada e se encaixava perfeitamente na cozinha nova. Ao perceber que havia chegado, desligou a água, tirou as luvas e sentou a minha frente.

– Então, meu amor, como foi a aula?

– Eu quero um celular. - disse, ignorando a pergunta, e ela pareceu assustada.

– Eu disse que te daria tudo Lolla, mas por enquanto não temos condições..

– Não mãe, - ignorei mais ainda ela - não é qualquer um, eu quero um que dê pra adicionar aplicativos.

– Aplicativo ?

– É mãe, provavelmente você não deve ter escutado, estando no meio de velhas, mas é uma coisa que põe no celular..

– Olha aqui Lolla, eu não sou velha. - Ela se levantou apontando o dedo pra mim, agora ela que me ignorava e eu que assustava. - E isso não é do meu mundo, do nosso mundo.

– Mãe eu só quero um celular. - disse impaciente, porém não brava - Todo mundo tem.

– Espere a gente viver como pessoas daqui, seu pai receber o primeiro salário, e poder pagar tudo. Depois a gente resolve isso.

– Okay, depois a gente resolve isso. -disse, levantando a mão e fazendo um sinal de tudo isso.

Levantei brava da minha cadeira, quase deixando cair. Peguei minha bolsa na sala e corri para o meu quarto. Bati a porta e pulei na cama, era maior e de casal. Escutei minha mãe gritando meu nome, mas não respondi. Eu queria chorar, gritar, queria ter tudo o que as pessoas tinham, ou a minha humilde vida de volta.

Era noite, já tinha jantado, tomado banho e estava de pijama. Olhava o meu teto todo perfeito e lembrava das rachaduras. Pensei em como as garotas daqui aproximavam de mim somente para perguntar se eu tinha alguma coisa, e como ninguém nunca se importou com o que você tinha em Atacity. As pessoas daqui nunca se importou com o caráter ?

Era isso que eu ia fazer. Eu já estava a uma semana daqui e nem tinha pensado nisso. Rasguei uma folha de caderno e comecei a escrever:

"Oioioi Eric,

Como você está? Espero que bem.. Eu sinto falta de você sabia? Nenhuma pessoa conversa comigo e eu sinto falta de suas falas e conversas, sinto falta das brincadeiras só suas.. Eu estou morrendo de saudades e acho que nenhum idiota daqui será como você. Mande notícias..

Ah, eu sei que você não tem condições, assim como muitos daí, mas eu te peço, quando der, pra ir a uma lan house e procurar o que é "Sweetchie" e eu sei que é uma aplicativo para celulares, é eu também não sabia que existia essas coisas, mas eu quero saber como funciona, pra que serve, entendeu?..

Te amo ♥

AGORA LE PARA TODA A TURMA

Aqui, pode se dizer, que é incrível, como sempre a May disse.. É grande, quase imenso.. Andei pelo bairro quando cheguei aqui, tem um hospital a algumas quadras de minha casa. Também tem campos, quadras e praças. Muitas lojas pequenas ao redor que vende coisas baratas e inúteis. Tem muitos espaços fechados também.

Não visitei tudo que tem aqui, nem andei a cidade inteira. Tudo se baseou em ir comprar mais alguns móveis e roupas.. Ah, e arrumar a casa. Ainda não me acostumei aqui, mas sobre minha estadia está tudo certo. As casas são enormes, observei enquanto ia a algumas megalojas, são chamativas e são belíssimas.

A minha casa? A minha casa é umas três vezes maior que a de antes, e tem dois andares. Os móveis são brilhantes, a cozinha enorme, uma tv fininha. As paredes são, a maioria, laranja, salmão e beje. Ah, acredita que tem como regular a água, nem tão quente e nem tão frio? Tudo é tão diferente. Tem um corredor enorme com tapete vermelho no chão. A sala tem um sofá super confortável.

E é claro, meu quarto é rosa, também tem uma tv fininha, uma estante cheia de livros, um guarda-roupa com espaço, muito espaço de sobra, um computador, que eu ainda não sei a importância dele ali, o espaço é grande e a janela atrás da cama ilumina muito bem, e tem estrelas brilhantes no teto.. Como é possível? Eu também não sei..

Acho que algum de vocês é espião e já veio para cá, na minha despedida vocês sabiam certinho como eu tinha que me vestir/comportar/etudomais..

As pessoas aqui andam tão bonita que me dá até vergonha, vou ter que mudar todo o meu guarda-roupa. Eles se comportam como se fossem ricos, donos do mundo e se importam somente com o que eu tenho, ou seja, não se importam com nada. Eu não sei pra que tudo isso se ser simples é a melhor coisa do mundo.

Eu não me tornei e nunca tornarei alguém daqui. De verdade, não importa, nunca importou e nunca importará o que as pessoas tem. Eu seria amigos de mendigos se eles fossem pessoas boas e legais. E me afastaria do prefeito de Megalópodes se ele fosse um ignorante.

Os professores são atenciosos e as aulas são hiper interessantes, tem muitas coisas que eu nunca vi na vida, mas pode se dizer que "eu pego tudo no ar", hahaha'

Falando em amizade, tem um garoto que fica do outro lado do refeitório e tem me olhado desde que eu cheguei.. ele é solitário como eu, e quero saber o que aconteceu na vida dele, eu devo conversar com ele?

Eu quero amigos, novas amizades, é claro que vocês serão os donos do meu coração, mas é difícil ficar sozinha aqui.. Eu sinto tanto, tanto, tanto a falta de todos vocês, queria que todo mundo daqui reagisse como vocês..

Nas aulas eles conversam entre si, e só nesse tempinho que estou aqui deve ter vindo umas cinco pessoas com o papo de "você é nova aqui" e já perguntando se eu tinha algo.. todas as vezes eu fingia que não havia entendido, mas eles devem conversar entre si e dizer "essa garota não devia estar aqui"..

Mas tudo bem, o que tem que vir vem, não é? Aqui é grande e eu vou tirar muitas fotos quando puder, pois por enquanto a minha vida foi escola, casa, casa, escola..

Novamente quero dizer que estou com saudades, muitas saudades..

Amo muito vocês..

Lolla"


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Notas finais do capítulo

Quero representar aqui a turma do Unicolégio, minha segunda escola que me recebeu muito bem, com todo carinho e atenção. Ao pessoal de lá, e todas as pessoas que me mostraram que eu devia mudar e ser mais adulta a partir daquele momento.
SE VOCÊ CHEGOU AQUI LEITOR, DEVO DIZER QUE TE AMO, CONTINUE LENDO ;)



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