O Lago Azul escrita por Yoopí


Capítulo 1
Capítulo 1.


Notas iniciais do capítulo

"Eu achei que seria mais feliz agora
[...] Todas as noites me esforço em sonhar que o amanhã será melhor
[...] Mas isso irá acontecer; tenho que deixar acontecer."

Last Hope - Paramore.



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Olá, sou Lolla, Lolla Carl. Tenho 14 anos e moro em Atacity, um dos distritos de Megalópodes. Atacity é um dos distritos mais pobres e, de todos os 17, é o que menos enviam pessoas a Megalópodes. Sou filha de John Carl, ele escreve o Jornal da Região, e Rose Carl, ela pinta quadros.

Estudo na única escola daqui. Tenho muitos amigos, Annie, Jack, Andry, Katy, White, Brain, Eric e muitos conhecidos também. Estou em plena aula de Matemática com a Ketchup.. bem, esse não é o nome dela, o sobrenome dela é Heinz (uma marca de ketchup) e todos a chamamos assim, claro, por trás.

Eu gosto de viver aqui, pode não haver luxurias e coisas assim, mas aqui a gente vive de verdades, ou meias verdades. E se, eu tivesse um pedido, era nunca ir embora daqui.

– LOLLA CARL. - dei um pulo da carteira - escrevendo na minha aula novamente ?

Heinz tinha o costume de chamar qualquer aluno/aluna por "Sr." ou "Srta." + sobrenome, então senti-me completamente envergonhada quando me chamou assim, meu nome completo, aos berros na frente de toda a sala. Ela tinha saído completamente do controle.

– Ahn, desculpa ? - podia ouvir os risos dos meus colegas, e quase o meu.

– Sua mãe te espera na coordenação. - ela me encarou com seus olhos verdes até eu sair da sala.

Srta. Heinz, por ser professora de matemática, era natural ser chata. Ela era bem rude, fazia com que todos seguissem suas regras. Era difícil, muito difícil, tirar notas com ela. Fazia todos passarem vergonha, e agora minha mãe resolve vir na aula dela. Tudo bem.

Andar pelo corredor vazio me dava tristeza. MEDO. O que minha mãe queria em plena quarta-feira ? Por que não esperou até eu voltar ? Minha mãe era muito amorosa e carinhosa, mas quando nunca foi de surpresas, para ela era mentir enquanto durasse, e isso é completamente errado. E quando se tratava de algo relativamente importante, ela se mantinha completamente séria, e se ela estava vindo na escola, algo era importante.

Vi a porta da secretaria. E se algo aconteceu com meu pai? Qual seria o problema agora? Me vi dando alguns passos para trás. Não Lolla, você deve ser mais forte que o medo. Abri a porta devagarinho vendo a imagem se formando.

– Mãe !?

– Oh, Lolla. - ela disse me abraçando.

– Então, qual as novidades ? Espera, o que é isso ?

Ela segurava uma camiseta branca e um pacote de canetas coloridas. A última vez que vi ela com esses materiais ela estava saindo do serviço da qual nunca voltaria.

– É seu. Ou melhor, do seus colegas pra você.

– Como !? Se é você que está me dando ?

– Lolla, peça pra que eles assinem até sexta-feira.

– Mãe, isso não faz sentido. - agora ela sentada em umas das cadeiras. - O que você está escondendo?

– Olha, - ela olhou nos fundos dos olhos, quase as lágrimas - seu pai, ele conseguiu Lolla. Segunda estamos indo para Megalópodes.

– Não. Eu não quero ir embora. O papai disse que é difícil viver aqui, mas a gente consegue, nós somos umas das melhores famílias daqui.

– Eu sei meu amor.. Mas nós teremos uma vida melhor.

– Não, mãe, não.. - comecei a andar, de um lado pro outro, sem querer olhar para ela. - Isso é impossível, qual é as chances de Atacity enviar uma pessoa para Megalópodes, heim ? É impossível, mãe, IM-POS-SÍ-VEL, entendeu ?

– Lolla, preste atenção. Você poderá pedir roupas, e eu comprarei. Sapatos, e eu não negarei. Aqueles livros, eu vou ter dinheiro pra comprar. Uma nova vida, uma nova escola.

– Isso é impossível. - eu estava chorando.

– É Lolla, é impossível, mas pra família Carl não existe impossível. Pode ser que os outros distritos mandem mais pessoas para lá, mas não quer dizer que Atacity não mande.

– Mas mãe.. E meus amigos, meus professores ?

– Eu deixarei tudo em suas mãos. Você poderá escolher, escola, ensino, aulas extras.. e você continuará falar com eles, tudo bem ? Seu passado não vai mudar, nada irá te afastar daqui.

– Mas..

–Lolla, vem aqui.

Ela me segurou pelos ombros e eu vi os olhos dela se enchendo de lágrimas. Eu sabia exatamente quantas pessoas minha mãe já tinha perdido. Quantas coisas tivera que deixar para trás, sabia que a vida não era fácil para ninguém. E acima de tudo, sabia que teríamos uma vida melhor, uma chance a poucos.

– Tudo bem,- queria enxugar minhas lágrimas porém enxuguei as delas- até sexta, tudo assinado.

Ela me abraçou e sorriu. Me deu a camiseta e as canetas. Saiu. E eu andei, fazendo meu caminho de volta a sala. Os armários enferrujado, que eu sempre reclamei, parecia mais bonitos. O branco das paredes não eram mais de um hospício, era do paraíso. Nunca imaginei eu saindo de um lugar que eu não tinha escolha.

Andando por lá, encontro Eric, sentado ao lado dos armários. Sua calça amarrotada como sempre. A camiseta branca um pouco suja de tinta, o cabelo seboso e bagunçado. Ele era um dos poucos garotos a ser meu amigo. Ele era incrível, muito divertido, tirava sarro mas sabia quando para. Então decido que ele seria o primeiro a assinar. Sentei ao lado dele.

– Matando aula de novo ? -disse como um pulo a ponto dele se assustar de verdade.

– Ah, -disse quando percebeu que era apenas eu- não exatamente. Falta cinco minutos pro almoço, não suporto a Melli.

– Ah, Melli, história ?

– É..

– Fala sério, Eric.. ela é demais.

– Só se for pra voc.. - ele nem terminou de falar a primeira frase - o que é isso ?

– Ah, a camiseta, claro. - disse, entregando - assina.

– Por quê ?

– Eu vou para Megalópodes.

– AH, MENTIRA, LOLLA.. EU, SEMPRE QUIS IR PRA LÁ, FALA SÉRIO, COMO ?

– Você acha tão bom assim ? - olhei para baixo, isso me incomodava, como se tudo ao meu redor estivesse desmoronando e a unica coisa que eu pudesse fazer era esperar e reconstruir aos poucos novamente.

– Não, eu não quis dizer isso, - disse acabando com todos meus pensamentos- seja lá o que você pensou, mas é a sua chance. - ele ergueu a minha cabeça - Não é tão ruim assim.

– Eu não quero deixar vocês, meus amigos, esquecer tudo isso.

– Você não vai. Toma - ele me entregou a camiseta com seu nome escritos em letras completamente horríveis. - É claro que vai demorar pra você se acostumar com a minha falta - ele riu - mas, lá é um lugar bem melhor para se viver.

– Eu vou sentir falt..

– Da minha presença, é claro!

– Idiota - disse baixo.

– Mas a gente continuará se falando, pra isso existe cartas, e telefones.

– É.. é difícil se livrar de um problemático. - sorri, e em poucos segundos fui recompensada.

– É, é mesmo.

Ele me abraçou bem forte. Mas acabou, em menos de um segundo, com o forte sinal e as pessoas circulando.

Durante o almoço, era canetas para todos os lados, todo mundo gritando e reclamando "ei, eu não assinei" "ah, larga mão de ser mentiroso", foi uma bagunceira toda até eu dar um grito e pedir tudo de volta. Claro que eu expliquei, no meio de tantos escândalos, que eles tinham mais dois dias para escrever e fazer o que quiser na camiseta.

Hesitei, mas entrei na sala onde os professores ficavam. Todos em volta de uma mesa redonda, alguns tomavam café, outros chá, mas todos comendo o biscoito de chocolate e hortelã. Eu tinha ensinado uma vez a Professora Lena fazer, e desde então ela faz para os professores, nunca esquecendo de me levar um.

Srta. Heinz me encarou provando que sabia que matei aula. Melli, me deu uma piscadela, Kriss me mandou um oizinho, os homens nem me deram atenção, somente Lena abriu um sorriso de orelha a orelha e me convidou para entrar.

– Senta aqui do meu lado. Chá ? é de canela.. e biscoito, você conhece eles.

– Não, obrigada Tia Leninha. - disse sentando ao seu lado.

– Algum problema Srta. Carl ? - Ketchup agora me fitava, como se minha presença fosse completamente indesejável.

– Ahn, não. - respondi.

– Não fala assim com ela, Danta.

– Não me chame assim, Srta. Yours. - ela exaltou o sobrenome de Lena.

– Lena, por favor..

– Então, Lolla..? - Kriss questionou.

– Eu trouxe isso - ergui a camiseta e as canetas.

– O que é isso ?

– Pra mim, uma péssima noticia, pra Heinz, talvez a melhor de todas. Vou morar em Megalópodes. - disse, quase pra chorar novamente.

– Ah, Graças a Deu..

– DANTA. - Lena repreendeu, como se Heinz fosse uma cachorrinha.

– Não, Lena, não tem problema..

– É serio ? - Heinz perguntou.

– Você acha que eu vou mentir ? -questionei.

– Ah não, desculpa Lolla. - percebi que ela não estava mentindo mais. Ela me olhou. - Pode parecer que não, mas você é como uma filha pra todos nós.

– Eu sei,- limpei uma lágrima - já posso te chamar de Danta ? -dei um risinho.

– Não. - ela disse firme.

– Foi dinheiro ou trabalho ? - Lena perguntou, se arrependendo no mesmo instante.

Era quase errado perguntar se era dinheiro ou trabalho. Principalmente se foi trabalho. Dinheiro, mesmo sendo difícil ajuntar 100 mil reais para poder ir para lá, e juntar mais ainda para ir para lá, o cara era bem reconhecido. Porém trabalho era uma chance jogada para milhares de pobres se matarem para apenas um conseguir.

– Trabalho.. - sem nenhum aviso abracei ela. - Não se preocupe em perguntar professora, você já fez tanta coisa por mim, isso você deveria saber..

– Será entregue na nossa próxima aula, tudo bem ? - O sinal tocou, bem alto.

– Sim.

Lena enxugou as minhas lágrimas, me deu um biscoito, e então eu sai da sala. Lena era uma ótima professora, ao contrario de Heinz, fez de tudo para que eu fosse bem na matéria dela. Um dia, quando percebeu que estava cansada e faminta, chamou para ir dormir em sua casa, pois sabia que eu devia me alimentar, e com minha mãe internada naquela época, nós não tínhamos dinheiro para nada.

Todos me olhavam, querendo saber o que tinha acontecido lá, eu nunca chorei na frente dos meus amigos. Alguns pensavam se deviam ir me abraçar, outros tentavam olhar o que acontecia dentro da sala pela única janelinha da porta. Todos me fitaram até eu dizer que estava tudo ok, e eles se dispersaram para suas aulas.

Na sexta-feira tentei aproveitar o máximo possível, já que era o último dia. Annie passou o dia inteiro comigo, e isso me deixava super feliz. Era muito triste ter que abandonar o meu armário, ele fora um dia da minha mãe, e lá tem uma marca de família que eu nunca daria a minha filha.

Lá dentro havia de tudo, chicletes velhos, cartas de muitos anos atrás, livros, muitos livros, cadernos e bem lá no fundo um álbum, com fotos de todos os anos, as mesmas pessoas, do mesmo jeito, e isso seria uma lembrança que eu guardaria comigo.

Na sala, havia milhares de coisas que eu não me esqueceria. As cortinas com marcas de caneta tão velhas quanto meu pai, a lousa verde com riscos de giz, os ventiladores de ferro que rodavam devagarinho sem fazer nenhum vento, as carteiras duplas com riscos de compasso.

Era claro que em Megalópodes eu teria coisas muitos melhores que essas, mas essas eram únicas. Todo mundo sonhava em ir para lá, todos tinham dito que era maravilhoso, mas pra mim era como ir a morte, literalmente, já que todos que foram para lá nunca voltaram e nem deram notícias. May, era a única que manteu contato com a gente por bons dois anos, dizendo tudo o que havia de bom lá, até falecer por acidente.

As perguntas vieram exatamente quando eu entrei na sala, onde muitas garotas sentavam na carteira, todas com suas melhores roupas, e os meninos estavam arrumados. Nem deu tempo de perguntar o porque de tudo aquilo.

– Lolla, você não perdeu meu numero, né? - Jack foi o primeiro.

– O importante é você me mandar cartas. - Andry falou após.

– Pessoal, o importante mesmo é ela se comunicar e mandar bastante noticias e histórias. - White abriu um grande sorriso.

– Lolla, lembra de mandar emails, eu vou guardar dinheiro pra ir todo dia na lan house. - Katy disse.

– Me liga! - Brain piscou.

– Ei, calma gente, nós temos o dia todo. - Annie disse, e eu mal lembrava que ela estava junto a mim.

– Agora, me respondam, pra que tanta beleza em uma sala só? - consegui perguntar finalmente.

No almoço, ajuntou-se todo nono ano para tirar a foto oficial, cinco meses antes. Mais uma lembrança para o meu álbum, e todos quiseram escrever atrás, também.

Annie, com seu vestidinho rosa rodado sentou ao meu lado se certificando que eu tinha todas as informações dela. Logo a mesa foi se enchendo, todos me fazendo milhares de perguntas. Aquele pessoal me faria muitas saudades. Cada nome dissílabo na minha camiseta representaria uma história e uma aventura.

Eric me indicou uma escola na qual, para ele, era a melhor de Megalópodes. Katy, quis me ensinar como me portar e me vestir. E assim, o almoço virou uma comédia só, a última lembrança seria de um momento feliz.


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Notas finais do capítulo

Nesse capítulo está representado todas as pessoas da minha velha escola e que foram para escolas novas.. Em especial, Hemily e Fernanda. Tinha muitos amigos que eu amava, porém se foram, e por mais que digamos que vamos manter contato muitas vezes não é isso que acontece. Porém guardamos muitos no coração, assim como guardo elas e outros, receio que eles me guardam!
AGRADEÇO A TODOS QUE LERAM ;)



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