B o n d s escrita por Return To Zero


Capítulo 5
Dias Confusos


Notas iniciais do capítulo

"Por que eu escrevi esse capitulo mesmo?" estou me perguntando.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/439898/chapter/5

Eu acordei em um quarto vermelho, macio, adocicado. Ronronei com o cheiro. O quarto pinicava meu rosto.

Percebi que era o cabelo de Kirishie, bloqueando meu rosto. Recolhi-o com minha mão, deixando-o de lado e a admirei. Estava nua sob o lençol branco, que delineava sensualmente suas curvas. Toquei-as sobre o tecido. Uma sensação tão gostosa.

Deslizei as mãos pelos seios fofos, pelo abdômen esguio, e o meio de suas pernas estava deliciosamente quente. Ela era linda, puramente linda.

Seus olhos se abriram, me mirando, curiosa e sonolenta. Só agora percebi as pequenas orelhas que saltavam de sua cabeça, mexendo-se, espertas como as de uma raposa. Ela sorriu. Os lábios vermelho sangue, apetitosos.

Kirishie se deitou sobre meu corpo, a boca entreaberta. Estávamos nus, e a sentia inteiramente, bem como eu sempre quis. A abracei enquanto tentava me recordar o que aconteceu naquela noite.

“Estávamos dançando…” eu murmurei, mais para mim mesmo

“Dançamos na cama também.” ela murmurou de volta

“Por quê?”

“Porque você quis.”

“Você quis?”

“Sempre quero.”

Eu ri e ela começou a movimentar o quadril sobre o meu. Fechei os olhos. Era estranho. Kirishie era bem mais alta que eu. Ela já era uma bela mulher, e eu só era uma criança. Mesmo assim, seu corpo parecia tão pequeno ali, entre meus braços.

O que aconteceu depois?

***

Acordei afobado. Olhei ao redor, as paredes frias do meu quarto. Toquei meu rosto, tentando recuperar a sensação e o aroma dos cabelos vermelhos. Foi em vão.

Levantei. Pernas bambas. Uma elevação entre as pernas. Lábios tremendo e rosto úmido. Olhos inchados.

“O que aconteceu?”

Fechei os olhos e respirei fundo, resgatando as últimas memorias inconscientes. Fantasiei Kirishie se espreguiçando sobre meu corpo mas, no mesmo instante, a imagem foi apagada.

Onde eu estava?

No topo de um prédio?

Quem era ela?

Eu não sabia.

Como ela era?

Cabelos negros, negros feito a noite.

Uma veste branca, caindo pelas canelas, cobrindo as mãos, entrando em contraste com os cabelos escorridos pelas costas.

Quem era ela?

Olhos calmos, belo sorriso.

Veio voando em minha direção.

O que ela quer?

Ela me empurrou?

Eu estou caindo?

Caindo?

“KIRISHIE!”

***

Ouço um barulho alto. Penso que é meu corpo se espatifando no chão, mas ouço a voz de Kirishie.

“Abra os olhos, Stark!”

A obedeço e, huh? O que estou fazendo?

Deixo o pincel cair no chão, sujando-o de tinta esbranquiçada. No cavalete há uma tela. Na tela, uma garota pairando sobre um prédio. Vislumbro seu rosto, ela voando em minha direção novamente. Recuo alguns passos.

“Kanojo wa” Kirishie pergunta assim que percebe que estou mais calmo. Dou de ombros “Não faço ideia. Parece que ela me empurrou desse prédio e…” esfrego os olhos novamente, mirando as pernas longas de Kirishie para fora do kimono “Wow…”

“Nani?” ela pergunta, inocente, dando uma baforada no cigarro

“Você é linda.” respondo com simplicidade, retirando a tela do cavalete, unindo-a às outras.

Kirishie dá um risinho e me chama para comer. Digo que irei em alguns minutos.

***

“Kirishie, Kirishie!” Saio berrando do quarto, carregando outra tela. Ela está sentada na mesinha quadrada, fumando, entediada. A comida fria no prato. Nem dou atenção e esfrego a tela na cara dela “Olha isso aqui!”

“Sore wa…” ela tira um óculos de sei lá aonde, ajeita-os e observa a pintura. Uma montanha, com algo vermelho escorrendo. Ela aproximou o nariz e cheirou fundo “Chi no nioi…”

Seguro o riso ao ver a ponta do seu nariz pintada de vermelho. Ela remexe as orelhas, apontando para o fogão antiquado “Esquente a comida, eu vou até à Sociedade.”

Sem dar muito explicação ela simplesmente sumiu ao fechar a porta do quarto. Abri a porta mas fiquei com medo de entrar.

Esquentei meu almoço como recomendado, comi-o quietamente e me deitei na cama, tentando relaxar, tentando relembrar da maciez da pele, dos cabelos vermelhos, o cheiro adocicado.

– BAM BAM BAM!

“Mas o quê…?” levanto da cama, afobado. Batidas altas na janela. Não consigo ver direito por causa da neve, mas é preto. Um corvo?

Puxo lá do fundo da memoria, aquela poema depressivo que uma vez, Kirishie e eu ajudamos um homem a escrever.

"Como te chamas tu na grande noite umbrosa?" declamo, risonho por ter lembrado do verso

Não tenho tempo para regojizar, pois a janela se estilhaça para dentro, e a coisa preta sai rolando pelo chão do meu quarto. Ela se levanta, apontando o dedo para mim. Um vento frio correndo pelo comodo.

– Primeiro foi gorda, agora está me chamando de corvo, seu maldito albino!” Tsuki esbraveja, dançando os dedos em minha cara “Se você não fosse tão importante, eu te mataria agora.”

Revirei os olhos, abraçando meu corpo pelo frio. “Dá pra consertar a janela?”

“Não depois de você ter me confundido com um corvo. Eu sou uma coruja, tá?!” ela gritou a última frase

“Conserte logo, sua bruxa.”

Ela bufou, gesticulando bonitamente sobre os cacos de vidro, fazendo eles levitarem até os restos da janela.

“Vamos, você se lembra de como ela era? A janela? Era segura, e bem…”

“Tem que fazer isso toda vez que for arrumar algo, isso é ridi--” ela gesticulou novamente e os cacos voaram em minha direção. Desviei, e eles fincaram na parede. Sorrateiramente a segura pelos pulsos, prendendo-a na parede. Deslizo minha linguá fria desde a base do pescoço até perto da orelha. Hm… Ela é quente.

“Será que você pode, simplesmente, consertar a janela? Está bem frio aqui.” sussurro. Vejo o rubror se espalhando pelas bochechas dela. Tsuki se solta das minhas mãos, gesticula e, num passe de magica, a janela está como nova. O frio bate insistentemente no vidro.

“Agora, o que você quer aqui?”

“Você mudou bastante, albino idiota.” ela comenta, revirando os olhos. As bochechas vermelhas.

De fato, depois que conheci o corpo de Kirishie (ou sonhei que conheci), não tenho me controlado, nem me comportado muito bem. Tsuki observa a elevação em minhas calças, que, por algum motivo, faço questão de exibir para ela.

O que estou fazendo?

O que aconteceu comigo?

Sacudo a cabeça, pegando o lápis e rabiscando algo na tela.

“Quero que me pinte.” ouço a voz tímida de Tsuki

“Veio até aqui para isso?” pergunto, elevando uma sobrancelha

“Não.” ela retruca “Vim ver Kirishie. Mas ela deve estar na sociedade.”

“De fato.” tiro a tela do cavalete e a jogo para Tsuki. Ela a pega com habilidade, e a admira por alguns instantes.

“Você pinta bem mesmo.” declara, mordendo o lábio inferior “Obrigada.”

Ajeito meus óculos enquanto ela se aproxima, segura meu rosto e me rouba um beijo. Ela é menor que eu, bem gostosa de abraçar. Meu pensamento se lembra de Kirishie. A porta se abre rapidamente.

“Stark.” ela diz, ignorando completamente a morena grudada em meu corpo

“Descobriu o que é?” me desvencilho dela, ignorando-a também, me aproximando de Kirishie.

“Outra guerra. Mesmo que esse país ainda seja neutro, melhor irmos embora.”

“Para onde vão mudar?” Tsuki se aproxima, timida. Rodeio o quarto com os olhos. A madeira fria. Não quero deixar esse lugar.

“Para algum lugar quente. Me cansei desse frio.”

Kirishie sorri para Tsuki, que devolve um pouco menos entusiasmada. A ruiva estala os dedos e um conjunto de malas aparece. Tocando nelas e em meus braços, sinto aquela dor horrível, de meu corpo se despedaçando. E antes que eu grite, estamos em outro lugar. Extremamente quente. Kirishie gira em seus calcanhares e se dirige a uma das portas.

“Vou tomar banho.”

“Kirishie.”

“Hai?”

“Quando dançamos pela última vez?”

“Meses atrás.” ela responde, sorrindo, desaparecendo pela porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "B o n d s" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.