The Losers plays it. escrita por Paperback Writer


Capítulo 4
IV- California Dreamin'


Notas iniciais do capítulo

Demorei um século, sei disso :P
2000 palavras de novo, para compensar



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IV- California Dreamin’

All the leaves are brown

And the sky is grey

I’ve been for a walk

On a Winter’s day

–AI MEU DEUS! MEU DEUS! Eu... Isso é sério?! Eu amo vocês! – Harriett gritava no apartamento dos rapazes, só piorando minha dor de cabeça.

–Harri... Por favor... Eu não estou bem. Não grite. – Roger dizia rouco, apoiando a cabeça em uma das mãos.

Eu ainda acredito que John vai usar a noite passada para chantagear nós dois. Por que eu só me lembro do Roger bebendo, mas não sei quanto o baixista lembra. Talvez menos.

–Afê. Keeeeith! – Harriett voltou a gritar e pular quando viu o baterista entrar pela porta.

Ok Harriett, meus ouvidos não tem que pagar pelo seu amor supostamente não correspondido pelo seu melhor amigo. Beijos.

–Cara! Beat Records! Ah meu Krishna! Eles gravam para a The Pipers, não? – Keith se jogou no chão, rindo como um retardado. – Temos uma gravadora!

–Ainda não temos, Keith. – Roger disse, o rosto mais pálido que o normal. – Eles vão nos testar primeiro.

– Mal humorado... – Harriett cantarolou, observando logo em seguida a porta da frente se escancarar e John entrar com uma careta emburrada.

–Alô, al... O que eles estão fazendo aqui?! – John sentou na mesa.

– Obrigada pela recepção calorosa. – Harriett rolou os olhos. –Já estamos de saída.

–Na verdade... Eu queria perguntar se vocês... Não... Queremorarcomagente?

–Para tudo, repete. – Roger disse, olhando-o confuso. – Não entendi porcaria nenhuma. Obrigado.

–Eu perguntei se eles não queriam morar com a gente. Vamos ser sinceros... Pode não ser confortável ou sei lá, mas do jeito que as taxas estão subindo – Keith e Roger sussurraram algo irônico como “Que Deus louve a rainha” – Vamos precisar de mais gente aqui. E logo.

–Nós dois? Fora vocês, mais eu e a Harri? Bebeu, é? – Keith estalou os dedos na frente do nariz de John.

–Estou perfeitamente sóbrio, obrigado. Mas eu estou falando sério. Até pela banda...

Até pela banda... – Harriett o imitou – Confessa, você perdeu o emprego e sabe que não vai conseguir pagar o próximo mês.

–Eu amo o jeito que você me conhece, Harri. Então... Fiqueeeem! – John entortou o pescoço para trás enquanto pronunciava “fiquem”, arrancando um riso de Harriett.

–Ah Johnny Boy, eu moro. Meu contrato com o apartamento está para vencer mesmo... Só não sei se o Keith vem...

–Mas é claro que eu vou! Finalmente uma desculpa para sair da minha antiga casa! – Ele riu.

–-

Keith realmente saiu de sua antiga casa, vindo morar com nós quatro. Ficou um pouco mais aconchegante quando os rapazes conseguiram comprar mais um colchão. Agora eu e Harriett dormíamos em um, e eles em outro. Até mesmo John conseguiu um novo emprego. Me segurei para não rir quando o rapaz anunciou que varreria cabelos em um salão perto do apartamento; diferente de mim, Roger e Keith não pouparam risadas.

–-

Mrs. Roberts continuava a explicar sobre a segunda guerra mundial no grande quadro negro. O dedo grosso apontava para os desenhos ilegíveis, enquanto seus olhos esquadrinhavam a sala - Talvez em busca de algum aluno que trocasse bilhetinhos com outro ou alguém dormindo – Era a última aula de uma sexta feira, pode imaginar nosso humor, não? E sim, finalmente nossa última aula do ano.

Um papelzinho rosa caiu na minha carteira, sabia que era da Jenny, ela era a única que usava um papel dessa cor para tudo. Nos falávamos às vezes, ela fora namorada de John.

A loira olhava em minha direção, como se dissesse “Abre logo!”. Não desobedeci, desdobrei e vi a caligrafia desenhada da garota.

“John vem te buscar hoje?”

Não. – Sibilei. – John só me leva.

–Ah. – Jenny voltou a atenção para o quadro negro.

O sol brilhava lá fora enquanto crianças brincavam de pega-pega no parquinho. Virei meu olhar até o estacionamento. Nenhuma Kombi colorida.

Mrs. Roberts vivia com um coque no topo da cabeça amarrando o cabelo preto e uniforme, pele dourada (jamais perdeu o bronzeado de Orlando, mesmo morando apenas cinco anos.) e uma eterna cara de “Meu marido está na segunda guerra mundial”. Era o alvo favorito de Keith. Passaram o ano todo se alfinetando. Resultou em três detenções para o rapaz, sempre fazia com que Roger e eu tivéssemos que esperá-lo.

Quem sabe quem foi Führer?”

Keith levantou a mão.

Não deixe-o falar. Não deixe-o falar...

“Sim, Muller?”

Toque o sinal, toque o sinal.

Hm...”

Mande-o para fora de sala. Eu e o Roger não teremos que esperar.

Eu achava que...

Sua última chance

“Führer era a...”

Três. Dois.

“Sua mãe”

Um.

Risadas.

–Puta merda, Muller! – Bati a mão na carteira, levantando-me – Qual o seu problema?!

Toda a sala ficou em silêncio após eu gritar. Mrs. Roberts olhava para mim de olhos quase arregalados, assim como a maioria da sala. Eu só não teria paciência para esperá-lo mais uma vez enquanto fazia calor e um sol maravilhoso. Talvez os rapazes nos arrastassem até o chalé do pai do John (A única vantagem da separação dos Harrison) em Liverpool. Mas não, agora Keith conseguiu passagem só de ida para a detenção. Talvez eu também.

–Mr. Muller e Ms. Styles, fora. Agora. – Mrs. Robert estava da cor de um tomate. O rosto redondo não ajudava em nada para espantar tal pensamento.

Obrigada, Keith. Agora vou ter que ter uma longa conversa com meus pais do porquê eu fui expulsa de sala. Pelo telefone! Realmente, obrigada.

Peguei meu material e saí de sala. Devo ter dito algo como “Vejo vocês na formatura” ou algo assim. Keith veio logo atrás.

–Judy! – O baterista disse, segurando o meu braço. -Seguinte, eu te amo. Vamos nos casar, fugir para as colinas e ter três filhas: Elizabeth, Margareth e Yvoneth, tá de acordo, broto?

Rolei os olhos, mais um puxão no braço.

–Judy, vamos acabar o ano com chave de ouro? – Keith sorriu

–Diga. – Ok. Eu não sei ficar muito tempo brava com o moreno.

–Vamos acionar o alarme de incêndio.

A seriedade com que ele me disse isso quase assustou-me. Mas francamente, tem como fechar o ano e maneira melhor do que quebrar aquele vidrinho e apertar aquele maldito botão?

Apenas concordei com a cabeça. Keith fez tudo, apenas fiquei no corredor observando se alguém vinha.

Quando ouvi a sirene alta tocar, nós dois saímos correndo em direção ao estacionamento, para nossa felicidade, Roger estava lá.

–Que pressa é essa? – Ele riu, enquanto nos matávamos para entrar na Kombi.

–Só. Corre. – Keith disse esbaforido. – Judy te explica no caminho.

O baixista girou as chaves e deu partida, ré, e finalmente saiu daquele lugar. Suspiramos aliviados.

–Fomos expulsos de sala e acionamos o alarme de incêndio. – Disse.

–Sério?! – Concordamos. – Que orgulho de vocês! John vai adorar.

Harriett não. – Keith disse.

–Shiu. Ela não precisa saber.

Keith sorriu no fundo da Kombi, eu ia no banco de passageiro, ao lado de Roger.

–Hm... Acho que você já imagina algo sobre Liverpool, né? – O Baixista perguntou.

–Nós vamos?! – Keith voou e colocou a cabeça entre os bancos.

–Claro. Tá vendo o sol? Não é lindo? Estão falando que chega aos 25 graus.

–Duvido. – Cruzei os braços.

–Que seja.

Assim que chagamos, Keith foi o primeiro a descer, eu não conseguia abrir minha porta. Como seu bem calma, entrei em desespero. O moreno deitou seu tronco para o meu banco e sustentou o peso em um dos braços longos, virando a cabeça para o pino da tranca.

Perto demais.

De novo.

–Talvez porque o pino estivesse abaixado... – Ele comentou.

–Shiu.

Riu e saiu do carro, saí junto e entramos no apartamento.

–-

Malas prontas (Arrumadas em menos de meia hora, diga-se de passagem) e já entravamos novamente na Kombi. John e Roger no banco de passageiro e nós três atrás. Estranhei a proximidade de Keith e Harriett. Who cares?

A seguradora de vela aqui cares, ok?

Os cinco primeiro minutos se passaram em silêncio, até John dizer:

–Hm... Vamos contar algo que um não sabe sobre o outro, sabem? Sei lá, nos conhecemos faz tempo, quer dizer, eu, Judy e Roger, mas mesmo assim... Ok, ideia ridícula.

–Não! – Harriett disse – É boa sim! Mas... Vamos fazer perguntas, tipo um para o outro. Sei lá, gente. Esse silêncio me incomoda!

–Ok. Eu começo. – Roger olhou pelo retrovisor. – Keith.

–Diga, meu amor.

–Por que você toca bateria? – John sussurrou algo como “Que merda de pergunta”

–Porque eu odiava meu vizinho. É sério, Harri! – A ruiva começava a ficar vermelha por segurar o riso. – Ok... Minha vez! Judy.

–Diga.

–Quem é Richard?

Merda.

Não responda.

É, o ignore.

Leitor, como explicar que Richard é o irmão que foi expulso de casa e nunca deu notícias?

–Assim, Keith... – Comecei. – Ele é meu irmão. Ele foi expulso. Fim. Harriett.

Keith não reclamou da minha curta resposta, acho que deu para intender que o assusto acabava ali.

–Sim?

– Por que você mudou de escola?

–Eu... Ah, eu fui eleita a garota mais feia da escola. Não me olhem assim! É verdade! Me zoaram demais... Ai eu resolvi sair de lá.

Acreditar nisso era muito difícil. Harriett tinha um rosto bonito para a época, um nariz consideravelmente pequeno (Perto do meu...) corpo curvilíneo e cabelo ruivo. Fim. Era mais fácil (Muito mais fácil. Muito) eu ser eleita.

–Eles disseram que eu tinha sardas demais. – Ela deu de ombros – Na época eu ligava pra isso. Ai eu te conheci, Judy. É, você melhora a minha autoestima.

–Ei! – Empurrei sua perna com meu pé, de leve.

–Qual é, você pode resolver respirar fundo e acabar com o oxigênio dessa Kombi.

– Meu nariz não é grande! – Protestei. – Ele só é... Pontudo, comprido, fino, estranho, ah, tudo bem, o do Roger é pior.

Pude apenas ver o dedo médio do rapaz.

–Hm... Vamos parar. Esse jogo deu errado. – John riu. – Já estamos chegando mesmo.

Dito e feito, dez minutos depois, já tirávamos nossas malas e levávamos para o apertado chalé.

Dois quartos e um banheiro ficavam no canto da casa, assim que se entrava, via a sala e parte da cozinha, a porta dos fundos dava para a praia. Toda a casa era de madeira e tinha um incrível cheiro de areia e sal.

Talvez porque estejamos na praia.

Deixei minha mala em um quarto qualquer, Harriett fez o mesmo e começamos a trocar nossas roupas por um biquíni.

Na verdade, eu queria um maiô, mas a ruiva me proibiu.

“Você já não tem peitos, ai usa isso, quer ficar parecendo um homem, é?”

Harriett é um poço de fofura e ternura.

Ouvimos John nos chamar, apenas colocamos um vestido leve por cima e saímos do quarto, amarrando o cabelo em um rabo de cavalo.

–Vocês dois almoçaram no colégio, né? – John perguntou. O baterista e eu concordamos. – Ótimo, as fritas com peixe daqui não são tão boas assim.

Roger e Keith esperavam na porta dos fundos do local, parecendo duas crianças que nunca viram o mar antes.

–Judeeeee! Vamos! – Roger me chamou, escorando no batente da porta.

Escorando não, praticamente sentando no chão. A culpa não é minha se o Americano tem quase 2,0m de altura.

–Vão se quiserem, ora! – Retruquei, olhando para John.

–Vamos, então. – O vocalista concordou.

Numa fração de segundos, Roger corria comigo em seu colo até o mar, enquanto me recuperava do choque “Oi-Por-que-Estou-No-Seu-Colo?” Pude ver que Keith fazia o mesmo com Harriett. Pobre John, carregava o guarda sol.

Fui jogada na água gelada com vestido e tudo, tentei puxa-lo para baixo, mas claro, eu sou muito forte, fácil demais puxar um poste ambulante pra debaixo d’água. Só que não.

Harriett disse algo sobre “protetor solar” mas não ligamos e continuamos a agir como crianças na praia.

Desculpe, Britânicos não sabem ter maturidade quando se tem sol no céu.

Ficamos lá até umas seis da tarde, quando começou a esfriar. É, nada dura para sempre.

O único problema foi quando tomamos banho. Roger e John tomaram com a ducha de fora e Keith tomou antes de mim. Assim que senti a água batendo em minha perna, gritei. Estava literalmente rosa. Dos pés à cabeça; tudo ardia.

Continuei no banho apenas para tirar a areia e aí correndo. Os rapazes estavam na sala, sendo cobertos por um creme verde que Harriett passava. Até os olhos estavam vermelhos. Lacrimejavam como loucos. Os meus também, os de Keith também. Menos o de Harriett.

–Eu passo protetor solar. – Foi o que a ruiva disse momentos depois, quando passava tal creme verde em mim. – Deveria passar.

Se meu maxilar não doesse tanto, agradeceria o creme. Momentaneamente funcionava. Mas a dor voltava. Nos rapazes também.

–Eu... Tenho mais uma coisa para contar à vocês... Mas não é boa.

–Vai em frente. – John disse.

–Beat Records ligou.

–E você disse que não era boa...

–Só vão assinar um contrato com vocês se tivermos um empresário.

–O QUE?! – Roger bateu com a mão no braço do sofá- E agora?

– Ou conseguimos um empresário, ou fodeu. – Respondi.

Bufaram irritados, mas aceitaram, de qualquer maneira. Tinham que aceitar.

Dormimos todos na sala. Dormir na cama doía.

Grande novidade.

Stopped into a church
I passed along the way
Well, I got down on my knees
And I pretend to pray


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Notas finais do capítulo

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