Dies Illa escrita por Akise Aru


Capítulo 27
Capítulo XXV - Há uma Mina de Ouro no Céu -


Notas iniciais do capítulo

Pá! Plot twist! x3
desculpem a demora pra postar de novo... ;~;
se quiserem, ouçam a música do Mad Father que é o tema da Maria, que foi a que eu usei pra escrever uma parte aqui: http://www.youtube.com/watch?v=_unJQgI8D5E



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Existia uma verdade por trás da cicatriz oculta de Morgan.

Ele era um garoto muito extrovertido e alegre que conversava sobre tudo, qualquer que fosse o assunto. Havia um único deles, porém, que fugia à regra: era aquela sua cicatriz no períneo. Ao menos ela ficava tão bem escondida que ele chegava a esquecê-la. Se esquecia, até a hora do banho, se esquecia do motivo de sua existência. Até essa hora, esquecia-se do que aquilo já significou e aos poucos, também esquecia-se de quem era ou quem já foi. Não conseguiria nem manter-se verdadeiro a si próprio.

Morgan nascera hermafrodita.

Obviamente seus caracteres dominantes mais desenvolvidos eram de fato os masculinos, mas enquanto bebê, possuía genitais femininos e até um pequeno útero, que foram mais tarde removidos cirurgicamente. O lourinho tinha um corpo muito frágil na época da primeira descoberta de sua vida e uma intervenção seria arriscada, era o que o médico dizia à família. Seu pai no entanto não aceitava por um minuto sequer a bizarra criança à qual sua mulher dera a luz.

"Que criatura detestável, mulher!" ele dizia, atribuindo erroneamente a culpa à mãe do garoto. "Não posso ter um herdeiro que não seja homem, muito menos esse monstro de circo! Uma vergonha!"

A mãe de Morgan chorava, queria o filho como era e o amava, desejava deixá-lo escolher no futuro ser o que quisesse quando crescesse, mas esse pensamento soava absurdo aos ouvidos da sociedade. Ela manteve a realidade de seu filho em segredo, tanto para o bem dele como para o de seu marido e resistiu o máximo de tempo possível à cirurgia que decidiria definitivamente o sexo de Morgan.

O menino usava saias e vestidos quando pequeno e longe das vistas de seu pai, sua mãe o tratava como uma garotinha. Não mentiria, adorava a ideia de ter uma filha menina. Toda vez que eram pegos brincando de algo "feminino" ou quando ela punha-lhe laços e escovava seus dourados cabelos angelicais, o homem estourava de raiva, vomitando toda sua frustração em forma de violência, essa bile venenosa que corroía sua família.

Morgan contudo não conseguia odiar seu pai. No caso, sentia-se culpado pela aversão dele e pelas lágrimas de sua mãe de olhos azuis. Aos poucos, escolher entre um dos gêneros tomou a forma de escolher entre um de seus pais também, era o que entendia com seus cinco anos de idade mal-completados. Não queria ter de decidir nada disso, ele amava a ambos e só queria que não brigassem. Não sabia, porém, que nunca nem teria a chance de optar sobre o que seria feito de seu corpo.

Morgan não se lembra de muito mais coisas, apenas que logo foi realizada a cirurgia de remoção de seus caracteres femininos e mais tarde sua mãe ficara muito triste e praticamente incomunicável. Alguns meses depois ela estava morta e de tudo isso só lhe restara aquela cicatriz.

Dessa maneira, apesar de terem sido inviabilizados todos meios dele ser uma mulher, Morgan continuava produzindo determinados hormônios femininos que davam-lhe formas delicadas e modestas ao corpo. Seu aroma também diferia muito do masculino a um nível subconsciente e instintivo, mas era realçado pelo uso do perfume de rosas silvestres que um dia fora de sua mãe.

O louro semelhava muito uma sofisticada moça em diversos aspectos. E isto trazia desconforto a vários dos rapazes confinados no internato.

–-- ♪ ---

Morgan não soube como reagir. Vira Rihito caminhar ao quarto de Simon, o cara desprezível que o maltratava e o usava como bem queria. Era igual assistir a filhotinhos de coelhos correndo alegremente para o covil de nefastas cobras e nada fazer. Ele nem o contestara. Já sabia exatamente o que o pseudo-vampiro pretendia quando fez a indecente proposta.

Por que ele perseguia o amigo, afinal de contas? Ele o amava, era isso. Mas sempre saía machucado quando descobria algo, valeria mesmo a pena então? Talvez não, mas desejava saber. Saber tudo sobre Rihito.

Ele e Simon eram namorados.

Essa afirmação fê-lo cambalear. Não acabava por aí. Eles eram namorados que transavam. Ponderou se não estaria tomando conclusões precipitadas, mas não... Definitivamente. Seu nariz ardia e logo pingos de uma água salobra caiam de seu queixo em seu uniforme da Kensington Academy. O louro esfregou os olhos e rapidamente seu rosto estava molhado e escorregadio de lágrimas quentes de amor e abandono. Resolveu entrar em seu quarto para que então pudesse libertá-las, todas elas, em seu agora tão duro e desacolhedor travesseiro.

Ondas de sentimentos mistos o acometiam as emoções e mudavam a razão de seu choro. Ora pensava em quão patéticos seus lamentos eram, ora pensava no motivo real de sua melancolia, ora chorava por estar sozinho, por estar sem o amigo de olhos sempre tão azuis, por ser garoto, por não ser garota, por ser homossexual, novamente por ser ridículo e a pior de todas: que naquele exato momento, enquanto ele rolava feito um verme na cama, Simon também rolava Rihito em sua cama.

E chorou. Até não poder mais, chorou até adormecer de cansaço.

–-- ♪ ---

No dia seguinte, não quis ir à aula junto de Rihito. Na realidade, Morgan não queria ir à aula nenhuma. Não sentia-se minimamente disposto a nada, a hipocrisia alguma. Resolveu "cabular" as aulas. Não tinha problema nenhum, tinha? Sabia de gente que fazia isso o tempo todo. Saiu então cuidando que nenhum professor ou funcionário o visse e sentou-se à grande fonte, que era o cartão de visitas do colégio.

"Idiota... Aqui é visível demais." ele dizia a si mesmo buscando novos lugares mais encobertos. Andou por um tempo e entrou na torre do relógio. Lá era um bom local para se ficar. "Sou muito imbecil mesmo! Não tem nada pra fazer aqui, era melhor ter ficado dormindo..."

Sem poder voltar aos dormitórios devido aos zeladores rondarem todos os corredores da instituição, o louro estava perdido em seus pensamentos quando ouviu uns pares de vozes vindos da escada em espiral no interior da torre.

– Ele entrou aqui?

– Entrou sim, eu vi..!

E logo rostos conhecidos surgiram em seu campo de visão.

– E aí, gayzinho! - Um dos rapazes arruaceiros o "cumprimentou".

– Está fazendo o que aqui? Você não devia estar na aula?

– Vocês também deviam estar e não estão. - Morgan retrucou, mal humorado.

Eles riram de sua reação.

– Cadê seu amiguinho gênio?

O louro desviou o olhar.

– Será que eles brigaram? Hahahaha! - Um deles gargalhou histericamente.

– Hey, vocês já foderam? - Um outro agachou e perguntou com um sorriso nojento e olhar pervertido.

– Inúteis! Vão cuidar do rabo de vocês! - O garoto exclamou enraivecido e já indo embora.

Um do grupo o puxou pelo braço.

– Me solta, babaca! - Vociferou.

– Psshh! - O rapaz pôs o dedo em frente a boca - Tem um inspetor logo ali, acho que você não quer ser pego, né?

Morgan ficou sem jeito e abaixou sem olhar castanho. Não iria jamais agradecer aquela raça imunda por nada que fosse, mas realmente eles haviam acabado de avisá-lo de um perigo.

– Você vai voltar aqui amanhã?

– Não te importa... - O louro respondeu num muxoxo.

O rapaz que parecia ser o líder do bando riu de leve.

– Estamos sempre por aí, se você voltar, a gente se topa. Eu sou o Adam.

Reparava só agora, mas todos eles (e principalmente o tal Adam) tinham um fedor de nicotina impregnado. Era estritamente proibido, mas eles deviam fumar.

Aqueles caras eram a escória da instituição. Não eram os únicos, mas eram os típicos delinquentes de famílias abastadas que não davam valor ou importância alguma a nada que não fosse divertirem-se e achavam que era obrigação natural de todos os aturarem em qualquer circunstância.

Morgan desprezava do fundo de seu coração esse tipo de pessoa. Mas será que ele merecia a companhia de algo melhor que a escória?


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Notas finais do capítulo

... Morgana 8'D
* a Rebeca-chan me sugeriu que a música "Circus Monster" da Luka fosse a música tema do Morgan: http://www.youtube.com/watch?v=B7ZiijjTAYE
* gostaria de apontar algumas coisas que talvez sejam sutis demais nos textos, ou possam escapar da observância de vcs... uma delas é que Morgan se encontrou e falou com os 'bullies' dele na torre do relógio, que foi onde Rihito descobriu do segredo de Simon e foi mordido por ele pela primeira vez. outra é que Morgan sempre conversa consigo mesmo de modo depreciativo, denotando que ele tem a si próprio não tão alta consideração.
e mais uma que eu tenho querido falar há tempos mas nunca achei espaço: sempre que Rihito descobre mais uma pinta de Simon é associado a uma descoberta da personalidade dele, como se cada informação ele colecionasse fosse contada em pintas.
agora tive uma ideia, eu podia fazer um jogo tipo visual novel onde td se baseava em encontrar pintas do Simon, no final do jogo se vc achasse bastante vc ganhava finais bons e vice-versa 8'D
lol parei. obrigado por lerem~
e ah, desculpem se aquele desenho do Morgan do olho da mãe dele não parece um desenho de criança tbm...