Mais um dia que ele ficava sentado no sofá da sala daquele pequeno apartamento. Mais um dia que ele contava a maldita meia hora e esperava que ela passasse pelo batente da porta já envelhecida pelo tempo. Meia hora que ela teve para mudar sua vida. Suas vidas. Todos os dias ele sentava no estofado já puído e esperava que ela entrasse dizendo que o adorava, que a briga que eles acabaram de ter - há quase seis meses - não era nada comparada ao que sentiam, e que sobrenome algum - Granger ou Malfoy, sangue ruim ou sangue puro - sobreporia seus sentimentos. Ele esperava eternamente que ela saísse de onde quer que estivesse (céu ou inferno, não lhe importava) e voltasse para ele. E a cada dia ele tinha mais certeza de que o tempo que ela demorasse seria também o tempo roubado de sua vida.

Cada inspirar e expirar do ar de seus pulmões era uma lembrança da presença constante dela - sua tão preciosa Hermione - naquela casa. Cada olhar depositado sobre a decoração singela e delicada, agora coberta por uma generosa camada de poeira, era um tapa na cara por saber que ela jamais poderia estar ali novamente. Cada página de livro embebida no perfume do corpo dela fazia disparar seu coração há muito enfraquecido.

Dentro da noite veloz, na cinza das horas, Draco Malfoy se tornava apenas a sombra de alguém que, por mais que continuasse com o cofre do Gringotes transbordando, havia perdido absolutamente tudo em uma única pessoa. Sentado naquele sofá, ele via a mesma meia hora passar todos os dias, para em seguida deixar sua vida se esvair pelas infinitas noites insones.