Pov Mônica

Duas semanas depois...

Chegou o dia de irmos para o acampamento. E bateu aquele friozinho na barriga sabe?

Tudo bem... Você vai me dizer que eu já viajei para o Japão, Marte, e sei lá mais o que... Mas isso não faz diferença nenhuma! Não importa quantas vezes a gente viaja, sempre é a mesma coisa... A mesma rotina!

Acordamos achando que vai ser um dia como outro qualquer... Mas assim que nos viramos na cama nos lembramos da viagem e saímos que nem loucos, mas uma dica é que nunca se levante de uma vez porque você vai desabar no chão e vai ficar lá por um bom tempo...

Depois procuramos nossas coisas para a viagem e nos arrumamos... Chegamos ao aeroporto e lá vem despedida, abraço e choro... Meia hora depois vamos para o ônibus ou avião e nos despedimos pela janela pela última vez...

E foi exatamente isso que aconteceu hoje.

Depois de toda essa rotina me vi sentada no ônibus que já estava partindo da escola em direção ao acampamento.

– Acorda Mô! – gritou Cebola batendo palma na minha frente.

– Hã?! Oi?! O que foi? – perguntei perdida.

– Uau mulher! A gente tá sempre viajando e é assim que você reage?

– E você quer ser jogado pela janela nesse exato momento? – perguntei apontando para a janela aberta.

– Mô? – ai Magali! De onde você surgiu criatura? – Você tá legal? – há, ela está sentada na poltrona atrás de mim junto com o Cascão.

– Tô! Só estou um pouco distante... – disse olhando pela janela.

– Não se preocupe! Vai ficar tudo bem... – ela me consolou.

– É Mô! Não precisa ficar assim, afinal estamos todos juntos! – Cebola falou segurando minha mão e os outros dois seres humanos que estão atrás de nós também colocaram a mão em cima.

É... Nada vai ser ruim enquanto eu estiver com eles. Pois a nossa amizade sempre vai ser mais forte do que qualquer coisa. Desde monstros que compõem a nossa personalidade até velhas inimigas francesas do passado.

Nunca vamos nos separar, mas mesmo eu sendo forte não posso negar que tenho medo do futuro. Afinal hoje está tudo bem, você está firme e forte com todos que ama, mas algo pode acontecer; algo inesperado; e tudo pode mudar. E eu não aguentaria perder eles.

Mas mudando esse animo... Do nada todo mundo do ônibus começou a cantar aquelas musiquinhas bobas de viagem, como “alguém” roubou pão na casa do João. E é incrível como a gente mesmo achando besta também começa a cantar, e eu fiz exatamente isso.

Chegou a mim e passei, ou melhor, acusei o Cebola.

Abri a janela encarando o céu completamente escuro, a não ser pela luz da lua que estava cheia, mas não atrapalhava muito a contemplar o brilho das estrelas. Tínhamos acabado de sair da cidade e estávamos na área rural, agora com poucas luzes abafando a iluminação das estrelas elas começaram a aparecer, aumentando gradativamente. O céu começou a ficar lotado por elas, parecia que não havia espaço para mais nenhuma, pois se outra aparecesse seria dia.

Vaguei por aquela imensidão imaginando que aquela viagem não iria me matar. Aí me lembrei da música Stronger... What doesn't kill you makes you stronger... É... O que não te mata te deixa mais forte. E essa viagem vai me deixar mais forte. O vento bateu no meu cabelo bagunçando-o, ri discretamente fechando a janela e me afundei na poltrona.

Confio que eu e todos eles somos capazes.

– Boa noite, minha dentucinha... – foi a ultima coisa que eu ouvi antes de minha memória falhar completamente.

Acho que aí eu dormi. Não sei quando ou como, mas só sei que dormi.