Eu a conheci no 7° ano. Meio cheinha e meio estranha, tenho que admitir. Sempre a vi do mesmo jeito que via todas. Uma criança. Foi no 8° ano que tudo começou a mudar. Sabe, antigamente, alem de eu ser um professor, eu também era conselheiro da escola. Jennifer Franker era mais uma menina que comecei a dar conselho naquela época.

Me disseram que ela sofria Bullying dá amiga dela e tinha bulimia. O engraçado era que a cada ‘’consulta’’ que ela vinha, cada vez ela vinha de um estilo diferente. Até hoje me lembro que quando nos conhecemos.

– Bem, meu nome é Leonardo e ano que vem eu vou dar aula para você, Srt. Franker, mas você não está aqui para falar sobre isso. Fiquei sabendo que vou está sofrendo bullying e está tendo distúrbios alimentares. Quer me falar mais sobre isso? – Perguntei preocupado olhando para ela. Na primeira vez ela veio de gótica. Seus cabelos estavam na frente de seu olho e ela estava de touca.

– Não – Ela disse – Por que eu te contaria da minha vida? – Ela perguntou virando a cara e encarando as crianças do jardim brincando no parquinho pela janela.

– Eu quero ajudar, Jennifer – Eu falei, mas ela pouco ligou – Que tal fazermos assim. O nome da brincadeira é ‘’Eu nunca’’. Eu falo algo que eu nunca fiz e você tem que dizer depois algo que você também nunca fez, mas não vale repetir. Pode ser? – Eu perguntei na esperança dela virar a cara, ela virou. Começamos a brincadeira com coisas fáceis..

– Bem, eu nunca me casei – Eu falei

– Eu nunca tive uma irmã – Ela falou séria

– Eu nunca vi uma laranjeira

– Eu nunca tomei suco de morango

– Sério? – Eu perguntei meio que surpreso. Ela olhou para mim pela primeira vez e depois meio que foi para trás – É muito bom! Qualquer dia, eu vou te levar para tomar – Eu falei. Ela meio que corou

– Ei! Isso pode ser interpretado como sair com uma aluna! Quer ser demitido? – Ela perguntou meio irritada. Estava feliz, afinal, ela tinha começado a falar comigo olhando nos olhos e mostrando emoções.

– Não se importe com isso. Qualquer coisa a gente diz que você tava saindo com o meu irmão – Eu falei brincando

– Eu... Tenho pena do Gustavo – Ela falou meio tensa – Ter um irmão assim.. – Ela falou e depois ficou meio triste – Deve ser ótimo – Ela falou e a primeira lagrima caiu dos seus olhos

– Você, já está pronta para me contar as coisas? – Eu perguntei. Ela disse tudo.

A mãe dela tinha ficado grávida, mas acabou perdendo o bebe na hora do parto. O pai dela trabalhava em outra cidade e isso deixava a mãe dela meio depressiva e acabava falando coisas horríveis para a Jennifer. Ela acabou comendo demais e ficou meio gorda. O pai dela e a mãe entraram numa briga feia e o pai dela acabou ficando nervoso e bateu na Jennifer. Ela foi morar com a tia que não era nada mais que uma Alcoólatra. Ela cuidou muito da Tia, mas também bebeu muito com ela e acabava saindo à noite para tentar esquecer o que estava acontecendo com a sua família. Foi nessa época que ela foi molestada. Foi molestada, sofria bullying de gorda e estava com problemas familiares. O que ela fez? Entrou em depressão. Começou a se cortar, vomitar e começou a ser mais oculta.

Enquanto ela me contava isso tudo, seu rosto se enchia de lagrimas. Era triste. Eu mesmo não estava mais suportando ouvir isso, imagina viver. Eu levantei e a puxei para que ela também levantasse. Eu não tinha muita coisa para fazer por ela. Eu apenas a abracei. Ficamos ali abraçado por pelo menos 6 minutos. O cheiro dela era muito bom e eu sabia que ela também me cheirava porque eu sentia a sua respiração. Essa foi a nossa primeira consulta depois daí. Ela veio de varia formas, fofinha gótica, dread gótica ara vocês terem noção, até de palhaça gótica ela já tinha ido.

Mas de uns tempos para cá, a vida dela foi se ajeitando, uma garota que andava com ela brigou com a menina que fazia bullying com ela e desde então elas viraram bem amigas. Acho que o nome dela era Emily... E bem, ela me disse que outra menina que ela conhecia dês do jardim que também andava com ela a defendeu e agora elas três andam juntas. Ela emagreceu de um tempo para cá e agora usava roupas normais, sem franja em cima do olho ou sombra preta. Ela mora agora com os avós que para ela é melhor que a mãe e a tia juntas.

Ela também voltou a cor natural do seu cabelo, era ruivo, mas não aquele ruivo vivo e sim aquele ruivo mediano. Eu me esqueci de falar, seus olhos eram verdes. Eu achava aqueles olhos e aqueles cabelos encantadores para uma garota de 15 anos (Na época que ela começou a melhorar, ela estava no 9° ano). Ela ainda sofria bullying, mas a amiga dela de infância que andava com ela batia nas pessoas que falavam mal dela, foi o que ela me disse.

Nós viramos muito amigos, mas toda amizade tem um fim. Como eu disse antes, eu era professor e conselheiro, mas agora sou somente professor. A nossa amizade intima acabava ali.

A ultima vez que nos vimos ela me disse que não importava como, queria continuar a nossa amizade, porque foi aquilo que ajudou ela a melhorar.
Eu disse que eu sempre estaria do lado dela, mas que agora era diferente para ver ela. Ela entendeu, hoje em dia só nos falamos em sala de aula e só sobre a matéria, mas, as vezes, eu ainda sinto falta das nossa conversas...

– Leo! – O Gustavo gritou batendo a porta do meu quarto cheio de caixas e me tirando do meu transe me fazendo continuar a corrigir a prova da Jenny..

– Que foi... – Eu perguntei vendo as questões dela

– Bem, como eu posso te pedir, bem... Leva o pessoal da escola para a praia sábado? – Ele perguntou meio tímido, isso não era a cara dele.

– Hum...Quem é a garota? – Eu perguntei brincando, mas parece que ele levou a sério

– Emily McNally... – Ele disse. Era aquela amiga que ajudou a Jenny. Fico feliz do Gustavo escolher uma boa menina.

– Ela parece ser legal – Eu disse – E quem mais vai?

– Eu, ela, Samantha, Jay, Lindsay e Jenny – Ele disse. Por alguma razão parecia que era difícil falar sim. Estava nervoso? Por que? Por causa da Jenny? Não... Eu não posso estar assim por causa de um aluna! Mesmo que algo esteja mudando aqui dentro, eu tenho que me controlar. Se não, vou acabar fazendo algo que não devia. Ela é apenas a minha aluna

– Está bem, eu levo vocês – Eu disse. Esse passeio será uma prova para mim mesmo que a Jenny, não, a Jennifer só passa de mais uma aluna e nada mais.