Vinculum Aeternum escrita por Kiri Huo Ziv


Capítulo 3
Capítulo III: Somnium


Notas iniciais do capítulo

Vocês vão reparar que esse capítulo possui mais pontos de vista do que o habitual. Espero que dê para compreender certinho quem está falando quando.

As falas estarão entre aspas, e os pensamentos em itálico.

A palavra "somnium" significa "sonhar".



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/438689/chapter/3

A wintry eve
Once upon a tale
An Ugly Duckling
Lost in verse
Of sparrows carol
Dreaming the stars*

Belle tinha a forte sensação de que algo muito estranho estava acontecendo, pois, embora soubesse que Rumpelstiltskin se encontrava no castelo – pois ele nunca saía sem avisá-la –, o feiticeiro estava trancado há três dias em seu estúdio, aparecendo apenas durante a noite, para jantar e dormir.

Rumpelstiltskin tirara sua roca do principal salão do castelo no primeiríssimo dia em que começara a se comportar estranhamente. Aquele era o lugar onde ele trabalhava quando queria a companhia de Belle, e a jovem se sentira traída quando percebera o que Rumpelstiltskin fizera sem consultá-la.

Embora nunca contasse a ela o que estava fazendo, Belle sabia que ele estivera usando magia incessantemente, porque quando aparecia durante a noite, e os dois se deitavam lado a lado, o feiticeiro adormecia instantaneamente. As noites andavam muito mais tranqüilas do que Belle desejava.

A princípio, a jovem achara que seu amado estivera zangado com ela – embora não soubesse o que fizera para provocar tal sentimento –, mas, na primeira noite após a retirada da roca, Rumpelstiltskin a tratara com tamanha cortesia que Belle acabara por descartar a idéia.

Três dias depois, a jovem resolveu que estava farta das atitudes estranhas do feiticeiro e suas respostas evasivas sempre que ela perguntava o que estava acontecendo e decidiu ir até a vila mais próxima com objetivo de fazer um passeio – disfarçada, evidentemente – para se distrair.

O dia acabou por ser muito mais divertido do que Belle previra, pois estava ocorrendo um enorme festival e a vila estava muito mais cheia e animada do que de costume: barracas vendiam todo o tipo de produto, artistas faziam suas apresentações nas ruas ou em pequenos palanques, crianças riam e adultos conversavam despreocupadamente.

Ela assistiu um teatro de bonecos que contava a história de como um jovem – quase uma criança – foi nomeado rei após conseguir retirar uma espada de uma pedra. Belle sorriu observando as crianças ora rindo, ora observando, aflitas, ora gritando, assustadas, conforme a histórias prosseguia.

A jovem também comprou um belo tecido preto e um pequeno broche prateado que planejava usar para fazer uma capa para Rumpelstiltskin. Afinal, ela nunca lhe dera nada – uma idéia que nunca havia lhe ocorrido, mas a jovem sabia que a incomodaria a partir daquele momento.

No final da tarde, um grupo de homens fez um espetáculo particularmente belo com um fogo que alegavam ser mágico. Belle, entretanto, percebeu que eram apenas truques, sabendo que só o fizera porque aprendera magia com Rumpelsitiltskin. Uma incontestável prova do quanto se distanciara das outras pessoas nos últimos meses.

Ela retornou ao castelo ao entardecer, sabendo-se muito feliz, mas muito mais cansada do que teria ficado meses antes. Estou ficando mal acostumada, saindo tão pouco do castelo e, quando o fazendo, usando magia como meio de transporte. Preciso voltar a fazer longas caminhadas.

Durante o jantar naquele dia, Belle contou a Rumpelstiltskin tudo o que vira durante a sua visita à vila. Ele a escutou com atenção e deixou escapar uma gargalhada quando ela lhe contou a respeito do grupo de “magos” e como descobrira rapidamente que o que faziam era apenas um truque. Por fim, a jovem lhe mostrou o que comprara e expressou o seu desejo de costurar algo para ele vestir – ela sabia perfeitamente que Rumpelstiltskin logo descobriria o que estava tramando, quase nada lhe passava despercebido dentro daquele castelo.

“Uma capa para que o homem que eu amo se lembre de mim sempre que estiver fora,” disse Belle, com ternura. “Eu nunca lhe dei nada, Rum, e quero que você tenha algo meu sempre com você.”

“Não preciso de nada que faça eu me lembrar de você, minha Belle; e você já me deu o seu amor, que é meu bem mais precioso. Mas aceitarei o seu presente,” ele disse, e Belle percebeu que o emocionara.

Eles terminaram a refeição em silêncio, enquanto Belle pensava no que faria para tornar a capa mais bela. Por fim, quando terminou de comer e observou que Rumpelstiltskin também tinha acabado, a jovem se levantou para levar tudo o que haviam sujado de volta à cozinha. No segundo em que o fez, entretanto, o feiticeiro estalou os dedos e tudo o que estava sobre a mesa desapareceu.

“Sei que não gosta que eu use magia para esses fins, mas há algo que preciso lhe mostrar em meu estúdio e gostaria que você não se exaurisse com tarefas cotidianas antes.”

Belle assentiu e o acompanhou – curiosa demais para se sentir zangada pelo uso indevido da magia.

O estúdio de Rumpelstiltskin estava localizado na ala oeste do castelo, em sua torre mais alta. Ele sempre dizia que isso se devia ao fato dele querer ver sempre que alguém se aproximasse do castelo, mas Belle sabia que aquilo não era verdade – afinal, havia uma enorme quantidade de feitiços em todo o entorno do castelo que o avisavam sempre que alguém se aproximava –, ela acreditava que ele simplesmente apreciava a vista.

“Se você puder fazer a gentileza de fechar os olhos,” disse Rumpelstiltskin quando eles alcançaram a porta do estúdio, e Belle percebeu, pelo modo como a respiração dele se tornara pesada, que o feiticeiro estava nervoso. “O que eu quero te mostrar é uma surpresa, e você deve me prometer não abrir os olhos até que eu diga para fazê-lo.”

A jovem assentiu e fechou os olhos. Ela ouviu Rumpelstiltskin abrindo a porta e, logo em seguida, as mãos deles se juntaram às suas e Belle sentiu que estava sendo guiada até dentro do estúdio.

O que sentiu ao entrar, entretanto, foi muito diferente do esperado: uma brisa morna que não deveria ter sido capaz de trespassar as paredes do castelo e um forte – embora saboroso – aroma de rosas. Ela teve que se esforçar para não abrir os olhos automaticamente quando Rumpelstiltskin soltou as suas mãos.

“Pode abri-los, Belle,” ele disse alguns segundos depois, sua voz vindo de um ponto muito próximo à sua frente.

E Belle o fez, e a cena que viu fez com que ela se esquecesse de respirar. Eles estavam no que parecia ser uma pequena cabana de madeira, e cada centímetro de piso estava coberto de rosas das mais variadas cores – algumas das quais Belle sequer sabia que existiam –, e, no canto, a jovem pôde ver a roca de Rumpelstiltskin cercada por lã.

Aquilo, entretanto, não parecia muito importante naquele momento, pois ele estava diante dela, muito belamente trajado, estendendo uma bela rosa vermelha em sua direção. Algo muito especial estava acontecendo, e poucas vezes Belle desejara algo com tanta intensidade quanto agora desejava saber o que era.

Quando finalmente percebeu que prendera a respiração, ela deixou escapar um suspiro e estendeu a mão para receber a rosa. Assim que seus dedos a tocaram, entretanto, as pétalas começaram a cair lentamente – e Belle teve que se conter para não brigar com Rupelstiltskin por estragar algo tão belo – até que ela pôde ver um belo – embora pequeno – anel.

“Belle, esse anel é feito com ouro mágico, devidamente encantado por mim para que apenas você possa retirá-lo,” ele disse, pegando o anel. “A pedra no centro é a poção do nosso amor solidificada, de modo que, enquanto usá-lo, ele te protegerá de quaisquer maldições.”

Belle percebeu, a despeito da longa pausa feita por Rumpelstiltskin, que ele não havia acabado de falar tudo o que desejava. Ela notou pela força com a qual segurava o anel que, a despeito da expressão neutra no rosto de seu amado, ele estava muito nervoso.

“Ele é um pálido presente se comparado ao que eu quero lhe pedir,” disse o feiticeiro, lentamente, e Belle observou – o coração batendo fortemente contra o seu peito – Rumpelstiltskin se ajoelhar diante dela. “Eu trouxe a você este lugar: o lugar em que eu cresci, onde criei o meu filho até que uma cabana de madeira se tornou simples demais para o grande Senhor das Trevas!”

Ele fez uma nova pausa, respirando profundamente. Tudo que Belle mais queria era poder examinar cada centímetro daquele lugar tão especial, mas ela se sentia incapaz de tirar os olhos de Rumpelstiltskin, que permanecia ajoelhado e parecia cada vez mais agitado e nervoso – embora ainda tentasse esconder suas emoções.

“Eu trouxe você aqui, Belle, porque você fez com que eu me lembrasse de quem eu fui, fez com que eu me lembrasse do garotinho que foi abandonado pelo próprio pai, do marido imprestável para uma mulher que não me amava, das muitas tentativas de ser um bom pai. E, embora pudesse ter sido doloroso me lembrar de tudo isso, não é quando você é a mão que me guia de volta por esses caminhos.”

Ele fez mais uma pausa. Belle sabia que Rumpelstiltskin estava reunindo coragem para fazer algo que ela nunca pensara que faria por espontânea vontade, sem que ela tivesse lhe dito nada – embora, em seu íntimo, sempre tivesse desejado. Seu coração doía contra o seu peito, mas ela não se importava, pois nunca se sentira tão feliz em toda a sua vida.

“Mas, Belle, hoje, eu quero pensar no futuro ao seu lado. Você aceitaria esse anel e, em troca, me daria a honra de ser a minha esposa?”

A jovem abriu a boca algumas vezes para responder, mas as emoções que a preenchiam tornavam-na incapaz de fazê-lo. Belle se ajoelhou diante dele e estendeu as mãos trêmulas, segurando o rosto de seu amado entre elas. Ela engoliu seco algumas vezes, tentando controlar as lágrimas que teimavam em percorrer seu rosto, até que, por fim, conseguiu deixar escapar um rouco “sim.”

Quando Rumpelstiltskin colocou o anel em seu dedo, Belle percebeu que ele estava certo: a magia do anel era pálida se comparada à daquele momento.

~~//~~

Emma sabia perfeitamente bem que a vida não era um conto de fadas. Ela era familiar às perdas e ao abandono, tinha amplo conhecimento acerca das durezas que a vida – a vida real – podia apresentar. A loira definitivamente sabia o que era viver em um mundo em que os finais não tinham o costume de ser felizes, em que o único fator que determinava a felicidade de alguém era a capacidade da própria pessoa em construí-la.

Naquele momento, entretanto, quando observou o mesmíssimo médico que ela conhecera como aquele que examinara David Nolan no dia em que o haviam encontrado – e que saíra com Mary Margaret – se aproximando com uma expressão triste, ela era incapaz de acreditar que seria capaz de construir a própria felicidade.

“Sinto muito, miss Swan,” disse Whale. “Parece que a morte súbita do xerife foi resultante de um ataque cardíaco. Não havia nada que qualquer um de nós pudesse fazer.”

Emma assentiu, sabendo que Whale estava genuinamente triste. Ela conhecia a expressão que os médicos deviam manter quando davam uma notícia trágica a um paciente ou à sua família – embora menos por experiência própria do que por observar outras pessoas –, e sabia que o médico do hospital de Storybrooke não a estava apenas consolando, ele de fato lamentava a morte do xerife.

Como não lamentar a morte de um homem como Graham? Ele era gentil com todas as pessoas e criaturas que viviam em Storybrooke. O agora falecido xerife se preocupava genuinamente em ser útil, ajudando todos que pudesse.


Fora por essa razão que Emma abrira seu coração para ele: ela percebeu que ali estava alguém que tinha uma vida horrível por se preocupar menos consigo mesmo do que com os demais. A loira gostava do espírito nobre do xerife e desejava ajudá-lo a ver suas próprias necessidades.

E fora no momento em que abrira o seu coração para Graham que tudo dera errado. Como de costume!

Naquele momento, Emma sentia vontade de abandonar tudo o que vivera – e seu conhecimento acerca do que era realidade – e abraçar definitivamente a crença de Henry. Uma parte muito significativa dentro dela estava cansada e almejava algo que pudesse lhe dar algo pelo que sonhar, a esperança de ter um final feliz.

Talvez fosse por esse motivo que ela era tão sensível às dificuldades de Henry em encarar a realidade. Emma compreendia como ninguém como era difícil deixar as fantasias de lado, deixar esse terreno seguro – a infância – para trás.

Todos que conheciam Henry – mesmo Regina – concordavam que o menino merecia ser feliz e, para Emma, se a felicidade dele estava intimamente ligada à crença no impossível, que assim fosse! Ele era jovem e podia se dar ao luxo de viver mais uns anos em sua fantasia.

Ele não era louco – Emma sabia –, mas apenas uma criança que já passou por muito mais do que qualquer um de sua idade deveria passar e precisava de uma válvula de escape eficaz, algo que lhe desse esperança.

Emma, entretanto, era uma mulher adulta e, embora tudo o que desejasse naquele momento fosse se jogar no mundo fantasioso de Henry e fingir que ela era a salvadora e tudo acabaria bem, a loira sabia que não podia fazê-lo. Henry contava com ela para ser uma mãe e, embora ela não achasse que fosse capaz de cumprir esse papel, sabia que devia a ele uma tentativa.

Morremos a cada dia, a cada dia falta uma parte da vida.**

Ela não era uma pessoa dada à auto-piedade, mas se lembrava de um dia, muito tempo antes, ter lido aquela frase pichada nas paredes de um hospital em Nova York e, por vezes, algo fazia com que Emma se lembrasse dela. A loira recordou disso quando fora abandonada por sua família adotiva e forçada a se virar sozinha nas ruas, quando o pai de Henry – porque ela ainda se recusava a pensar no nome daquele desgraçado – a traíra e quando precisou abandonar Henry.

E, naquela noite, ao ouvir Whale contar que Graham morrera logo depois de beijá-la – o que era mesmo uma sorte –, a memória daquela frase fora ativada novamente, pois Emma percebeu que uma parte de si definitivamente morrera.

“Emma,” ela escutou uma voz conhecida muito próxima chamando e, quando se voltou, percebeu que Mary Margaret estava ao seu lado, encarando-a com o olhar triste e preocupado como se tentasse ler a sua alma. “Sinto muito, Emma.”

A loira não sabia como Mary Margaret ficara sabendo que ela estava ali, mas não estava sentindo a menor vontade de perguntar. Ela sequer sabia se podia de fato fazê-lo, pois não tinha certeza se sua voz a obedeceria naquele momento.

Sentiu Mary Margaret se sentando ao seu lado e a abraçando suavemente, tentando confortá-la. Emma, entretanto, não achava que precisava do conforto da amiga, ela já passara por aquilo, já fora abandonada algumas vezes – embora nunca de forma tão drástica – e podia lidar perfeitamente com a situação.

Entretanto…

Era boa a sensação de ter alguém ao lado dela que não tivesse a menor obrigação de estar ali. Alguém que tentava fazer com que ela se sentisse melhor – ou, pelo menos, não se sentisse sozinha – apenas pelo simples fato de que era amiga de Emma e que era para isso que serviam os amigos.

Ela não chorou nos ombros de Mary Margaret, é claro, pois já chorara o bastante naquela noite e sentia que não havia mais lágrimas a serem derramadas, mas se permitiu ser enlaçada pela amiga e apoiou a cabeça no ombro dela.

Sentir o calor do corpo de outro ser humano tão perto de si ativou algo dentro dela. Você não está sozinha nesse mundo mais, algo dentro de si a informou. Você tem Mary Margaret, você tem o Henry, e você ainda possui em Ruby e Ashley ótimas companhias sempre que você precisar se distrair. Você não está mais sozinha!

Então, pela primeira vez na vida, ela contestou aquela frase que há tanto tempo lera. Pois, embora pensasse que há muito tivesse perdido a capacidade de confiar nas pessoas, redescobrira-a dentro de si. A vida não é feita apenas de mortes, ela também é feita de renascimentos. E eles começam nos nossos sonhos.

~~//~~

Rumpelstiltskin contou a Belle sobre seu plano de pedir ao rei Midas que os casasse antes que os dois enfrentassem a corte da cidade-estado de Avonlea. A jovem, entretanto, não gostara da idéia: em sua opinião, seu pai tinha todo o direito de saber que sua única filha se casaria.

O feiticeiro tentou argumentar, dizendo que, se a corte desconfiasse do envolvimento dos dois no período anterior ao casamento, a jovem seria afastada e taxada como uma criatura impura. Mas Belle estava irredutível, e ele foi forçado a se render à vontade de sua amada por fim, sabendo que aquela decisão era relativa à vida dela e, portanto, ela tinha o direito de fazer a sua escolha.

Belle disse a Rumpelstiltskin que o melhor seria que eles conversassem com seu pai sozinho, antes de encarar o restante da corte. O feiticeiro concordou prontamente com isso, sabendo que dessa maneira a situação seria muito menos difícil, e começou a observar a rotina de Sir Maurice através de um espelho para determinar a melhor hora e localização para a visita.

Embora soubesse que Belle ansiava por rever o seu pai – mesmo que apenas através de um espelho –, Rumpelstiltskin não permitiu que ela o fizesse, pois temia que alguém usasse o mesmíssimo mecanismo para espioná-los. De modo que a jovem teve que se contentar, embora com evidente relutância, com o relato de Rumpelstiltskin a respeito da saúde de Maurice.

Após alguns dias de observação, Rumpelstiltskin contou a Belle que seu pai fizera rotina permanecer cerca de uma hora ou duas a mais na sala de reuniões do Conselho depois de findados os encontros diários, ao final da tarde.

Ficou acordado que os dois viajariam no dia seguinte usando mágica, transportando-se diretamente para a sala onde estaria Sir Maurice. Houve uma pequena briga naquela mesma noite, entretanto, pois Belle desejava que Rumpelstiltskin não usasse seu disfarce.

“A magia do beijo de amor verdadeiro é uma lenda entre o meu povo. Não temos conhecimento de alguém vivo que já tenha visto acontecer, e pouquíssimas pessoas ainda acreditam que exista,” dissera Belle. “Para que o meu pai aceite tudo de bom grado, é preciso que ele entenda a magnitude de nosso amor. É necessário que ele compreenda que nunca haverá outro alguém em minha vida.”

Ainda pensando no quanto seria mais fácil deixar que o rei Midas realizasse a cerimônia de casamento dos dois antes de encarar a corte de Sir Maurice, Rumpelstiltskin acabou por concordar. Era uma idéia extremamente arriscada, de fato, mas em breve Belle seria a sua esposa, e o feiticeiro sabia que era hora de aprender a confiar nela. Afinal, os instintos dela estavam corretos ao meu respeito. Belle acreditou, a despeito de todas as expectativas – mesmo as minhas –, em meu coração e estava certa. Por que agora será diferente?

Conforme combinado, eles partiram ao anoitecer do dia seguinte, após Rumpelstiltskin utilizar o seu espelho para conferir se apenas Maurice se encontrava na sala como uma última precaução. O homem, para o alívio evidente de Belle, estava sozinho, lendo papeis em sua mesa. Por fim, ele conjurou o feitiço e, num piscar de olhos, os dois estavam diante de Maurice.

Quando seus pés tocaram o chão, entretanto, Rumpelstiltskin sentiu a jovem cambalear ao seu lado e ele teve que ampará-la, deitando-a cuidadosamente no chão.

“Belle? O que você…? Quem é…? Você está bem?” Maurice estava visivelmente abalado, mas Rumpelstiltskin não lhe deu atenção naquele momento, preocupado com sua amada.

“Você ficará bem,” disse o feiticeiro, tentando tranqüilizar Belle, que tremia em seus braços, ao mesmo tempo em que se tranqüilizava. “Uma viagem tão longa utilizando esse método exige certo custo de energia. Perdoe-me, Belle, eu achei que você seria forte o bastante para suportá-lo.”

Enquanto a jovem assentia fracamente, ele sentiu Sir Maurice se aproximando relutantemente e se ajoelhando ao lado dos dois. Rumpelstiltskin se voltou para o homem e percebeu a expressão aflita e confusa no rosto dele.

Quando Maurice segurou uma das mãos da filha, a jovem abriu os olhos e sorriu de modo fraco, mas genuíno para o pai, e Rumpelstiltskin não pôde deixar de se sentir culpado por não ter permitido aquela visita antes.

“Ela vai ficar bem! Apenas precisa descansar até que recupere a energia perdida durante a viagem,” disse o feiticeiro para o homem ao seu lado, inspirado pelo sentimento de culpa que o dominava. “Belle, querida, avise-me quando achar que consegue se levantar e comer alguma coisa, para que eu conjure algo. Você vai precisar.”

Belle assentiu, aconchegando-se em Rumpelstiltskin. O feiticeiro aproveitou para encarar o pai dela: ele estava mais magro e pálido do que no dia em que haviam se encontrado pela última vez – quando Rumpelstiltskin fizera o acordo com Belle –, a perda da filha evidentemente o afetara.

Enquanto o feiticeiro pensava nisso, Maurice voltou os olhos para encará-lo. O homem estava claramente confuso, perguntando-se quem era a pessoa que trouxera sua filha de volta e quais seriam suas verdadeiras intenções ao fazê-lo.

“Você é Rumpelstiltskin, certo?” Disse Maurice, por fim, incapaz de contar um suspiro.

“Correto! Decepcionado que eu não seja um cavaleiro de armadura brilhante e bons modos pronto para salvar donzelas indefesas?” Rumpelstiltskin perguntou, deixando escapar uma risadinha, e percebeu, pela expressão no rosto do outro homem, que ele realmente se decepcionara.

“Rum,” chamou Belle, com a voz fraca, mas em um evidente tom de desgosto e censura. “Seja bonzinho com o meu pai.”

Rumpelstiltskin a observou se sentando lentamente. Ele ficou satisfeito ao perceber que a cor estava voltando à face de Belle e se apressou em ajudá-la a se levantar, estendendo o braço para que ela se apoiasse nele.

Maurice se apressou em puxar uma cadeira para sua filha e, em seguida, se sentou ao lado dela. Embora preocupado com as repercussões daquela visita, Rumpelstiltskin não pôde deixar de sorrir ao observar a felicidade expressa no rosto de sua amada Belle quando o pai dela segurou suas mãos sobre a mesa, ainda evidentemente incapaz de expressar em palavras as perguntas que surgiam em sua cabeça. O feiticeiro estalou os dedos e, repentinamente, um banquete surgiu diante deles.

“Coma, Belle!” Ordenou Rumpelstiltskin quando, passados alguns segundos, a jovem ainda não começara a fazê-lo.

“Não gosto dessa comida que você conjura,” disse Belle, encarando o banquete diante de seus olhos com uma expressão carrancuda. “Tem um gosto estranho, como se não fosse real.”

“Eu não estou pedindo que você coma pelo prazer de sentir os sabores da comida, querida. Sequer posso dizer que esteja pedindo. Não, não, não. Estou mandando você comer para que reponha as energias que gastou durante nossa viagem.”

Rumpelstiltskin observou Belle pegar uma maçã e encará-la com irritação antes de dar a primeira mordida, o olhar intrigado que a jovem lhe lançou enquanto mastigava perguntava claramente o que ele fizera com aquela comida. Rumpelstiltskin, entretanto, não tinha uma resposta, ele não fizera nada diferente da última vez que conjurara comida para Belle.

Aliviado por ver sua amada devorando avidamente a refeição diante de si, o feiticeiro se voltou para o pai dela, que ainda parecia estar absorvendo tudo o que via.

Sir Maurice de Avonlea,” começou Rumpelstiltskin e, quando o homem se voltou para encará-lo, ele lhe lançou o que julgava ser seu sorriso mais aterrorizante. “Viemos aqui hoje porque julgamos necessário fazer uma pequena modificação no contrato anterior.”

“Uma mudança?” Perguntou Maurice, lentamente. Ele se voltou para Belle, que assentiu com seriedade, e pousou novamente o olhar em Rumpelstiltskin. “E você veio me consultar a respeito disso?”

“Ora, ora! Receio que consultar seja uma palavra muito forte,” riu-se o feiticeiro. “Eu diria que nós viemos lhe avisar, e Belle, evidentemente, deseja a sua bênção.”

Maurice parecia aterrorizado e completamente sem palavras, o que Rumpelstiltskin não julgou ser um bom sinal. Ele desconfia do que vamos lhe contar e está muito claro que esta não lhe é uma perspectiva agradável.

“Papai,” disse Belle, atraindo a atenção dos dois homens para si. Ela ainda parecia cansada, mas seu rosto estava corado e seu tom de voz firme e determinado. “Eu e Rum vamos nos casar, e nada me faria mais feliz do que ver o meu pai na cerimônia.”

Maurice permaneceu por um momento, absorvendo o que a filha dissera. Rumpelstiltskin deixou escapar um suspiro: aquela conversa definitivamente não estava tomando um bom caminho. Como pude deixar Belle me convencer em aparecer aqui sem meu disfarce? É louco, é perigoso!

“Eu sei que lhe parece improvável, mas eu o amo. Se minhas palavras não são o bastante para convencê-lo, olhe para Rumpelstiltskin e veja como ele está mudado. Aquele que você viu no dia em que nós dois fizemos o nosso primeiro acordo nada mais era do que uma alma amaldiçoada desesperada para ser libertada, e apenas um beijo de amor verdadeiro é capaz de quebrar tal maldição.”

Rumpelstiltskin definitivamente não gostou da descrição que Belle fizera de si, fazendo-o parecer tão vulnerável e fraco, mas não a contradisse, pois sabia que ela medira previamente cada palavra que estava dizendo – sua Belle sempre pensava antes de falar ou agir. Além disso, havia verdade demais naquilo.

Ele teve que se esforçar, entretanto, para não ficar zangado quando Sir Maurice se voltou para ele e o analisou rápida, mas meticulosamente.

Sir Maurice, senhor de Avonlea,” disse Rumpelstiltskin, por fim. “Eu era uma pessoa amaldiçoada e Belle pôde ver através da maldição e quebrá-la. Graças ao amor verdadeiro que compartilhamos – porque o amor verdadeiro jamais é unilateral –, eu sou humano novamente.”

Rumpelstiltskin se adiantou e segurou os ombros de sua amada por trás da cadeira em que ela se sentava. A jovem olhou para cima para encará-lo e sorriu, o que lhe transmitiu coragem para continuar seu discurso.

“É por amor e devoção, e pelo desejo de vê-la feliz, que eu, Rumpelstiltskin, venho lhe pedir a mão de sua filha, contrariando todos os meus hábitos, pois não me é familiar o ato de pedir algo.”

Rumpelstiltskin e Sir Maurice se encararam por um momento, e o feiticeiro percebeu que o pai de sua amada não gostara do que ouvira e de ter que reconhecer a verdade naquilo. Portanto, quando o viu abrir a boca para responder, Rumpelstiltskin não pôde deixar de sentir medo que Belle se decepcionasse.

“Bom, o que eu posso fazer?” Disse Maurice, voltando-se para encara a filha, com um tom surpreendentemente resignado e calmo. “Querida, eu nunca tive o prazer de conhecer a felicidade de um casamento baseado no amor. Eu e sua mãe fomos grandes amigos, ela era inteligente e teimosa como você, estava ao meu lado em todas as decisões, embora o Conselho não aprovasse, mas nunca nos amamos, foi um casamento arranjado. Estou feliz que você faça de um acordo algo feliz e ficarei feliz em entregar a sua mão ao homem que seu coração escolheu amar verdadeiramente.”

Rumpelstiltskin ficou sem reação pela primeira vez naquela noite. Ele encarou Belle, que não parecia chocada diante da declaração do pai e sorria abertamente. A jovem se levantou e pai e filha se uniram em um abraço, enquanto Belle agradecia veementemente.

Quando os dois se separaram, Sir Maurice se voltou para Rumpelstiltskin com uma expressão séria em seu rosto e a mão estendida, e o feiticeiro se sentiu como um rapaz conhecendo o pai de sua amada – a despeito do fato de ter mais de duzentos anos.

“Seja bom para a minha filha, Senhor das Trevas, ou mandarei todos os soldados sob meu comando atrás de você e não descansarei antes de vê-lo pagar.”

O feiticeiro percebeu que Sir Maurice falava sério pela expressão em seu rosto. Ele notou, entretanto, que, embora os dois não fossem exatamente amigos, eram aliados em prol da segurança de Belle.

“Eu nunca farei nenhum mal à sua filha e, se alguém um dia se atrever a fazê-lo, serei a pessoa a lhe entregar a cabeça do responsável em uma bandeja.”

Então, eles apertaram as mãos diante do olhar divertido de Belle – como se ela achasse engraçado o modo rude e agressivo como selaram aquele acordo –, e Rumpelstiltskin soube que há muito não fazia um acordo tão importante.

~~//~~

Emma sabia que o fato de Regina ter aceitado a derrota de modo tão calmo e alegre era um claro sinal de que as coisas não estavam muito boas para ela.

“Você não escolheu um bom amigo em Gold, mas ele é um excepcional inimigo,” disse Regina.

A loira vivera em muitos lugares em toda a sua vida, tivera sua cota de cidades grandes e de cidades pequenas. Ela sabia que quanto menor o lugar, mais fácil identificar quem eram as verdadeiras figuras de poder ali. Cerca de um mês vivendo em Storybrooke, a menor cidade em que já estivera, e Emma sabia quem estava no poder ali, e desafiara ambos.

Para ela, era incrível o fato de que a mulher que se esquivava de todo o tipo de relacionamento – bons ou ruins, pouco importava, ambos criavam raízes indesejadas – era agora a única xerife de Storybrooke e contrariara as duas pessoas mais poderosas da cidade. O que mais a espantava, entretanto, era a sua principal motivação: ela criara um laço com o filho que nunca desejara e não podia mais se imaginar longe dele.

Emma achou que a preocupação a respeito da vingança de Gold não permitiria que ela dormisse naquela noite, mas o dia fora muito cansativo – e tomara algumas doses na comemoração daquela noite –, de modo que a loira dormiu logo que deitou na cama, acordando apenas quando seu despertador tocou, na manhã seguinte.

Quando entrou na estação pela primeira vez como xerife de Storybrooke, depois de um rápido café da manhã, tinha a forte sensação de que, em breve, Gold a confrontaria, e que, de alguma forma, ela não iria gostar do resultado disso. A perspectiva não a agradava.

Então, Emma notou algo que tirou Gold de seus pensamentos por um momento: pendurada em seu armário, se encontrava a jaqueta de Graham. Então, ela se lembrou de onde a vira pela última vez.

“Achei que você gostaria de tê-la, afinal,” disse uma voz vinda da porta, sobressaltando Emma.

Ela levou a mão até sua arma, que se encontrava escondida dentro de sua jaqueta, ao observar Gold entrando no novo escritório dela, sem se importar com o fato de que a expressão no rosto dele era tranqüila, até mesmo divertida – aquele era um homem perigoso e cuidado nunca era demais.

Então, o homem começou a revelar a Emma como planejara que ela o denunciasse perante os cidadãos da cidade, enfrentando-o como ninguém nunca o havia feito. A loira se sentiu manipulada – o que de fato fora – e percebeu que Regina tinha razão: Gold era uma péssima escolha para um aliado.

“Todos têm medo de Regina, miss Swan, mas tem ainda mais medo de mim,” disse ele, ressaltando o que Emma sabia desde seu primeiro confronto com Gold. “Quando você me desafiou, você os ganhou.”

Emma conhecera muitas pessoas em sua vida – não muito bem, é claro, mas o bastante para determinar que tipo de pessoas elas eram –, mas, em toda a sua vida, nunca vira uma pessoa tão esperta. A loira se orgulhava de ser uma pessoa incorruptível e perfeitamente capaz de ler as intenções dos outros. Gold, entretanto, conseguira enganá-la, manipulá-la, o que a intrigava e atemorizava simultaneamente.

Ela precisava descobrir mais a respeito daquele homem, e Emma sabia perfeitamente que não seria uma tarefa fácil: ele não parecia ser íntimo de ninguém naquele lugar e seus segredos eram apenas seus. Bom, ela daria um jeito.

“Por que você fez isso?” Perguntou Emma, por fim, mas ela já sabia a resposta.

Como desconfiava, Gold desejava Emma em um cargo de poder para ser capaz de usar aquele poder se um dia precisasse através do acordo que haviam feito para que o homem deixasse com que a jovem Ashley mantivesse o seu bebê.

“Agora que você é xerife, acho que será mais fácil acharmos um modo de você me pagar o que deve,” ele disse.

Um sorrisinho que fez com que Emma desejasse socá-lo entre os olhos brincou nos lábios de Gold enquanto ele deixava a estação. Ela, entretanto, se conteve e o observou saindo.

Eu estou na vantagem, pois ele ainda não é um inimigo. Vamos deixar as coisas como estão, por enquanto. Regina era, de fato, o suficiente com o que lidar naquele momento.

~~//~~

Belle sabia por experiência que a decisão de se casar não podia ser feita de maneira simples e leviana quando se era a única herdeira de uma família nobre, mas ela esperara que o fato de já ter feito uma promessa eterna a Rumpelstiltskin garantisse que as negociações fossem mais fáceis. Como se enganara!

O Conselho era composto pelos homens mais velhos das famílias nobres que serviam ao seu pai, que sabiam todas as normas sociais, políticas e econômicas, e cuja maioria acreditava que elas deveriam ser seguidas à risca.

A primeira questão que surgira, evidentemente, dizia respeito à capacidade de Rumpelstiltskin ter filhos. Algo que Belle passara algum tempo se perguntando, mas nunca tivera coragem de perguntar a ele. O feiticeiro pareceu achar a pergunta pertinente e pensou por alguns minutos antes de responder que acreditava ser capaz.

O Conselho, entretanto, não ficou satisfeito com a resposta e continuou fazendo perguntas pessoais a ele que nem mesmo Belle tinha coragem de fazer. Rumpelstiltskin, entretanto, parecia estar achando toda aquela situação muitíssimo divertida e, por vezes, respondia com mentiras apenas para apavorar a todos.

Belle ficou exausta após o primeiro dia, o qual Sir Cogsworth encerrou após levantar a possibilidade de Rumpelstiltskin se tornar apenas um consorte da governante, desprovido de quaisquer poderes. Essa não era, entretanto, uma ideia popular entre o Conselho, que não desejava ver uma mulher governando sozinha.

O casal comeu a última refeição do dia na biblioteca, e Rumpelstiltskin expressou o seu desejo de que Belle renunciasse à sua herança. Ela sabia que o feiticeiro não estava lhe dando uma ordem e o fato dela ser herdeira de seu pai não mudaria sua vontade de se casar com ela, mas Rumpelstiltskin parecia achar óbvio que Belle não tinha nascido para aquela vida – assim como ele próprio.

A jovem concordara prontamente com ele: de fato, ela nunca se sentira confortável diante do destino de governar aquela cidade como um fantoche do Conselho e de seu marido. Ela prometeu, portanto, propor que seu pai se casasse novamente ou adotasse um novo herdeiro no dia seguinte.

Durante a manhã posterior, entretanto, a jovem se viu arrependida de sua decisão, pois, no momento em que fez as sugestões, a atenção do Conselho se voltou completamente para ela. Eles lhe fizeram uma grande quantidade de perguntas íntimas, e apenas poucas respostas puderam ser sinceras.

Ao contrário de Rumpelstiltskin, Belle não considerava aquilo engraçado ou divertido, de modo que, por volta do meio do dia, a jovem estava tão cansada que começava a sentir sua cabeça dolorida e um princípio de enjôo. E foi nesse momento que o seu futuro marido interferiu, interrompendo a rodada de perguntas sem cerimônias e a expulsando da sala.

Belle não ficou para descobrir a reação das pessoas à brusca interferência de Rumpelstiltskin – embora quisesse participar das decisões, tudo o que mais desejava naquele momento era sair dali –, mas ela sabia que o feiticeiro imporia a sua vontade. Afinal, ele era o Senhor das Trevas – ou, pelo menos, todos acreditavam nisso – e os conselheiros de seu pai nada mais eram do que velhos arrogantes. Ela riu, imaginando a cena.

Foi com um sorriso divertido nos lábios, portanto, que Belle resolveu utilizar seu tempo livre para fazer uma caminhada pelo castelo que um dia fora a sua casa. Ele não durou muito tempo, entretanto, pois a jovem logo percebeu que a grande maioria das pessoas se afastava com desculpas sempre que ela tentava se aproximar.

Por fim, cansada de ser evitada, Belle rumou até a biblioteca, onde esperava que Rumpelstiltskin a encontrasse à noite, quando a reunião com o Conselho terminasse naquele dia.

Ela estava escolhendo um livro quando ouviu as portas sendo abertas e se voltou para elas, com esperança de ver Rumpelstiltskin. Quem entrou, entretanto, foi uma senhora de idade, muito baixa e gordinha, que Belle conhecia desde a infância.

Miss Potts, a senhora adquiriu o hábito de leitura durante os meses de minha ausência?” Perguntou Belle com um sorriso assim que percebeu que a mulher mais velha não se afastara ao notar a sua presença.

Lady Belle e sua língua sempre afiada,” disse Potts, sorrindo em retribuição. “É bom ver que todos esses meses não te mudaram tanto, minha querida.”

A jovem se aproximou de miss Potts, a governanta de Sir Maurice, e a abraçou. Potts era irmã mais jovem de um marquês que servia na corte do rei Leopold e, portanto, fora qualificada para cuidar da educação da única herdeira do governo de Avonlea após a morte de sua mãe.

Belle contou a Potts o quanto estava aliviada por ela não estar agindo como todos os outros, que se comportavam como se ela fosse um monstro. A mulher mais velha sorriu, dizendo que eles não a estavam evitando por medo, mas porque a consideravam uma heroína.

“Canções foram feitas sobre a sua coragem e nobreza, minha querida. E eis que agora você retorna para nós como futura esposa amada da besta mais terrível de todos os reinos desse mundo, cercada por magia e beleza. Não é à toa que alguns pensem que você é a grande Deusa encarnada.”

Belle se deixou tomar por uma sonora gargalhada. Ela sempre soubera que as pessoas podiam ser muito tolas, mas nunca imaginara que todos eram tão crédulos. Estava contente, entretanto, que os sentimentos direcionados a ela eram bons. Potts sorriu indulgente, esperando pacientemente que a jovem parasse de rir.

“Seu pai mandou que eu viesse avisar que o Conselho vai mantê-los presos até mais tarde e pediu que você não esperasse por ele e seu futuro marido para fazer a sua refeição noturna,” disse Potts, por fim.

A jovem sentiu toda a sua alegria se esvair ao ouvir aquilo. Embora o povo fosse tolo, o Conselho não o era, e estava fazendo o possível para desacreditá-la como herdeira de seu pai – Belle não era idiota, ela sabia que havia conselheiros próximos de se tornar herdeiros caso ela abrisse mão de seu direito.

“Belle, você está se sentindo bem?” Perguntou miss Potts com uma expressão muito preocupada. “Você está muito pálida e parece cansada. Por que não retornar aos seus aposentos? Mandarei que entreguem sua refeição lá.”

Belle assentiu, mas não se moveu. Ela precisava se distrair e sabia que os livros seriam uma excelente companhia naquele momento – a melhor de todas! Após alguns segundos à porta, esperando que a jovem a acompanhasse, miss Potts deixou escapar um longo suspiro, e Belle se sentiu feliz que a mulher a conhecesse bem o bastante para entender os sentimentos dela sem que ela precisasse dizê-los.

“Mandarei trazer aqui, então,” disse, voltando-se para a saída.

Belle observou a mulher mais velha sair, fechando a porta atrás de si, e se voltou para os seus livros, pegando um aleatório na estante – estava sem qualquer paciência para fazer uma escolha mais cuidadosa.

A jovem se sentou e começou a leitura. Quando chegou à metade da segunda página, entretanto, percebeu que não absorvera nada e foi forçada a retomar do começo. Ao alcançar o final da primeira página pela segunda vez, novamente notou que ainda não se lembrava de sequer uma palavra que lera. O que está acontecendo comigo? Nem a iminência da invasão dos ogros me deixou inquieta a ponto de não conseguir ler.

“Você devia fazer como disse a velha e ir descansar,” disse uma voz vinda de um lugar à direita de Belle, sobressaltando-a.

A jovem não precisou levantar os olhos para saber quem estava falando com ela. Ficou, entretanto, curiosa, pois não esperara ver Gwenaël durante sua estadia no castelo do pai. Por algum motivo, Belle sempre acreditara que o menino estava preso ao castelo de Rumpelstiltskin.

A jovem não sabia, entretanto, quem era verdadeiramente Gwenaël, embora tivesse conversado com ele diversas vezes no decorrer dos muitos meses que passara com Rumpelstiltskin. Ela lhe perguntara algumas vezes – direta ou indiretamente -, mas o menino nunca respondera e, por fim, a jovem decidiu que não precisava saber, por hora.

Ela estava certa, entretanto, de que Rumpelstiltskin não o conhecia, pois lhe perguntara uma vez se ele sabia de alguém chamado Gwenaël, dizendo ser um nome que ouvira repetidamente em uma das vilas próximas ao castelo, e o feiticeiro negara. A ideia de que Rumpelstiltskin não soubesse a respeito do menino era incrível, pois ele parecia ter conhecimento de tudo o que ocorria em seus domínios.

“Não chame miss Potts de velha nesse tom,” disse Belle com severidade, tentando conter o enorme número de perguntas que havia surgido na ponta de sua língua diante da aparição inesperada dele em Avonlea. “Ela é uma velha amiga, quase uma mãe para mim.”

“A nobreza é sempre tão relaxada com seus filhos,” disse Gwenaël, com uma voz debochada. “Reis e rainhas, duques e duquesas, marqueses e marquesas, todos passam muito tempo querendo crianças, para abandoná-las aos cuidados de outrem quando nascem.”

O tom do menino indicava claramente que ele queria irritá-la, mas Belle estava acostumada a isso, pois era um hábito tanto de Gwenaël quanto de Rumpelstiltskin – as duas únicas companhias que tivera por muitos meses. Uma das muitas semelhanças entre os dois que faziam com que a jovem tivesse certeza que eram parentes.

“Você está falando por experiência própria, Gwenaël?” Perguntou Belle, brincando, mas desejando em seu íntimo que ele respondesse àquela pergunta.

“Não! Meus pais sempre foram bons comigo, e eu não sou resultado do desejo de manter o nome da minha família. Eles sempre desejaram o melhor para mim, como sei que você vai querer para o seu filho.”

Belle permaneceu calada por alguns segundos, simultaneamente surpresa tanto pelo fato do menino tê-la respondido com algo concreto quanto com as palavras dele em si. Um filho! Por alguma razão, a ideia nunca lhe ocorrera como algo mais do que um sonho para o futuro longínquo – mesmo o assunto surgindo e ressurgindo em um número de vezes extraordinário durante as reuniões do Conselho.

“Gwenaël,” ela disse, por fim. “Eu não desejo um filho. Há muito que ser decidido antes. Eu preciso fazer com que Rum confie totalmente em mim, e seria muito bom dar ao mundo um tempo para se acostumar com a nossa união.”

“Mesmo assim,” disse o menino, suavemente, “você será uma ótima mãe para o seu filho.”

Quando a jovem ia perguntar ao menino o que ele queria dizer com aquilo, duas coisas aconteceram simultaneamente: as mudanças de seus hábitos alimentares e seu excessivo cansaço finalmente começaram a fazer sentindo e uma jovem serva, muito trêmula, entrou na biblioteca com a refeição de Belle.

Quando a serva finalmente saiu da biblioteca, após deixar uma bandeja sobre a mesa, e Belle pôde olhar para o canto onde se encontrava Gwenaël, ela notou que o menino havia desaparecido.

~~//~~

Passar todo o dia procurando pelo pai de duas crianças, evitando que elas fossem jogadas contra o sistema de adoção, fizera emergir memórias que Emma tentara a todo custo evitar durante toda a sua vida. De modo que, quando ela retornara para a casa que dividia com Mary Margaret, no final da noite, a loira se sentiu incapaz permanecer ali, tamanha sua agitação.

A vida no sistema de adoção não era fácil para ninguém. Os orfanatos nem sempre possuíam empregados dispostos a educar e cuidar de dezenas de crianças carentes de afeto e atenção. Mas estar ali era melhor do que na casa de pais que, repentinamente, deixavam de desejar uma criança adotada e começavam a tratá-la de modo repulsivo. Emma sabia que não fora a única que passara por isso e, cansada, fugira.

A situação de Nicholas e Ava, felizmente, acabara muito bem, pois a loira conseguira encontrar o pai deles, Michael Tillman, e convencê-lo de ficar com os dois. Um final feliz, Henry diria, se tivesse estado presente quando os garotos se encontraram pela primeira vez com seu progenitor. Por enquanto, Emma pensaria, sabendo-se incapaz de dizer em voz alta e romper com as expectativas de seu filho.

Henry, o filho que a encontrara, algo inacreditavelmente espantoso que fazia com que ela tivesse esperanças novamente de que talvez, apenas talvez, se encontrasse com seus pais um dia. Era uma esperança vã, ela sabia, mas não conseguia deixar de lado, embora soubesse que a situação de Henry era muito diferente da dela: o menino fora colocado para a adoção, Emma fora encontrada na beirada da estrada por um menino de sete anos de idade.

A loira ouviu uma batida em seu carro e viu Henry segurando uma caixa da mercearia local, com um enorme e contagiante sorriso nos lábios.

“Torta de abóbora,” ele disse, quando a viu encarando a caixa. “Eu achei que você gostaria. Era de abóbora, certo?”

Emma se lembrou, então, da mentira que contara a ele naquele mesmo dia, mais cedo. Bom, era o melhor para ele! Aquele homem era um ladrão, um traidor que a mandara para a cadeia em seu lugar, alguém indigno de conhecer Henry.

Mas Emma também não era inocente naquela história. Ela também abandonara o filho, mesmo sabendo o destino de algumas crianças no sistema de adoção. Mas ela estava arrependida, e isso bastava. Certo?

De fato, a loira sequer sabia como conseguira viver com a sua consciência durante os onze anos posteriores ao abandono. Ela tentara esquecer que ele existia e, quando pesadelos nos quais via seu filho fugindo de seu lar adotivo a acordavam, Emma tentava se convencer que não passavam de sonhos ruins. O menino estaria melhor onde estivesse do que com ela, isso era certo.

Agora, em Storybrooke com Henry, Emma sabia perfeitamente que estava apenas se consolando, tentando encontrar uma desculpa que justificasse o fato de ter feito com seu filho o mesmo que seus pais haviam feito com ela. Fora covarde, ela sabia. Não mais! Henry precisa de mim, e não vou abandoná-lo uma segunda vez.

Tendo mentido sobre o pai dele, entretanto, Emma sentia como se o estivesse traindo novamente. Não, é o melhor para ele! Henry merece apenas pessoas boas em sua vida.

“O que você fez com Ava e Nicholas,” disse Henry, com um sorriso radiante. “Você está realmente mudando as coisas por aqui.”

Emma sorriu em retorno para o filho e começou a abrir a caixa quando ouviu o barulho de um carro se aproximando e, em poucos segundos, um conversível preto parou do outro lado da rua, exatamente diante dos dois.

A loira notou que havia dois passageiros, dois homens. O motorista parecia ser o mais velho e estar na casa dos trinta anos de idade, o passageiro tinha a aparência mais jovem.

“Você saberia de um bom lugar onde eu e meu amigo possamos ficar, nessa cidade?” Perguntou o motorista, com um sorriso amigável. Emma estava certa de que o conhecia de algum lugar, embora não soubesse de onde, mas percebeu que havia algo de familiar nos olhos dele.

“Vocês vão ficar?” Perguntou Henry, parecendo muito surpreso e curioso. Emma sabia que a reação dele se devia ao fato de que ele acreditava que ninguém podia entrar ou sair de Storybrooke.

“Esse é o plano,” disse o motorista, com um olhar intrigado.

“Vocês sempre fazem um interrogatório quando alguém aparece por esses lados, xerife?” Perguntou o homem no banco do passageiro com o tom irônico, embora não exatamente hostil. Emma percebeu que ele também lhe era familiar, embora de um modo ainda mais vago.

“É muito incomum termos visitantes aqui em Storybrooke,” disse Emma. “De todo modo, vocês podem se hospedar com a Granny, que fica a duas quadras daqui.”

O motorista agradeceu e cutucou o passageiro, que fez o mesmo. Depois, eles deram partida no carro e foram embora, deixando Emma e Henry observando o carro desaparecer, confusos.

~~//~~

Belle estava profundamente arrependida por ter convencido Rumpelstiltskin a deixar com que a cerimônia de casamento dos dois fosse realizada na corte de seu pai. Não que ela não quisesse a presença dele e de seus antigos amigos, mas o preço fora demasiado alto.

Rumpelstiltskin sabia que Belle não ficara satisfeita com a solução encontrada por seu pai e o Conselho para a questão de sua herança como governante de Avonlea. Ela atrasara por dois dias a conclusão tentando encontrar outro meio, mas tudo fora em vão.

Belle compreendia que Rumpelstiltskin também não gostara da resolução do Conselho. Ele lutara ao lado, argumentando como pôde e, ao final do primeiro dia de discussões, o feiticeiro chegou a lhe oferecer ameaçar cada um dos membros do Conselho, mas Belle não permitiu – ela não o faria retornar a seus velhos e desagradáveis hábitos.

Rumpelstiltskin sabia que, não fosse o fato de tudo isso dizer respeito à felicidade de Belle, ele teria deixado o castelo de Sir Maurice sem assinar qualquer acordo, levando a sua futura esposa consigo. Eu já perdi um filho, e agora eles querem me tirar outro! Não posso permitir isso!

Belle passou os dias que antecederam o seu casamento irremediavelmente infeliz. Ela acabara de descobrir que carregava o filho de Rumpelstiltskin e descobria que precisaria deixá-lo, entregá-lo ao seu pai para que ele fosse o herdeiro em seu lugar.

Rumpelstiltskin tinha muito que dizer a respeito da decisão do Conselho, mas guardou os seus pensamentos para si, x. Embora eles estivessem passando pouco tempo juntos devido aos preparativos para o casamento, o feiticeiro sabia que a sua amada se encontrava muito cansada, triste e preocupada e não desejava ser mais um fardo para ela com suas explosões de raiva.

Belle estava preocupada que Rumpelstiltskin descobrisse a sua gravidez antes que ela tivesse a oportunidade de lhe contar. Eles raramente se encontravam a sós e, quando o faziam, era por pouquíssimos minutos antes que fossem interrompidos, de modo que, mesmo que a jovem tivesse encontrado uma maneira de contar a ele – o que não ocorrera –, ela não teria tido tempo para fazê-lo.

Rumpelstiltskin sentia falta do tempo que tinham apenas para si. Por vezes, ele pensara em se esgueirar até o quarto de Belle durante a noite para que pudessem conversar – ele tinha a esperanças de que tivesse a capacidade de acalmar sua amada – ou pelo menos tê-la em sua cama. Mas o feiticeiro sabia que era muito arriscado que alguém os interrompesse, fazendo com que todo o esforço para manter Belle em contato com sua antiga casa fosse em vão.

Uma parte de Belle desejava que Rumpelstiltskin ignorasse suas próprias recomendações e invadisse o seu quarto durante a noite. Ela sentia uma falta tremenda de suas conversas – mesmo que fosse incapaz de contar a respeito de sua gravidez – ou de simplesmente sentir o corpo dele contra o seu. Uma parte da jovem, entretanto, estava feliz com a distância, que tornava difícil que ele descobrisse sozinho acerca de seu estado.

O dia do casamento amanheceu chuvoso, e Rumpelstiltskin escutou cada um dos membros do Conselho enumerar um presságio diferente para ele. Uns diziam que significava que seria um bom casamento, outros que seria ruim, houve um que chegou a dizer que isso significava que ele e Belle só teriam filhas – o que provocou uma gargalhada no feiticeiro.

Belle se viu forçada a uma preparação árdua para o seu casamento que mostrou o quanto ela se desacostumara com a vida na corte – que exigia que a mulher sempre fosse o mais bela possível. O que antes fora chato e incômodo, após quase dois anos no castelo de Rumpelstiltskin se tornara quase insuportavelmente entediante.

O feiticeiro achava que a espera por Belle no salão do trono do castelo de Sir Maurice, diante do governante, do Conselho e alguns dos mais importantes membros do exército e do quadro de funcionários do castelo, era um dos momentos mais aterrorizantes de toda a sua vida. Após algum tempo sozinho ali, entretanto, Maurice se juntou a ele:

“Parece que até mesmo o todo poderoso Senhor das Trevas fica nervoso no dia de seu casamento,” disse o homem, parecendo divertido. Com o passar dos dias, Rumpelstiltskin deixara de pensar em Sir Maurice como o pai que abandonara a filha para começar e vê-lo como uma alma desesperada que, com profundo sofrimento, colocara seu dever como governante na frente de seu dever como pai, algo que, embora não concordasse, Rumpelstiltskin compreendia.

Belle observou seu pai e seu futuro marido lado a lado diante de Sir Cogsworth, um dos membros menos antipáticos do Conselho, que concordara em casá-los, e quase pôde visualizar tudo acabando bem – embora soubesse que aquele pensamento era muito bobo.

Rumpelstiltskin não pôde deixar de sorrir – mesmo sabendo o quão bobo provavelmente estaria parecendo aos presentes – quando viu Belle entrando sozinha no salão. Ele estava certo de que nunca a vira tão bela quanto naquele dia, com um belíssimo vestido azul e branco, a face corada e seus maravilhosos olhos azuis radiantes de felicidade.

Belle parou diante do pai e de Rumpelstiltskin. Ela olhou primeiramente nos olhos do primeiro, buscando mais uma vez a bênção dele. O homem sorriu e lhe deu um beijo na testa, pegando em seguida suas mãos e entregando-as ao seu futuro marido, em um gesto simbólico. E foi esse o momento em que Belle o encarou.

Olhar nos olhos de Belle naquele momento foi o bastante para que Rumpelstiltskin compreendesse que todo o restante da cerimônia seria um mero detalhe para a jovem. Seu pai já lhe entregara a ele e isso parecia bastar.

Belle percebeu que a pele dele brilhava sob a luz das velas naquele dia. Ele era belo, à sua maneira, e parecia mergulhado em um mar de felicidade.

Quando os dois caminharam juntos até Sir Cogsworth, eles souberam que aquele momento era o começo de um sonho realizado. O futuro, pela primeira vez, parecia-lhes um aliado, porque estariam juntos.

_______________

* “A véspera do inverno/Uma vez em um conto/Um patinho feio/Perdido no verso/Do cântico dos pardais/Sonhando, as estrelas.” (Música: Swanheart – Nightwish)

** Frase por Séneca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Primeiramente, gostaria de agradecer imensamente à Tatty Swan e à Melissa França, que fizeram a grande gentileza de comentar! Muito, muito obrigada!

Não vou ameaçar ninguém aqui dizendo que vou parar de escrever se vocês não comentarem, mas os comentários são o melhor presente que vocês podem dar a um escritor, portanto, não deixem de fazê-los. Sugestões, comentários, críticas ou elogios: tudo super válido!

Segunda coisa: talvez vocês tenham notado, existem elementos da versão d'A Bela e a Fera da Disney nesse capítulo. Os nomes Miss Potts e Cogsworth são a versão em inglês para Madame Samovar e Horloge, respectivamente.

O próximo capítulo será o último dessa parte da história, portanto, ele responderá muitas perguntas. Prometo escrevê-lo o mais rápido possível!!

Por fim, espero que tenham gostado desse capítulo!