E Se? escrita por WaalPomps


Capítulo 46
When the pain just swims right through me




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Giane recebeu alta no começo da tarde do dia seguinte. Havia sido visitada pelo pai, pelos cunhados, por Caio e Camila, além de Rosemere, Salma, Gilson e Renata. Todos lhe bronquearam por sua desatenção, além de levarem dezenas de flores, a grande maioria enviada pelos demais moradores da Casa Verde.

_ Amor, antes de nós irmos embora, eu quero ver o Bento. – pediu Giane, enquanto Fabinho pegava a bolsa de roupas que havia levado para o hospital.

_ Estranharia se você não quisesse. – o homem riu, pegando a esposa pela mão – Vem.

Eles caminharam em silêncio pelos corredores do hospital, Fabinho a guiando até o local onde sabia que Bento estaria.

_ Ele está ali. – avisou o publicitário, indicando uma fileira de cadeiras, bem de frente com a UTI Neonatal.

_ Ele não saiu daqui desde que o Kim nasceu? – Fabinho negou.

_ O Wilson e o Vinny já tentaram convencê-lo a ir para casa, tomar um banho... Ele se recusa. Falou que não arreda o pé daqui até o filho estar bem. – Giane suspirou, encarando o amigo – Eu vou terminar a papelada que falta, enquanto você conversa com ele.

_ Não precisa nos deixar a sós.

_ Eu sei, mas eu sei que ele precisa de um momento com você. – ele deu um selinho na esposa, saindo logo depois. Ela ficou o encarando um tempo, antes de se voltar e começar a caminhar até onde Bento estava sentado.

Deixou-se cair na cadeira ao lado, atraindo a atenção do amigo. Ele a encarou, um pequeno sorriso no rosto. A corintiana apanhou a mão dele, segurando com carinho.

_ Que susto você nos deu. – ele disse simplesmente.

_ É a décima vez que ouço isso. Seis delas, só do Fabinho. – os dois riram de leve – E como estão as coisas por aqui?

_ Estão examinando o Kim nesse momento. – ele apontou a janela de vidro – Graças a Deus, os pulmões dele estão se desenvolvendo bem. Talvez mais uma semana, e ele saia do respirador.

_ Isso é ótimo Bento. – Giane sorriu – E o Fabinho disse que ele já tá ganhando peso aos pouquinhos, não é?

_ Sim... Ele tem que alcançar dois quilos, e pesa menos de um meio. Mas assim que ele conseguir respirar sozinho, vai conseguir sugar. E então, ele vai ganhar peso mais rápido. – ele repetia o que se lembrava de ouvir os médicos dizendo – Agora a Amora...

_ Hey, ela vai sair dessa. – garantiu a morena, apertando mais a mão do amigo. Ele fungou, enxugando os olhos – Não chora cara...

_ Quando nos tornamos essas pessoas, hein Giane? – ele perguntou – Quando deixamos de ser quem éramos, deixamos o mundo nos mudar?

_ Infelizmente é algo que acontece conforme crescemos. – a moça suspirou – Aconteceu comigo, com o Fabinho, e você e a Amora passaram por isso também. A diferença é que cada um lidou com isso de um jeito.

_ O que você quer dizer com isso? – ele questionou, fazendo-a refletir por um momento.

_ Bento, quando nós quatro nos encontramos, não tínhamos quase nada. Meu pai ganhava muito pouco, e vocês viviam no lar do Gilson, tendo o mesmo ou menos do que eu. A diferença era que eu aceitava minha vida, porque o amor dos meus pais era o bastante para mim. E você também achava que estava bom, já que aquele lugar, aquelas pessoas... Você tinha sido tão amado pela sua mãe durante toda a gravidez, que isso estava em você.

“O Fabinho... Bom, a Irene sofreu durante toda a gravidez dele, sentiu raiva do Plínio e da Bárbara... E isso também ficou marcado nele. Ele sempre sentiu raiva, sentiu falta daquilo que ele mais queria, que era a família dele. E a Amora perdeu tudo, de repente. Ela foi abandonada a própria sorte pela irmã.”

_ Eu ainda não entendi o que você quer dizer com “como cada um lidou com isso”.

_ Então espera, apressadinho. – ela bufou – No dia em que o Plínio e o Wilson apareceram para levar você e o Fabinho embora, tudo mudou. O Fabinho ganhou o que tanto queria, que era o amor da família que ele sonhava. E o Plínio deu tanto mais para ele, que ele simplesmente percebeu que era até demais. E como ele sabia o que era o amor do pai, ele percebeu que os bens materiais não iriam compensar a falta da Irene, nunca.

“Já você... Bom, você sempre achou que o que você tinha estava de bom tamanho, até que lhe foi dado mais e mais e mais. E de repente... Você queria ainda mais. Abrir mais um parque, conseguir mais um brinquedo, mais um jogo, mais uma garota para chamar de sua. Você começou a cobiçar cada vez mais e mais, e esqueceu quem você era. Esqueceu como era bom ficar sentado na grama, observando as flores, de como você gostava de vê-las crescendo. Você simplesmente estava focado em conseguir mais, porque talvez, no seu subconsciente, você acreditasse que era isso que faria você e seu pai felizes: ter cada vez mais coisas, para suprir a falta que a sua mãe fazia na sua vida.”

_ Desde quando você virou psicóloga? – surpreendeu-se Bento, fazendo Giane rir.

_ Digamos que eu tive uns sonhos bem estranhos, no tempo em que estava inconsciente. Não consigo me lembrar deles ao certo, mas digamos que quando eu paro para pensar no assunto, tudo fica muito claro na minha cabeça.

_ E a Amora? Você falou sobre mim e sobre o Fabinho, apenas...

_ Ela quis recuperar o que havia perdido, mas queria também que a ressarcissem por tudo que havia passado. Ela não queria apenas uma família, ela queria alguém que fizesse todas as suas vontades e lhe desse tudo que ela quisesse, mas não foi o que ela conseguiu quando veio para casa. Então ela se tornou alguém amargurada, capa de tudo para conseguir o que queria. – Giane se recostou na cadeira – E então minha mãe ficou doente, e ela se perdeu de vez da única coisa que podia colocá-la nos eixos: você.

O rapaz baixou os olhos, e deixou o silêncio cair. Giane ficou encarando a janela, enquanto esperava Bento processar tudo. Por fim, ele suspirou e ergueu os olhos.

_ E o que você tem a dizer sobre como a senhorit... Digo, a senhora, lidou. – ela deu uma risada alta, fazendo-o sorrir também – É estranho pensar que você agora é a sra. Campana.

_ Você sabe o que aconteceu comigo... Eu não tinha mais você para ser meu porto-seguro, e nem o Fabinho para brigar e querer provar quem eu era. Eu fiquei perdida, e deixei que a minha mãe e a Mayara ditassem quem eu devia ser. Mas então... Bom, o fraldinha apareceu de novo, e de repente as coisas pareciam óbvias e fáceis de novo.

_ Espere para ver como é a vida de casada. – ele ironizou.

_ Já a conheço, melhor do que você ainda. Porque eu e o Fabinho já vivemos como marido e mulher, enquanto você e a Amora vivem como dois estranhos. – ela rebateu, ácida – Bento, você lembra quando éramos crianças? Você e a Amora passavam horas junto da árvore que haviam plantado, e eu nunca via vocês tristes. Ela te fazia feliz, e você fazia ela assim. Depois que você foi embora, eu nunca mais a vi feliz daquele jeito, até que ela te reencontrou. Ela pode ter armado para caramba, mas eu sei que aquela alegria era verdadeira. Ela te ama de verdade.

_ Porque você tá ajudando a Amora? Depois de tudo que ela fez? – ele perguntou, a voz falha.

_ Eu to te ajudando Bento. Porque você precisa da Amora, e a Amora precisa de você. E vocês dois precisam do Kim, do André e da Mayara, muito mais do que eles um dia podem vir a precisar de vocês. – ela segurou a mão do empresário – Você precisa se lembrar de quem você é de verdade Bento, e a Amora também. E então, vocês poderão ser uma família, para valer, do jeito que você sempre disse que o Kim merecia.

Os olhos de Bento se encheram de água, enquanto ele puxava Giane e a abraçava apertado. Ela retribuiu, tentando passar o máximo de carinho e conforto possível para o amigo.

_ Obrigada por ter acudido o Fabinho. – ela disse, quando se soltaram – Ele me contou que você estava lá quando eu cai, e que você, bom, você o amparou. Pode não parecer nada, mas você melhor do que ninguém entende o que ele sentiu, e o seu gesto ajudou muito na hora.

_ Ele também me ajudou muito, quando veio aqui. – ela arqueou a sobrancelha – Ele veio aqui, logo que você acordou. Me fez companhia por um tempo, e me deu salgadinhos. – os dois riram – Ele me prometeu que tudo vai ficar bem. E por algum motivo, eu acredito nele.

_ Então acredita em mim também, porque eu também prometo. A Amora e o Kim vão ficar bem, e vocês serão uma família feliz. E você vai ser feliz Bento, eu sei que vai.

Ele sorriu, segurando a mão da amiga. Ela apertou seus dedos, enquanto ouviam passos pelo corredor.

_ Hã, já acertei tudo. Hora que você quiser, podemos ir. – Fabinho apareceu ao lado deles, e Giane assentiu. Ela se levantou, puxando Bento e o abraçando.

_ Qualquer coisa, pode me ligar, está bem? – o rapaz assentiu, enquanto a corintiana abraçava o marido. Eles começaram a se afastar, quando Bento os chamou.

_ Fabinho, cuida bem dela, tá bom? – o publicitário riu, beijando a cabeça da esposa.

_ Com a minha vida se precisar.

Os dois seguiram andando, observados por Bento. Ele caminhou até a grande janela, observando o filho e pensando no que Giane havia dito.

_ Eu volto logo campeão, aguenta firme.

E saiu correndo, sabendo a primeira coisa que teria que mudar.


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