O sábado chegou rapidamente. O show de Palmira Valente seria em uma casa de shows no centro de São Paulo, e a noite prometia.

_ Obrigada por terem aceitado o convite. – Maurício ajudou Silvério a levar Samara para o carro – Minha mãe ficou muito feliz.

_ Eu que fico feliz. – Samara sorriu, enquanto o marido a ajudava a sentar no carro. O rapaz virou-se para a namorada, que estava de cara fechada.

_ Depois nós podemos conversar? – ele perguntou, entregando uma flor para a moça.

_ Acho que é preciso. – ela pegou a flor, indo para o lado do passageiro. Maurício suspirou, entrando no carro – O Fabinho vai?

_ Sim, ele e a Malu vão nos encontrar lá. – a corintiana fechou mais a cara, e os pais trocaram olhares preocupados.

Na casa de shows, Maurício pegou a mão de Giane, enquanto o sogro ajudava a sogra a caminhar. Entraram pelos bastidores, indo para o camarim de Palmira Valente.

_ Aqui está minha nora linda. – cantarolou Verônica, se levantando e abraçando Giane. A moça sorriu, abraçando a sogra apertado – Está linda. Fiquei triste que não foi me ver essa semana.

_ As coisas estavam meio corridas. – desculpou-se Giane, tentando evitar falar no assunto da briga. Mas o olhar da sogra indicava que ela já sabia.

_ Bom, vamos assumir nossos lugares. Logo o show vai começar. – Maurício beijou o rosto da mãe – Vem que eu te ajudo a levar a dona Samara.

~*~

_ O que eles fazem aqui? – foi a primeira pergunta que Malu fez, assim que pisaram na casa de shows.

_ Eu não sei, mas é melhor você ficar na sua. – mandou o irmão mais velho, a guiando até a mesa. Esperava que não os incomodassem, mas é claro que Mayara não perderia a chance.

_ Fabinho, Malu... Que bom vê-los por aqui. – a moça se aproximou abraçada com Bento. O rapaz estava em silêncio, recebendo o olhar irado de Malu. Mas algo mais parecia incomodá-lo – Vieram a convite da Gi e do Mau? Eles sempre sentam nessa mesa.

_ Sim, estamos aqui a convite deles. – Fabinho respondeu, tentando manter a calma. A verdade era que queria agarrar os cabelos de Mayara e lhe dar uns tapas, mas não batia em mulher.

_ Filha? – ouviram a voz de Samara, e viraram, encontrando os pais da moça, Giane e Maurício – Então era aqui que você e o Bento viriam?

_ É sim tia Samara. Eu compre convites para virmos ver o show, já que a Mayara gosta tanto. – Bento sorriu para a sogra, indo beijar seu rosto. Apertou a mão do sogro e virou-se para Giane, que o ignorou totalmente – Bom, nós vamos para a nossa mesa.

_ Não meu filho, fiquem aqui conosco. – pediu a senhora, e não ousaram negar.

O clima, é claro, ficou pesado. Todos em um silêncio constrangedor, esperando o show começar. Foi então, que Mayara resolveu quebrar o silêncio.

_ Eu tenho uma notícia ótima. – ela sorriu – Nós dois temos, na verdade.

Todos olharam para ela e Bento, curiosos. O rapaz parecia transtornado, quando suspirou e virou-se para Silvério.

_ Tio Silvério, eu gostaria de pedir a mão da Mayara em casamento. – todos arregalaram os olhos.

_ Hã... Como? – o homem parecia não ter entendido.

_ Pai, mãe... Eu to grávida. – Mayara sorriu largamente, fazendo os pais arregalarem os olhos, Maurício se engasgar com o vinho, Giane e Fabinho escancararem a boca e Malu quebrar a taça de vinho – Ai meu Deus... Você tá bem Malu?

_ Grávida? Como assim grávida Mayara? – guinchou Samara – Quando... Quanto tempo você está minha filha?

_ É, quanto tempo? – Maurício tremia.

_ Alguns dias. Eu senti algo estranho ontem e fui ao laboratório. E o exame de sangue já detectou. Fomos ao hospital hoje e conversamos com o médico. – contou a moça, segurando a mão do namorado – Nós vamos nos casar logo, para que a mamãe possa estar presente.

Todos ficaram em silêncio, surpresos. Por sorte, as luzes piscaram, anunciando o início do show e interrompendo aquele climão.

_ Golpe? – sussurrou Fabinho, próximo ao ouvido de Giane.

_ Tá mais na cara do que o olho roxo do Maurício. – os dois riram baixinho, sendo encarados pelos demais – Desculpe.

~*~

_ Malu... Já é a quinta taça que você toma. – sussurrou Maurício, vendo que a amiga estava bebendo desenfreadamente.

_ Me deixa Vasquez. – resmungou a moça, fazendo o amigo suspirar.

_ Agora... Uma música especial para os apaixonados. – avisou Verônica.

_ Ah não. – resmungaram os dois, ouvindo os acordes de Time After Time.

_ Bento, vamos dançar meu amor? – perguntou Mayara, beijando o rosto do namorado. Ele assentiu, se levantando e indo com ela para a pista de dança.

_ Filha, você e o Maurício não vão dançar? – perguntou Samara, e o casal trocou olhares constrangidos.

_ Sabe o que é tia Samara? A Giane perdeu uma aposta comigo e tá me devendo uma dança. – avisou Fabinho, levantando depressa – E vai ser agora mesmo que vai pagar a aposta.

A morena suspirou, agradecendo com os olhos ao amigo. Ela deu a mão para ele, os dois indo para a pista de dança. Lá chegando, Fabinho colocou os braços na cintura dela, e ela envolveu o pescoço dele.

_ Obrigada por isso. – ela agradeceu – Não to com pique pra ficar de romance com o Maurício, e nem quero explicar o que está acontecendo para os meus pais.

_ Eu perdi o desempate, te devia o jantar. Na falta do jantar, vai uma dança. – ela sorriu, apoiando a cabeça no ombro dele – Você dança mal, hein pivete?

_ Eu danço mal? – ela riu, ainda com a cabeça no ombro dele – Você tem dois pés esquerdos.

_ Eu sou canhoto, gênio. Se eu tiver dois pés esquerdos, to no lucro. – eles riram juntos – Mas cuidado com esse salto alto, ou vai deixar a marca da ferradura em mim.

_ Fabinho, fica quieto e dança vai. – ela mandou, sentindo-o apertar mais sua cintura.

Na mesa, Maurício observava os dois em silêncio. Malu bebericava o vinho ao seu lado, os olhos úmidos, cravado em Bento e Mayara. Ele suspirou.

_ Dança comigo? – ela o fuzilou – Pelos velhos tempos, por favor?

Ela bufou, largando a taça e indo para a pista com ele. O rapaz a envolveu pela cintura, deixando que ela o abraçasse pelo pescoço, mas mantendo certa distância entre ambos. Eles dançaram em silêncio, Malu mantendo os olhos fixos nos de Maurício.

_ Você era mesmo apaixonado por mim? – sussurrou Malu, se aproximando do rapaz. Ele sentiu o corpo arrepiar – Era Mau?

_ Desde os 10 anos. – ele respondeu, vendo-a esquadrinhar seu rosto com os olhos.

_ Sabe que eu to feliz que eu tenha perdido minha virgindade com você? – ela perguntou, os olhos cheios de água – Pelo menos, foi com alguém que me amava.

_ Malu... – ele a puxou, abraçando apertado. Ela começou a soluçar no seu ombro – Você vai encontrar alguém bom, que vai te fazer esquecer do Bento. Tenha fé nisso.

_ O problema é que eu acho que encontrei. – ela explicou – Mas ele tem outra pessoa.

_ Você sabe que eu não presto Malu. – ele desviou os olhos – Pelo que eu fiz com a Giane e...

_ Maurício, fica quieto, por favor. – a moça segurou o rosto dele, o beijando.

Ele a puxou para mais perto de si, a erguendo do chão alguns centímetros. Foi como se todas as lembranças daquela noite voltassem, cada momento, beijo, olhar... O coração dos dois bateu mais acelerado, ritmado. Era como se fossem novamente o Zorro e a anjinha, trancados em um armário de vassouras.

Até que a realidade os trouxe de volta.

_ Que merda é essa? – quem os separou foi Fabinho. Giane estava parada, estática, encarando tudo com uma expressão de dor e incredulidade – Não era esse o plano.

_ Giane, eu... – Maurício tentou se aproximar da namorada, mas ela saiu correndo – Giane.

Ele correu atrás, ouvindo os passos de Fabinho e Malu atrás de si. Passaram pela porta dos bastidores, chegando aos camarins. A moça ficou confusa com os corredores, dando tempo de o namorado alcançá-la.

_ Giane, eu... – ele tentou falar, mas recebeu um tapa na cara.

_ Você nunca, eu repito, nunca mais, olhe na minha cara. – ela mandou, a voz rouca – Nunca mais chegue perto de mim Maurício.

_ Giane, o Maurício... – Malu tentou falar, mas praticamente caiu nos braços do irmão, bêbada.

_ Que merda Maria Luisa. – rosnou o publicitário, tentando mantê-la de pé.

_ O que tá acontecendo aqui? – Bento, Mayara, Samara e Silvério vieram pelo corredor – Posso saber o que foi aquilo na pista de dança?

_ Acho que nós todos vimos bem, tio Silvério. – Bento se aproximou ameaçadoramente – Esse idiota traindo a Giane.

_ Você segura sua onda aí, Zé do Parquinho. – mandou Fabinho, empurrando o amigo de infância – Que esse bosta tá errado, isso a gente sabe. Mas acho que tua namoradinha tem mais culpa no cartório.

_ O que? – Mayara empalideceu, enquanto todos a encaravam.

_ É isso mesmo Mayara. – rebateu Malu, pegando algo da bolsa – Que tal explicar essas fotos para a sua irmã?

Ela se aproximou de Giane com cautela, lhe estendendo um envelope pardo. A moça pegou afoita, abrindo com o coração na garganta. Começou a passar as fotos, sentindo os olhos queimando pelas lágrimas.

_ Como você pôde? – ela gritou, se aproximando da irmã adotiva – Como você teve coragem de fazer isso comigo Mayara? O Maurício eu entendo, odeio, mas entendo. Mas você? Você é minha irmã, sua vagabunda. Você sabe o que essa palavra significa? Irmã?

_ Giane, eu... Eu... – a garota tentava achar o que falar, mas não conseguia pensar em nada. Maurício tinha os olhos baixos, sem vontade ou coragem de se defender. Fabinho segurava Malu, e Bento encarava tudo em choque. Silvério parecia com raiva e Samara... Arrependida?

_ Mãe, que cara é essa? – perguntou Giane, vendo a mulher desviar os olhos – Mãe?

_ Essa cara, Giane, é porque a mamãe sabia de tudo. – Mayara explicou, um leve sorrindo indisfarçado no rosto – Ela soube por meses, antes de eu e o Maurício terminarmos. Ela sabia e não te contou e...

_ Cala a boca vadia. – Giane pulou em cima da irmã, começando a estapeá-la. Logo, as duas estavam no chão, Giane dando uma bela surra na outra – Você é uma cachorra, uma sem vergonha, uma... Me larga Fabinho.

_ Giane, a sua mãe. – ele avisou, a segurando pela cintura e puxando de cima de Mayara. A corintiana virou o rosto, vendo que a mãe estava desmaiada, com o nariz sangrando de novo – Nós precisamos levar ela para o hospital.