E Se? escrita por WaalPomps


Capítulo 16
The second hand unwinds




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Giane ficou atônita por um segundo, antes de corresponder ao beijo de Fabinho. Nunca havia dado um beijo como aqueles em Maurício e...

_ Para. – ela empurrou Fabinho, limpando sua boca compulsivamente – Cê tá maluco cara?

_ Eu... Eu... Eu sinto muito Giane. – ele desviou os olhos, se escorando na grade e observando o mar – Eu...

_ Você ficou confuso lembrando da Dianna? – ele concordou, sem a encarar – Fabinho, eu entendo, mas isso não pode se repetir, tá bom? Eu tenho um namorado, e eu amo o Maurício e...

_ Tudo bem Giane, já pedi desculpa. Foi um lapso, não vai se repetir, prometo. – ele resmungou, se afastando dela – Vamos comprar o remédio do Maurício e ir embora, está bem?

Ela assentiu, o seguindo em direção ao carro. Ele ligou o rádio o mais alto que podia, indicando que não conversariam. Dirigiu até uma farmácia, onde ela desceu e comprou alguns gatorades.

No caminho para a casa, não trocaram nenhuma palavra. Giane ficou martelando o acontecimento de pouco antes, dizendo a si mesma que não havia sido uma traição. Fabinho estava confuso, a pegara de surpresa. E bom, ela só havia beijado Maurício a sua vida inteira, não podiam culpá-la por ter entrado na onda do publicitário.

Mas então porque se sentia culpada? Talvez por não se sentir culpada? Porque tinha que sentir tudo tão conflitante dentro de si? Já não bastava as mudanças que estavam acontecendo, tudo que estava passando... Seu namoro com Maurício era a única certeza real que tinha, e agora isso começava a desmoronar. Precisava resolver toda essa situação de uma vez por todas.

~*~

Maurício levantou da cama meio trêmulo. Já não mais aguentava ir ao banheiro, e nem devia ter mais o que expelir. Olhou o relógio, vendo que Giane e Fabinho ainda não haviam voltado da cidade, apesar de já fazerem mais de três horas que haviam saído.

_ Droga. – ouviu um grito de raiva, saindo do quarto e indo até a beira da escada. Viu que Malu tentava ligar para alguém, falhando miseravelmente – Pra que tem celular Fábio Campana?

_ O sinal não é muito bom em alguns lugares da pista. – lembrou Maurício, descendo as escadas – E pelo tempo, eles já devem estar chegando.

_ Espero que tragam comida. – resmungou a moça, se largando no sofá – Não tem nem biscoito velho aqui.

_ Bom, se você quiser, dividimos meu gatorade. – ele propôs, sentando ao lado dela. Malu riu, deitando a cabeça no encosto – Você realmente ficou em casa porque o Bento não chegou?

_ Na verdade, quis deixar a Giane e o Fabinho sozinhos. – Maurício arqueou a sobrancelha – Relaxa, não quero ver um chifre na sua cabeça. – a moça riu – É só que... Sua namorada exerce uma influência boa no meu irmão, e ele está precisando disso no momento... Ele está rejeitando a mãe, que agora voltou.

_ Bom, do que eu conheço da história do Fabinho, ele tem esse direito né. – Malu teve que concordar.

_ Mas ele quer muito conhecer a Irene, sempre quis. – contou Malu – Ele só está com raiva, muita raiva. E não sei por que, mas a Giane consegue ultrapassar isso, talvez porque no fundo ela também seja marrentinha.

_ No fundo? – Maurício riu – Quando eu conheci ela, ela me chamou de fraldinha e saiu andando. Quando nos beijamos pela primeira vez, ela me deu uma joelhada no saco. – Malu gargalhou – Mas o que eu posso fazer? Eu gosto de ela ter personalidade, mesmo que uma tão difícil.

_ Então porque você teve um caso com a Mayara? – o Vasquez arregalou os olhos – Eu tenho minhas fontes Maurício, e eu vi as ligações para a sua cunhada, ou melhor dizendo, amante. – o rapaz baixou os olhos – Você sabe que a Giane não merece isso, não é?

_ Eu sei. – ele concordou – Eu e a Mayara terminamos tudo semanas atrás, logo que a Samara adoeceu. Eu terminei, na verdade. Eu sei que não justifica Malu, mas a Giane mudou muito algum tempo depois que nós começamos a namorar. Deixou de ser a pessoa porque eu tinha me apaixonado e se tornou alguém apática, sem personalidade. Mas a Mayara não me deixava terminar, e eu gostava muito da Giane, eu gosto muito dela. A situação simplesmente saiu do controle de uma hora para outra, a irmã dela começou a se fazer presente na minha vida, e um dia nós transamos. – ele afundou o rosto nas mãos – Depois disso, tudo virou uma bola de neve desenfreada.

_ Mau, você precisa falar a verdade para a Giane. – Malu segurou o braço dele – Você agiu errado, mas a Mayara agiu ainda mais errado.

_ Eu vou colocar tudo em prantos limpos, depois que a Samara... – a voz morreu na garganta – Eu sei que a Giane não vai mais querer ver ou a Mayara na frente, mas ela vai precisar da irmã para passar por isso que está acontecendo com a mãe delas.

_ Você sabe que elas não estão se falando? – ele assentiu – Tem algo a ver com você? – ele deu de ombros – Quem diria que o certinho Maurício Vasquez iria fazer algo assim.

_ Certinho? – ele riu, negando com a cabeça – Tem muito sobre mim que você não sabe Campana.

_ Você diz sobre suas quase prisões por depredação de patrimônio público e privado? – Maurício arregalou os olhos – Acho que eu devia ser jornalista.

_ Eu achava que você ia ser professora de crianças. – ele admitiu, fazendo-a arregalar os olhos – Quando estávamos no fundamental, você adorava ficar brincando com as crianças mais novas no intervalo.

_ Eu adoro crianças. – Malu sorriu envergonhada – Mas, sei lá... Os outros adolescentes não viam as coisas assim. Todos achavam que eu tinha que ser de um jeito determinado, por ser filha de Plínio Campana e Bárbara Ellen. Você sabe como o mundo vive de aparências, então foi o que eu fiz...

_ E com o tempo, o que era externo, se tornou interno. – ela concordou, e Maurício riu – Sei bem como é.

_ Acho que todos nós sabemos. – Malu garantiu – Por isso eu tiro o chapéu para a Giane... Ela realmente venceu tudo isso quando largou o emprego para dar aula de futebol. E quando cortou o cabelo.

_ Quisera eu ter essa coragem. – ele suspirou, observando o controle da TV – Tá afim de ouvir música?

_ É melhor não Mau e... – mas ele já havia ligado, e tocava Time After Time. Ele encarou Malu, que corou – Eu ia mandar vocês para a cidade e ficar com o Bento. Sabe, essa é a música que...

_ Sem problemas. – Maurício a cortou, os dois ficando em silêncio – Hã, quer dançar?

_ Está me cantando? – eles dois gargalharam, enquanto ele se levantava e a puxava – O que sua namorada vai pensar?

_ Ela não é muito fã de dançar. – ele explicou, colocando os braços ao redor da cintura de Malu – E o “novo” Maurício também não gostava dessas coisas. Nossos programas eram, basicamente, sair para comer ou ver um filme.

_ E como você sabe que ela não gosta de dançar? – ele fez cara de pensativo – Mau, eu acho que esse namoro tá bem mais abalado do que vocês querem transparecer.

_ Acho que precisamos de terapia de casal. – ele comentou, fazendo Malu rir - If you're lost you can look, and you will find me, time after time...

Malu arregalou os olhos ao ouvir a voz dele cantarolando a música. Ela o encarou, vendo-o olhar pela janela enquanto cantava o refrão da música. Ele virou os olhos para ela, que encarou a íris azul. Foi como um flash em sua memória.

Ela estava no colo do Zorro, o encarando olho no olho. Ele cantarolava o refrão da música e segurava seu rosto. O armário era escuro, mas a fresta na porta iluminava o rosto mascarado, e fazia os olhos azuis faiscavam.

_ Olha para mim. – sussurrou ele – Só para mim, e esqueça a dor.

_ Está tudo bem Bento. – ela quase não sentia o que acontecia, atordoada pelo álcool – Canta para mim.

_ If you're lost you can look, and you will find me, time after time. – ele sussurrou contra o ouvido dela - If you fall I will catch you, I'll be waiting, time after time.

Malu se afastou de Maurício correndo, fazendo-o arquear a sobrancelha. Ela colocou a mão sobre a boca, tentando sufocar o grito de surpresa.

_ Você estava de Zorro na festa. – ela sussurrou, sentindo os olhos se enchendo de água. Maurício arregalou os olhos, começando a se afastar – Vo-você... Ai meu Deus, era você.

_ Eu queria ter te contado. – ele sussurrou – Mas você estava tão convicta e feliz de que havia sido o Bento, e ele também estava contando vantagem disso para todo mundo... – ele lhe deu as costas – E logo depois eu conheci a Giane e mudei de escola, então deixei isso quieto.

_ Você não tinha esse direito. – a voz de Malu era falha – Você... Você se aproveitou de mim.

_ Eu me aproveitei de você Malu? – ele virou-se para ela – Você me puxou para o armário e começou a me beijar. Eu te disse que eu não era o Bento, mas você não quis me ouvir. E eu... Eu era apaixonado por você na época. – ela arregalou os olhos – Eu sonhei tantas vezes com o momento em que eu teria uma chance com você, com o que eu faria quando isso acontecesse...

_ Vo... Você era apaixonado por mim? – perguntou ela, vendo Maurício desviar os olhos – Você não saiu da escola só pela Giane, não é?

_ Eu saí para me dar uma chance. – gritou Maurício, virando-se para Malu – Uma chance de te esquecer, a patricinha maldita que simplesmente destruiu meu coração, que teve a coragem de perder a virgindade em uma situação escabrosa como aquela. E eu conheci a Giane, e achei que ela podia ser essa chance, e ela foi.

_ Ela ou a Mayara? – Malu voltou a provocar, vendo Maurício fechar a cara – Sabe Maurício, antes de falar sobre mim, você devia olhar para o seu próprio rabo.

Antes que ele retrucasse, ouviram o carro de Fabinho entrando na garagem. Maurício se afastou, sentando no sofá, enquanto Malu caminhava para a TV e a desligava. Logo, Giane entrava pela porta, sendo surpreendida pela presença dos dois e pelo clima pesado na sala.

_ Tá tudo bem aqui? – perguntou ela, caminhando até o namorado. Maurício se levantou, abraçando a namorada pela cintura e lhe dando um selinho.

_ Tá sim, eu só desci para ver se estavam chegando e a Malu estava aqui. – explicou o rapaz – Trouxe os gatorades?

_ Trouxe amor. – ela mostrou a sacola – Eu e o Fabinho passamos no mercado e pegamos comida.

_ Não estou com fome, só cansado. – ele garantiu – Eu vou subir, quer me acompanhar?

_ Claro. – ela o abraçou mais apertado – Hã, boa noite Malu. Dê boa noite ao seu irmão.

Eles dois saíram em direção as escadas, deixando Malu calada na sala. Logo depois, Fabinho apareceu cheio de sacolas. Ele se surpreendeu com a presença da irmã, e procurou Giane no local.

_ Ela subiu com o Maurício. – avisou a mais nova, pegando as sacolas e indo para a cozinha. Fabinho a seguiu em silêncio, confuso com o que estava acontecendo. Malu colocou as sacolas no balcão, começando a esvaziá-las. Fabinho parou em frente a irmã, a encarando. Ela ergueu os olhos para ele – Por favor, diz que tem chocolate.

~*~

_ Ai Bento, eu não acredito que você gastou tudo isso comigo. – Mayara comentou, enquanto entravam no quarto de hotel. Ela carregava várias sacolas, assim como o empresário.

_ Você merece Mayara, sabe disso. E algumas coisas são para a Malu e para a Giane. – ele mostrou três sacolas na sua mão.

_ Acho que as pessoas estão erradas. – ela virou-se para o rapaz, sorrindo – O pessoal do bairro diz que você mudou, mas eu não acho. Para mim, ainda é o Bento amigo, educado, gentil, altruísta...

Ela não conseguiu terminar de falar, porque logo o rapaz a enlaçou pela cintura, selando seus lábios. Ela logo correspondeu, sentindo as mãos dele descendo por suas costas, chegando na barra da blusa.

_ Bento... – sussurrou ela, quebrando o beijo – Eu... Eu sou...

_ É sério? – ele sorriu, surpreso.

_ Eu esperava pelo dia que você voltaria. – disse ela, baixando os olhos com timidez – Você foi meu primeiro amor.

_ E você o meu. – ele garantiu, acariciando o rosto dela – Eu não esperei por você, mas estou feliz que tenha esperado por mim.

_ Mas eu já não aguento esperar mais. – ela sorriu – Só não quero te decepcionar.

_ Fico feliz de ver que você também não mudou. – sussurrou ele, lhe dando um selinho – É a mesma Mayara doce e meiga que eu me apaixonei quando criança. – ele a pegou no colo, caminhando até a cama – Talvez você me ajude a voltar a ser o Bento de antigamente.

_ Farei tudo que estiver ao meu alcance.


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