Vive Le France escrita por Mallu
#Sophie
Resolvi deixar a história da traição de lado, a conselho do Thiago(sim, do Thiago). Diz ele que se eu gostava mesmo dele, eu poderia perdoar qualquer tipo de deslize, afinal, ele poderia estar bêbado ou algo do tipo. E bêbado ninguém controla. É, conselho dele vai, conselho vem, choro vai, beijinho na testa vem, e naquele dia ele conseguiu me conter como ninguém antes conseguiu, nem o Pierre, que era meu mestre de conselhos. Algumas semanas depois de tudo isso(duas, mais ou menos), minhas aulas voltaram, e minha mãe me acordou às 05:30 da manhã, sendo que a aula começava 07:45 e a gente nem morava tão longe assim do colégio. Como de costume, tomei um banho frio e rápido, me arrumei e coloquei por cima da blusa da farda um moletom folgadão, pronta pra dormir no primeiro horário. Desci pra cozinha e tomei café.
– Sophie, não vou precisar falar de novo, né? Odeio quanto você se veste assim. E esse tênis aí? Pelo amor de Deus.
– Mãe, o nome desse tênis é Vans. Esses dias você disse que era bonitinho e que ia comprar um pra você. E nós não estamos mais na França, o colégio tem farda, ou seja, não tenho muitas opções.
– Eu estava bêbada.
– Você não bebeu naquele dia.
– Dane-se, o que importa é que eu não gosto quando você vai de casaco grande pro colégio. Fica parecendo namorada de rapper americano, por favor.
– Mãe, me deixa!
Meu casaco foi assunto até a hora de entrar no carro, que foi quando eu coloquei meu Beats, aumentei o volume do dubstep e não ouvi mais nada além de drops maravilhosos. A única hora em que eu ouvi minha mãe reclamar foi a hora em que eu resolvi pausar a bendita música pra escolher outra.
– Sophie Caillat, abaixa essa música horrenda, parece que vai estourar o fone e seu ouvido a qualquer momento! Que horror.
– Nem tá alto, mãe. Para com isso.
Minha mãe foi de casa até o colégio falando mal da música eletrônica, e queria porque queria me mostrar umas cantoras francesas super irritantes. Eu até gostava, mas as que ela queria eram muito entediantes. Muito mesmo. Chegando no colégio, a Bia viu a minha cara de "estou com sono, não fale comigo", ignorou a minha lerdeza e o fato de eu estar usando fone e veio falar comigo.
– Amigaaaaaaaaaaaa! - veio em minha direção, correndo e gritando feito uma lhama.
– Ana Beatriz, eu já te disse mil vezes que não é pra falar comigo quando eu estiver com fone, né?
– Porra hein, o que você tem de tamanho, tem de simpatia. Tá precisando crescer hein, tá com quanto?
– Não sei, eu sei que a médica disse que eu não vou crescer nem um centímetro porque eu menstruei cedo. Devo estar com 1,51, sei lá. Não fico me medindo pra entrar em depressão.
– Eu tenho 1,68, pode babar. Enfim, deixando de lado esse assunto, o Gabriel, o Noah e o André estão te procurando. A Nathalia também.
– Ai gente, pra que isso? É todo mundo da mesma sala, quando eu subir a gente vai se ver à vontade. Peraí, quem é André?
– Um garoto do segundo ano. Diz ele que tem uma coisa pra te contar.
– Porra, chega de gente querendo me contar coisas né.
Saímos andando pelo pátio principal, e como ainda era cedo, sentamos nas cadeiras em frente à cantina. Quando me achou, Gabriel foi direto falar comigo:
– Mô! - gritou, sentando ao meu lado e me dando um selinho.
– Oi mô, não precisar gritar, eu tô do seu lado.
– Desculpa. Desculpa também por ter viajado sem avisar, é que eu tive que ir com meus pais. - Avisou ele, notando minha cara de tédio alguns segundos depois. - Tá tudo bem?
– Tá, só tô com sono, vamo subir? Quero garantir meu lugarzinho no fundo.
Só que o problema é que meu lugar já estava ocupado. Uma garota nova que ao mesmo tempo, era bonita e feia. E esquisita. Quando a vi ocupando o meu lugar, uma raiva tomou conta de mim, subiu dos pés à cabeça. Parei na porta da sala, fechei os olhos, respirei fundo... A última coisa que eu queria era brigar por causa de uma cadeira, logo de manhã cedo. Me acalmei e sentei na cadeira na frente dela, que continuava sendo fundo(porém não era a mesma coisa). Meu fone estava em volta do meu pescoço e o meu celular na mão, mexendo na lista de reprodução. A esquisita viu as músicas do John Mayer e puxou a barra do meu casaco:
– Ei, você também gosta do John?
"Não, eu odeio. Só coloquei aqui pra me passar de hipster"
– Amo ele. - respondi, com um sorrisinho de canto de boca e uma carinha simpática meio forçada.
Óbvio que era forçada, o dia já começou uma merda. Eu dormi durante os primeiros 2 horários, que eram de Filosofia. No fim da segunda aula, quando acordei, levantei a cabeça e percebi uma coisa... O Noah estava na cadeira do fundo, todo largado, com os braços cruzados e capuz no rosto. Fiquei olhando aquela figura peculiar até o sinal do intervalo tocar. Logo tocou, e esperei a sala esvaziar pra ir falar com ele. Puxei uma cadeira e sentei na frente dele.
– Tá tudo bem?
– Tá. Mas e você, como tá? Soube que você anda namorando o Gabriel.
– É...
– Valeu por me contar, fico feliz em saber que você se importa comigo - ironizou, contando umas moedas. - Agora dá licença, vou comprar umas balas.
– Para com isso, Noah. Todo mundo tava sabendo.
– Mas você poderia ter me contado. Passou o ano passado inteiro me chamando de "melhor amigo" e não me conta as coisas, não liga pra saber como eu tô...
– Você tá com ciumes, é isso?
– E se eu estiver? Você não dá a mínima mesmo.
Eu terminei brigando com o Noah por causa do Gabriel, ou seja, terminei trocando o meu melhor amigo por alguém que poderia ter me traído. Troquei o certo pelo duvidoso mais uma vez, e magoei quem não devia. Se o primeiro dia de aula já foi assim, eu nem queria imaginar no resto do ano.
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