Ah... A vida é mesmo maravilhosa! escrita por Hanakyun


Capítulo 1
Capítulo 1 - Mostrando as presas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/436911/chapter/1

-Hwaaaa!

Ele soltou um longo bocejo enquanto caminhava de volta pra casa, depois de um longo dia de escola. Era impressionante como aqueles velhos e seus sermões sobre vestibular, responsabilidade e outras chatices faziam o dia durar umas 87 horas. Caminhava distraído. A mochila ia jogada nas costas, segurada apenas por uma das alças, pois a ausência dos livros (que sempre esquecia) a fazia pesar quase nada. O pôr-do-sol fazia uma réstia de luz alaranjada sobre seus olhos, trazendo-lhe a necessidade de cobrir o rosto com sua mão livre.

Na sua cabeça loira e despreocupada, só havia pensamentos entediados e sonhos de uma vida menos maçante. Imaginava-se, daqui a cinco ou dez anos, como um mochileiro livre, um viajante destemido, cuja rotina é a própria ausência de rotina. Planejava escalar montanhas e explorar grutas, conhecer os mistérios do Egito, admirar a Aurora Boreal junto aos pingüins... Espere... Os pingüins vivem no sul ou no norte?

Enquanto forçava os miolos ao máximo para lembrar-se de tamanha trivialidade, Len esqueceu-se de olhar para onde ia.

-Ahhhrg!

Enquanto massageava o cotovelo que havia usado para amortecer a queda, ele ouviu ao longe uma risada fina, como o tilintar de uma campainha.

“Ahahaha! Acho que ‘tinha uma pedra no meio do caminho’, hein, colega!”

O rapaz procurou em volta, confuso, até que avistou, observando-o através de uma janela do primeiro andar de uma grande casa, a figura de uma jovem às gargalhadas.

“Se eu fosse você, olhava direito onde piso! Ahahaha! Não é todo dia que se vê alguém estúpido a ponto de tropeçar no chão plano~”

Len lançou à mocinha um olhar de puro ódio. Decidiu que aquilo teria volta. E já. Procurou no chão algum tipo de munição, até que avistou uma pedrinha branca e redonda, que lhe chamou a atenção. Apanhou o objeto e sorriu satisfeito. Agora era hora de achar o alvo. Aproximou-se do alto muro que cercava a casa da moça. Com a destreza de um felino, escalou uma árvore próxima, de modo que agora tinha vista panorâmica do jardim da residência e da janela da jovem. Escaneou a propriedade. Era um jardim vistoso e muito bem cuidado, coisa chique mesmo. Tinham até piscina.

A moça há muito havia parado de rir.

“Ei! Desça daí! Isso é uma propriedade privada, sabia? Ei!”

Ele a ignorou completamente.

Quando passou o olhar perto da janela dela, no entanto, avistou o alvo perfeito: Uma gárgula, dessas de pedra-sabão, que adornam o topo das grandes construções. Fixou o olhar na cabeça do bicho e soltou uma risadinha. Jogou a mochila na grama, para ter as mãos completamente livres. Tirou do bolso um estilingue e começou a preparar a mira... A jovem, seguindo o olhar dele, descobriu o que o rapaz pretendia fazer. O choque fez com que prendesse o fôlego.

“EI! NÃO FAÇA ISSO! SEU VÂNDALO!”

Ainda ignorando as repreensões, ele sentou-se num galho mais afastado da árvore, de modo a melhorar a vista. Agora sim! Soltou a mão que o apoiava no galho para esticar o elástico de sua arma... Esticou mais e mais... Arrumou mais a mira, até que...

*CRASH!*

-GYAAA!

-WHAAA!

Tudo aconteceu de uma vez. O galho cedeu sobre o peso dele, derrubando-o do alto da árvore. Mas não antes de fazer mais estrago: a rota da pedrinha foi desviada, atingindo justamente a janela da moça. Ainda deitado na grama, amaldiçoando a segunda queda do dia, Len contorcia-se, dolorido. Quando finalmente achou forças para se levantar, deparou-se com a vidraça quebrada. Sentiu todo o sangue fugir-lhe da face.

Ai, meu Deus! Matei a guria!

Com a força milagrosa que a adrenalina dá, ele escalou de novo a árvore, com o dobro da velocidade, até seus galhos mais altos, de onde podia quase tocar a janela da moça.

“Ei! Você tá legal? Ei, menina!”

Ela estava. Ou, pelo menos, fisicamente.

“OLHA. O QUE. VOCÊ. FEZ.!”

Ela estava parada a uns cinco passos da janela, apontando para os cacos espalhados para o chão de seu quarto.

Ele respirou aliviado. Seu futuro promissor (?!) quase fora estragado por um homicídio acidental de circunstâncias ridículas. Ele sentou-se num galho, agora mais relaxado. Coçou a cabeça.

“Calma aí, princesa. É só uma janela.”

Foi o suficiente para ela soltar todos os cachorros. Um vaso sanguíneo dilatado saltava sob a pele da lateral de sua face.

“PRINCESA É O SEU...! SÓ UMA JANELA? É A MINHA JANELA! E VOCÊ PODIA TER MUITO BEM ME MATADO, SEU MARGINALZINHO, VÂNDALO, SEU... SEU...”

Os gritos dela nem de longe o abalavam. Ele simplesmente bocejou. Havia soltado a cantada só por força do hábito, mas, parando para olhar de perto, na verdade, até que ela era jeitosinha. Seus olhos verdes estavam saltados em fúria, mas sua cor continuava linda. Os cabelos curtinhos e igualmente verdes emolduravam o rostinho delicado, que agora se tingia de um vermelho enfurecido. Ela vestia uma camisola longa e branca que não revelava muito, mas mostrava que o corpo também estava ok. Sim, ela era uma graça. E ele adorava uma mulher braba, fufufu.

“Olha, gatinha, foi só um acidente, falou? Então vê se esfria aí. Agora usa esse tempo que você desperdiça gritando pra me ajudar a procurar o estilingue que eu perdi, vai~”

Ele começou a descer da árvore e, ao chegar novamente ao solo, abaixou-se para revirar as plantas próximas ao local de sua queda.

Ela respirou fundo, massageando as têmporas. Não adiantava se estressar com aquele tipinho. Enquanto o observava na sua busca pelo objeto perdido, começou um sermão cheio de veneno:

“Eu sugiro que você pare de fuçar nosso jardim feito uma toupeira retardada, pois nosso jardineiro ficará furioso. Além disso... Estilingue? Oh, pelo amor de Deus, você tem 12 anos? E se você quer mesmo uma bobagem dessas, é só comprar outro. Saia logo da minha vista.”

Ele levantou-se para responder às críticas. “Primeiramente, senhorita, não, eu não tenho 12 anos. Há 16 anos o mundo tem a honra de admirar minha beleza, obrigado.” Ele disse num tom sarcasticamente requintado, enquanto curvava-se, tal qual um artista, ao fim de um espetáculo.

Ela revirou os olhos. Ele continuou o discurso.

“Além disso, vocês ricos provavelmente não têm noção desse tipo de coisa, mas existe algo chamado VALOR SENTIMENTAL, docinho~”

Com um sorriso cínico, ele deu uma ênfase exagerada às últimas palavras, como se subestimasse a capacidade de interpretação da moça. Ela mordeu o lábio e franziu o cenho.

Depois de mais alguns minutos de procura, sob o olhar penetrante e raivoso da jovem, Len percebeu que não alcançaria seu objetivo. Além do mais, já estava começando a escurecer...

“É! Acho que por hoje é só. Não vou encontrar no escuro.”

“Como assim, por hoje?” Ela perguntou, temendo que ele respondesse o que ela tinha quase certeza de que ele responderia.

“Isso quer dizer, ó jovem dama lerdinha, que eu vou voltar amanhã para procurar, talvez depois e depois, caso não encontre~” Ele explicou, enquanto apanhava sua mochila da grama e escalava a árvore de volta para a rua.

“Ah, então você pensa que é só assim, chegar e invadir a propriedade alheia quando bem entender? Que absurdo, você não tem a mínima no—“ Ela começou a reclamar, mas logo foi interrompida.

“Primeiramente, gatinha, vocês ricos deveriam aprender algumas noções de segurança, pois não adianta nada instalar cerca elétrica se vão deixar essa árvore enorme aqui pra ser escalada. É um convite para marginais.”

Ela desviou o olhar, um pouco frustrada por perceber que ele tinha certa razão. Mas, claro, ela jamais concordaria. Não com ELE, o marginal em questão.

“Além disso, eu sugiro que a mocinha pare de manha pro meu lado, pois se minha presença fosse mesmo indesejada, você já teria chamado seus pais, seus lacaios, os lacaios dos seus lacaios, a polícia, o presidente e o diabo a quatro” Ele debochou, enquanto piscava.

Ultrajada, ela rangeu os dentes para ele, numa espécie de rosnado ameaçador. Ele respondeu também com um rosnadinho, mas de deboche.

“Eu vou, mas eu volto.” Len disse num tom sussurado, enquanto soltava-se do último galho, caindo na calçada.

“Até amanhã e sonhe comigo, princesa!” Ele gritou.

“VÁ PARA O INFERNO!” Ela respondeu.

De volta pra casa, Len não parava de sorrir ao lembrar como as reações que ela tinha às provocações dele eram hilárias.

Ahaha, taí um dia divertido... Ele pensou, enquanto tirava os sapatos, sentado em sua cama.

Enquanto isso, em dos quartos daquela mansão que teve sua rotina quebrada por um certo vândalo errante, uma moça de olhos verdes penteava-se raivosamente. Depois de tanto estresse e de passar maus bocados tentando convencer sua mãe de que acidentalmente havia quebrado a vidraça enquanto tentava arremessar sua escova de cabelo sobre a cama, ela estava exausta.

Tudo culpa daquele babaca, TUDO CULPA DAQUELE BABACA.

Arremessou-se sobre a cama, mesmo que a frustração não lhe permitisse dormir.

“E pensar que a primeira pessoa que fala comigo, depois de tanto tempo... Justo aquele estúpido... Tsc.” Ela abraçou o travasseiro.

0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

GUMI TSUN, TSUN, TSUUUUUUUUUUUN.
LEN ORE-SAMA, ORE-SAMA, ORE-SAMAAAAA.

Mais tsunderimos e cantadas baratas no próximo capítulo.