Para Lembrar escrita por Beatriz Dionysio


Capítulo 20
Você não pode se esconder para sempre


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora...



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Sem pensar nas consequências ou na dor, virei e corri para o elevador. E então dirigi até ele, quebrando um milhão de regras de transito no processo, sem de fato me preocupar.

Quando finalmente parei em frente à porta de seu apartamento, meu coração pulava freneticamente apenas com a ideia de tê-lo de volta. Eu podia fazer isso, podia me permitir ama-lo novamente, certo? Tomando várias respirações, bati.

Eu tinha tanto a dizer e tanto a perguntar também.

A porta se abriu, revelando uma garota mulher, ela era linda, como uma estrela do rock deveria ser. Seu cabelo preto escorria por suas costas, parando um pouco antes de sua cintura. Eu podia ver suas pernas cobertas por tatuagens, ela vestia uma blusa preta que ia até seus joelhos, nada mais.

A realidade me atingiu enquanto Jade me estudava com seus olhos castanhos.

– Posso ajuda-la?

A voz dela fez com que eu estremecesse. Eu podia sentir o cheiro dele nela.

– Mason esta? – perguntei, forçando minha dignidade e meu orgulho.

– Ele esta dormindo, gostaria de deixar recado?

Dormindo? As lágrimas piscavam em meus olhos, engolindo em seco, dei a ela o meu melhor sorriso despreocupado.

– Não, obrigado.

Ela parecia intrigada. Ignorando as pontadas em meu peito, virei-me para o elevador.

– Quer que eu diga a ele que esteve aqui?

Olhei para ela, vestida com uma das camisetas dele, tão parecida com ele, sorri tristemente antes de dizer: - Não, não será necessário.

Então fugi dali, sentindo a dor estremecer as migalhas que restaram de meu fodido coração. Arrependida por ter mesmo que por alguns minutos o alimentado com a esperança.

A areia da praia me acalmava, e os raios de sol aqueciam o frio dentro de mim. Assisti o pôr-do-sol, eu não chorava, não mais. Quando a dor se torna algo constante, você aprende a lidar com ela, o que não significa que doerá menos.

Quando meu celular tocou pela primeira vez soube que era ele, e este seria o primeiro lugar onde ele me procuraria, não daria a ele esse gostinho. Então voltei para casa, pedi a segurança para que não deixassem ninguém subir e me tranquei em meu ateliê.

...

– Essa será a sua sala. – falei, sorrindo.

Holly tinha lágrimas nos olhos enquanto estudava seu novo estúdio e sua sala.

– Mal posso acreditar que realmente estamos fazendo isso.

– Nem eu. – sussurrei.

Fazia uma semana desde o ocorrido. Mason vinha todos os dias e se recusava a deixar o hall de meu edifício. Então não sai do prédio, a ideia de vê-lo me embrulhava o estomago.

– Ele deve realmente gostar de você.

As palavras dela me pegaram desprevenida. Suspirando, ignorei.

– Começamos na próxima semana, como se sente?

A tristeza em sua expressão, deixava claro sua desaprovação sobre a maneira como escolhi lidar com Mason.

– Não pode se esconder para sempre Erin.

Holly Baker era uma garota doce, aquela que era impossível não amar, descobri nela também uma amiga, em todas as noites em que ela deixou Adam para ficar comigo.

– Não para sempre Holl, mas posso fazer isso hoje.

E foi o que fiz, ou pelo menos tentei.

– Não posso dizer a você o que fazer, mas acredito que deveria ouvi-lo.

Apenas assenti, vê-lo ou ouvi-lo, não era uma opção.

– Holl? – a chamei piscando, seus olhos se estreitaram quando ela percebeu o que eu queria.

– Não mesmo, já passou da hora de você levantar esse seu traseiro ossudo do sofá.

– Por favor, essa será a última vez – implorei.

– Não. Você vem comigo, saímos pela garagem, ele nem vai perceber.

Sério? Retiro o que disse sobre ela ser doce.

– Tudo bem – suspirando derrotada, caminhei em direção ao elevador, seguida por uma duende saltitante.

Digitei o código que nos levaria até minha cobertura, e fiquei surpresa quando fomos parar no Hall.

– Problemas no paraíso? – Holly ria enquanto eu socava o painel, merda eu precisava sair dali antes que...

– Erin?

Congelei quando a voz dele ecoou pelas paredes. Merda!

Então o vi correndo para o elevador, eu queria gritar ou algo do tipo, mas apenas fiquei lá parada enquanto assistia as portas se fecharem. Soltei o ar aliviada.

– Nenhuma palavra sobre isso – rosnei.

Como Holly se recusou a ir ao supermercado para mim como ela vinha fazendo nos últimos dias, tive que acompanha-la.

Não pretendia comprar muito, mas por fim levei muito mais do que realmente precisava.

Quando deixávamos o estacionamento o som do celular de Holly nos assustou.

– Oi - o sorriso bobo em seu rosto, as bochechas coradas, a pessoa do outro lado da linha só podia ser Adam – Acabamos de sair do supermercado... Não amor... – a risada dela era contagiante, sua paz de espirito, sua felicidade. Não pude evitar a pontada de inveja, afinal quem não queria se sentir assim o tempo todo? – Erin, Adam esta dizendo se deve se preocupar em estar sendo substituído.

– Sinto muito cara – falei rindo, sabendo que ele podia me ouvir.

Adam e Holly eram perfeitos juntos e eu amava estar perto deles.

Quando ela desligou pude vê-la relaxar, era sempre assim. Sorri, mas quando percebi onde ela havia estacionado, estremeci.

– Você não fez isso – falei.

– Ah, sim! Eu fiz. Lide com isso Erin – Holly amava me fazer sofrer. Ela havia parado bem em frente à entrada de meu prédio, sabendo que eu não tinha trazido comigo um controle da garagem subterrânea.

Bufando a beijei e sai do carro, trazendo comigo minhas sacolas.

– Você pode fazer isso Erin. Nos vemos amanhã.- dizendo isso ela se foi, me deixando ali na calçada, enjoada com a ideia de encontra-lo.

Suspirando entrei.

Mason não estava ali, o que me aliviou e me entristeceu de certa forma.

– Senhorita, estamos tendo alguns problemas com a energia do edifício. Receio dizer que o elevador não esta em condições de uso.

Então este era o motivo da pane mais cedo.

Sorrindo assenti – Obrigado Hugo.

– Já entramos em contato com a manutenção. Precisa de ajuda com as compras?

Hugo cuidava da segurança do lugar, ele devia estar na casa dos cinquenta. Sempre educado e pontual.

– Não, obrigado. – acenando abri a porta das escadas. Seriam apenas cinco andares.

Um pouco irritada por tropeçar várias vezes pela falta de iluminação, quase corri ao ver a porta de meu apartamento.

Em minha euforia bati em algo, algo que supostamente não deveria estar ali. A sacola voou de minhas mãos enquanto eu me preparava para sair rolando escada a baixo. Foi quando senti o cheiro dele e seus braços envolta de mim, de alguma forma Mason me virou, ficando embaixo de mim e recebendo todo o impacto.

O gemido que escapou de seus lábios quando colidimos com os degraus, foi demais para mim. Ficamos assim por alguns segundos que mais pareceram horas, Mason me segurava protetoramente como se jamais fosse me deixar ir.

O conforto de seu abraço, seu batimento acelerado, seu cheiro, sua respiração..., tudo nele me gritava para fugir, enquanto tudo o que eu queria fazer, era ficar.

Suspirando me soltei dele. De repente eu estava sem ar, minhas pernas tremiam e eu queria gritar com ele, ou estapeá-lo.

– O que diabos você estava fazendo aqui?

Ele se encolheu com meu tom, como se minhas palavras o ferissem fisicamente.

– Eu sabia que você saiu e que teria que voltar por aqui em algum momento. – as palavras dele saiam arrastadas e ele parecia tenso. – Precisamos conversar Erin.

A dor dele era evidente. Bufando o ajudei a levantar, subimos o último maldito lance de escadas e adentramos meu apartamento. O coloquei no sofá e fui buscar uma bolsa de gelo.

Mason me olhava intensamente, fazendo com que eu quisesse me esconder ou algo assim.

Sentei de frente para ele e levantei sua camiseta. Um suspiro escapou de mim quando me deparei com os hematomas.

– Erin, você precisa acreditar...

– Por favor, Mason, não há mais nada a ser dito.

Ignorei a forma como seus olhos me imploravam, ou o quanto sua pele era quente e suave...

– Mason...

– Erin...

Falamos ao mesmo tempo.

– E-eu... – gaguejei tentando encontrar as palavras.

O som da campainha me fez pular. Aliviada corri para a porta.

Quando a abri encontrei Noah. Uma ideia se formou em minha cabeça, seria perfeito.

– Olá Noah, só vou pegar minha bolsa.

Ele olhou para mim, obviamente sem intender, já que estava aqui para conhecer o lugar onde trabalharia, não para um suposto jantar surpresa.

Mason se levantou, caminhando até nós.

– Noah, este é Mason, um amigo antigo. Mason este é Noah.

Aquilo podia ficar mais estranho.

– Sinto muito Mason, mas estamos indo jantar e...

– Você o que? – ele olhava para mim como se a qualquer momento fosse me trancar em meu quarto ou algo assim.

Correndo, peguei minha bolsa e voltei para a porta. Os dois homens se encaravam, era estranho o quanto eram diferentes, Noah engravatado, parecendo alguém importante, e Mason com suas botas de soltado, seu cabelo escuro parcialmente raspado e suas tatuagens.

Suspirando, puxei Noah para fora.

– Você conhece a saída Mase.

O rosto dele caiu. Ele estava ferido física e emocionalmente, e eu o tratando como uma vadia estupida.

Durante o resto da noite, fingi gostar da comida, fingi sorrir, fingi estar interessada.

– Vai me contar o porquê deste jantar repentino? – Noah me estudava enquanto levantava sua taça de vinho.

– Sinto muito, eu nem mesmo agradeci pelo que fez hoje – eu era definitivamente uma megera – Eu só precisava sair de lá, me sinto horrível por tê-lo usado daquela forma. – confessei, sendo presenteada com um sorriso.

– Não sinta Erin, eu realmente gostaria de ser usado assim mais vezes.

Não pude deixar de corar, o que ele queria dizer com aquilo?

O garçom chegou com a conta, me tirando de meus devaneios.

Quando estacionamos em frente a meu prédio, Noah se ofereceu para me levar até minha porta, mas neguei. Disse a ele que não precisava e praticamente corri para fora de seu carro.

Eu só queria minha cama e chorar um pouco enquanto assistia algum filme bobo até pegar no sono.

Quando cheguei ao último lance de escadas procurei pelo conteúdo de minhas compras, mas tudo o que encontrei foi um Mason adormecido a minha porta.

Suspirando o cutuquei já que com ele ali eu não conseguiria entrar.

– Mase?

– Humm?

– Eu preciso que saía do caminho.

Ele parecia atordoado e o cheiro de álcool que vinha dele fez com que meu estomago se contraísse.

– Você está bêbado. – aquilo saiu mais como uma afirmação, devido o estado dele.

– Eu,...humm, posssso terrr beeb-bido um pouquinhoo.

Bufando o empurrei, abri a porta e a bati com toda a minha força. Quem ele pensa que é?

Pisando duro fui até meu quarto. Fiquei andando em círculos, tentando pensar.

Que tipo de pessoa eu seria se o deixasse lá?

Derrotada, voltei e com certa dificuldade o trouxe para dentro. Não podia deixa-lo fedendo como estava, então preparei minha banheira e o coloquei lá dentro. Ignorei o quanto ele era fodidamente belo e o quanto ansiava por tocá-lo.

Aproveitei e fiz a barba dele, Mason parecia não ver uma gilete há muito tempo.

Quando a água estava começando a ficar gelada, o tirei de lá. Ele resmungava e às vezes dizias coisas sem sentido, mas me ajudou a mantê-lo em pé.

Não podia vesti-lo com suas roupas imundas, então apenas o sequei e o coloquei em minha cama. Eu podia dormir no quarto de Claire. Quando virei para sair, senti o aperto fraco de sua mão na minha.

– Fique.

Eu não podia ficar, também não podia entender o porquê de Mason me machucar a todo momento.

– Por favor Bu.

Ele não fazia ideia do quanto me feria, ou do quanto eu o amava. Ele também não sabia que ama-lo me matava aos poucos. Suspirando limpei uma lágrima traiçoeira. Ele estava bêbado, provavelmente não se lembraria disso amanhã, tudo o que eu tinha que fazer era acordar antes dele. Sabendo que eu me arrependeria no outro dia, tirei meu vestido e escorreguei para a cama, deixando que o homem que insistia em me quebrar me abraçasse até o esquecimento.


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Notas finais do capítulo

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