Acordei antes dos raios de sol, como sempre. Levantei, tomei um banho rápido e corri para o estúdio. Dancei um pouco, e também pintei. A poucos dias eu havia começado um novo quadro e um novo estilo, era complicado e doloroso tentar esta nova pintura, mas de certa forma era terapêutico.

Ás 10hrs, decidi voltar, eu não tinha muito tempo antes de me encontrar com meu primeiro candidato.

Quando as portas do elevador se abriram o cheiro de bacon e ovos me invadiu e ouvi a voz de Claire.

– ... não, nem um namorado... Muito triste e magra... Um carro igualzinho ao seu... Não, mas ela usa um anel muito bo...

Merda.

– Bom dia! – foi o que me veio a cabeça.

– Bom dia Erin. – Claire como sempre, veio correndo ate mim. Percebi por que não podia ouvir a voz de Mason, ele estava perto do fogão fritando os bacons e os ovos, enquanto Car estava muito mais perto da porta. – Mason e eu estávamos falando de você, ele acha que...

– Ei! Esse era o nosso segredo. – rindo ele caminhou até ela e a colocou em seus ombros. – Por que você não vai ver TV, Erin e eu temos que conversar.

– Claro, você tem muito que explicar Mason, beijar outras garotas não é nada bonito. – dizendo isso ela assoviou e correu com Sam em seu encalço, me deixando petrificada ao lado do balcão. Como diabos ela sabia sobre o beijo?

Mason estava branco e parecia querer sumir, não duvido que minha aparência fosse diferente.

Recompondo-me, peguei uma maça e tentei correr para fora o mais silenciosamente possível.

– Nem pense em escapar novamente.

– Ah, claro sou eu quem fugiu em primeiro lugar, não é mesmo? – talvez a amargura ou o sarcasmo em minha voz tenham o acertado. Erin 1 x Mason 0.

– Erin eu...

– Não diga que sente muito Mason, porque eu não sinto. Sou uma menina crescida agora, sei lidar com uma pequena substituição. – rindo tentei passar pela porta, mas teria sido mais fácil passar por um trator. Suspirando o encarei, olhando em seus olhos, pela primeira vez desde que ele tinha voltado. – Com licença, tenho um encontro e não pretendo me atrasar.

Mason pareceu vacilar, eu quase pude ver a dor em seus olhos. Acho que o placar estava a meu favor.

– Um encontro? Como um e-ncontro?

– Sim. – talvez eu estivesse modificando algumas coisas, inventando outras, mas quem se importa?

– Mas, Claire disse que você não estava namorando e...

– Ela não mentiu. Não estou, mas quem sabe o que pode acontecer até o fim do mês, não é mesmo? – respondi rindo, quando na verdade cada palavra e cada gota de sarcasmo e cinismo me feriam tanto quanto o feriam.

– Não faça isso Erin, você não pode...

– Não Mason, VOCÊ, – falei, apontando o dedo para ele – não pode me dizer o que fazer ou deixar de fazer, não foi eu em quem decidiu ir embora.

– Eu precisava de...

– O que você esperava? Que eu fosse recebê-lo em minha cama de braços abertos? Eu tentei Mase, juro que tentei. Eu esperei por você, droga, eu chorei por você, deixei de sentir quando você se foi. Você me quebrou e aqui estou eu, me reerguendo, começando a merda de uma nova vida, então não pense que pode ir e vir quando quiser.

– Erin eu...

– Não! Não diga nada – suspirando, tentei mais uma vez passar por ele. – Por favor Mason.

– Me deixe explicar Erin, eu me precipitei. Não era para...

– Explicar? Explicar por que você me deixou e depois arranjou outra em um espaço de tempo minúsculo? Não Mason, obrigado. Estou farta de você, estou farta de ser a porra de um robô. Eu preciso que me deixe ir, pois eu já o deixei a muito tempo. – quem eu estava querendo enganar? As lágrimas piscavam em meus olhos, mas eu não ia chorar, não por ele.

– Deus Erin, eu não arranjei outra!

Um riso gélido escapou de mim, me surpreendendo, aquela não era eu.

– Okay, e eu bonitão não sou ruiva. – ainda rindo aproveitei sua distração e corri para meu quarto.

Eu posso ter chorado um pouco enquanto ignorava suas batidas na porta e me aprontava.

– Vá embora Mason.

Quando faltava meia hora para meu “Encontro”, sai de meu quarto. Os olhos de Mason caíram sobre meu vestido de verão azul.

– Você definitivamente não vai sair usando a porra desse vestido.

– Mase! Não diga palavrões. – Claire ainda concentrada em seu desenho, disse.

– Vamos Car, preciso te dar banho, vamos conhecer alguém hoje.

– Tudo bem, eu quero ficar aqui com Mason. – serio?

– Tem certeza? – ela apenas assentiu.

Voltei minha atenção para Mason, que grunhiu derrotado.

– Tudo bem. Vá. – a dor atingiu meu peito, fazendo algumas cicatrizes voltarem a sangrar. Tentando não deixa-lo perceber minha hesitação, dei um beijo na testa de Claire, acariciei Sam e sai. Enquanto as portas do elevador se fechavam em uma lentidão anormal, eu o vi, olhando para mim com seus belos olhos negros. Mason Evans parecia cansado, drenado de qualquer tipo de felicidade, exatamente como eu me sentia.

Vinte minutos depois eu estava em frente ao restaurante onde Jorge me disse para encontrar Noah.

– Olá, estou procurando alguém chamado Noah Collins. – disse ao Maître.

– Por aqui querida, ele já esta a sua espera.

O segui para uma mesa onde eu podia ver um homem sentado. Um homem muito bonito por sinal, com sua pele clara, cabelos escuros e barba por fazer. Ele não devia passar dos 30.

– Olá Erin. É um prazer finalmente conhece-la. – Noah era muito bonito, mas o que me intrigava eram seus olhos verdes musgo, eu podia jurar já tê-los visto.

– O prazer é meu. – respondi timidamente enquanto ele puxava minha cadeira.

Durante uma hora, comemos e conversamos sobre minha companhia e meus planos para ela. Falamos sobre ele e seu histórico. Tudo era impecável, Noah parecia um bom cara, educado, simpático, de boa aparência e bem dotado de um talento para lecionar.

Tentando não parecer desesperada, disse a ele que ainda iria encontrar com alguns candidatos antes de tomar uma decisão. Ele assentiu, parecendo genuinamente interessado em qualquer coisa que saísse de minha boca.

Quando dei por mim, quase três horas haviam se passado.

– Sinto muito, tenho que ir agora. – ele não permitiu que eu pagasse minha parte e fez questão de me levar até meu carro e abrir a porta para mim.

Quando voltei para meu apartamento, não pude deixar de pensar na familiaridade estranha que senti. Talvez não passasse de uma alucinação minha.

Não os encontrei na sala, mas quando me aproximei da porta do quarto de Claire, os ouvi. Ela e Mason cantavam nossa canção, minha canção.

Vacilei em meus saltos,

“And I loved her in all possible ways

I took care of her

Then the pain left her blue eyes

And I fixed your broken heart…”

( E eu a amei de todas as formas possíveis

Eu cuidei dela

Então a dor deixou seus olhos azuis

E eu consertei seu coração partido...)

...

Piscando algumas vezes e forçando o nó em minha garganta, adentrei o quarto. Mason enrolava uma toalha em volta de Claire, ajudando-a a se secar.

– Oi Erin. – Claire tinha uma parte da cabeça coberta enquanto Mason secava seu cabelo. – Nós estávamos esperando você para ir ao parque.

– Parque? – minha voz ainda vacilava com a imagem a minha frente. Por que? Em nome de todos os deuses ele tinha que ser tão malditamente perfeito.

– Sim, ele chegou a um par de semanas. – Mason parecia se divertir com minha carranca. BABACA!

– Erin, você pode pegar meu vestido amarelo?

Indo até a cômoda, procurei pelo vestido que tínhamos comprado no shopping a alguns meses.

– Aqui. – falei estendendo o vestido e uma calcinha para Mason. Nossos dedos se tocaram no processo e ele sorriu com isso. Idiota. Bufei, puxando minha mão bruscamente.

– Você pode tomar um banho agora, ou esperar por mim se preferir. – convencido !

– Não mesmo! Não estou indo a parque algum. E você está indo embora. – rosnei apontando o dedo para ele.

– Calma tigresa, - rindo ele continuou – Não estou indo a lugar algum, a não ser ao parque, onde levarei minhas bonecas, não é mesmo Car?

Os olhos de Claire saltavam de mim para Mason, tadinha, estávamos a confundindo. – Estamos? – sua pergunta e seus olhinhos me pegaram desprevenida.

Suspirando, falei – Está bem. Volto em alguns minutos.

– Obrigado Erin! – Claire parecia feliz com a ideia de irmos todos ao parque, o que não me fazia feliz, de forma alguma.

Antes de deixar o quarto, notei o sorriso presunçoso estampado no rosto de Mason. Ele estava indo embora hoje, mesmo que eu tivesse que chamar a policia!

Pegando meu celular disquei o número de Derek, ele atendeu no terceiro toque. – Erin? Esta tudo bem?

– Sim, só liguei para dizer que estou sendo arrastada para o parque por sua filha. – seu riso ainda era tenso do outro lado da linha. – É claro se estiver bem para você.

– Sem problemas, ela vem falando desse parque a algum tempo já. Eu pretendia ligar para chamar você para ir conosco, mas já que você ligou, – não pude deixar de sorrir – nos encontramos lá então?

Espera?!

Droga!

– Eu... hum, Mason esta vindo com a gente e...

– Ah..., tudo bem então, falo com você mais tarde. – a decepção em sua voz era perceptível. Antes que eu pudesse responder, ou mesmo me despedir, ele desligou.

Frustrada, me despi e entrei no chuveiro, sem esperar que a água esquentasse.

Quando dei por mim, mais do que apenas alguns minutos tinham se passado. Apressada, enrolei-me em uma toalha, sai do banheiro e corri para meu closet. Optei por um jeans, uma blusa de banda e minhas botas. Deixando a toalha cair, comecei a procurar por minhas lingeries, eu ainda me perdia dentro do meu próprio closet, patético eu sei! Foi quando ouvi uma risada.

Não,

Não, não!

– Você fica linda quando bufa sabia?

– SEU BABACA FILHO DA PUTA!

Mason estava esparramado em minha cama, apreciando minha nudez. Puxando a toalha para mim novamente, peguei um par de minhas botas e lancei nele, ou tentei.

– Vejo que melhorou seu vocabulário. Erin Everly finalmente aprendendo a xingar. Nunca achei que viveria para ver isso.

Eu definitivamente sentia o sangue em meu rosto, e não era por estar ruborizada ou envergonhada, e sim, porque eu poderia facilmente matar alguém agora.

– Ei!

– Saia! Agora Mason! – eu estava tão possessa que pretendia pega-lo pelos cabelos se ele não saísse.

Eu já estava perto da porta quando ele veio até mim, ainda rindo.

Filho da Puta!

– Mason, eu mandei você s...

– Shh! Eu ouvi da primeira vez. Não fiz por mal, apenas vim aqui ver se estava tudo bem, e digamos que estava mais do que bem...

– Idiota!

– Nós precisamos conversar Erin, e hoje anoite você não me escapa. – droga, por que suas palavras faziam com que minha pele formigasse, implorando por contato.

– Não temos nada para conversar, você vai embora hoje, não se esqueça disso.

– Droga Erin, eu não pretendo ir. – ele passeava seus dedos delicadamente por meus lábios e...

– E-eu não quero você aqui... – eu tremia e posso ter gaguejado.

– Não é o que parece boneca. – AH! Seu rosto estava tão perto, seus lábios a centímetros dos meus e... FODASSE, EU O BEIJEI!

Maldita adrenalina.

O beijei desesperadamente, sem me importar com o fato de que ele me rejeitara a alguns meses, sem me importar com o fato de que ele tinha outra e não se importava comigo. Eu só precisava senti-lo. Eu mataria para tê-lo novamente.

Suas mãos percorriam meu corpo, possessivamente, espalhando um calor que era impossível ser apagado. Minha centelha havia se tornado uma fogueira, Mason Evans havia me trazido a vida novamente, apenas com um beijo, mas não só um simples beijo.

Minhas mãos o traziam para mim, enquanto eu o provava, sabendo que nunca estaria totalmente saciada.

– Erin? Tio Mason?

Relutante ele deixou meus lábios, e ajeitou minha toalha enquanto eu permanecia ali, como a estatua que me tornara.

O que eu havia feito?

– Já estamos indo princesa.

Lágrimas ameaçavam cair de meus olhos.

– Eu odeio você – sussurrei.

– E eu te amo, então aprenda a lidar com isso Erin. – ele abaixou-se mais uma vez, encostando seus lábios nos meus, castamente – Hoje anoite nós vamos conversar, você querendo ou não. Eu tenho algumas coisas para explicar e você vai me ouvir.

Então ele caminhou até a porta, e eu assisti enquanto ele deixava meu quarto.

Babaca.