A Leve brisa de outono tocava suavemente meus longos cabelos azulados; estes por si só voavam levemente se desgrenhando do penteado arrumado ao passar desses ventos suaves.

Minha pele sentia o gélido ar do inverno se aproximando e anunciando os últimos dias do outono. As folhas, tão belas naquela estação com suas colorações alaranjadas saltavam do alto das grandes árvores com mais frequência que o normal, sim, o outono estava chegando ao fim e o Inverso se aproximava rápido.

É claro que frio não era um problema para mim, eu já estava acostumado com isso, principalmente tendo em meu coração como pessoa amada aquele que talvez fosse um dos homens mais frios do mundo.

- Camus, estou com frio, podemos voltar para o Hotel? - questionei manhoso chamando a sua atenção para mim, a verdade é que não estava com tanto frio assim, afinal, estava muito bem agasalhado para a época e também o meu querido namorado já fizera questão de me levar a lugares realmente congelantes antes, então uma leve brisa de fim de outono não seria um problema aqui.

- Miro, por Zeus, acabamos de chegar, além do que você está totalmente empacotado nessa roupa, será que não poderia esperar um pouco mais. - ele falou me olhando inexpressivo. Ai; como eu odiava quando ele fazia pouco caso do que eu queria, era realmente frustrante, mas fazer o que né?! Era aquele "Cubo de Gelo" que eu amava.

Virei o rosto e fiz bico, cruzei os braços e passei a olhar para o nada; não era que eu não estivesse gostando, entretanto eu esperava mais contato da parte dele, afinal, fazer essa viagem para Nova York no meio do Outono havia sido ideia dele.

Suspirei pesadamente, perdendo-me em pensamentos quando senti seu braço rodear meu pescoço e ele me puxar para mais perto. O olhei curioso ao mesmo tempo em que um sorriso brotava em meus lábios; ele me encarou com um leve sorriso, nada muito aberto, e me olhou com intensidade, os olhos dele naquele lindo tom claro que me enfeitiçavam, aqueles cabelos esverdeados voando ao vento e aquela pele clara como a neve; ah, como eu o amava; e a continuidade desses pensamentos me fez sorrir mais abertamente o encarando com felicidade.

Seus lábios se aproximaram dos meus, meu rosto corou levemente até sentir ser beijado por ele, ah, eu estava no paraíso; o toque daqueles lábios frios em contraste com minha boca quente, era realmente único.

Entreabri mais os lábios para senti-lo melhor e deixar que ele entrasse para provar de todo o meu calor grego, ele tocou minha nuca suavemente com a mão enquanto me puxava para aprofundar mais o beijo. Ficamos ali, nos beijando, por um longo tempo.

O Céu mudava de cor rapidamente, as nuvens pesadas e claras que tornavam aquele dia nublado estavam escurecendo mais, e o vento aumentava levemente a sua força; sim, iria chover logo e eu o encarei.

- Vamos?! - perguntei sorrindo e olhando nos olhos dele.

- Só uma coisa... Observe. - ele disse acariciando minha face e virando o rosto, movimento no qual eu o acompanhei.

Olhamos então para um lago, um calmo e escuro lago no meio do parque; sobre ele, havia uma longa ponte suspensa onde algumas pessoas o admiravam, várias árvores alaranjadas do outono às margens, folhas voando pelo vento e caindo na água, pousando suavemente nela gerando pequenas ondas. No centro, dois belos e majestosos cisnes brancos nadavam de forma que quase podiam andar por sobre as escuras águas.

O Céu, nublado e escuro, com apenas alguns poucos raios brancos de sol que com dificuldade penetravam as nuvens densas.

Um pouco mais ao fundo, os grandes arranha-céus da gigante Nova York se mostravam imponentes e deslumbrantes, com a baixa luz vinda do céu refletindo-se em uma lâmina luminosa por suas extensas vidraças.

- É lindo. - sussurrei mais para mim que para Camus, mas ele ouviu.

- Sim, é verdade, e mesmo sendo uma paisagem urbana... - dizia ele até pausar e me olhar. - Ela tem seus fascínios. - ele concluiu acariciando meu rosto e meu pescoço de forma doce e gentil.

- Foi por isso que você escolheu Nova York no Outono? - perguntei.

- Sim, foi... - ele respondeu fixando seu olhar no céu cinzento. - Nem mesmo minha amada e romântica Paris poderia superar o deslumbre e o romantismo de Nova York no outono. - ele comentou me encarando com um meio sorriso.

Eu me sentia nas nuvens, ele estava tão romântico, tão atencioso, tão atípico à seu temperamento despretensioso e frio de costume, mas parecia um sonho.

Eu o abracei então, o abracei forte e sorridente como um menino e ele acariciou minhas mexas azuladas colocando um cacho teimoso para trás da minha orelha.

Logo em seguida senti uma pequena gota de água cair no meu nariz; passei a mão rápido e logo senti outra e mais outra; em poucos segundos a chuva caiu sobre nós e vimos as poucas pessoas no parque e na ponte começarem a correr cobrindo suas cabeças com suas capas e seus casacos.

Eu sorri e me levantei com Camus do banco onde estávamos sentados, segurei sua mão para puxa-lo e começarmos a correr também, mas senti ele me puxar de novo, como se me freasse. Eu o olhei sem entender com a chuva engrossando cada vez mais.

- Camus, vamos, eu vou ficar encharcado aqui. - falei sorrindo e ele balançou a cabeça negativamente e sem desmanchar o sorriso do rosto.

Eu o encarei curioso e arqueando uma sobrancelha.

- Para quê a pressa Miro?! É só água! - disse ele olhando para o céu deixando que a chuva forte caísse em cheio no seu rosto. Logo em seguida ele me encarou sorridente e me puxou para ele, enlaçando minha cintura com seus fortes braços.

- Sempre quis fazer isso com você na Chuva. - ele falou sorrindo e tomando meus lábios com os seus; ali, naquele lugar, no meio daquela pesada chuva, nos beijamos apaixonadamente provando mais uma vez que o Amor entre nós dois era verdadeiro e intenso, e que nada, nunca, jamais seria capaz de nos separar.

A Chuva; o céu; o vento e as árvores eram testemunhas daquele momento único, daquele sentimento consumado, e daquele amor de outono, que se mostrava presente e revelador naquela tarde de brumas.

---- FIM ----