Sparda andava calmamente pelas ruas da cidade, feliz por saber que agora poderia aproveitar sua vida como um humano, sem ordens de demônios ou algum atacando o mundo humano. Provisoriamente tudo estava resolvido. Ele havia encontrado alguém com quem compartilhar suas histórias e mesmo que esse alguém não fosse de sua mesma raça, Sparda sabia que podia confiar nela plenamente. Eva era uma pessoa maravilhosa. Pessoa maravilhosa essa, que o fazia querer ficar cada vez mais no mundo humano, mesmo isso sendo, na visão de outros demônios, uma loucura. Afinal não é sempre que resolvem ir contra o Príncipe do mundo demoníaco.

-Aproveitando a noite, Sparda? - Virou-se para trás olhando em direção de onde a voz conhecida vinha.

De cima de uma casa viu Aurus, um dos demônios que o acompanhou ao mundo humano. Vestido com uma roupa branca somente seu sobretudo, também branco, tendo detalhes em preto e prata, Aurus mostrava um ar superior e poderia ser um grande aliado, mesmo que inconscientemente. Sparda sabia que não foi só o tédio que fez Aurus ir para o mundo humano.

Observou o demônio pular do telhado e parar no chão como a altura fosse indiferente. Aurus caminhou para sua direção calmamente.

-Apenas checando – respondeu – Eva precisa de paz agora.

Aurus fez cara de desprezo ao ouvir o nome da humana. Ainda sem entender o que Sparda iria querer com uma humana, resolveu ignorar, afinal não era de sua conta mesmo.

-O que faz você pensar que eu não vou terminar com essa paz? - Aurus perguntou desafiador.

Conhecendo o demônio como conhecia, Aurus não havia mudado em nada desde que saiu do inferno. Sempre desafiador e caso fosse contra o mundo humano com certeza faria um grande estrago. Imaginava por que Aurus ainda não estava na elite quando o conheceu, sua força e habilidade de fazer sua presença ser sentida em vários lugares seria a arma ideal para os demônios.

-Sei que não irá fazer nada – Sparda respondeu ainda encarando o demônio.

-Como sabe? - Aurus deu um sorriso misterioso – Posso atacar você em um de seus momentos... “humano”.

Sparda deu uma risada.

-Diga, por que veio ao mundo humano? - perguntou mudando o assunto.

Por uns instantes Aurus pensou cuidadosamente na pergunta. Não era a primeira vez que Sparda havia perguntado isso. Logo quando chegaram, ele já havia perguntado e sempre que se encontravam, sua resposta continuava a mesma: O tédio o fez querer sair do inferno. Estava cansado de ver demônios e humanos virarem fantoches nas mãos dos poderosos da elite e mesmo querendo pertencer a mesma, Aurus temia o fato de poder se transformar em mais um desses fantoches.

-Tédio – Respondeu novamente – Mas você já sabe disso. Me pergunta isso desde que chegamos aqui. - Sparda continuou o encarando, como se estivesse esperando mais alguma resposta - Acha que posso estar aqui por que eu simpatizo com eles? Grande engano o seu. - Deu uma pequena risada antes de continuar – O fato de você simpatizar e eu ter vindo, não quer dizer que eu faça parte dessa loucura. Aqui pode ter coisas que no inferno eu nunca encontraria – Voltou sua atenção para o céu estrelado – Mas isso não quer dizer que eu compartilhe essa loucura toda. Estou neutro nessa guerra e você está ciente disso. Não terá o meu apoio, se é isso que você quer...

-E você também não irá contra – Sparda afirmou.

-Como disse, estou neutro.

-Isso já é algo – Sparda respondeu, deixando o demônio confuso. - Um dia, Aurus, você também encontrará aqui mais do que um céu estrelado. Encontrará alguém por quem lutar. E quando esse dia chegar, espero te encontrar para você me contar o que mudou. Não o forçarei a entrar em algo que você não quer, mas você irá entender o meu motivo quando você estiver na minha situação. Nós temos uma alma e assim como eles também podemos amar, não acha?

Aurus não respondeu, apenas viu Sparda se afastar e sumir pelas ruas da cidade. Seria impossível ele se apaixonar por alguma humana, já que, para ele, isso isso estava fora do normal. Suspirou se livrando das palavras de Sparda. Demônios não existiam para “amar” ou ter qualquer sentimentos com humanos e sim para mostrar o quão fracos e controláveis eles eram.

-Realmente, Sparda, seu sonho é impossível – Disse para o vazio, voltando a andar pela cidade.

FIM