São seis horas da manhã. Meu despertador toca e eu me levanto como um zumbi. Olho para o livro surrado que ganhei há exatamente oito anos. Eu sempre o mantenho perto de mim nessa época do ano. É quase involuntário. Acho que isso me faz lembrar daquele senhor e prometo a mim mesma que irei encontrá-lo.

Meus pensamentos continuam nessa linha enquanto me arrumo. Logo estou pronta, pego as chaves do carro e me dirijo para a garagem. Estou distraída, abro os portões, absorta em pensamentos e...

Sufoco um grito. Pulo uns três metros trás.

É ele, claro. Como pude me esquecer dele? Fico furiosa. Ele está rindo.

- Cale a boca! – resmungo.

- Bom dia para você também – diz.

- O que está fazendo aqui? Eu não mandei você ir embora, da última vez?

Ele dá de ombros.

Ah, meu Deus, como ele é irritante! Chato, insuportável, inconveniente...!

- Pare com isso, não adianta me xingar mentalmente. Você sabe que eu não vou embora – replica, passando por mim, indo em direção ao carro. Ele abre a porta e entra sem a menor cerimônia.

Viro-me para ele e cruzo os braços.

- Você sempre vai embora – digo, mas ele não responde, apenas me dá um sorriso irônico.

Olho para o céu, exasperada, e pergunto a Deus qual pecado eu estava pagando. Joseph – o nome dele é Joseph – é incrivelmente, absurdamente, exaustivamente chato.

- Você vai se atrasar – ele grita de lá do carro, buzinando.

Vou até a minha porta, batendo os pés. Entro no carro, emburrada, e dou a partida. Joseph liga o rádio e consegue sintonizar na música que mais me irrita.

- Diminui isso – ralho com ele.

Ele ri e aumenta o volume.

Irritante.

Resolvo ignorar. Se durante o dia eu conseguir me desligar dele como fiz durante todo o ano, talvez amanhã de manhã, quando ele for embora, ficarei bem.

E com esse pensamento feliz, sigo para a faculdade.

- Você não pode ir – digo. – Vou parecer uma louca falando com você.

- Isso porque você não consegue deixar de falar comigo.

- Porque você é irritante.

- Ah-há! Admitiu que não consegue ficar sem falar comigo!

- Ah, cala a boca!

Já estamos na porta da faculdade, tendo nossa discussão no meu carro. Felizmente ninguém passa pelo estacionamento agora, ou me chamariam de louca. Aprendi do jeito mais difícil que somente eu consigo ver Joseph. O que não contribui para manter minha sanidade.

- Você não vai – decido.

- Eu vou.

- Não, não vai! Por favor, Joseph... – Olho para ele, e ele parece relaxar.

- Tudo bem, não vou. Mas estarei aqui quando voltar.

Agradeço e abro a porta do carro para sair, quando ele segura meu braço.

- Liv.

Olho para ele, esperando que continue. Ele está anormalmente sério. Diz:

- Eu estarei aqui.