Sou eu que vou seguir você
Do primeiro rabisco
Até o bê-á-bá.

Assim que comecei a querer rabiscar paredes, minha mãe me deu um “brinquedo” novo e fantástico, algo que abriria as várias portas da minha imaginação infantil.

Em todos os desenhos
Coloridos vou estar
A casa, a montanha
Duas nuvens no céu
E um sol a sorrir no papel...

E foi assim que eu ensaiei meus primeiros “passos” no mundo dos desenhos.
Eu me aventurava, por mais que eu só fizesse alguns rabiscos, que mais tarde se tornaram casinhas, montanhas, nuvens e céus, que para os meus familiares, eram verdadeiras obras de arte, quase que comparadas a Leonardo da Vinci ou Picasso!

Sou eu que vou ser seu colega
Seus problemas ajudar a resolver

E foi nele, que encontrei um verdadeiro amigo, eu descarregava todos os meus problemas e conflitos nele, todas as minhas dúvidas, e minhas primeiras descobertas com os garotos.

Sofrer também nas provas bimestrais
Junto a você...

E quando chegavam as provas... Meus pesadelos vinham juntos, mas ele sempre estava ali, me apoiando e me ajudando a compreender toda a matéria, para que no fim do bimestre, eu tivesse boas notas.

Serei sempre seu
Confidente fiel...
Se seu pranto molhar meu papel...

Passei a usá-lo como diário...
Todos os dias eu iniciava minhas confidências assim “Querido diário”...
Eu escrevia tudo que acontecia comigo, principalmente minhas frustrações, meus “foras” e minhas desilusões amorosas... Que para mim, era horríveis e achava que nunca iria amar, nem ser amada por ninguém, o que me fazia derramar lágrimas e mais lágrimas em cima do papel enquanto escrevia.

Sou eu que vou ser seu amigo
Vou lhe dar abrigo
Se você quiser
Quando surgirem
Seus primeiros raios de mulher
A vida se abrirá
Num feroz carrossel
E você vai rasgar meu papel...

E por mais que ele fosse somente um caderno, foi justamente pra ele que eu fui correndo contar, quando fiquei “mocinha”.
E em um surto, querendo largar os meus vestígios de criança para trás, passei a arrancar as folhas que eu tinha escrito há tanto tempo atrás...

O que está escrito em mim
Comigo ficará guardado
Se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente
O que se há de fazer...

Voltei a escrever nele, e por ter me arrependido de ter rasgado as folhas que contavam meu passado, comecei a colá-las, pedacinho por pedacinho.
Pensei em reescrevê-las, porém decidi realmente por colá-las, já que reescrevê-las, não transmitiria o que eu sentira na época em que escrevera.

Eu confiava muito nele, porém, sempre tinha algum atrevido que tentava ler o que eu tinha escrito, e foi por isso que eu botei um cadeado nele, e passei a escondê-lo dentro do meu guarda roupas.
E por lá ficou, vários anos, sem que eu me esquecesse por completo, ele havia ficado guardado em um cantinho na minha memória, que eu esquecia de visitar...

Só peço, a você
Um favor, se puder
Não me esqueça
Num canto qualquer...

Por mais que ele tenha me acompanhado, chegou um dia que eu o “troquei” pelo computador, talvez pela agilidade, ou simplesmente, por ter crescido...
Eu esqueci a companhia que ele me serviu por anos a fio, sem nunca reclamar, talvez até  me “aconselhando” por mais que eu saiba que isso não seja possível...

E foi num dia desses, que resolvi tirá-lo do esconderijo em que o mantinha, reli tudo que eu havia escrito, dei boas risadas, e pude perceber, o quanto eu havia crescido enquanto escrevia.
E enquanto sorria, o guardei para sempre, e prometi jamais esquecê-lo em qualquer lugar, e foi por isso que o guardei, junto a mim, nas minhas lembranças e no meu coração...