A Feiticeira escrita por rkaoril


Capítulo 14
Um bicho muito feio




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XIV

SABRINA

SABRINA SE ARREPENDEU DE TER entrado no chalé 13 no momento que o fez. Tudo era um breu de escuridão com exceção de uma fresta de luz vinda de uma janela. O lugar cheirava a três coisas ruins: mofo, meias sujas e ovo podre. Antes que ela pudesse dar um passo para dentro, olhos vermelhos se abriram na escuridão.

Eles lembravam ela de sangue, sangue fervendo em um caldeirão de bruxa. Então ela ouviu um barulho de osso batendo, como aquelas dentaduras de Halloween nas quais se dá corda e saem batendo os dentes pelo chão. Ela segurou Suzana pela barriga, caminhando lentamente com ela para trás. Ela deu graças aos deuses que Suzana estava calada enquanto tinha certeza que Elizabeth não era a dona dos olhos vermelhos.

Quando estavam a alguns metros da entrada do chalé 13, a criatura deixou as sombras.

Sabrina já tinha visto bichos muito feios, principalmente depois da batalha na noite passada. Nenhum deles se comparava àquele monstro.

Ele estava na altura dos olhos dela, com uma pele vermelha febril. Seus olhos eram redondos e vermelho sangue, seu corpo parecia o de um leão, mas as patas e a calda eram de cavalo, e a cabeça parecia uma mistura entre lobo e cavalo. Ele abriu sua boca, e Sabrina descobriu a origem do barulho – não haviam dentes, apenas duas placas de osso que faziam o barulho quando se fechavam.

Sabrina puxou sua adaga e pensou. Estavam no acampamento, um lugar seguro. Não haviam razões para a criatura a machucar. Foi quando o monstro bateu seus dentes e avançou para ela.

Incrivelmente, Suzana salvou o dia. Ela puxou uma caneta, tirou a tampa e ela se transformou na espada de bronze que Sabrina a vira com na noite anterior. Suzana deu uma joelhada em Sabrina, a fazendo cambalear para longe da criatura quando a mesma avançou.

Ela aproveitou a confusão da criatura ao ver Sabrina cair para avançar com a espada contra ela. Infelizmente, a criatura desviou rapidamente chicoteando seu rabo de cavalo contra o rosto de Sabrina, que vacilou contra a grama.
– Você está bem? – perguntou Sabrina. Foi quando ela percebeu que não havia aberto sua boca. Ela olhou para a criatura, que encarava Suzana – Su-zana? – perguntou Sabrina, de novo com a boca da criatura – Certo, isso está ficando estranho.
– Você acha? – perguntou Suzana, tentando se levantar.

A criatura então grasnou com sua própria voz, avançando na direção de Suzana que gritou. Sabrina pegou sua adaga no chão e pulou contra ela, fazendo com que o monstro mudasse novamente de ideia e fosse para trás.
– Coisinha – disse Sabrina, dessa vez com sua própria boca. Suas mãos estavam no alto, como se ela fizesse mensagem de paz para o monstro – eu não quero te machucar. Veja, eu só tenho essa faquinha sem fio. – ela sacudiu a adaga mortalmente afiada.

O monstro bateu os dentes, como se tivesse percebido que era um blefe.
O que você está fazendo aqui, coisinha? – pensou Sabrina, tentando encontrar uma resposta plausível – O que você fazia no chalé de Hades?
A bruxa –
disse uma voz melodiosa na mente de Sabrina. Ela não teve tempo para meditar sobre isso. Naquele momento, um grito ecoou pelo lugar – Sabrina viu Elizabeth gritando sem razão aparente (ou medo) a alguns metros delas, como se fosse uma boa forma de ajudar.

De alguma forma, foi. Suzana aproveitou a confusão da criatura para decapitá-la com sua espada de bronze, fazendo com que ela virasse pó dourado.

– Wow. – disse Elizabeth sorrindo – Você é um arraso, ou melhor, vocês. – Suzana sorriu e deu de ombros.
– Nós temos a ginga. – Suzana explodiu em risos enquanto Sabrina revirava os olhos sorrindo.
– Nós não tínhamos uma missão, senhoritas? – disse Elizabeth, como uma perfeita dama.
– Srta. Lalonde – disse Sabrina, fingindo espanto – Eu completamente esqueci de tal assunto! Como poderei me redimir de tal falta?
– Eu mereço a guilhotina. – chorou Suzana.
– Não – disse Elizabeth com um sorriso assustador – será a fogueira. – Elas explodiram em gargalhadas, indo na direção da colina meio-sangue.

Enquanto deixavam o acampamento, Sabrina se perguntou o que a criatura queria dizer com a bruxa. Não era “a feiticeira” e sim “bruxa”, mas a profecia parecia bem confusa nesse aspecto.

Haveria mais uma feiticeira possivelmente no chalé 13? Sabrina olhou para Elizabeth enquanto ela encaixava seus fones de ouvido, se perguntando se a amiga era mais forte do que aparentava.

Mesmo se ela não tivesse poderes mágicos, ela pensou que a resposta fosse óbvia. Ela cutucou Elizabeth que tirou um dos fones.
– Oi? – ela perguntou no banco da frente. Sabrina abriu sua boca para dizer alguma coisa, mas mudou de ideia.
– Não deixe a música muito alta. – ela disse – Vai estragar sua audição.
– Quem se importa? – Sabrina fez uma cara de tansa e olhou ao redor, até que apontou para si mesma.
– Eu?
– E eu! – disse Suzana ao lado.
– Certo, tá bom. – Elizabeth desligou os fones de ouvido.

Suzana se sentia mais calma, não seria hoje que os tímpanos da amiga iriam estourar.

– Então – disse Elizabeth, mexendo em sua mochila – onde fica esse tal de acampamento Júpiter?
– Oakland Hills – disse Sabrina – É em um túnel em São Francisco.
– Wow – disse Suzana – Como vamos chegar lá?
– Bem – disse Sabrina – podemos tentar pegar um avião? Há dinheiro suficiente.
– Por favor – disse Elizabeth – nada de aviões.
– Isso nos deixa com a Rodoviária – disse Sabrina – ou talvez...
– Carona com motoqueiros? – sugeriu Elizabeth.
– Não. Definitivamente não.
– Então – disse Suzana – só a rodoviária.
– Não tenho certeza se isso vai dar certo. – disse Elizabeth – Me disseram que os monstros vão nos atacar com mais frequência agora que estamos armadas e cientes do nosso sangue. Acho que atravessar o país em um ônibus vai nos tornar alvos fáceis.
– Nós podíamos tentar O Labirinto. – disse Suzana – Me disseram que ele pode nos levar do outro lado do planeta em alguns minutos.
– É muito perigoso – disse Sabrina – eles me disseram que ele foi feito a partir de uma feiticeira do mal que odeia semideuses. Não vai ser uma boa ideia.
– Não temos nenhuma boa ideia – suspirou Elizabeth – vai ser uma ótima viajem.


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