O perfume dela ainda estava impregnado no quarto. Eu ouvia um som insistente ao fundo, mas não estava interessado em descobrir de onde vinha. O som do interfone do hotel me despertou para o assassinato que eu cometia com a pobre fatia de bolo. Levantei e atendi.

–- Boa tarde, senhor. Há uma mulher aqui no lobby... – disse ela insegura em continuar

–- Mulher? Como ela é. Por favor não cite meu nome – não acredito que a

–- Ela disse que o nome dela é Natasha Dumitrana. É sua esposa? – ela perguntou incerta se tinha permissão de fazer essa pergunta.

–- Minha situação com essa mulher é delicada, estamos em processo de divórcio. Diga que não estou recebendo visitas, que não estou, escolha algo. – disse esfregando a têmpora tentando aliviar uma dor de cabeça que ameaçava piorar.

–- Sim, senhor. – ela desligou e eu resolvi ir procurar pelo meu celular.

Havia duas chamadas perdida do meu advogado. Ok, acho que essas eu não deveria ter ignorado. Liguei de volta na esperança de serem boas notícias sobre o andamento do divórcio.

Eu ouvi atenderem do outro lado da linha e ainda assim não ouvi nenhuma voz

–- Bom dia, escritório de advocacia Doutor Hamasaki

–- Bom dia, doutor Hamasaki esta? Diga que é o Andrew Dumitrana.

Ela me colocou na espera, enquanto isso chamei a recepção pelo telefone do quarto

–- Hotel La Rosè, bom dia.

–- Bom dia, me informaram há pouco que uma mulher estava ai procurando por mim, Andrew Dumitrana. Ela ainda esta por ai?

–- Não,senhor Dumitrana. Ela foi embora há pouco.

–- Ok, obrigado. Se ela voltar não quero vê-la.

–- Sim, senhor.

Chequei o celular e ainda estava com a música de espera. Então peguei as chaves do carro e sai do quarto em direção à garagem.

–- Andrew! Andrew? Você esta ai cara? – o advogado gritava pelo celular

–- Hamasaki! Desculpa, eu tava numa reunião importante aquela hora. Tem alguma novidade sobre o processo? – perguntei puxando o cinto de segurança e dando ignição no carro

–- Tenho algumas sim. Pra começar você tem certeza que quer deixar tanta coisa assim pra ela? Você deu muito duro pra construir aquela casa.

Suspirei alto, não queria lembrar o quanto investi naquela casa pra deixar tudo com aquela mulher.

–- Sim, eu tenho certeza Hamasaki. Eu te passei a lista das coisas que não abro mão.

–- Sim, sim. Eu já li a lista e repassei pra ela. Ela passou uma lista de coisas que não vai ceder também. – senti uma pontada zona frontal da cabeça, já até imaginava o que ela pedia – quer ouvir ou prefere que eu mande pro seu email?

–- Me manda por email. Mais alguma novidade?

–- Sim, ela quer marcar uma reunião com você pra discutirem isso. Ela deixou claro que não quer o divórcio

–- Se ela não quer o divórcio, porque ela mandou uma lista das coisas que quer ficar? – a dor de cabeça ficava mais intensa

–- Vai entender. Ela te procurou? -

–- Sim, ela apareceu aqui no hotel. Só não sei como ela descobriu em qual hotel eu estava. Você disse a ela?

–- Sim, achei que seria uma coisa boa. Vocês vão precisar se encontrar pra conversar mesmo. Chegaram a conversar, vocês dois? – era só o que me faltava, realmente não se pode confiar em advogados

–- Eu não quero vê-la, não quero conversar com ela além do necessário para terminar com o processo do divórcio.

–- Entendo, que seja então. Por enquanto é isso, ainda hoje te repasso a lista dela. Qualquer outra novidade eu te aviso.

–- Ok, muito obrigado Hamasaki. Até breve, então.

–- Até, Andrew

Desliguei o telefone

Cheguei na agência quase ao mesmo tempo que o entregador com o meu almoço. Quinta é dia de comida italiana, por sorte tem um restaurante que faz entregas e basicamente qualquer tipo de comida. Paguei o rapaz e fui para a minha mesa já ligando o computador.

Teria que esperar a resposta do cliente de hoje, mas poderia dar continuidade aos outros trabalhos que esperam finalização.

–- Hey Andrew – gritou um dos estagiários de sua mesa à minha esquerda

–- Fala Ben – girei a cadeira na direção dele enquanto dava mais uma garfada no meu macarrão

–- Te mandei agora por e-mail as opções de layout do outdoor para a Pietra’s Lore – ele estava com um olhar preocupado, franzia a testa como se tivesse algo errado – esta tudo bem? Você parece... estranho.

–- Deve estar constipado! – gritou o redator da sala de café pouco atrás de mim

Revirei os olhos com o comentário

–- Ai eu já não sei, mas ele esta estranho – disse o estagiário voltando os olhos para o computador.

–- Você ainda esta com a mania daquele dorama que viu não é? – resmunguei para quando ele saia com seu café

–- Pior que estou, foi um dorama bom. Só esperava que ela ficasse com o outro carinha la. – disse Bob meio chateado com o final de sua novela coreana

Tentei ignorar alguns burburinhos e me focar no trabalho. Demorei uns minutos para lembrar que precisava abrir meu e-mail.

Na lista de mais de 30 e-mails não lidos só um me chamava a atenção, a tal da lista de Natasha. Já até conseguia imaginar algumas das coisas que ela queria, mas não sei se estou afim de piorar meu dia. Afinal, não são nem duas horas da tarde, tem muito pra acontecer hoje ainda.