Muito tempo havia se passado desde que vencera aquele jogo de sobrevivência e se tornara o deus daquele mundo. Seus dias eram solitários e exceto pela companhia de Murmur, não havia mais ninguém com quem conversar e lhe sobrava bastante tempo para pensar em certas coisas que insistiam em permanecer em seus pensamentos.

Yukiteru não conseguia se esquecer do dia em que os últimos jogadores, além dele e de Yuno, haviam sido mortos. Na verdade, o que ele realmente não conseguia esquecer, era aquele beijo. O beijo que Akise Aru havia lhe dado, um pouco antes de ser morto por Yuno, e ele também havia dito que o amava e aquelas palavras jamais saíram de seus pensamentos... e nem de seu coração.

Desde que o conheceu, havia gostado de Akise, não de uma forma romântica, mas havia se dado bem com ele, gostava de sua companhia. Mas no meio de todo aquele jogo de vida ou morte, tendo Yuno vigiando todos os seus passos e monopolizando completamente sua vida, era praticamente impossível se concentrar nos próprios sentimentos. Por um certo tempo até acabou se convencendo de que amava Yuno, mas depois percebeu que aquele sentimento não era verdadeiro, havia sido gerado à partir do medo, era apenas um reflexo da loucura e obsessão que ela tinha por ele.

Já Akise, era completamente diferente da garota, ele nunca tentou impor suas vontades à força, ou os seus próprios sentimentos, tanto que só os havia revelado quando estava prestes a morrer. Aquilo havia sido demais para Yuki, eram muitas coisas para assimilar em tão pouco tempo e só foi capaz de digerir tudo, quando se tornou o deus daquele mundo e teve bastante tempo para pensar. Bastante tempo para que o sentimento de Akise penetrasse em seu coração e se enraizasse por lá.

Nunca desejou tanto ter o poder de trazer alguém de volta à vida como agora. Queria trazer Akise de volta, queria tê-lo ao seu lado, queria amá-lo por toda a eternidade... Podia até imaginar como os dias seriam se ele estivesse ali consigo. Criaria até um “mundinho” particular, pra que eles pudessem ser felizes juntos e para sempre.

Fechou os olhos, tornando as imagens em sua mente um pouco mais nítidas. Um pequeno sorriso triste se formou em seus lábios quando uma lágrima solitária deslizou por sua face. Aquele era um desejo impossível, algo que jamais poderia se realizar.

- Yukiteru-kun?!

Yuki se sobressaltou ao ouvir o próprio nome ser chamado por aquela voz que tanto ansiava escutar novamente. Foi abrindo os olhos bem devagar, com medo de que houvesse sido apenas sua imaginação lhe pregando uma peça.

- Akise... – o nome deixou seus lábios de forma quase inaudível. Ele estava ali. Ele realmente estava ali! – Como...? Você não estava...? Eu...

O outro havia se aproximado e posto um dedo sobre seus lábios, interrompendo o fluxo de perguntas confusas vindas do moreno.

- Você me desejou! É por isso que eu estou aqui! – disse com a mesma expressão calma de sempre, com um pequeno sorriso nos lábios.

- Mas... você estava morto! Me disseram que eu não tinha poder para trazer ninguém de volta! Como é possível que você esteja aqui? – ele estava completamente confuso.

- Realmente não é possível que você traga nenhum humano de volta à vida. Mas como pode ver, isso não se aplica à mim.

- Como assim? O que você quer dizer com isso?

- Eu não sou como as outras pessoas, eu fui criado pelo deus anterior com o propósito de reunir informações sobre os jogadores durante o jogo de sobrevivência. Eu não sou humano, por isso quando você desejou com todas as forças me ter novamente ao seu lado, eu voltei.

- Você não... é humano?

- Não. – sorriu um pouco triste – Mas eu tenho sentimentos. Os meus sentimentos por você são reais, tudo o que eu te disse antes é verdade!

Yuki o olhou nos olhos, sabia que ele não estava mentindo, tinha certeza que aquele sentimento era verdadeiro. E o que importava se ele era humano ou não? Yuki também havia deixado de ser um quando se tornou deus! Acariciou brevemente o rosto do outro com o polegar e depois segurou-o gentilmente com as duas mãos, aproximando-o do seu e colando seus lábios nos dele, movendo-os lentamente e deslizando a língua para dentro da boca de Akise, quando este lhe deu passagem. O beijo foi longo, mas para eles, não pareceu ter durado nem dois segundos.

- Eu te amo, Yuki! – Akise declarou sorrindo, seus olhos continham um brilho intenso de felicidade.

- Eu também te amo! – retribuiu o sorriso e o beijou de novo.

Pela primeira vez em sua vida, Yuki sentiu que realmente seria feliz. Feliz ao lado da pessoa que amava e seria seu para sempre !