- Guardian Angel. escrita por Steh Costa


Capítulo 1
- Destiny.


Notas iniciais do capítulo

- Revisão.



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É claro que sabia que o que eu fiz era errado, cresci sabendo muito bem que meu destino não estava em minhas mãos, sempre teria que obedecer a regras e outras pessoas, não podia pensar por mim mesma, pelo menos não todas as coisas. Meus pais estavam cansados de tentar me explicar as coisas que eu deveria ou não fazer, só que sinceramente eu já estava cansada de tantas regras, queria poder viver minha vida, como as outras pessoas vivem, não queria uma vida planejada, ou uma rotina tediosa.

Eu sei que as coisas que eu faço são muito importantes e que deveria sentir orgulho disso, e eu sinto claro, mas não o tempo todo... Eu estou aqui pensando nos meus problemas e esqueci de dá uma luz de entendimento. Chamo-me Sarah Sloan, sou um anjo da guarda, pelo menos é o que eu gostaria de ser.

No ''céu'', como alguns nomeiam, tem um grande sistema de anjos da guarda, provas ilimitadas para isso, nunca fui muito boa em provas, meus pais que o digam, até hoje sofrem com isso. Moro com Carlos e Márcia Sloan, meus pais, eles são muito respeitados no conselho dos arcanjos, mas desde que nasci às pessoas não os levam tão a sério como antes, digamos que eu não seja uma pessoa fácil de lidar, eu sei que pode parecer difícil arrumar encrenca no paraíso, mas é mais normal que qualquer pessoa possa imaginar.

Nascemos e crescemos como todos os humanos, a diferença entre nós é que paramos em certa idade, vinte e três anos pra ser exata, não sentimos dor ou ficamos doentes, todos que nascem no céu passam por inúmeros testes pra se tornar responsáveis por uma criança.

Quando eu completei meus vinte anos fiz as provas para anjo da guarda e não passei, não era muito normal as pessoas não passarem, mas até então era relevante, no ano seguinte fiz novamente a prova e novamente não passei, meus pais disseram que eu passaria na próxima, quem dera eles estivessem certos, repeti exatamente quinze vezes! Ninguém acreditava mais que um dia eu poderia passar, os arcanjos até me aconselharam a desistir, que poderiam arrumar outro cargo pra mim.

O fato de querer ser anjo da guarda não é por ajudar ou ficar de babá eternamente pra uma pessoa, era que eu queria conhecer o mundo, poder ver como era os humanos, nunca tinha ido até lá, tudo que eu sabia era as coisas que meu melhor amigo me contava, Rodrigo era anjo da guarda de uma mulher de sessenta anos, ele tinha acompanhado e ajudado ela a vida inteira. Era com ele que eu aprendi tudo que eu sei sobre os humanos e sobre o mundo que tinha ''embaixo'' de nossos pés.

Estava no meu quarto jogada na cama, teria que esperar até o próximo ano para novamente tentar fazer aquelas porcarias de testes.

Como sempre vejo minha porta abrindo e meu melhor e único amigo entrando, não poderia dizer se ele estava mais bonito hoje ou ontem, sempre eram a mesma coisa, as mesmas roupas brancas, nasci usando essas roupas brancas e passei minha vida as usando, mas sempre imaginei como seria usar uma roupa de outra cor, minha mãe e Rodrigo diziam que era bobeira. Balancei a cabeça dissipando os pensamentos quando senti ele se jogando ao meu lado na cama fazendo com que o coxão afundasse.

 

—_Pensei que estaria com a sua cria. __ Falei com o mesmo tom irônico que sempre usava quando falava da protegida dele.

 

—_ Já falei pra não falar assim dela. __ Ele respondeu balançando a cabeça negativamente pra mim. __ Já fiquei sabendo que foi reprovada no teste novamente.

 

—_ Todo o céu está rindo de mim, até os cupidos me zoaram hoje quando estava voltando pra casa. __ Cupidos! Em minha opinião não passava me homens velhos com atitudes de crianças, sempre  voando ao nosso redor,  cantando pra te irritar.

 

 

—_Se até os cupidos fizeram graça com a sua cara as coisas não vão bem mesmo. __ Ele disse se esquivando da minha mão que tentava acertá-lo pelo comentário nada bem-vindo no momento.__ Relaxa Sarah.

 

—_Mudando de assunto, como vai sua cria... Ops, sua ''protegida'' __ Perguntei rindo da careta que ele fez quando novamente a chamei de cria.

 

—_Na verdade estou preocupado com ela. __ Ele se sentou e tinha uma expressão séria que me fez parar de rir e sentar ao seu lado.

 

—_ O que aconteceu? __ Dessa vez não tinha sarcasmo ou piada em minha voz, realmente era raro ver Rodrigo sério, e quando isso acontecia não era coisa boa.

 

—_ Acho que ela está doente.__ Ele disse e deu um longo suspiro. __ Tentei falar com o Math, mas ele disse que não era hora ainda.

 

—_ Math nunca nos conta nada. __ Math era o arcanjo responsável pelas doenças, claro que nenhum humano gosta de ficar doente ou morrer, mas são ordens superiores, assim dizendo, estão no destino, Math simplesmente faz com que o destino seja seguido. __ Ela foi naquele negócio que você me disse... Médico?

 

—_Sim, mas os médicos não acharam nada ainda, ela anda muito cansada e às vezes não consegue respirar, está escondendo do marido e dos filhos. __ Consegui ver uma lagrima descer pelo olho esquerdo de Rodrigo.

 

Esse tipo de ligação eu nunca entendi, e Rodrigo falou que não se entende se não passar por isso, eu nunca acompanhei a vida de uma pessoa, nunca a vi sofrendo, amando, se machucando, então não poderia entender aquela ligação que eles tinham, e pelo jeito que eu estava me saindo nas provas eu não iria entender tão cedo.

 

—_ Tenho certeza que ela vai ficar bem Rodrigo. __ Tentei passar o máximo de confiança que conseguia através da minha voz e da mão que depositei em seu ombro.

 

—_ Obrigado Sarah. __ Ele respondeu com um sorriso fraco apertando sua mão na minha. __ Acho que vou ir ficar com ela.

 

—_ Tudo bem...__ Respondi enquanto ele saia pela porta com a mesma rapidez que entrou.

 

Tomei coragem e sai da cama, desci as escadas da minha casa, Rodrigo sempre me disse que nossas casas eram iguais as casas dos humanos, queria conhecer aquele mundo, as pessoas, mesmo que não pudesse falar com elas, seria legal ver o mundo.

 

—_ Se continuar pensando assim sua cabeça vai sair fumaça minha menina. __ Ouvi a voz da minha mãe e percebi que estava parada no meio da escada olhando para o nada, terminei de descer e sentei no sofá ao lado da minha mãe.

 

—_Eu sinto muito não passar novamente na prova, sei que sou motivo de vergonha pra senhora e o papai. __ Falei com a cabeça baixa, sempre que era reprovada minha vergonha crescia.

 

—_ Nunca diga isso! __ Minha mãe falou em tom bravo enquanto levantava minha cabeça, olhei nos olhos dela e não vi nenhum tipo de desapontamento ou raiva, só amor. __ Eu e seu pai nunca sentiríamos vergonha de você, tenho certeza que vai passar nessa prova, quando tiver que passar.

 

—_E se eu nunca passar ?

 

—_ Filha a palavra ''nunca'' não se aplica a nós. __ Ela sorriu e beijou minha testa, se levantando, como sempre fazia quando o papai estava pra entrar, nunca entenderia isso também, minha mãe sempre sabia quando meu pai estava pra entrar pela porta, não importava o horário.

Só pra confirmar a teoria olhei pra porta a tempo de ver papai a abrindo, sorri ao ver o sorriso que se formou nos lábios de meu pai, assim como eu, ele também não entendia como minha mãe fazia aquilo, o vi colocar uma bolsa no chão e dar um leve beijo nos lábios da minha mãe. Assim que ele me viu veio em minha direção, agora o rosto dele estava mais tenso, já estava prevendo à bronca que ia levar pelo fato de não passar na prova.

 

—_ Filha, o conselho quer ver você. __ Ele disse simplesmente, e no mesmo momento senti todo meu corpo paralisar.

 

—_ Por que pai? Juro que não fiz nada de errado dessa vez... __ O conselho não se envolvia diretamente com os anjos da guarda, nunca nem tinha visto eles. __ É por causa das provas? Eu posso passar no próximo ano, eu juro que posso.

 

—_ Filha eu não sei sobre oque se trata. __ Meu pai coçou a cabeça, coisa que só fazia quando se sentia perdido ou nervoso. __ Estou tão preocupado quanto você.

 

—_O que será que eles querem com nossa menina? __ Dessa vez foi minha mãe que falou, ela se sentou ao meu lado e passou os braços ao meu redor.

 

—_ Saberemos agora... Eles pediram uma reunião com você urgente. __ Meu pai respondeu já se colocando de pé e me estendendo a mão.

 

Não tinha a menor ideia do que iria acontecer agora. Claro que já tinha ouvido de historia de anjos que foram expulsos, não queria ser expulsa, nem sabia exatamente oque aquilo significava ou pra onde iria. Cada passo que dava no longo corredor ao lado dos meus pais, era um pensamento novo a mais, pensava em vários motivos pra essa reunião.

Quando finalmente cheguei à sala onde nem sabia como era, meu coração já estava na boca há muito tempo, quando as portas se abriram prendi minha respiração. Era uma enorme sala com uma igualmente enorme mesa, o conselho todo estava sentado lá, mas se tivesse faltando alguém eu também não saberia, nunca tinha visto nenhum deles antes, todos tinham enormes asas brancas com as pontas douradas, muito diferente das minhas, que eram toda branca e muito pequena comparada à deles.

 

—_ Senhorita Sloan, é um prazer finalmente conhecer a única pessoa que conseguiu ser rejeitada como anjo da guarda quinze vezes. __ O homem que estava no meio falou com um sorriso nos lábios.

 

—_ Acho que sou a única burra então. __ Respondi e ao mesmo tempo mordi minha língua, sempre falava sem pensar e acabava falando besteira, não poderia ser irônica com o conselho, isso seria uma grande falta de respeito.

 

—_ Com certeza seria sim minha menina. __ Ele piscou pra mim e eu compreendi que estava em minha cabeça, como todos os arcanjos tinham o poder. __ Sente-se.__ Ele me apontou uma única cadeira que estava no meio da sala.

 

—_Desculpe senhor mas não entendo o motivo de minha filha ser chamada aqui. __ Meu pai falou com um olhar confuso enquanto eu me sentava na cadeira indicada.

 

—_Isso erei explicar agora. __ Ele voltou o rosto pra mim e o olhei com atenção. __ Você não passou nas provas por que era ''burra'' como a senhorita disse.

 

—_ Então por que eu não passei? __ Sabia que não deveria interrompê-lo naquele momento, mas minha curiosidade estava enorme.

 

—_Foi o destino. __ Ele respondeu com um sorriso.

 

—_ O destino fez com que eu me passasse como burra?__ Estava cada vez mais confusa com aquela historia.

 

—_ Não minha criança, o destino não deixou você passar na prova por que sua criança ainda não estava nesse mundo.

 

—_ Minha criança? __ Que povinho pra falar coisa com coisa em! Estava completamente perdida nisso.

 

—_Isso acontece raramente, na verdade faz exatamente setecentos anos que não acontece. __Ele continuava explicando com aquela voz calma, preferi não atrapalhar dessa vez e juntar às peças.__ Dessa vez não escolhemos uma criança pra você... Ela a escolheu, está para nascer daqui a dois dias.

 

—_Uma criança me escolheu pra ser anjo da guarda dela? __ Ainda estava tudo muito confuso, mas até onde eu consegui entender, ia me tornar anjo da guarda.

 

—_Exatamente, nunca conseguimos entender como isso realmente acontece, e são raras as vezes que acontece... Você e ela tem a mesma marca de nascença no braço direito, é assim que a criança escolhe seu anjo, marcas de nascenças idênticas, ela nunca terá ideia disso, mas escolheu você.

 

—_Então eu sou um anjo da guarda? __ Perguntei olhada para a marca em meu braço.

 

—_Sim. Ira para a terra acompanhar o nascimento da sua escolhida. __ Ele disse com uma expressão séria dessa vez. __ Podem se retirar.

 

Sai da sala com meu pai radiante, finalmente consegui o que tanto queria, seria um anjo da guarda, poderia conhecer o mundo que existia lá em baixo, ainda estava um pouco confusa com essa coisa de a criança ter me escolhido, mas já estava gostando dela, afinal foi ela que me fez me tornar o que eu tanto queria. Iria pra terrar e tomaria conta dessa criança com maior prazer depois dela ter me ajudado mesmo sem saber.

 

...

Enquanto Sarah saia da sala com os pais, uma outra conversa muito importante era tratada ainda na sala dos arcanjos.

 

—_ Não acha que deveria ter contado pra ela o principal motivo de ser escolhida pela criança? __ Um dos arcanjos perguntou para seu irmão.

 

—_ Acha que ela gostaria de saber que será responsável pela morte da criança quando a mesma completar vinte anos? __ Foi uma pergunta que não precisava de resposta, todos na mesa sabiam o significado daquelas palavras. __ É assim que deve ser.


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