Kagome precisava avisar Sakura, Kai e Tomoyo sobre o perigo que se aproximava. Kagome correu com toda sua força em direção a casa de Tomoyo, mas ao se aproximar viu algo que a deixou espantada. Kai ajoelhado, sangrando Sakura abraçada a Tomoyo que parecia estar desmaiada.

         _Kai, Sakura!

         Kai levantou o rosto e viu Kagome se ajoelhar na sua frente.

         _Kai o que aconteceu?

         _Eu tentei, mas não consegui impedir, ela está morta,

         _Quem?

         _Tomoyo.

         Kagome se espantou, agora entendia porque Sakura estava abraçada a ela com tanta força.

         _Kagome, a Sakura está bem?

         _Eu não sei.

         Kai tentou se levantar, mas a força fez seu ferimento doer mais. Kagome percebeu e resolveu ajudá-lo.

         _Quem fez isso com vocês?

_Foi aquele demônio ali – Kai apontou para o corpo do demônio – ele é o mesmo demônio que atacou a mim e ao Tenshi. Esse desgraçado arruinou a minha vida e agora arruinou a vida da Sakura também. Mas ele não vai mais fazer mal a ninguém. Nunca mais.

_Meu Deus! Não dá para acreditar que este é o mesmo demônio... o mesmo demônio que seu pai esteve procurando matar, o mesmo demônio que eu já pensei em matar...

Kagome aproximou-se de Sakura juntamente com Kai. A menina estava abraçada à mãe sem dizer nenhuma palavra. Kagome e Kai também não sabiam o que dizer a ela. Kai se separou de Kagome e, com muita dificuldade, sentou-se do lado de Sakura. Ela o abraçou e começou a chorar mais forte ainda. Kagome sentiu lágrimas nos olhos e olhou para o céu, foi aí que viu a nuvem negra de antes parada sobre a floresta e se lembrou de que todos ainda estavam em perigo.

_Sakura, Kai, é melhor nós sairmos daqui agora. Estamos correndo perigo.

_Eu quero ficar junto da minha mãe.

_Kagome, que perigo é esse de que está falando?

_Como é que vou explicar pra vocês? É complicado demais pra vocês entenderem agora, eu só sei que temos que sair daqui o mais rápido possível.

_Cadê o Inuyasha?

Kagome ficou quieta e olhou novamente para a floresta, teve um estranho pressentimento.

_ “Eu não devia ter deixado ele ir enfrentar aquilo sozinho.” Ele está na floresta tentando ganhar tempo pra nós.

_Kagome, acho melhor você explicar isso direito. Como assim “ganhar tempo pra nós”?

_Está bem eu vou tentar explicar.

Inuyasha saltou para cima de uma árvore e tapou o nariz com a manga do quimono, estava tentando evitar respirar aquele ar infestado com veneno. No chão ele pode ver que o veneno estava se aproximando cada vez mais e já começara a fazer as suas primeiras vitímas, pois por entre a floresta começavam a surgir diversos demônios. Inuyasha olhou para o saquinho que carregava consigo, só havia uma pequena quantidade de pó.

_Não posso mais fazer muita coisa, é melhor eu fugir.

Ele então saltou para a próxima árvore e depois para a outra. O cheiro estava forte demais e ele começou a se sentir tonto.

_ ”Acho que o pó não vai dar mais para proteger ninguém. É melhor jogá-lo por sobre mim mesmo pra evitar que esse veneno me atinja. Mas se eu fizer isso e depois precisar para proteger ou outros? A Kagome está bem no lugar onde a deixei pois o veneno não seguiu pra lá e também ela está com um pouco do pó, sobram então Sakura, Tomoyo e Kai.” Não posso deixar que esse veneno atinja a Sakura. Vou ter que guardar para proteger ela, mas não dá para os outros dois, muito menos pra mim.

Enquanto pensava nisso, Inuyasha foi atingido por dois demônios-macacos, que o derrubaram da árvore, ele se livrou deles com suas garras, mas sentiu algo estranho no braço, uma dor semelhante à queimadura, saltou para o outro lado e pôde perceber que o veneno havia encostado a seu braço, começou a se sentir estranho, o veneno estava começando a reagir dentro dele. Inuyasha sentiu-se tonto, fechou os olhos e lembrou-se do sorriso de Kagome, isso lhe deu forças e ele saltou para o galho de uma árvore, respirou fundo e saltou para outra, olhou para trás e viu que o veneno estava perto, em seu encalço estavam vários demônios e ele tinha que se desvencilhar deles usando suas garras ou  os esmurrando.

_Os desgraçados não querem que eu saia da floresta, querem que eu me torne um deles também. Se isso acontecer todos vão estar em perigo. Vou ter de usar o resto do pó, antes que seja tarde demais.

Inuyasha pegou o saquinho com o restante do pó e se preparou para jogar o pó por cima dele mesmo, no momento em que levantou a mão foi atingido nas costas por outro demônio, o saquinho escapou da sua mão e Inuyasha caiu atordoado da árvore em que estava. O demônio que o havia atingido pulou no chão atrás dele. Era uma espécie de lobo e olhava para Inuyasha com olhos famintos.

_Você não vai sair daqui vivo! Um demônio como você não merece viver. Um demônio que luta contra outros demônios.

O demônio-lobo preparou as garras e as apontou para Inuyasha, que não sabia como ia se defender já que estava se sentindo muito tonto, ele olhou para os lados a procura do saquinho com o pó, mas era muito difícil enxergar pois eles estavam cercados de veneno por todos os lados.

_ ”O que eu faço agora? Esse veneno parece estar chegando mais perto. Não posso respirar. Não posso... Droga! Estou me sentindo fraco, minhas pernas estão moles e não consigo enxergar ele direito. Será que este é o meu fim?”

O demônio-lobo deu um rosnado maior e saltou para atacar Inuyasha, neste momento todo o lugar estava coberto por uma névoa preta que os estava envolvendo, era o veneno, mas o demônio-lobo não deu muita importância para isso, pois ele conseguia enxergar através da névoa, já Inuyasha não estava vendo nada, sentia-se cada vez mais tonto. Uma dor terrível lhe atingiu ao sentir o veneno encostar à sua pele, seu coração começou a bater mais rápido, ele se sentiu estranho.

_ “O que significa isso? O que está havendo comigo? Será que o veneno está me transformando?”

Como que por mágica Inuyasha conseguiu enxergar através da névoa e pode ver o outro demônio, que demonstrou espanto pelo que estava vendo, Inuyasha sentiu-se diferente, com uma vontade estranha de matar aquele demônio, então ele se preparou para atacar e também saltou em direção ao demônio, os dois se chocaram e a névoa os cobriu não permitindo que se visse o que estava ocorrendo, depois de alguns segundos um grito foi ouvido e um vulto saltou dali em direção às árvores, ele corria muito rápido e por isso não dava para perceber quem era, pelo caminho ele foi deixando um rastro de sangue.

Kai olhava espantado para Kagome, ainda não conseguia acreditar no que ela havia acabado de falar. Sakura, ainda do lado da mãe olhou para Kagome e resolveu lhe perguntar algo que a estava angustiando desde que Kagome lhes contara sobre o tal veneno.

_Você acha que esse veneno pode me deixar má?

Kagome não sabia o que dizer. Inuyasha tinha dito para ela que eles não podiam deixar que o veneno atingisse Sakura, mas será que ela deveria dizer isso à menina? Sakura já estava muito triste com a perda da mãe.

_Eu não sei Sakura. Eu não sei, mas por via das dúvidas nós temos que sair daqui.

_Kagome, Inuyasha não lhe deu um pouco do tal pó?

_Sim Kai, mas receio que a quantidade não seja suficiente para proteger nós três. Eu deveria ter ficado na floresta, no lugar onde estávamos, mas eu não consegui ficar lá, eu precisava vir avisar vocês.

_Talvez se nós nos escondermos na casa nós possa...

_Olhem!

Kai e Kagome olharam para a direção em que Sakura estava apontando e viram pelo menos uns 20 demônios saindo da floresta e vindo em direção a eles com grande velocidade.

_Meu Deus! Eu nunca vi tantos demônios juntos!

_O que vamos fazer Kagome?

_Eu não sei, vamos ter que lutar com eles.

Kagome pegou a espada que estava caída do lado do demônio morto por Kai.

_Kai, Sakura, é melhor vocês saírem daqui, eu vou lutar contra eles.

_Isso é loucura Kagome, você ainda não se recuperou completamente.

_Você está ferido Kai.

Sakura correu até eles e segurou o braço de Kagome que estava com a espada.

_Não pode enfrentá-los, eles foram transformados em demônios contra vontade. Deixe-me tentar purificá-los.

_Tem certeza de que consegue isso, Sakura?

_Pode confiar em mim.

_Então vou tentar desviar a atenção deles para que você possa purificá-los.

_Vocês duas estão malucas? Sakura são muitos demônios para você purificar de uma vez só. Você nunca fez isso antes!

_Mas preciso, é o que a minha mãe iria querer que eu fizesse.

Kagome e Sakura olharam-se com determinação e se voltaram para a direção em que estavam os demônios. Antes que elas os alcançassem algo aconteceu e deixou a todos espantados. Do meio da floresta um vulto bem rápido surgiu e parou na frente dos demônios. Era Inuyasha. Kagome percebeu que das mãos dele pingavam sangue. Ele saltou por sobre os demônios e matou-os um por um com suas garras que pareciam estar mais fortes. Sakura ficou inconformada e gritou para ele depois que ele havia terminado:

_Por que você fez isso? Eles se tornaram demônios contra a vontade e eu ia purificá-los, você não precisava tê-los matado.

Inuyasha ainda estava de costas para eles e começou a rir.

_Eles tiveram o que mereciam.

Kagome se aproximou de Sakura.

_Ele está estranho. Nunca o vi agir assim, será que ele...?

Inuyasha virou-se de frente e eles puderam ver que sua aparência havia mudado bastante. Os olhos estavam vermelhos e cheios de ódio, listras roxas apareceram em seu rosto, os caninos estavam maiores, as garras dele também estavam bem maiores do que antes, o sorriso cheio de maldade no rosto mostrava que ele havia sofrido uma grande transformação pois Kagome tinha certeza de que o Inuyasha que conhecia nunca seria capaz de sorrir daquela maneira, mesmo depois de ter matado demônios.

_O que aconteceu com você? Me deixou na floresta dizendo que ia combater o tal veneno, pelo  que estou vendo não pôde evitar que ele contaminasse alguns animais e algumas plantas da floresta, inclusive, você mesmo.

Kagome deu alguns passos em direção a Inuyasha, ela estava com lágrimas nos olhos, ele apontou as garras para ela, preparando-se para matá-la, Kagome não fugiu, do contrário, correu ao encontro dele.

_ ”Se eu tiver de morrer para trazê-lo de volta, então eu morrerei.”

Ela parou na frente dele que reteve o golpe quando estava a centímetros de distância dela, parecia estar lutando consigo mesmo.

_Inuyasha, você não se lembra de mim? Sou eu, a Kagome. Lembra? Você disse que me ama, não se lembra disso? Eu também amo você, não quero vê-lo assim. Lute contra isso, você pode lutar contra isso.

Kai, após muita dificuldade, conseguiu chegar até perto de Sakura.

_O veneno o transformou de vez em demônio. Não há nada que possamos fazer.

_Você não está querendo dizer que vamos ter que ma...?

Kai nada respondeu, apenas balançou a cabeça em sinal afirmativo e depois gritou para Kagome.

_Sai de perto dele Kagome, ele não sabe mais quem você é, ele vai matá-la assim como fez com os demônios.

_ ”Não, ele não vai. Vai se lembrar de quem sou, não vai?”

_...ja!

_Como?

_Fu...ja!

Kagome pôde ver que os olhos dele estavam ficando mais claros, ele estava suando muito e a mão que permanecia levantada em posição de ataque estava tremendo.

_Kagome... Fuja! Fujam daqui todos vocês!

Inuyasha gritara na última frase. Kai olhou para Sakura e segurou na mão dela tentando puxá-la para longe dali, ela não quis seguí-lo, permaneceu imóvel no mesmo lugar em que estava,

_Sakura, temos que fugir, ele mesmo está pedindo isso. Kagome, você o ouviu, tenho certeza de que ele não vai conseguir segurar esse golpe por muito tempo, fuja daí.

Nenhuma das duas pareceu escutar Kai, Sakura ficou no mesmo lugar, mas uma idéia estava passando pela sua cabeça, Kagome que havia permanecido imóvel até aquele momento abraçou Inuyasha, que não retribuiu, continuou na mesma posição em que estava antes. Seus olhos começavam a ficar vermelhos novamente, Kagome estava indefesa e seus instintos lhe mandavam aproveitar-se da situação para matá-la, a parte dele que ainda tinha algum sentimento bom por ela diminuía a cada segundo.

_Kagome, fuja ...eu...vou...matá-la...se...ficar a...qui...Fu...ja...

Kagome o abraçou mais forte ainda.

_Não vou fugir, não vou abandoná-lo no momento em que mais precisa de mim. Você pode lutar contra isso, eu sei que pode.

Kagome olhou para ele e viu os olhos dele se encherem novamente de ódio, o sorriso maligno voltou novamente a seus lábios. Ele segurou a pelo braço direito, afundou suas garras no braço dela, sangue saiu e Kagome gritou de dor, Inuyasha preparou-se para desferir o golpe nas costas dela com a outra mão, Kagome fechou os olhos.

_ “Se eu tenho que morrer, é melhor que seja pelas mãos dele.”

Antes que ele terminasse o golpe foi parado, Sakura aproveitara-se de que ele estava distraído e se aproximou dele, ela estava segurando em seu braço. Inuyasha olhou para ela com raiva, não tinha gostado de ser interrompido.

_Quer morrer antes dela? Vou fazer sua vontade.

Kagome olhou para Sakura e entendeu o que ela estava querendo fazer. Kai gritou ao longe.

_Fujam daí, Sakura, essa idéia é uma loucura.

_Kagome, me ajude a segurá-lo.

Kagome atendeu ao pedido de Sakura, procurou segurar Inuyasha para que Sakura pudesse purificá-lo. Sakura aproximou-se mais dele e tocou em seu rosto, fechou os olhos e começou a purificá-lo, Inuyasha se debateu e ameaçou empurrar as duas, nesse momento Kai se aproximou e as ajudou a segurá-lo também.

_ “Eu sei que você não queria ser purificado, mas é o único jeito.”

Aos poucos seus olhos foram retornando a cor normal, as listras sumiram do rosto, as garras e os caninos diminuíram de tamanho e por cerca de dois segundos Kagome pensou ter visto os cabelos dele ficarem pretos, mas logo voltaram a ficar prateados e Sakura caiu sem forças, Kai soltou Inuyasha e amparou Sakura antes que ela caísse no chão.

_Eu não consegui terminar a purificação, não consegui ir até o fim como sempre faço, é muito veneno.

Kagome estava ajoelhada ao lado de Inuyasha que havia caído inconsciente, a face estava serena, parecia dormir. Kagome afagou-lhe o rosto com as mãos e depois lhe deu um beijo na testa.

_Ele parece ter voltado ao normal Sakura. Obrigada!