Perdition escrita por camzlerni


Capítulo 11
Capítulo 11 - Revelations


Notas iniciais do capítulo

Não tenho desculpas e nem muito o que falar.
Sim, tenho falhado miseravelmente com vocês.
Nada demais a acrescentar, apenas minhas desculpas (se é que isso ainda vale).
Boa Leitura a todos!



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“Você não vai me perder garota.” – Eu agora afagava seu rosto delicadamente. Ela era ainda mais linda a cada vez que nos víamos.

“Mas aquele Luke...”

“Esquece o Luke. Ele só está fazendo o trabalho dele. Até por que ele não chega a seus pés.” – Ela sorriu, novamente convencida. – “E eu...”

“Você...?” – Ela parecia confusa pelo que eu ia dizer.

“Vou pra Kansas City amanhã, você vem?” – Ela soltou uma risada e balançou positivamente a cabeça.

“Kansas City nos aguarde.” – Ela comemorou, jogando os braços para cima.

Eu respirei aliviada. Ela não tinha percebido, ou havia fingido que não percebeu o que eu estava prestes a dizer. Eu gostava dela. Na verdade eu a amava, mas não era o momento certo para dizer: Eu te amo.

Coloquei a última caixa de suprimentos na traseira do carro. Os raios da primeira hora da manhã já apontavam no horizonte. Decidimos na noite anterior sair o mais cedo possível. Aquilo nos pouparia tempo e nos forneceria uma imensa vantagem, já que nossa missão era procurar por uma garota que nem sabíamos se estava realmente viva.

Dave havia estudado o comportamento dos draggers. Ele dizia que a atividade se intensificava a noite, pois eles tinham mais facilidade em enxergar. Basicamente se moviam pelo olfato durante o dia.

Eu me preocupava com essa nova missão. Se não encontrássemos a garota, estaríamos em uma grande enrascada: sem Elisa e cercada por draggers que querem te devorar viva.

Aquilo literalmente não me agradava nem um pouco, mas era nossa única chance.

“Você deveria parar de se preocupar tanto” – Luke parou ao meu lado, terminando de encaixar seus equipamentos na roupa. – “Vamos encontrá-la e assim poderemos achar sua família.”

“Se ela estiver viva.” – Eu disse, em um tom nada esperançoso.

“Ela vai estar.” – E sorriu, apoiando uma mão sobre meu ombro, saindo logo em seguida.

Pude sentir o olhar de Hanna em minhas costas, ela não gostava nem um pouco quando ele chegava perto de mim. Mas ela deveria se acostumar, ainda teríamos uma longa jornada pela frente e ele era um amigo agora.

“Tudo bem pessoal, vamos nos dividir agora.” – Eu disse, batendo palmas para chamar a atenção de todos. – “Temos agora dois carros: o de Hanna e a van.”

“Você vai comigo.” – Hanna se pronunciou, um pouco desesperada.

“Sim, eu vou com você. Claire, Kim e Zoe também devem ir conosco.” – Olhei para as três e elas assentiram com um leve aceno de cabeça. – “O resto de vocês irão com Luke.”

“O que? Sem garotas para nós?” – Jimmy disse meio descontente.

“Irmãozinho, pelo que percebi nenhuma delas se interessa em nossa masculinidade.” – O segundo gêmeo consolou o irmão, enquanto o resto de nós ria disfarçadamente e íamos para os carros.

Hanna assumiu o volante, enquanto eu me prendia ao cinto no banco ao lado. As outras três garotas se acomodavam na parte de trás, onde Zoe já se virava entediada para a janela. Eu entendia o motivo, ela era a “solteira” daquele carro.

“Então garotas, prontas?” – A voz de Dave soou pelo rádio comunicador que tínhamos arranjado.

“Sim, estamos Dave.” – Eu disse, olhando para Hanna e ganhando uma piscadela como resposta.

“Certo meninas escutem...” – Ele fez uma pausa e sons de alguma coisa sendo teclada soaram pelo alto falante do aparelho. – “Estamos nos arredores de Spring Hill, perto da Rota 35. Esse seria o caminho mais rápido, mas correríamos risco, já que esta é a principal estrada que leva para a cidade. Então vamos pegar a Rota 69, virar para a direita em direção a Leawood e seguir pela Rota 49 até o centro da cidade. Levaremos seis minutos a mais, mas não vamos dar de cara com uma manada de draggers.”

“Certo, acho que entendemos Dave. Estaremos logo atrás de vocês.” – Eu disse, apertando o botão do rádio para que ele me ouvisse.

“Então nos vemos lá Rachel. Tomem cuidado.” – Ele desligou.

“E vocês também.” – Terminei, recolocando o rádio no suporte do carro. Soltei o ar.

“Tudo bem?” – Hanna perguntou, sem desviar os olhos da estrada.

“Tudo sim. Só espero que encontremos a garota, viva. Ela é nossa esperança de entender tudo isso aqui.” – Eu disse, com o olhar perdido nas árvores que passavam correndo, à medida que o carro ganhava velocidade.

“Ela vai estar. Vamos encontrá-la.” – Ela sorriu, tentando tranquilizar-me.

“Tão diferentes, mas tão iguais.” - Soltei uma pequena risada, lembrando do que Luke havia acabado de me dizer.

“Desculpe, não entendi.” – Ela questionou, franzindo a testa.

“Você e Luke. Vocês têm o hábito de falar a mesma coisa pra mim.” – Eu ainda ria um pouquinho, e fui acompanhada por Zoe que ria em um tom mais debochado.

“Hm.” – Foi só o que saiu da loira, e ela voltou à atenção para a estrada.

Ficamos em um silêncio mortal, sendo atrapalhada uma hora ou outra pelas risadinhas cúmplices de Claire e Kim. Algumas vezes podíamos escutar sons de beijos sendo trocados, o que fazia Zoe fingir estar vomitando e me rendia boas gargalhadas. Hanna se mantinha paralela a tudo. Acho que não tinha sido uma boa compará-la a Luke.

Levamos cerca de 50 minutos até podermos ver os primeiros prédios atingirem a nossa visão. Eu tinha estado poucas vezes em Kansas City. Papai vinha resolver assuntos do trabalho e mamãe passeava conosco pela cidade. Mas aquela nova visão me dava calafrios. Tudo estava destruído, carros virados, janelas de lojas quebradas, alguns pequenos incêndios e nenhuma pessoa viva por ali.

“Acham que pode ter gente aí?” – Zoe perguntou.

“Bom, eu acho bem difícil.” – Kim disse, colocando a cabeça para fora da janela, enquanto tranqüilizava Claire com o braço esquerdo.

“Eu não consigo pensar o tanto de gente que pode ter morrido. Até criancinhas. Famílias!” – Claire se lamentando.

Lembrei-me da garotinha no dia anterior. Meus pelos se eriçaram por todo o corpo. Ver mais daquilo com toda certeza me faria querer dar um tiro em mim mesma. Era terrível e eu nem mesma sabia todo o motivo para aquilo tudo.

“Meninas, estamos quase chegando. O prédio da Orbis fica por aqui, em algum lugar e bom... ele é um tanto quanto, perceptível.” – A voz de Dave soou pelo rádio comunicador.

No instante seguinte, um grande prédio apareceu em nossa visão. Ele cruzava os céus, como um imenso foguete. Aquilo deveria ter mais de cem andares, era impossível se contar as minúsculas janelas que se estendiam por toda a estrutura. O jardim da frente era muito grande também, com um enorme chafariz e vagas de estacionamento para visitantes.

Os garotos pararam a van mais a frente e pude ver todos descendo. Hanna estacionou logo atrás. Luke veio em nossa direção, assim que nos viu, o qe fez com que Hanna descesse do carro e batesse a porta com toda força que tinha, correndo para ficar ao lado de Zoe.

Luke parou ao lado da minha porta e a abriu, me oferecendo uma mão para ajudar-me a descer.

“Eu sei me virar sozinha, obrigada.” – Ele abaixou a mão e desfez o sorriso, concordando com a cabeça.

Era injusto com o garoto, mas Hanna estava me estressando tanto que ele também virava alvo do meu mau humor. Corri para ficar ao lado de Dave, que já mexia novamente em seu computador, ajeitando os óculos.

“Cara, será que isso aqui chega no céu?” – Jimmy perguntou ao irmão.

“Não viaja cara.” – O outro gêmeo disse. – “Mas não duvido nada que é possível ver um anjo passando por uma dessas janelas.”

Todos riram. Aqueles dois tinham a mania de deixar momentos sérios, com um ar de palhaçada. Encarei o prédio. Eu me lembrava de que ele era grande, mas não tanto assim e isso me preocupava. Eu me perguntava como iríamos achar a garota naquele imenso edifício.

“Dave, como vamos achar uma garota, que nem sabemos se está morta, em um lugar com milhares de andares? É meio impossível isso.” – Zoe perguntou, atraindo a atenção de todo mundo.

“Eu tenho uma ideia de onde ela possa estar.” – Ele olhou para mim e eu fiz sinal para que continuasse. – “A área onde seu pai trabalhava Rachel, ficava no qüinquagésimo segundo andar e era lá onde eles mantinham a garota. Ele mesmo disse isso no vídeo.”

“Sim, eu me lembro disso. Mas você sabe em qual ala? Pelo que eu me lembro esse lugar deve ser divido em umas 20 alas.” – Eu disse, fazendo uma careta.

“Verdade. O laboratório principal fica na ala oeste, no setor F.” – Ele disse, olhando e mexendo em seu computador. – “Se tivermos sorte, os elevadores estarão funcionando e nos levarão direto para lá. E se os devidos cuidados foram tomados com a garota, ela deve estar em uma das salas de segurança, apenas esperando por nós.”

“Espero que tenhamos sorte, por que eu não quero subir cinqüenta e dois andares para achar uma única garota, que pode estar morta.” – Jimmy disse, ganhando um tapa do irmão em seguida.

Todos seguiram em direção a entrada. Entramos pelas portas onde os vidros estavam completamente estourados e espalhados pelo chão. O hall, assim como o prédio, era imensamente grande e luxuoso, embora agora houvesse a nítida cena de confusão, com cadeiras jogadas, roupas, pastas e papéis jogados por toda sua extensão. Ainda assim, tudo estava magnífico. A escadaria que levava para os elevadores principais, a bancada onde ficavam as secretárias, as cadeiras para espera. Parecia uma pintura.

“Caramba, isso aqui devia ser muito movimentado em dia de trabalho.” – Rick disse, assobiando e dando um giro.

“Aposto que essas pessoas estavam tão concentradas em seus deveres e trabalhos que se você ficasse pelado aqui no meio, ninguém notaria.” – Matt disse, fazendo com que todos rissem.

“Era basicamente assim.” – Eu disse, fazendo com que todos virassem para mim. – “Nem o seu próprio pai, quando passava daquela porta, lembrava que você estava com ele.”

Lembrei-me da vez em que meu pai me trouxe aqui. Ele havia prometido me levar ao parque, mas disse que antes precisava passar no trabalho para resolver umas coisas. Eu não pude subir, então fiquei sentada em uma das cadeiras na sala de espera, sozinha e observando aquelas pessoas passarem, uma a uma, sem que ninguém me notasse. Depois de quase uma hora esperando por papai, uma mulher veio em minha direção, dizendo ser secretária dele e que ele havia pedido que ela me levasse para casa, pois ele ficaria agarrado por um bom tempo.

Eu fiquei triste quando ela me disse aquilo. Ela ficou com tanta pena de mim que usou seu dia de folga, que papai havia lhe dado, para me levar ao parque e tomar sorvete. Ela me fez esquecer de que eu estava brava com ele. Quando me levou de volta para casa, explicou tudo para mamãe e ela agradeceu, mas ficou extremamente brava com meu pai. A mulher disse que se chamava Illa e que sempre que eu precisasse, ela me ajudaria. Quando papai chegou em casa, houve uma briga feia e eu me tranquei no quarto. Fiquei sem falar com ele por uma semana inteira. Nunca mais vi ou ouvi falar de Illa.

“Rachel? Oi, Rachel?” – Dave agitava a mão em frente ao meu rosto, chamando a minha atenção.

“Ah, me desculpe, me perdi aqui em umas lembranças.” – Eu disse, balançando a cabeça e me trazendo para o presente. Percebi o olhar de Hanna em minha direção, mas ela se mantinha totalmente firme ao lado de Zoe.

“Eu percebi.” – Ele disse, em um tom risonho. - “Eu tenho duas notícias. Uma boa e uma ruim, qual quer primeiro?”

“A boa?” – Eu disse meio hesitante.

“Certo. A boa notícia é que os elevadores estão funcionando.” – Todos comemoraram. Realmente ninguém queria subir tantos degraus. – “A má notícia é que para que eles realmente funcionem, devemos religar o sistema elétrico do prédio.”

“Mas isso é fácil não é? É só achar uma daquelas caixas de energia e aperta o botão do liga/desliga e pronto.” – Zoe disse, cruzando os braços e olhando para Dave.

“O problema é que ao desligar o sistema, mesmo que por alguns segundos, todo o prédio morre. As trancas automáticas irão para de funcionar.” – Ele olhou para Luke e os dois sabiam de alguma coisa. – “Não acham estranho que até agora não demos de cara com draggers?”

“Vai ver aquelas coisas deram o fora da cidade, procurando por carne nova.” – Matt disse, parecendo óbvio.

“Impossível que todas as pessoas que trabalhavam aqui tenham escapado.” – Luke disse.

“Luke tem razão. Podem ter draggers espalhados pelos andares. Presos em salas. Ao desligar o sistema, estaríamos colocando nossa vida em risco e provavelmente a da garota também.” – Dave explicou.

“Mas é nossa única saída. Até por que, como vamos conseguir abrir a porta da sala de segurança para achar a garota, se não ligarmos o sistema. Quanto tempo acha que ele vai demorar pra ligar?” – Hanna se pronunciou.

“Sistemas grandes assim levam cerca de cinco minutos para voltarem a funcionar.” – Dave disse, ajeitando os óculos.

“Ótimo, tempo mais do que o de sobra. Podemos reiniciar ele, assim corremos o mais rápido que pudermos, pegamos o elevador, matamos alguma daquelas coisas, pegamos a garota e damos o fora daqui.” – Zoe disse, dando um sorriso cúmplice a Hanna, o que me fez mexer inquieta.

“Dave, rotas, por favor.” – Hanna disse, dando o assunto como encerrado.

“O gerador fica na parte debaixo do prédio, no estacionamento subterrâneo.” – Ele disse. – “Tem um elevador nos fundos do estacionamento que nos leva para o andar que queremos, mas ele dá para a ala leste, oposto da que queremos. Isso nos dará alguns minutos de caminhada para cruzar o prédio, mas nada demais. Mas o elevador é de carga e cabem poucas pessoas”

“Perfeito.” – Hanna disse, sorrindo vitoriosa. – “Devemos nos dividir então. A equipe que vai descer tem que ser rápida. Somos doze. Seis ficam e seis descem. Eu vou e Zoe também.”

Nesse momento senti o alicate revirar meu estômago. Hanna estava se arriscando e eu sabia muito bem o porquê. Ela queria a todo custo mostrar que era melhor que Luke, mas para isso estava se jogando de braços abertos para a morte.

“De jeito nenhum, você vai ficar.” – Eu disse, sem pensar.

Ela andou até mim, de modo que ficasse a poucos centímetros. Cruzou os braços e disse:

“Você não é minha mãe e eu á sou bem grandinha e decido o que vou fazer.” – Ela me disse, brava.

“Então eu vou com você.” – Eu disse, dando um passo a frente.

“De jeito nenhum.” – Ela usou as mesmas palavras que eu. – “Luke, você fica e cuida da Rachel. Certifique-se de que ela ficará quieta.”

“Hanna, por favor, não faça isso.” – Eu disse, suplicando, como os olhos cheios de água.

Ela pareceu hesitar alguns segundos, esperando que eu falasse mais alguma coisa. Ficamos assim por um tempo, até que Luke se posicionasse ao meu lado, segurando meu braço. Vendo isso, ela e deu as costas e eu desvencilhei-me dele, com certa violência. Vi Kim e Claire se olharem e falarem alguma coisa entre si. Sentei-me em uma das poltronas do hall.

“Eu vou.” – Foi Kim quem disse, olhando para mim. Eu entendia o que ela estava fazendo. – “Vocês precisam de alguém rápido. Sei que se Luke ficar, Geist também fica. Rick está... impossibilitado para estas missões e francamente, vocês precisam de alguém com experiência.”

“Tudo bem, você vem com a gente. Dave, preciso que nos guie. Claire, Rick, Luke e Geist ficam com a Rachel. Se não voltarmos em meia hora e os elevadores estiverem funcionando, corram para ele e tentem achar a garota.” – Hanna disse, enquanto chegava suas pistolas e enfiava uma faca na bota. – “Protejam a Rachel, ela é nossa única esperança.”

Meus olhos se encheram de água. Eu estava vendo-a ali e morrendo de vontade abraçá-la e pedir para que ficasse comigo, ou que me levasse com ela, mas meu orgulho gritava mais alto. Todos checavam suas armas, adiando ao máximo o momento.

“Eu vou voltar, como das outras vezes, você sabe.” – Kim dizia a Claire, com as testas coladas. Todos se fingiram terminar de olhar o equipamento, dando espaço para as duas. – “Eu vou voltar pra você.”

“Eu sei que vai, sei sim.” – Claire disse, dando um último beijo na morena.

Meu olhar e o de Hanna se cruzaram. Eu queria correr e prendê-la em meus braços, beijá-la o quanto eu pudesse, fazendo-a prometer que voltaria sem nenhum arranhão. Mas sabíamos que pelo orgulho, nossa despedida não passaria de olhares. Eu esperava que ela voltasse pra mim, por que se não acontecesse, eu morreria ali mesmo.

“Todos prontos?” – Todos os seis afirmaram com a cabeça.

Hanna saiu e os outros atrás. Os vi se dirigindo para a porta que dava para as escadas. Fiquei parada ali, depois que eles sumiram por detrás da porta, por minutos, até senti que os braços de Claire me rodeavam e ela sussurrava alguma coisa para mim. Fiquei sentada na poltrona, encarando aquela maldita porta que zombava de mim.

“Vocês estão com fome?” – Luke perguntou. Eu estava, mas me recusava a falar com ele.

Claire fez um sinal que sim e em seguida, com ajuda de Geist, ele voltou com alguns pacotes de chips, balas, barrinhas de cereais e algumas latas de refrigerante, retiradas das máquinas de comida ali perto. Não era muita coisa, mas serviu para que eu pudesse me acalmar. Ele se sentou mais ao longe, começando uma conversa um tanto quanto estranha com Geist, em gestos e códigos.

“Sabe que ela tem medo não é?” – Claire começou uma conversa comigo, enquanto comíamos. – “Hanna tem medo de te perder, outra vez.”

Eu franzi as sobrancelhas, não sabia do que ela estava me falando. Hanna nunca havia me perdido.

“Ela não sabe da história, vai ter que contar.” – Rick disse, olhando para Claire e jogando um punhado de balinhas dentro da boca.

“Lembra, na quinta série, quanto você recebeu um bilhetinho escrito “Namora Comigo?”...?” – Ela me perguntou.

“Claro que eu me lembro. Fiquei muito feliz de que o garoto mais bonito da classe queria algo comigo.” – Eu disse me lembrando do bilhetinho. Mas os dois começaram a rir e eu fiquei sem entender nada.

“Não era do Antony Hast, era da Hanna.” – Eu arregalei meus olhos. Não me lembrava de que tínhamos sido da mesma sala. – “Ela sempre foi apaixonada por você. Desde a segunda série, quando o seu pai e o dela não apareceram no Dia da Profissão, por estarem agarrados.”

Eu me lembrava desse dia. Apenas eu e uma garotinha havíamos ficado sem os pais. Eu me sentei no intervalo, chorando e sozinha. Senti que alguém se sentava ao meu lado e quando olhei, era a menininha loira. Ela me disse muitas coisas e me fez rir, lembro que chegamos até a fazer um piquenique com nossos lanches. Eu sonhei com ela aquela noite, mas na manhã seguinte, a vi andando com a garota ruiva e nem se quer olhou para mim.

“Mas ela não falou mais comigo.” – Eu disse.

“Ela tentou, mas você fugia dela.” – Claire disse, tomando um gole do refrigerante. – “No dia em que você aceitou namorar o Antony, mesmo ele não sendo o dono do bilhete e ainda sim se passando por tal, Hanna ficou muito mal. Zoe queria arrebentar você, mas nós a seguramos.”

“Eu cheguei ao grupo algum tempo depois, mas pude pegar muita coisa. Eu sei que a Zoe sempre gostou da Hanna e a loirinha de você. Ela fez uma última tentativa no baile de final do ano da oitava série, mas você acabou aceitando ir com o Peter Valund, o das espinhas, então ela desistiu. Foi nesse momento que ela se permitiu tentar com a Zoe. Elas deram certo, até entraram para as líderes de torcida juntas, mas no dia em que Zoe te atacou, ela brigaram feio. As coisas já não estavam indo muito bem mesmo, então tudo terminou.” – Rick disse, dando de ombros.

A minha vontade era de sair correndo dali e procurar por Hanna, dizer que eu sentia muito por tudo e que ela me desculpa-se. Era um fardo grande saber que ela sempre foi apaixonada por mim, sempre ter sofrido em silêncio e quando eu finalmente a correspondesse, corríamos o risco de não mais nos vermos.

Quando dei por mim, estava soluçando e lágrimas escorriam por meus olhos com certa violência. Luke fez menção de ir ao meu encontro, mas Rick fez um sinal com a cabeça para que ele ficasse onde estava. Os dois me abraçaram e ficamos assim por uns cinco minutos, até que eu pudesse me normalizar.

Já havia se passado quase vinte minutos e nenhum notícia deles. Eu começava a me preocupar e o nervosismo dava seus primeiros sinais, quando vi Rick puxar sua mão, soltando um gemido e deixando a mostra a marca das minhas unhas na parte superior dos dedos.

“Calma Rachel, eles vão conseguir. Deve ter sido algum fio solto ou algum tipo de código pra ligar o sistema, mas Dave vai dar um jeito nisso.” – Rick tentava me tranquilizar.

Alguns minutos depois de dizer isso, houve uma queda de luz em todo o lugar e o barulho de computadores ligando e o prédio voltando a funcionar.

“Eles conseguiram.” – Luke disse, dando um sorriso, ao qual eu retribui e fiquei muito feliz por finalmente ter um sinal.

Barulhos de tiros ecoaram por todo o prédio. Luke e Geist se colocaram a postos, cada um com um rifle na mão. Meu instinto me obrigou a puxar o arco das costas e armá-lo com uma flecha e o mesmo fizeram Claire e Rick, segurando suas pistolas, com as mãos trêmulas. Ficamos esperando, mas nada aconteceu. Os barulhos de tiros cessaram. O silêncio era ensurdecedor.

De repente as portas que levavam para a escada se abriram com violência e uma onda loira saiu correndo de lá, com mais cinco pessoas em seu encalço.

“Hanna?” – Fiz menção de correr em sua direção, mas seu olhar apavorado me fez paralisar.

“RACHEL! PRO ELEVADOR! AGORA!” – Ela dizia, enquanto corria apavorada. “TODOS VOCÊS. PARA O ELEVADOR. AGORA!”

Eu fiquei algum tempo parada, meio horrorizada com seus gritos e sem entender o porquê. Mas não precisou muito. Ao olhar para onde ela tinha acabado de sair, pude entender o porquê ela corria tão apavorada. Centenas de draggers surgiam pela passagem, conseguindo arrebentar a porta e inundando o hall, como uma cachoeira. Senti braços fortes me segurarem, me jogando sobre os ombros e percebi ser Luke. Ele corria comigo, enquanto Rick e Geist atiravam nos draggers que impediam a passagem para o elevador. Fui posta no chão enquanto eles apertavam o botão do elevador. Hanna ainda corria em nossa direção, com certa dificuldade, pois o caminho entre os estava tomado por aquelas coisas.

“Droga de elevadores. Sempre quando mais precisa deles, eles empacam.” – Vi o motivo da irritação de Rick, o elevador estava ainda no décimo segundo andar.

Naquele momento, toda a cena passou em câmera lenta. Um dragger, que se arrastava mais pesadamente que os outros dirigiu-se para o meio e soltou um grito horrível, que fez toda a minha espinha se arrepiar. Todos se curvaram, tapando os ouvidos, menos Hanna, que foi em direção aquela coisa para exterminá-la. Mas um dos gêmeos, sem perceber a loira no meio, atirou uma pequena granada de mão, fazendo todo o meio do hall ir pelos ares e junto com ele, Hanna. Ela então caiu, para meu desespero, inconsciente.

“HANNA! AÍ MEU DEUS! HANNA! ALGUÉM A AJUDE!” – Eu entrei em desespero. Meu coração estava gelado e batia acelerado. Eu precisava ir até ela, eu precisava ver se ela estava bem.

Senti-me sendo jogada para dentro do elevador, chocando as costas coma a parede fria de metal. Escorreguei pela parede e tudo ficou estranhamente preto. Não escutei mais nada.

Senti o sol bater em meu rosto e a brisa agitar meus cabelos. Levantei-me e percebi que estava em um vasto campo, com flores e trigos. Algumas montanhas ao longe, algumas árvores, mas um silêncio, apenas sendo quebrado pelo sopro do vento. Olhei para os lados e não vi ninguém. Olhei novamente e vi uma figura pequena. Coloquei a mão sobre os olhos para que criasse uma sombra e pudesse enxergar melhor.

“Olá?” – Eu fui em direção a figura e ela logo saiu correndo, me fazendo acompanhá-la.

Ela parou e olhou para mim. Era uma garotinha, dos cabelos castanhos e olhos verdes. Ela tinha um sorriso muito idêntico ao meu, mas a forma que me olhava era de outro alguém. Alguém que eu conhecia muito bem.

“Vamos mamãe. Ande logo!” – Ela me disse e assim saiu correndo e eu fui atrás.

Na metade do caminho uma figura menor se juntou a pequena garotinha, correndo ao seu lado e sorrindo, igualmente parecido com o sorriso da garota. Era um menino e ele apontava para mim, pulando, agitado. Tinha os cabelos loiros e os olhos castanhos. Os dois então começam a correr e eu, novamente os acompanho.

“Hey, Julie, me espere. Você sabe que sou pequeno.” – O garotinho menor diz para a menina.

“Vamos Walter, corra. Precisamos contar para a mãe.” – Ela disse, piscando para ele e apertando o passo.

Bem mais longe dali, vi uma figura um pouco mais alta que eu, parada. Os cabelos loiros dançavam com o vento, em uma sincronia perfeita. Ela sorriu ao me ver e eu não pude conter o meu sorriso também.

“Olha mãe, nós a encontramos.” – O menininho disse, apontando para mim.

Ela sorriu para os dois pequenos e para mim, estendendo a mão, mas toda a cena mudou e quando vi, estava no hall e Hanna estava no meio, morta e draggers devoravam sua carne. Aquilo me fez querer morrer. A minha Hanna, morta.

Levantei-me de um com um solavanco e soluçando. Senti braços me rodearem e afundei minha cabeça, no que parecia ser o pescoço de Claire. Fiquei repetindo aquela cena na cabeça, até desmaiar, novamente.

“Vamos Rachel, beba. Você precisa se recuperar.” – Senti minha cabeça sendo levantada e algo molhado sendo encostado em meus lábios. – “Isso, boa garota.”

Beberiquei um pouco do liquido que Rick me dava e olhei ao redor. Estávamos em uma espécie de sala não muito grande. Com uma pequena cama, uma mesa, dois armários imensos, um computador, uma minúscula janela e coisas espalhadas por todo o cômodo.

“O que aconteceu?” – Eu perguntei ao garoto.

“Muita coisa...” – Ele disse, soltando o ar.

“Hanna?” – Eu disse, em um tom desesperado.

“Não sabemos o que aconteceu com ele Rachel. Luke nos enfiou para dentro do elevador e viemos parar bem no andar que precisávamos. Tinham alguns pelos corredores e Luke teve de te carregar, já que você desmaiou. A garota apareceu e nos trouxe aqui. Depois de algum tempo eles resolveram sair em busca dos outros.” – Ele disse, parando para me olhar e eu indiquei que continuasse. – “Luke me pediu para ficar e cuidar de vocês duas. Foi bem fácil no começo, Claire ajudava quando você acordava gritando, mas depois de algum tempo ela também surtou. Desde então eu tenho que dar alguns calmantes para que ela se mantenha quieta.”

“Espera, eles foram atrás dos outros?” – Eu repeti.

“Sim. A menina acha que se eles conseguiram chegar aos elevadores, há uma grande chance de terem ido parar na ala norte, que não fica muito longe daqui.” – Ele explicou.

“Menina?” – Eu arqueei as sobrancelhas.

“Sim. Acho que a encontramos.” – Ele disse, sorrindo.

“Quanto tempo tem isso?” – Eu perguntei, aflita.

“Dois dias. Mas hoje de manhã recebi um sinal deles naquele computador. OS três estão vivos e devem estar voltando.” – Ele disse, apontando a tela atrás de mim.

“E quanto tempo eu estive apagada?” – Eu precisava saber de tudo.

“Quatro dias.” – Ele terminou, se levantando e indo checar Claire.

Quatro dias. Quatro malditos dias e nenhuma notícia de Hanna. Talvez eu tivesse achado Ellisa Graham, mas do que adiantaria se Hanna estivesse morta.

Ficamos assim por mais algumas horas, até que escutamos a porta da sala ser aberta. Três pessoas entraram no cômodo, duas arrastando a terceira, totalmente mole, para a sala. Vi Luke e Matt sustentando o corpo de Hanna, que estava com a cabeça baixa, com os cabelos tampando o rosto. Me levantei em um salto.

“Hanna?” – Eu disse esperançosa.

Ela levantou a cabeça, devagar e ficou em pé, ainda se apoiando em Matt e Luke. Quando se estabilizou, jogando todo o peso sobre a perna que não estava enfaixada, ela levantou a cabeça e me olhou sorrindo.

“Oi espertinha. Não pensou que finalmente ia se livrar de mim, não é.” – Ela disse, sorrindo ainda mais.

Corri em sua direção, me atirando em seus braços quase nos fazendo cair. Escutei ela soltar o ar em surpresa e me rodear com os braços, me abraçando o mais forte que conseguia, mesmo estando muito fraca. Colei nossas testas e fechei os olhos.

“Droga Hanna, você quase me matou de susto.” – Eu disse, enrolando meus dedos em seus cabelos. – “Nunca mais faça isso.”

No momento seguinte, juntei nossos lábios e devo dizer que era a melhor sensação do mundo. Muito melhor do que sorvete de flocos, ou sentir o ar de um sábado de manhã no qual você não precisa ir a escola. Ou saber que amanhã será feriado e não terá aula. Ou tirar uma nota muito boa em uma matéria que tanto odeia. Era muito mais do que isso. Era uma mistura de tudo isso, de todas as boas sensações. Me fez ir às nuvens, um simples beijo. E eu desejei que o mundo parasse exatamente ali, no meu momento fogos de artifícios sentimentais.

“Wow!” – Hanna disse, quando nos separamos em busca de ar.

“Julie e Walter.” – Eu disse, sem pensar.

“O que?” – Ela perguntou meio perdida.

“Julie e Walter. Uma garotinha dos cabelos castanhos e olhos verdes e um menininho de cabelos loiros e olhos castanhos.” – Eu disse sorrindo. – “Nossos filhos.”

“Julie e Walter.” – Ela repetiu. – “Eu amo nossos filhos.”

“Eu te amo.” – Eu finalmente disse e vi seus olhos se encherem de lágrimas.

“Eu sempre te amei.” – Ela respondeu e voltou a me beijar.

Ouvimos um pigarro bem atrás de nós e nos separamos.

“Olha só, se as pombinhas já planejaram o futuro, eu gostaria de planejar nossa saída daqui.” – Uma garota de cabelos castanhos e olhos igualmente castanhos, estranhamente parecida comigo, estava parada, de braços cruzados e nos encarando com um sorriso.

“Quem é você?” – Eu perguntei ainda grudada a Hanna.

“Eu sou Ellisa Graham.”


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Notas finais do capítulo

Bom, se vocês chegaram aqui é sinal de que alguém ainda se interessa pelo meu trabalho, mesmo com minhas falhas.
Peço desculpas pelos erros, não revisei com máxima atenção.
Haverá sim um próximo capítulo, mas não prometo que dia será.
Até!



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