O silêncio dominava aquele lugar e eu nada podia fazer. Pelo menos não ainda... Ver aquele menino solitário e desamparado lembrava a mim mesmo há muito, muito, tempo atrás. Ele parecia perdido, assustado... E não percebia o que ocorria. Todas as pessoas ao redor vestidas de preto e lamúrias sendo ouvidas. Até eu demorei a me dar conta do que acontecia. Mas a criança, que era tão parecida comigo nessa mesma idade, estava confusa e não entendia por que sua irmã mais nova não aparecia.

“O sinal do pátio da escola toca, de novo

Nuvens chuvosas veem para brincar, novamente

Ninguém te disse que ela não está respirando?”

            Não fazia muito tempo que minha consciência voltara. Momentos antes eu me encontrava em um lugar escuro e vazio. Não sei exatamente por quanto tempo eu fiquei lá, mas ouvi alguém me chamando... Alguém disse o meu nome, que eu pensava ter esquecido. Quando abri meus olhos, me deparei com um menininho chamado Ryou. “Então foi ele quem me aceitou?” perguntei a mim mesmo. Depois de séculos imêmore na vastidão do nada, eu estava outra vez livre através daquele artefato maldito, gentilmente cuidado por aquele menino.

“Olá, sou sua mente

Dando a você alguém para conversar, olá”

           Compadecido fiquei ao vê-lo, tão frágil e pequeno. Talvez me irritasse o fato de eu me ver nele, deixado de lado e ignorado. Um ladrão como eu não deveria sentir pena de ninguém, mas esse garoto...

“Se eu sorrir e não acreditar

Logo eu sei que irei despertar deste sonho

Não tente me consertar

Eu não estou quebrado”

         A partir daquele momento em diante, nós dois seríamos como um só. Eu saberia tudo sobre ele, mas ele não conheceria nada de mim. Teríamos uma conturbada relação. E ele com toda certeza me odiaria, pois o faria sofrer. Mas ao mesmo tempo o protegeria, sendo o único a permanecer ao seu lado, aconteça o que acontecer... Por bem ou por mal.

“Olá, eu sou a mentira vivendo por ti

Assim você pode se esconder, não chore”

Ele dirá para eu desaparecer, gritará para eu nunca mais voltar, desejará nunca mais me ver de novo. Pequeno Ryou, me aceitar significa aceitar também todas as coisas ruins que veem comigo. Sofrimento, dor, desespero, agonia, insanidade, sangue e lágrimas. Você me dará um corpo e me ajudará a completar o meu objetivo. Quanto a mim, não sei se poderei dar algo em troca...

“De repente, eu sei que não estou dormindo

Olá, ainda estou aqui

Tudo o que restou de ontem”

Próximos, porém distantes. Diferentes, contudo iguais. Talvez você seja aquilo que eu perdi e que agora tenho a chance de recuperar.