Primeiro dia de aula; eu sou a aluna nova. Uma estranha no meio da multidão. Ao meu redor, adolescentes se abraçam, entre risos e sorrisos, sinais de reconhecimento. Respiro fundo, imaginando o quão longo será este dia. Abaixo a cabeça e passo pelo portão.

“Ok, tudo bem, até agora tudo bem”, repito para mim mesma diversas vezes. Isso afinal pode ser fácil. É só manter a cabeça abaixada. Em frente, em frente, logo ali estão as listas das salas. Fácil. Cabeça abaixada e ninguém me notará. Ninguém...

— Ai! – exclamo.

Levo um encontrão de algum distraído. As risadas próximas são altas, parece um grupo. Ergo o rosto, pronta para xingá-lo e perguntar se não olha por onde anda. Ele se vira para mim neste exato momento, formulando uma palavra, mas...

— Desc... – tenta dizer.

Seus olhos encontram os meus e um choque elétrico desce por minha coluna. Eu paro, estática, esquecendo todos os desaforos que eu gostaria de falar. O mundo parece ter parado. Minha respiração falha por dois segundos.

O que está acontecendo com você?!, pergunto a mim mesma, dando-me um tapa mentalmente. Balanço a cabeça com força, e ele tenta começar de novo:

— Oi, eu...

Não fico para saber. Eu tenho que sair daqui o mais rápido possível. Abaixo a cabeça e me dirijo ao banheiro. Chegar atrasada no primeiro dia não vai ser legal. Mas tenho uma desculpa. Tenho que ir à secretaria, de qualquer forma. Respiro fundo e fecho os olhos.

Porém o olhar dele volta à minha mente com a mesma intensidade, como se ele estivesse na minha frente de novo. Um arrepio passa por meu corpo. Olhos negros, profundos, com cílios longos. Eu poderia me afogar naquela escuridão. Tão envolvente. Tão misterioso. Tão...

Tão o quê?, meu cérebro me gritava. Acorde! Você não pode! Você não...

— Tem alguém aí? – uma voz feminina pergunta, batendo na porta do banheiro.

— Estou saindo! – respondo.

Recolho as minhas coisas, peço desculpas à mulher e saio correndo para a sala.

Acabo descobrindo que a classe não é muito longe dos banheiros. Paro, tentando me ajeitar. Olho a cópia da lista que está na porta. Meu nome está ali. Quase inconscientemente procuro pelo nome do garoto, mas então lembro que não sei como ele se chama. Xingo-me mentalmente de estúpida. Seguro a maçaneta, espero três segundos e então a giro.

— Ah! Você deve ser a Lina! – saúda o homem que deve ser o professor, mal me dando tempo de entrar.

Não olho para classe, mas sei que toda a atenção da turma está em mim. Aceno quase imperceptivelmente. Ele sorri brandamente e diz:

— Sou Andrew. Você pode se sentar, Lina.

Agora não tem jeito, terei que erguer o rosto. Um formigamento na minha nuca me diz que estou sendo observada minuciosamente por um par de olhos. Ok, não adianta fugir. Lentamente, levanto a cabeça e...

Claro. Tão clichê como numa cena de filme.

Ele. O garoto do corredor.

Garoto? Não. Homem. (E que homem!)

Seus olhos parecem me radiografar, analisando cada parte do meu corpo, despindo-me. Sinto-me exposta. Tudo o que eu quero é me sentar. Há dois lugares. Um a três filas de distância dele, numa mesa com um nerd. E outra...

Ao lado dele. Claro. Por que não?! Extremamente previsível.

Ele se move de forma quase imperceptível. Sua mão faz um sinal rápido. Parece estar me chamando para sentar ali.

Vou na direção contrária.