Duas semanas depois...

Anita suspira cansada assim que entra no salão. Ela se aproxima dos amigos, Julia e Serguei, que a observam preocupados.

– Oi gente – ela murmura desanimada. Ela sabe que os amigos estão preocupados com ela, e vão voltar a fazer perguntas, mas ela não quer falar sobre isso, não quer falar sobre as últimas semanas, não quer lembrar do quanto seu namorado tem estado estranho ultimamente, não quer aceitar que talvez o príncipe não goste mais dela.

– Anita, que cara é essa? – Julia pergunta observando a amiga, que diferente de algumas semanas atrás, está desleixada de novo, usando roupas largas, sem maquiagem e cabelo bagunçado – Você tá péssima!

– Obrigada pela constatação Julia!

– Ei, ela tem razão – Serguei intervém – Você tá estranha a semana inteira, sem falar no Bem, que desapareceu. Porque não se abrir com a gente, somos seus melhores amigos, esqueceu?

– Eu sei, é que... – Anita faz uma pausa sentindo seus olhos lacrimejarem – Ai, é o Ben – Julia e Serguei trocam um olhar de cumplicidade, parecendo já saberem de antemão que o motivo da amiga estar assim só poderia estar ligado ao príncipe – Ele tá tão estranho, parece que tá me evitando sabe, desde o dia que ele foi trabalhar naquela festa lá na Barra. Eu não sei o que pensar, eu não quero perder o príncipe.

– Ei Anita, calma – Serguei se solidarizou com a amiga – Eu e a Julia já tínhamos notado que vocês estavam mais distantes, mas não achamos que fosse assim tão sério. Já tentou conversar com ele?

– E como? – Anita observou impaciente – Sempre que tentamos aparece alguém naquela casa, sem falar que, ele não parece se esforçar muito para ficar sozinho comigo sabe. E se o príncipe estiver assim porque não gosta mais de mim?

– Ai, fala sério né Anita – Julia fala alterando a voz – O Ben é louco por você, pensa em tudo que ele fez, para vocês ficarem juntos, sem falar que eu já falou que te ama.

– É, mas, eu não sei, às vezes eu penso se ele – ela paralisou, comedida, não querendo acreditar nas suas suspeitas – E se ele ainda não sente algo pela Sofia?

– Anita, isso é patético – Serguei falou tranquilizando a amiga – O Ben sabe qual é a melhor escolha para ele, aquilo com a Sofia foi um erro, ele já falou, e foi tão rápido.

– É amiga, ele só deve tá preocupado com a família dele, com o Hernandez, a mãe dele, os irmãos – Julia prosseguiu, querendo acreditar nisso também. Odiava ver a amiga assim, torcia pelo romance dos dois, mas às vezes achava o Ben complicado demais e que talvez a amiga estivesse melhor sem ele – Então vamos enxugar essas lágrimas e ir para a aula tá?

– É isso aí, mas antes, já que temos um tempinho, vamos dar uma ajeitada nesse cabelo!

– Quer saber, vocês tem razão, deve ser mais uma das minhas inseguranças – ela fala rindo – Hoje eu vou conversar com o Ben e a gente vai esclarecer as coisas, eu sei disso.

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Ben andava pelos corredores do colégio Destaque cabisbaixo, enquanto na sua mente se passam mil coisas. Havia acabado a aula e ele estava doido para ir para a casa. Não havia dormido direito essa noite, e assim como todas as outras, nas últimas duas semanas, havia sonhado com Sofia, com sua mãe, com ele voltando para Florida. Estava cansado emocionalmente e tentava evitar ver ou lembrar-se da loira, mas isso era algo quase impossível. Primeiro, porque ele estudava com ela. Não na mesma sala, é claro, mas no mesmo colégio, e ele ainda não sabia dizer se o universo estava conspirando contra ele, mas em todo o lugar que ele ia, Sofia estava presente. E quando ia para casa, fotografias dela espalhadas pela sala, algum comentário sobre ela no jantar e mesmo quando fechava os olhos para dormir, lembrava do beijo que haviam trocado na festa e um sentimento de culpa o invadia. É óbvio que ele não havia contado para a Anita sobre sua traição e isso o consumia. A culpa caminhava lado a lado com o seu desejo mais oculto e ele se sentia péssimo por isso. Quantas vezes tentou contar e não conseguiu? Havia parado de tentar contar, não suportaria ver Anita infeliz. Ele queria que fosse ela a escolhida, mas sentia cada vez mais que estava se enganando com isso.

– Oi príncipe – Anita sussurrou próximo do seu ouvido, o fazendo rir pela cócega que o ar saindo da boca da garota enquanto ela falava provocava na sua pele – É tão bom ver você sorrir de novo – ela continua, fitando o namorado – Será que a gente pode conversar?

– Claro Anita – Ben responde se deixando levar por alguns segundos pela sensação boa que era estar com Anita. Ele não podia negar que ela era especial na vida dele, como se ele a conhecesse há muito tempo, como se fossem amigos de longa data. Eles caminharam até o pátio, conversando sobre amenidades e sentaram embaixo de uma árvore.

– Ben, eu te chamei aqui porque queria conversar com você... Sobre nós – ela faz uma pausa encarando o namorado – Tá acontecendo alguma coisa que eu não sei? Porque você tá tão estranho ultimamente, e eu sei que você não gosta de partilhar seus problemas comigo, porque acha que nossa família já é complicada demais, mas, eu sou sua namorada, eu te amo, e os seus problemas são os meus.

– Eu sei disso princesa, é que, eu não sei se você entenderia, e eu não quero te ver sofre também.

– Mas do que eu sofri nessas duas últimas semanas que a gente ficou distante? – ela começou a chorar – Eu senti tanto a sua falta.

– Eu... – Ben fala sem saber ao certo o que dizer. Ele queria ser sincero, queria falar que havia beijado Sofia, mas sabia que a namorada não merecia isso. Ela era perfeita. Como ele pode ter sido tão estúpido de cair na lábia da Sofia de novo? Já havia se enganado tanto com a loira – Eu sinto muito Anita – ele disse tocando no rosto da morena – Eu fui um idiota, estava com várias coisas na cabeça e deixei uma das pessoas mais importantes para mim de lado – ele disse arrancando um sorriso da namorada – Acho que não sou merecedor do seu amor princesa.

– É claro que é príncipe – a garota falou tocando na mão do namorado –Desde o primeiro dia, quando a gente se conheceu lá em Miami, eu sabia que estávamos destinados a ficar juntos.

Ben riu, lembrando-se de ter falado só para uma garota sobre essa coisa de destino. Houve um tempo que ele achou que os encontros inusitados dele com Sofia fossem coisas do destino, como se eles estivessem predestinados a se encontrarem e ficarem juntos. Agora ele sabia que as coisas não eram bem assim.

– Nosso destino é a gente quem faz princesa, através das nossas escolhas – ele falou beijando a mão da garota – E eu já fiz a minha escolha, você é o meu destino!

A morena não se conteve de felicidade e deu um breve selinho no namorado. Ben sentiu o gosto salgado das lágrimas da garota, enquanto se levantava e a abraçava.

– Vamos para a casa?

– Adivinhou meus pensamentos, eu tô morrendo de fome princesa.

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Sofia observava a irmã e Ben, sentados debaixo da árvore conversando, vendo o entrosamento dos dois, o modo como pareciam felizes um com o outro, como se tocavam. Talvez eles realmente fossem perfeitos um para o outro mesmo, e isso a deixava com nojo. A única coisa que a deixava intrigada era que o garoto não havia, aparentemente, contado nada para Anita sobre o beijo que haviam trocado na festa, o que a fazia desconfiar do caráter de Ben.

– Que foi Sofia, não vai dizer que está com saudade do garçom psicopata? – Flaviana pergunta, quando observa a amiga fitando o casal.

– Óbvio que não né Flaviana – a loira retruca mal humorada – Mas eu acho que o Ben não contou pra sonsa da Anita sobre o nosso beijo – ela sorri maliciosamente.

– Vem cá Sofia, que sorrisinho é esse? – Flaviana pergunta curiosa – Achei que isso fosse algo ruim, sabe, se o Ben contasse para a Anita, eles com toda certeza terminariam o namoro.

– Pra depois geral cair em cima de mim achando que eu seduzi o Ben... Eu sinceramente prefiro assim, eu sei que uma hora ou outra eu vou desbancar essa pose de “bom moço” que o Ben tem, e essa mentirinha vai ser muito importante. Você vai ver Flaviana, Ben ainda vai se arrepender de não ter me escolhido.

– É isso aí, gostei de ver, mulheres inteligentes contra atacam – Flaviana falou fazendo referência a MICA – Falando nisso, eu preciso encontrar a Bruna e a Drica.

– Já vai me abandonar pra ficar andando por aí com essas desocupadas. Esqueceu que hoje temos transformação do Tapinha da Sofia?

– Claro que não né Sofia, eu vou estar lá as 4, só preciso resolver algumas coisinhas antes.

– Ai, “vamo” sair daqui, que essa coisa de ficar acompanhando esse conto de fadas ridículo não tá fazendo bem para o meu estômago!

– Acho que estou vendo um progresso aqui – Flaviana fala brincando enquanto as duas caminham em direção à saída – Você não falou mal do Ben e muito menos a Anita hoje.

– Isso não quer dizer que eu não tenha pensado... Mas quer saber, eles se merecem!

– E quem te merece? O gato do Matheus?

– Vamos começar a falar disso de novo?

– Vai me disser que não tá rolando nada Sofia? – Flaviana perguntou, desconfiada – Vocês se veem praticamente todos os dias.

– Ai quanto exagero Fla – Sofia fala lembrando-se do garoto – Tá, ele é bem gato, mas nós somos só amigos, lembra?

– Acho que você esqueceu de falar isso para ele Sofia – Flaviana complementa observando do outro lado da rua, não contendo a euforia na voz – Olha só quem esta lá do outro lado da rua.

Sofia observou o moreno encostado no carro de luxo sport parecendo despreocupado, com seus óculos de sol e um sorriso lindo no rosto. Ele está conversando com algumas garotas, e ela consegue reconhecer a Bruna no meio. Não sabe explicar porque, mas não gosta do que vê.

– É um ridículo esse Matheus, não pode ver um rabo de saia que já cai matando – a loira fala irritada.

– Ai Sofia, fala sério, o cara é bonito, rico, ele não vai ficar esperando a vida toda por você não... Ai meu Deus, ele viu a gente, e tá sorrindo para você. Viu como a Bruna tá falando agora e ele nem dá bola para ela. E agora ele tá pegando o celular, ele vai te ligar!

– Flaviana, quer parar de ficar narrando tudo que acontece, tá ficando chato – Sofia fala impaciente e assim que o seu telefone toca atende.

– O que você quer?

– Eu falei que viria te buscar, não falei?

– Eu não levei muito a sério que você conseguiria chegar até aqui.

– É que eu adoro te impressionar – ele sorriu a fazendo rir também – Eu consegui, e nem fui assaltado. Acho que mereço um prêmio por tal ato.

– Ah, claro que merece, porque não pedir pra uma dessas periguetes que estão aí te cercando!

– Isso tudo é ciúme?

– Eu com ciúme de você? Por favor, né Matheus!

– Ok, mas dá para você parar de se fazer de difícil só porque está ao lado da sua amiga e me salvar dessas malucas? Eu prometo que não farei nada, além de te levar pra casa, já que o motorista do seu pai não vai vir.

– Como você sabe disso? – a loira perguntou desconfiada.

– Eu tenho minhas fontes, estou te esperando, manda um beijo para a Flaviana por mim.

– Você é doente!

– Doente por você – ele fala antes de desligar o telefone. Ela se vira para a amiga.

– Eu vou voltar com ele, o motorista do meu pai não vai poder vir – ela revira os olhos enquanto Flaviana continua falando o quanto isso é um sinal de que ele tá afim dela. Ela por fim se despede da amiga e caminha em direção ao outro lado da rua.

– Oi Teteu – Sofia cumprimenta o rapaz ironizando, na frente das outras garotas, querendo o ridicularizar.

– Ai, Teteu, que fofinho, esse é seu apelido? – uma das garotas fala, fazendo Sofia revirar os olhos com tanto horror.

– Amor, você não deveria espalhar pras suas colegas o apelido fofinho que você me deu – Matheus fala puxando a loira para um abraço – Estava com saudades!

– Pois eu não!

– Ui, que grossa – uma das meninas fala – Não sei como ele consegue namorar essa víbora.

– Vem cá, se vocês não perceberam, eu tô aqui – Sofia fala se desvencilhando dos braços de Matheus e encarando as meninas – E a menos que vocês não queiram levar umas picadas da víbora aqui, é melhor vocês vazarem!

As meninas se entreolharam e antes de partirem deram adeus para Matheus.

– Desculpem meninas, é que ela é louca por mim! – ele gritou atraindo a atenção de quem passava na rua.

– Quer parar de falar besteira? – a loira falou irritada – Desse jeito vão achar que tá rolando mesmo algo entre a gente.

– E não tá? – o moreno perguntou sério, fitando os olhos verdes da loira.

– Muito engraçado Matheus – a loira desconversa evitando o olhar do garoto, sentindo o rosto esquentar.

– Foi mal Sofia, mas eu achei demais, sabe, você botando elas para correrem – um olha para o outro e começa a rir - Só não consigo concordar com elas, com a parte da víbora, para mim você está mais é para uma gata selvagem... Mimada, arrisca, dominadora, linda.

– Acho que você tá levando a sério demais esse papinho de namorada.

– Não, você que não tá me levando a sério Sofia – ele fala misterioso e vai até a porta do passageiro e a abre – Vem, vou te levar para a casa.

Do outro lado da rua, Julia, Serguei, Ben e Anita estão indo embora e se deparam com a cena.

– Aquela lá com aquele maluco não é a Sofia? – Serguei analisa fitando com atenção o outro lado da rua.

– Cara, que gato é aquele? – Julia comenta.

– Eu não sei – Anita observa – Mas ele não me é estranho. Será que eles estão saindo mesmo?

– Eu não sei, mas que ele é gato, ah, isso ele é – Julia falou observando o carro sair.

– Só sei que ele deveria tomar um soro-antiofídico antes de ficar no mesmo local que ela – Serguei brinca – É sempre bom prevenir.

– Dá para a gente parar de falar na Sofia e andar mais rápido? – Ben fala ríspido atraindo a atenção de todos.

– Ih, vamos logo, porque o Ben está com uma cara péssima, deve ser fome – Julia brinca, inerte ao que se passa ali. Serguei e Julia caminham à frente, deixando o casal um pouco mais afastado. Anita segura à mão do namorado.

– O que foi aquilo Ben?

– Não foi nada princesa, eu só estou com fome, a Julia tem razão – ele tenta sorrir e beija o topo da cabeça da garota. Anita não se convence da resposta.