A garota se virou e viu Ben a fitando, parecendo preocupado, o que a deixou mais irada, já que agora não conseguia conter as lágrimas. Ben observou a garota sentindo um enorme impasse dentro de si. Havia visto a loira chorar poucas vezes e na maior parte delas achava que era algo falso ou por motivos fúteis, mas agora, vendo ela tão vulnerável, sabia que Sofia, com o jeito todo errado dela estava sofrendo. A loira pareceu decidir por ele, passando ao seu lado, dando um leve esbarrão. Bernadete a chamou e deu alguns passos a frente, porém Ben a deteve.

– É melhor eu ir falar com ela – ele disse e viu a mulher a sua frente concordar, incerta. Deixou a bandeja com taças de champanhe na mão na perua e saiu por entre o aglomerado de pessoas. Ouviu Bernadete resmungar algo como “Que foi nunca viram uma discussão de família não?”, viu a loira a sua frente e acelerou os passos. Sua mão tocou no braço da garota com firmeza, fazendo-a estancar e encarar o garoto com altivez e irritação. A garota abriu para protestar algo, mas Ben foi mais rápido, e as palavras delas se calaram assim que ele falou.

– Sei que não sou a melhor opção de pessoas com quem você quer conversar agora, mas... Vem comigo?

Continua [...]

Bernadete fitou Ben indo atrás de Sofia, até perder os dois de vista. Estava preocupada e ansiosa, sabia que havia falado demais. Observou Caetano e o garoto que havia conhecido mais cedo se aproximando.

– Vimos um burburinho aqui e decidimos ver o que estava acontecendo – Caetano falou encarou a mulher, não entendendo porque a mesma estava segurando uma bandeja de canapés – Tá fazendo o que com essa bandeja Bernadete? Não me vai dizer que sentiu falta da vida no Grajaú e resolveu fazer um “biquinho” como garçonete – ele desdenhou fazendo a mulher ficar irritada.

– Ai, claro que não Caetano! – ela disse fazendo bico, magoada. Viu um rapaz passando com esmoquin branco e chamou sua atenção – Moço, toma, isso aqui é seu – ela entregou para o rapaz, que a fitou sem entender por alguns segundos, mas seguiu em frente com a bandeja.

– Agora você pode me falar o que está acontecendo? – Caetano continuou incisivo, procurando com o olhar pela filha – Cadê a Sofia?

– Ai, sobre isso a gente tem que conversar – Bernadete franziu a testa, nervosa, enquanto os dois homens a encararam com curiosidade – Eu e a Sofia, tivemos uma discussão, nada muito grave, claro – ela falou se explicando – Mas você sabe como é a Sofia... A coisa acabou saindo do controle.

– Onde está a minha filha Bernadete? – Caetano falou de modo incisivo, preocupado com a filha.

– Eu não sei, ela saiu, não quis me ouvir, eu pedi desculpas... Mas olha, ela esta com o Ben, ele foi atrás dela – ela continuou dando um sorriso incerto.

– O que? – Caetano colocou a mão no coração, sendo tomado pelo susto – Minha filha com o “mulambinho”? – ele continuou preconceituoso.

– Olha aqui Caetano, o Ben é um rapaz ótimo e tem caráter, coisa que a Sofia não tem. Você deveria estar agradecendo de o Ben ainda se preocupar com a Sofia, depois de tudo que ela fez – ela falou apontando o dedo no rosto do noivo.

– O que a Sofia fez de tão grave? – perguntou Matheus, encarando o casal com curiosidade.

– Ela, ela... – Bernadete começou, sem saber direito como explicar, mas foi interrompida por um Caetano, sem paciência.

– Ela não fez nada demais meu rapaz, só foi contra a união da Vera com aquele sujeitinho – ele pegou o celular – Eu vou ligar para o Aberlado agora, preciso encontrar a Sofia.

– Caetano, deixa de ser chato – Bernadete falou abraçando o noivo – Já te disse, a Sofia vai ficar bem, o Ben tá com ela.

Matheus observou por alguns segundos o casal discutindo, enquanto refletia sobre como as coisas haviam mudado nesse período em que esteve fora. Decidiu que precisava tomar um ar, e, por incrível que pareça se viu pensando em Sofia. A garotinha esguia, irmã mais nova da sua melhor amiga, mimada e chatinha, havia se tornado alguém interessante, ele tinha que admitir. E se antes, toda a irritação e futilidade da garota o incomodavam, agora, ele achava que dava um charme a mais para a loira. Queria estar enganado a respeito do garçom, o tal de Ben, mas sentia que existia algo entre os dois.

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Sofia fitou a cozinha vazia, sentindo um aroma adocicado vindo da porta ao lado, assim como vozes abafadas.

– Eles têm duas cozinhas, sabe, em alguns eventos é necessário – o garoto falou solicito, o que deixou Sofia impaciente por respostas.

– Você querendo falar comigo? – ela indagou com os olhos desconfiados.

– Não vai tomar muito do seu tempo – Ben falou parecendo ansioso – Eu prometo.

– Espero que não tome mesmo – ela respondeu ácida cruzando os braços. Podia ouvir o som da música ressoando nas paredes. Não quis pensar muito que estava em um cômodo sozinha com Ben, pela primeira vez em semanas, sem Anita, Serguei, Júlia, Pedro, ou qualquer outra pessoa que pudesse atrapalhar.

– Olha Sofia, você não deveria ter falado aquelas coisas para a Bernadete... – o garoto começou, mas não conseguiu terminar de falar.

– Vem cá Ben, é isso mesmo que eu estou entendendo? – Sofia interrompeu sua fala – Você me chamou aqui para dar liçãozinha de moral por eu ter sido uma garota “mal educada” com a Bernadete? Porque se for por isso, acho que eu não tenho mais nada para ouvir...

– Sofia, quer parar! – Ben exclamou impaciente – Sei que não deveria me meter nisso, mas – ele a fitou nos olhos – A sua família te ama – a garota virou a cara debochando – É sério – ele continuou – A Anita, ela se sente culpada por tudo que aconteceu.

– Porque ela não se sentiria né? – a loira perguntou com deboche. Ben ignorou o comentário da Sofia.

– Meu pai, ele está muito mal com tudo isso, ele te ama Sofia, te considera uma filha. O Frédéric, sempre pergunta de você, e a Giovana e o Vitor, apesar de falarem de um jeito pejorativo e magoado, eles não param de falar de você... A Vera, ela tá sofrendo muito com tudo isso Sofia, ela sente muito a sua falta, assim como o Pedro.

– Engraçado que quando eu estava lá naquela casa eu nunca prestava, nunca era boa suficiente– Sofia falou com a voz magoada sentindo os olhos marejados.

– Você que tá falando isso – Ben falou encarando a garota – Com essa sua obsessão em morar na Barra você não se importou com ninguém Sofia, só com você. Já a Anita...

– Vai querer me comparar com a Anita de novo? – Sofia falou já não contendo as lágrimas – Porque eu estou cansada disso.

– Não, olha – Ben se explicou odiando ver a loira chorando de novo – Eu sei que isso é chato – a garota revirou os olhos – Mas eu sei que por trás de toda essa marra, futilidade e mimo, há uma garota legal, meio perdida na vida ainda, mas com sentimentos, mas você não permite que as pessoas conheçam esse seu lado Sofia. Errar é normal, eu também erro, mas...

– Você Ben? – ela perguntou com ironia – Você é o cara legal, ético, super-herói nas horas vagas. Sua vida é “encantada” – ela falou fazendo aspas no ar, achando engraçado – Pelo menos para você.

– Não, minha vida não é encantada... – Ben falou chateado – Eu não tenho notícias da minha mãe há semanas e, eu nem sei se ela se importa verdadeiramente comigo, já que ela já fez isso outras vezes.

– É, mas você tem o Hernandez, o Ronaldo...

– Eu sei, e me sinto sortudo por isso – Ben falou com um sorriso no rosto sonhador – Dois pais incríveis, mas você não sabe as dificuldades que passamos lá nos Estados Unidos. Você deveria ser grata Sofia, sua mãe, te ama, seu irmão, e até o meu pai tem um carinho de pai por você... Tanta gente que sempre esteve perto de você. Você nunca passou nenhuma dificuldade, sempre teve tudo que quis, e aparentemente, ao que parece, isso não foi positivo para você – Sofia estava prestes a protestar, mas Ben a interrompeu – Eu não sou perfeito, e não estou aqui para falar o que é certo e errado. Eu só quero dizer que apesar de eu só ser para você o filho do cara que a sua mãe casou – ele fitou a garota nos olhos gostando de estar ali com ela - Eu te considero minha família também.

– Como sua irmãzinha não é Ben? – ela perguntou com ironia, não conseguindo esconder sua irritação – Ou melhor, dizendo, como a irmã bruxa da sua namorada.

– Não, eu não quis dizer isso – ele falou revirando os olhos, parecendo sem paciência para explicar – Porque sempre a Anita tem que entrar na história?

– Porque no final as pessoas sempre a escolhem – Sofia falou em tom de magoa, atingindo Ben.

– Você sabe que isso não é verdade...

– Ah, não Ben? – ela debochou – Você só foi mais um dos milhares que escolheram ela.

– EU ESCOLHI VOCÊ – Ben disse atormentado – Eu escolhi você primeiro naquele maldito lobby do hotel em Miami. Não que eu tivesse muita escolha, porque você me encantou, me deixou sem chão, eu quis ficar com você Sofia. Mas depois, quando voltamos para o Brasil...

– Você escolheu a Anita – Sofia falou com o coração partido.

– É, eu escolhi ela – Ben falou, amargurado, queria falar mais coisas, mas sabia que não devia. Não queria se sentir envolvido pela loira de novo – Mas isso não quer dizer que eu não queira seu bem. Eu sei que não somos irmãos, mas isso não impede que sejamos... – ele continuou no mesmo tom, mas não pode continuar, a loira prosseguiu.

– Amigos? – ela completou sentindo os olhos lacrimejados. Não podia chorar agora, não na frente dele – Isso é tão ridículo! – ela disse dando um sorriso triste - Nós nunca seremos amigos Ben. Droga, eu estou apaixonada por você!

Ela se virou, tentando esconder as lágrimas que agora insistiam em cair. Ele sentiu seu coração se partir. Ver Sofia assim, frágil cortava seu coração. Estava acostumado com a imagem da garota forte, independente e fútil, que só pensava em compras e ir morar na Barra.

– Sofia – ele virou a garota, tirando as mãos do seu rosto e se sentiu mal, por saber que o motivo das lágrimas da loira era ele. Então ele tocou no rosto da garota, secando uma lágrima. Ela tentou afastar a sua mão e ele a segurou. Ela acabou olhando nos olhos do Ben e esse foi o seu erro. Sentiu a proximidade dos dois crescerem e a respiração dele em seu rosto, até que seus lábios se tocaram. Ela quis desejar que isso não fosse só um sonho, ela queria que isso fosse realidade. Não queria acordar agora.