Não se apaixone por um idiota escrita por Lua Barreiro


Capítulo 1
Maldita festa


Notas iniciais do capítulo

Oi, se você veio até aqui pode ir até as notas finais né? :3



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O dia estava tão quente quanto o próprio inferno, minhas glândulas sudoríparas pediam socorro dentro do enorme moletom que cobria meu corpo desajeitado. Todos em minha volta conversavam excessivamente, o que de certo modo me atrapalhava a ouvir música. Eu até poderia lutar pelos meus direitos de escutar música tranquilamente, mas o dilema é que não se pode ficar de fones de ouvido em sala de aula.

Porém, em minha defesa, digo que a professora está lendo revista em vez de nos ensinar sobre os enigmas da trigonometria.

Decidi deitar minha cabeça sobre a mesa e cochilar pelo resto da “aula”, até ser interrompida de meus sonhos, por Mile que cutucava meu ombro incansavelmente. Levantei meu tronco lentamente com os olhos semicerrados para que pudesse enxergar sua face- extremamente-coberta-de-base. A garota mascava um chiclete um tanto grande para a sua pequena boca, mas nada que a impedisse de tagarelar.

Infelizmente.

— Julie, estão me convidando para ir a uma festa, vai ser tipo a festa do ano. Cara, você super tem que ir comigo. — Deem ênfase irritante no 'tem'.

— Seria fantástico. —Respondi em tom sarcástico — É uma pena que eu não malhei o suficiente para comparecer a estes tipos de festas pornográficas.

— Fala sério, o cara mais gato do colégio vai estar lá. — Insistiu — Ele nem vai reparar que sua coxa parece um saco de queijo cottage.

Eu sorri.

— Eu teria motivos para ir a essa festa caso eu quisesse dar para Philips Mackenzie ou começar a adquirir experiência no ramo da prostituição, mas como ambos os casos não me interessam, ficarei em casa me entupindo de queijo cottage. Minhas coxas gritam desesperadamente por mais gordura saturada.

Ela bufou e começou a organizar seus materiais.

O sinal soou pelos meus ouvidos, trazendo minha breve comemoração, que se resumia em uma dança estupida com as mãos. Peguei minha mochila e simplesmente ignorei Miles. Sai por meio de todo o tumulto tentando empurrar alguns lerdos que pararam em minha frente simultaneamente. Entrei no meu opala/escopeta totalmente invejável no meio de tantos Civic's, liguei o motor estrondoso e dei a partida logo seguindo de ré.

Seria a melhor saída da história das saídas de vagas se o maldito do carro de Philips Mackenzie não estivesse parado atrás. Sim, ele estava na vaga de trás, mas meu carro é do período triássico e precisa de um grande espaço para esterçar descentemente.

Foi então que eu decidi amassar suavemente a traseira de seu carro, afinal a culpa é dele. O fato de que meu carro é um dinossauro é bem visível, e todos sabemos que dinossauros necessitam de espaço. Como Philips e seus amigos arrogantes não estavam lá, continuei meu percurso tranquilamente, discutimos quando ele descobrir quem foi o responsável por tal tragédia.

Por alguma maldição que o destino pregou em mim, a escopeta se movimenta como um caramujo velho. Demorei cerca de meia hora para chegar a minha casa que se localiza a praticamente dois quarteirões do colégio. Ninguém estava em casa, minha mãe é médica, então isso é completamente comum. Me considero uma jovem totalmente independente, tirando o fato de que eu não lavo minhas calcinhas e nem meu quarto.

Também não sei cozinhar ou limpar o vaso sanitário. Mas, a empregada auxilia minha mãe nos afazeres de casa.

Subi as escadas rapidamente e joguei minha mochila em cima da cama. Entrei no banheiro para me deliciar da água-tão-quente-quanto-magma, minhas pernas chegaram a ficar vermelhas. Joguei-me em cima da cama juntamente com a mochila, e iniciei a leitura de Apreço da Punição, é o tipo do livro que você já releu vinte vezes, mas se permite a ler novamente até o fim de sua vida. Minha citação preferia é a da personagem mais vadia de todos os tempos:

‘’ Minha vida é uma causa, e luto para que ela permaneça livre”. — Personagem biscate.

Os ponteiros do relógio marcavam nove horas exatas, o céu já havia escurecido a um bom tempo e meus olhos já aclamavam por descanso. Jovens devem dormir lá pelas três horas da manhã, certo? Caso você tenha assistido exorcismo, tenho certeza de que não concorda com essa afirmação.

Só despertei quando senti os dedos da minha mãe passarem suavemente sobre minhas costas, ela me acordava para tomar café junto com ela todas as manhãs. Inicialmente recusei e voltei a dormir, mas ela insistiu e eu acabei cedendo.

Coloquei minha camiseta do uniforme e uma calça qualquer, prendi meu cabelo com um rabo, mesmo preso ele chega a minha cintura. Escovei os dentes e desci minha mãe já estava dentro do seu carro, por motivos incompreensíveis eu demoro demais para me arrumar.

Minha mãe me avisou que a escopeta não havia ligado e todos os meus cálculos para não me atrasar foram rio abaixo. Tive que obrigatoriamente desaposentar minha antiga bicicleta rosa da Barbie. Coloquei minha mochila na cestinha e comecei a pedalar, a cada movimento uma lanterninha acendia proporcionando o toque de uma música completamente irritante. Todos do ônibus escolar riam da minha cara, que estava facilmente comparada a uma bosta.

Cheguei à escola umas oito e meia, e o sinal de entrada bate as sete. Creio que um atraso de uma hora e meia, não me faça uma vagabunda. Estacionei minha bicicleta em uma vaga para motos, espero que ela se sinta feliz por ser comparada a motocicletas com motores escandalosos.

Corri pelo corredor e entrei na sala de um modo completamente indiscreto e desesperado:

— Julie Taylor Martins. — É, esse é meu nome inteiro, bem comum e chato. Nunca poderei ser uma presidente ou atriz com esse nome entediante.

— Pois não? — Falei como se eu não tivesse quase arrombado a porta e chegado uma hora e meia depois do sinal.

— Acho que seus atrasos não podem continuar, já é a segunda vez que se atrasa esse ano. Não posso permitir que isto ocorra mais Srta. Martins. — Falou pigarreando, provavelmente partes de seu pulmão coberto de cinzas estavam querendo sair.

— Tá. — Afirmei indiferente e sentei logo em seguida.

Philips me encarou a aula toda, como se fosse roer meus ossos por ter batido no seu carro que provavelmente foi montado em uma fábrica de ouro. Enquanto eu acomodava minha cabeça na janela para poder cochilar, senti algo batendo em minhas costas.

Procurei o possível objeto pelo chão e avistei somente uma bolinha de papel.

Desabrochei-a lentamente, não faço o tipo de pessoa curiosa.

‘’ Júlia Martin,

Perdedoras também podem ir a minha festa.

Mackenzie, Philips. ’

Joguei o papel no chão enquanto mostrava delicadamente meu dedo do meio para o garoto. O fato dele escrever um bilhete é tão ridículo, que me faz ignorar o quão ridículo foi ele usar o adjetivo perdedora para me classificar. Analisando pelo lado bom, a mula sabe a estrutura de um bilhete tão bem quanto nossa professora de redação.

Voltei a cochilar até o término da terceira aula. Segui para o intervalo com Mile, que só falava sobre a maldita festa. Roupas, maquiagem e acessórios tudo a escolher. Coisa que geralmente eu faço meia hora antes de sair. As peitudas, como sou a única tábua de todo esse colégio me refiro assim as outras alunas, falavam sobre as mesmas coisas insignificantes.

— Creio que fazem disso um grande artefato. — Comentei para Miles. — Parecem um bando de Drag Queens competindo para ver quem tem o melhor figurino.

— Sombra marrom ou azul? — Ignorou meu comentário.

Fiz o mesmo e coloquei meus fones de ouvido, seria uma boa saída se ela não insistisse em ser insuportável e os tirasse no mesmo instante em que os coloquei.

– Você vai comigo, prepare seu melhor vestido. — Sorri. — Caso você tenha um, o que eu super duvido.

— Eu gosto de quão sonhadora você é.

Sentei sozinha sobre a mureta que se localiza no jardim de entrada do colégio, enquanto Miles ia discutir com Philips Mackenzie uma merda qualquer, esperei o sino tocar para que pudesse assistir o resto das aulas e ir embora. Quando isso aconteceu, peguei meu triciclo do estacionamento e fui para casa, esperando que o ciclo quarto-banho-cama se repetisse como em todas as outras noites.

Ele até se repetiria caso não ocorresse a visita inesperada a da minha querida/odiosa amiga. Quando abri a porta, reparei que ela trazia em suas mãos uma maleta, provavelmente de maquiagem e variados saltos em uma sacola de couro velho. Quando se deparou com minha cara de eu-quero-morrer, sorriu deixando à mostra seus perfeitamente e alinhados dentes brancos:

— Surpresinha, amada!

— Ah claro, eu certamente não esperava sua visita. — Respondi fechando a porta logo em seguida, não é de bons modos, mas dane-se.

— Grossa. — Abriu a porta agressivamente e subiu para o meu quarto.

Corri atrás.

— Pare de insistir, eu não vou. — Gritei. — Se você ousar passar algo dessa maleta na minha cara, eu sei obrigada a usar todos os golpes que aprendi em mortal kombat.

Ela me empurrou sobre a cama e começou a passar algo gosmento em minha cara. Tentei revidar seu ato grotesco, mas digamos que ela faz academia a anos e eu só me movo a cada três horas, para buscar suprimentos alimentícios.

— Que diabos é isso? — Indaguei. — Parece que você está passando quiabo na minha cara.

— A base só está vencida a três meses, pare de julgá-la assim. — Disse enquanto abria um recipiente com pó compacto.

Ela só me liberou após passar o batom preferido de todas as criadas de Afrodite e colocar um maldito salto nos meus pés esquisitos.

— Agora sim. — Olhou orgulhosa para mim, como se eu fosse um tipo de obra de arte que ela havia acabo de finalizar. — Vamos, estou super ansiosa.

— Tá. — Respondi sorrateiramente. — Mas eu não vou com esse salto projetado por demônios. — Retirei as sandálias trocando-as por um Converse.

Desci as escadas pisando forte enquanto ela saltitava como um veado. Eu estava torcendo desesperadamente para que o escopeta falhasse, mas ele decidiu que deveria funcionar tão bem quanto uma ferrari.

Acho que o destino me odeia.

Mile tinha um carro digno de astros, mas não deixaria uma brecha para eu fugir.

Então foi dirigindo até o destino em questão.

Quando chegamos me deparei com a pior cena que já vi em todo os meus dezesseis lindos anos de vida. É como um acasalamento entre humanos que pensam que são formigas e por isso podem fazer pornografia gratuita em frente a todos.

— Por que diabos eles estão fazendo poc-poc na grama? — Gritei apontando para o casal, que sugavam uns os órgãos do outro.

– Poc-Poc Martins? É assim que você se refere a sexo? Definitivamente acreditava que você era mais madura. — Miles exclamou, ela já havia trocado sua personalidade que me faz ser sua amiga, por sua personalidade de vadia.

– Ah, dane-se.

Logo que descemos do carro, eu tentei correr discretamente e fugir o mais rápido possível daquele lugar tenebroso, mas chamo muito atenção quando se trata de exercícios físicos. Então quando Miles agarrou meus braços para me segurar e impedir minha fuga, iniciei meu golpe chamado de redemoinho, que se consiste em balançar os braços trezentos e sessenta graus repetidamente e rapidamente.

Como esperado, não funcionou.

Então entrei de uma vez naquela festa problemática.

Miles me abandonou em meio a um monte de adolescentes bêbados, fazendo com que eu procurasse algum refúgio, no caso a mesa de refrigerantes e petiscos. Era a mesa menos badalada entre todas as outras, afinal ninguém quer beber refrigerante em uma festa.

Philips e os seguidores do babaca vieram em minha direção, eu me levantei em legitima defesa. Afinal, provavelmente iriam me caçoar e tentar fazer alguma merda com a garota “perdedora”. Olharam para mim dos pés à cabeça, eu senti uma leve ponta de vergonha, meu vestido era tão curto e colado quanto os das outras garotas da festa, era como se estivesse estampado na minha testa a frase quero-dar.

Tanto Mackenzie quanto seus amigos começaram a rir.

— Olha quem está aqui. — Olhou para seus amigos que ainda estavam rindo como verdadeiros idiotas. — Se rendeu ao mundo dos babacas? Que no meu dicionário tem o mesmo significado de populares e completamente gostosos.

— Não, fui meio que obrigada a vir para este mundo. Aliás, por que perde seu tempo falando com uma perdedora? — Tentei responde-lo com uma pergunta, mas meio que me auto rebaixei, como de costume.

— Você até que está gostosa. — Se aproximou e agarrou em minha cintura, fazendo com que eu sentisse seu bafo nojento.

Peguei meu refrigerante e joguei todo o liquido em sua camiseta branca, ele se afastou rapidamente e olhou-me como se eu tivesse despedaçado todo seu ego. Por um instante eu comecei a rir, mas percebi que não era o momento certo para isso.

— Ninguém me rejeita, Martins. — Ele falou como se eu fosse obrigada a beijá-lo e me apaixonar instantaneamente após isso. Mas, eu nunca me renderia a uma paixão por Philips Mackenzie.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Dicas? Espero que tenham gostado ♥