Como Dizer Eu te amo escrita por Mary


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

OMG minha primeira fanfic original!!!
Espero que gostem :3



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– Não! – gritou Jullie, desabando em lágrimas – Não! Não...!

As lágrimas molhavam seu vestido preto. Ela realmente não conseguia acreditar que aquilo havia acontecido.

Olhando para o corpo de Luís você poderia pensar que ele estivesse dormindo, apenas dormindo. Jullie realmente se sentiria melhor se ele estivesse apenas dormindo, mas sabia que não estava. O furo por onde a bala passara em sua perna ainda era visível. Aquilo mostrava que ele não estava mais ali.

Sentou-se soluçando ao lado do pai.

– Por quê? Por quê isso aconteceu? - sussurrou sem forças.

– Eu não sei, filha – ele sussurrou em resposta.

Jullie encostou a cabeça no ombro do pai e ficou se lamentando. Se lamentando pelo tempo ter passado rápido demais. Se lamentando por não ter aproveitado aquilo tudo que Luís lhe proporcionara enquanto ainda estava vivo. Se lamentando... por tudo.

Era a segunda vez no ano que ela precisava ir em um enterro. O primeiro fora de sua mãe, três meses atrás. Jullie se lembrava de sua reação.

***

Olhando para o caixão dela, Jullie começou a chorar e se beliscar, ciente de que era tudo um pesadelo e queria acordar logo em sua cama com a mãe acariciando sua cabeça. Mas isso não aconteceu. Quando lhe deram a notícia de que o acidente havia ocorrido, ela não acreditou e dizia que era brincadeira. Na verdade, ela sabia que era verdade, mas possuía esperanças de que fosse apenas brincadeira. E, ao ver os olhos da mulher se fechando, ela esperava que estivesse apenas dormindo.

Então, quando estava em casa sentada na cama da mãe, o pai, que não aparecia há exatamente três anos, chegou na casa dela falando que agora Jullie iria morar com ele.

A garota disse:

– Eu não vou! Não vou! Vou ficar aqui e morar sozinha!

– Mas, filha, vamos. Cuidaremos de você. Somos uma família! - disse o pai.

– Família? Que família? Três anos que você sumiu! Três anos que não me procurou! Onde você estava?! Por que não veio quando ela ainda estava aqui?! Por que agora?! Por que somente agora?!

– Jullie, eu amava a sua mãe. Eu a amava, mas esse sentimento acabou.

– Eu já sei disso! Eu entendo que vocês dois não se amavam mais, mas eu ainda sou sua filha, não sou?

– Sim, você é.

– Então por que não veio? Por que não ligou?

– Mas eu liguei!

Há dois anos atrás! Dois anos!

– Na verdade, eu liguei no Natal.

– Isso não importa! Por que não veio me ver? - e o pai suspirou.

– Você tem razão, Jullie. Eu admito que errei. Eu devia ter vindo lhe dar um abraço, te beijar e te dizer o quanto eu te amo. Eu me arrependo – seu tom era calmo, como se tentasse acalmar a filha também.

– Você se arrepende... me desculpa?

– Eu que devo pedir desculpa, Jullie.

– Mas eu também errei, percebo isso. Eu devia ter te procurado e também não devia ter gritado assim. Me desculpa?

– Só se você me desculpar.

E os dois se abraçaram, os olhos chorosos e cheios de saudade e tristeza. Jullie começou a soluçar.

– Por que ela teve que ir, papai? - perguntou, como se fosse uma criança de cinco anos novamente.

– Eu não sei... - ele respondeu.

E, na porta, apareceu Claire, a madrasta de Jullie. A garota nunca havia conhecido a madrasta e, naquele momento em que a viu pela primeira vez, não foi muito com a cara dela. Mas a mulher demonstrava um pouco de compaixão e os abraçou.

– Vamos? - perguntou.

– A-acho que sim – respondeu o pai.

– Ok. Eu vou arrumar minhas coisas – falou Jullie.

– Faça uma mala de uma semana com seu uniforme e as coisas do colégio – pediu o homem – e depois voltaremos para buscar o resto, pode ser?

– Pode – respondeu Jullie – Encontro vocês no carro.

E pegou a mochila do colégio, colocou as roupas nela e o material em outra bolsa. Sentou na cama de seu quarto, suspirou e chorou um pouco mais. O choro era uma das maneiras de se consolar.

Na casa do pai, dividiu o quarto com o irmão de seis anos, Victor. Victor era uma criança adorável, com os mesmos olhos azuis da irmã, porém com o cabelo castanho escuro. Ele amava sorvete e gostava muito de ir para o quintal, mesmo que não houvesse nada para fazer lá.

No dia seguinte, na escola, encontrou Luís e abriu um sorriso trêmulo. Luís era seu melhor amigo desde que se conheceram na escola há cinco anos atrás.

– Então... - ele começou.

Chorou ao lado dele. Os olhos azuis estavam vermelhos e inchados.

– Um dia, todos se vão. E todos ao redor se machucam com isso. Quando você for, todos vão chorar também. Você quer isso? Que as pessoas esqueçam de suas vidas porque a sua acabou? - ele me disse.

– N-não... Acho que não...

– Imaginei. No meu funeral, não quero que ninguém chore demais. Que façam uma festa! Antes ele do que eu!

É esse senso de humor bobo que conseguiu arrancar um sorriso de Jullie desde sexta-feira.

– E, além do mais, você tem o Luís aqui! Eu sempre vou estar com você!

E começaram a rir. Ela o abraçou e sussurrou:

– Você é o melhor amigo que uma garota pode ter.

– Sim... amigo...

Naquele momento estava tão desligada do mundo, quase em depressão, que não percebeu o efeito que aquelas palavras causara. Será que era isso que ela queria? Amigos para sempre até que a morte os separe?

Deixou apenas mais uma lágrima cair e foram juntos para a aula, sem falar nada, apenas mostrando leves sorrisos. Era assim que ela gostava; os dois sorrindo, consolando um ao outro, nada a mais. Mas, será que seria melhor se fossem mais do que amigos?

***

Estava deitada em sua cama. Olhava para o teto e percebia o que ocorrera na vida de todos, inclusive a sua.

O quarto mudara muito desde que ela fora morar com o pai. As paredes, que eram inteiramente azuis, passaram a ter alguns desenhos prateados. Os móveis, que possuíam desenhos de carrinhos de brinquedo, passaram a ser brancos. As cortinas eram coloridas, mas de uma forma que não chamasse atenção. Estava tudo de modo em que os dois se sentiriam confortáveis.

Mas aquilo não importava. Sua mãe falecera. Luís também se fora. Duas pessoas importantes em sua vida a deixaram ali.

Eu sempre vou estar com você, ele dissera. Sempre. Uma palavra muito forte. Sempre. Ninguém fica para sempre. Mas como iriam prever?

Ele também brincara, falando que iria querer uma festa. Antes ele do que eu. Naquele momento, seria algo horrível de se fazer.

As palavras que ele dizia sempre estariam no coração dela.

Sempre. De novo.

Desistiu de ficar se lamentando pela morte de Luís. Ele falou que não gostaria de que as pessoas ficassem chorando quando ele se fosse, mas a dor era mais forte. Sabia que a saudade apertava. Contudo, chorar não iria trazê-lo de volta, da mesma forma que não trouxe a mãe de volta.

Jullie se olhou no espelho. Os fios louros estavam arrepiados. Olheiras brotavam por debaixo dos olhos azuis. Muitas pessoas achavam que ela era uma dessas patricinhas que ficam magoando os outros. Mas ela era totalmente diferente.

Pensava em todos os momentos felizes que os dois tiveram juntos, todos aqueles minutos e segundos que estariam para sempre em sua memória, quando ouviu batidas na porta.

– Pode entrar – murmurou.

Claire botou a cabeça para dentro do quarto e analisou o estado de Jullie. A menina abriu os braços e a mulher foi até ela.

Claire era assim. Nunca agira como essas madrastas malvadas. Na verdade, raramente aumentava o tom de voz para falar com Jullie. Também nunca fora como uma mãe. Era mais como uma tia carinhosa ou uma irmã protetora (que é pouco mais que uma década mais velha que ela). Sempre fora muito boa e, naquele momento, sorria como se nada houvesse acontecido; como se Luís e a mãe de Jullie ainda estivessem lá. Os olhos mel brilhavam no escuro do quarto. Geralmente, sua expressão era contagiosa. Naquele momento não era.

Jullie sabia que aquelas coisas não eram pesadelos. Nenhum sorriso a faria sorrir novamente Pelo menos, era o que queria.

A menina se deitou no colo da madrasta que ficava acariciando seu cabelo arrepiado. O silêncio só era quebrado pelo leve ronco de Victor. Ele estava lá, deitado em sua cama, os fios castanhos caindo em sua testa, sem saber o que acontecera realmente. Jullie se lembrou de como aquela idade era boa; sem preocupações, sem problemas, a única dúvida era qual lápis de cor usar. E o menino estava deitado, os olhos fechados, sem saber o que acontece no mundo lá fora, achando que tudo é um universo de risos e felicidades. Mas ela sabia que não era.

– Você está bem? - cochichou Claire.

– Melhor do que antes, mas não estou bem. Nunca estarei – respondeu Jullie.

– Você não vai entrar em depressão.

– Não sei. Vai que...

– Não. Não vai. A vida pode ter acabado para uns, mas continua para outros. Você é dos outros. Ela está aí, cheia de oportunidades para você agarrar e seguir em frente. Já aconteceram, Jullie. Não dá para voltar atrás. O tempo já se foi.

– Eu só queria mais tempo com ele...

– Todos querem. Era um rapaz maravilhoso, gostava de você, gostava de todos. Simpático, inteligente... E a sua mãe também era muito boa. Eles estão em um lugar melhor.

– Não posso ir junto?

– Não. Eles sempre estarão com você. Bem aqui – e apontou para o meu peito. Forcei um sorriso breve, apenas para agradecer.

Essa era uma das coisas que adorava em Claire: ela sempre sabia como agradar Jullie e sempre sabia como esta se sentia. Tem coisas que simplesmente não dá para falar quando perdem alguém.

– Está tudo bem. Tudo bem... - disse Claire.

– Não está.

– Mas vai ficar.

– E o que eu faço enquanto isso?

– Crie esperança. Ela é a única que morre.

Okay. Sempre é uma palavra muito forte. E falar que a esperança é a última que morre pode não agradar muito algumas pessoas.

– Se não der certo?

– Significa que sua história ainda não chegou ao fim. Quando ela chegar, tudo estará bem.

– Você realmente acredita nessas coisas?

– É preciso acreditar para realizar. Se não crer, nada vai acontecer.

– Poesia. De novo.

– Eu gosto, você sabe.

– Sim, eu sei. Só que, sei lá. Não agora.

– Tudo bem.

– Mas você sabe que não existe felizes para sempre.

– Não existe. O que existe é pessoas que querem ser felizes e pessoas que não querem. As que querem, são, e as que não querem, não são. Tudo termina como começou, mas a vida sempre será uma corrida de obstáculos e você sempre chega ao final.

– Isso é... triste.

– É a verdade. Ela não agrada muito as pessoas, mas é assim e sempre será.

– Não gosto de você.

– Por quê?

– Porque todas as pessoas de quem eu gosto se vão.

Claire riu.

– Todos irão, um dia. Eu vou, Jullie. Você sabe, eu sei. Não dá para não acontecer. Dá para atrasar, mas sempre acontecerá.

– Vá o mais tarde possível.

– Não sou eu quem decide isso. Nem você.

– Eu sei...

– Jullie, você não é mais uma criancinha.

– Mas queria voltar a ser e sempre ser.

– Todos querem. Mas você precisa crescer. Você sabe disso.

– Sim, eu sei.

– Agora, vamos jantar. Amanhã, você irá para a escola.

– Por favor, tente não me lembrar.

– Okay. Vai logo que eu acordo Victor.

Concordou com a cabeça e saiu do quarto. Chegou na sala e não havia ninguém. Olhou para a cozinha e lá estava seu pai, preparando as coisas para botar na mesa.

– Quer ajuda? - perguntou ela.

– Adoraria – ele respondeu.

Pegou os pratos e colocou na mesa enquanto ele pegava a panela com o arroz.

– Está melhor? - ele perguntou.

– Sim, mas não estou inteiramente bem.

– Já era de se esperar. Também não conseguiria me recuperar tão rápido assim.

– O ruim é que eles me deixaram.

– Não foi de propósito.

– Eu sei.

Claire apareceu com um Victor que esfregava o olho com as costas da mão e bocejava ao seu lado. Geralmente, Victor não era assim. Ele sempre estava sorridente e alegre, sempre fazendo palhaçada. Era assim que ela gostava e era assim que ele sempre estava.

Sempre. De novo estava lá essa palavra em seus pensamentos. Como via, Victor não estava sempre daquela forma.

Eles jantaram silenciosamente. Victor recuperou um pouco de suas energias, mas optou por assistir televisão. Enquanto isso, Jullie ficou sentada na mesa pensando em coisas. Coisas normais. Coisas da vida.

Resolveu sair um pouco para respirar o ar de fora. Alguns minutinhos já a fariam bem.

***

Caminhou pela calçada, sem rumo, sem destino. A chuva caía em gotas finas e vagarosamente, perfeito para refrescar o lugar. Porém, poças d'água estavam formadas na beira da rua. Se um carro passasse por elas em alta velocidade, Jullie poderia sair de lá ensopada. E não era isso que ela queria.

Olhou para o céu e viu que as nuvens escondiam algumas das poucas estrelas que apareciam no céu urbano. Ah, como queria ver como as coisas eram naturalmente. Era isso que pensava e se lembrou que no dia seguinte haveria aula.

Seria a primeira aula sem ele. Todos estariam perguntando a ela o que aconteceu, se era verdade e as piores frases. Mas eles sabiam que Jullie e Luís não namoravam.

Poucas vezes pensara nisso. Ela e Luís namorando. Antes, parecia algo ruim, algo esquisito. Naquele momento, era tudo que ela queria. Nunca se sabe o valor das coisas até perdê-las, sua mãe dizia. Não acreditava no valor daquelas palavras; agora tudo era certo.

E se tivesse dito a ele tudo o que sentia? E se tivesse coragem? Ele aceitaria? Ele a beijaria? Ele a pediria em namoro? Ele recusaria? Ele tentaria se afastar? E se ela soubesse como dizer eu te amo? E se...?

Não pôde completar esse pensamento. Na verdade, nem queria. Mas, se quisesse, não poderia. Naquele momento, com a sua completa sorte, um carro passou correndo por uma poça de água e a encharcou toda. Ela se sentiu um nojo e escorregou na lama que se criou à sua frente. Só que algo estranho aconteceu e ela não caiu no chão. Um menino segurou suas costas para que ela não caísse. No escuro, não conseguia definir seu rosto inteiramente. Apenas um sorriso. Nada mais. Ele saiu, ela saiu, e teve a certeza de que havia 1 chance em 7 bilhões de encontrar aquele garoto novamente. Eles não trocaram uma única palavra, apenas olhares, e o seu mostrava o quanto estava agradecida.

Chegou em casa retirando as sandálias. Quando o irmão a viu, gritou:

– Monstro! Tem um monstro molhado aqui!

– Sou eu, sua irmã, lembra? - ela falou.

– Ah, sim. Não me dê um susto!

– Pode deixar.

O pai apareceu na porta, preocupado, e entregou uma toalha para Jullie. Claire secou o rastro de água que Jullie deixava enquanto se dirigia ao banheiro para tomar um banho.

Depois do banho, se deitou e ficou imaginando o que poderia lhe aguardar no próximo dia, na escola. Também pensou no menino que a segurara e na maneira como ele sorriu. Suas feições estavam escondidas sob as sombras das luzes públicas, mas ele tinha um sorriso belo. Seus olhos com certeza eram escuros pois não era possível enxergá-los com clareza. Mas isso não importava. Não se apaixonara e, afinal, quais as chances de se verem novamente com 7 bilhões de pessoas no mundo? Com sua sorte, nunca o veria novamente.

Retirou esse pensamento da cabeça e pensou em tudo que ocorrera naquele dia desde o funeral. Em tudo que Claire lhe disse, em tudo que pensou e na maneira como a palavra sempre afetava sua vida. E, quando se deu conta, já estava despertando para um novo dia.


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Notas finais do capítulo

Gostaram do capítulo? Se sim, deixem reviews. Se não, deixem reviews também. Se não pretendem ler de novo, também deixem. Não importa o que estejam fazendo, deixem reviews.

Um aviso importante: essa fanfic já foi concluída sim, e não haverão aqui mais capítulos do que este. Motivo? Ela está sendo passada para o papel, com atualizações e revisões, e se tornará um livro. Sim, daqueles que vocês compram. Em breve, deixarei aqui o link do livro para quem quiser comprar. E, por favor, não a marque como concluída.



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