TEMPLO DE ÁRIES
ATENAS, GRÉCIA
10:26AM

Saori estava realmente preocupada. Uma nave saindo do chão bem no lugar onde ela havia pedido a Mu para investigar uma imensa e estranha emanação de energia, que ela deduziu vir de um único ser vivo. E dois americanos desacordados eram as únicas testemunhas e Mu as trouxera para lá. Sim, conforme as regras seculares daquele lugar, estava tudo errado, mas aprovava totalmente o procedimento de Mu. E os americanos podiam sim ficar alí pelo tempo que achassem seguro. Isso porque sentia - portanto sabia - que os dois corriam perigo por enquanto.

"Mu, não precisa se preocupar tanto, sei que tudo isso foge às regras que conhece há mais tempo que eu, mas acho que fez bem em trazê-los. E não devemos nos preocupar se eles saberão ou não das coisas do Santuário, e sim com a segurança deles, e a do mundo inteiro..."

"Aquela coisa que saiu do chão... era grande, senhorita, muito grande. Era de lá que vinha o cosmo que sentiu?"

"Tenho quase certeza. Nossos sentidos não são tão precisos, mas acho que a localização bate... precisamos descobrir o que era, Mu, pode ser uma enorme ameaça, e não acho que tenha simplesmente ido embora." - Saori completou, preocupada.

"Bom, acho que os dois podem nos ajudar, de repente eles sabem o que era... estavam tão perto que nem acredito que sobreviveram..." - Disse Mu.

"Então... quando estiverem bem, traga-os aqui por favor. Quero muito conversar com eles, preciso avisá-los, acho que correm perigo."

"Como assim?" - Mu perguntou, preocupado - "Que tipo de perigo?"

"Não sei ao certo, mas sinto que se saírem daqui agora serão caçados." - Saori baixou o olhar, lamentando não saber dizer exatamente o que seu cosmo lhe avisava - "Desculpe, Mu, não consigo saber mais que isso, pelo menos por enquanto..."

"Confio no que diz, não se preocupe. Bom, vou descer, Shaka deve estar enlouquecendo com os dois na minha casa..." - Mu a tranquilizou, e se despediu, fazendo uma pequena reverência.

Saori sorriu, graciosamente. Queria ser otimista como o cavaleiro, mas estava preocupada demais para isso.

xXx

Mu ia descendo as escadarias, e relembrando a conversa que teve com Atena. Ela dizia que os dois estavam em perigo, certo, e que era bom que ficassem por alí por algum tempo. Agora tinha que pensar em onde instalá-los, porque ficar nos templos podia não ser seguro, apesar de serem tempos de paz. Passando por Capricórnio, lembrou-se da casa que Shura mantinha próxima ao penhasco ao lado da casa dele. Será que ele emprestaria?

"Shura?" - a voz de Mu ecoou no salão do templo de Capricórnio.

"Hola!" - Veio a resposta.

Pelo jeito, Shura voltava justamente da casa, porque estava vestindo jeans e camiseta, e as botas estavam sujas de terra, sem contar os pedacinhos de grama e folhas nos cabelos e por toda a parte. Um bom jardineiro ele era, mas fazia uma bagunça...

"Sabe que não tem necessidade de me pedir passagem, hombre, que se passa?"

"Eu sei..." - Mu sorriu levemente - "Mas é que preciso da sua ajuda. Você emprestaria sua casa por uns dias?"

"Empresto, se me disser pra quê, claro." - Shura apertou os olhos, curioso - "Vai trazer os parentes, carneiro? Sempre te disse, com aquela tua casa minúscula nem dá para receber ninguém..."

"Não, não... Shura, não são parentes, é que..." - Mu sabia que teria que explicar direitinho e que levaria tempo - "Senta, a história é comprida."

E Mu explicou o que aconteceu, e contou também a opinião de Saori a respeito. Shura estava mais assustado com a questão da suposta nave do que com a presença de estranhos no Santuário, o que era estranho, Mu sempre achou que Shura não gostasse nada de estranhos por alí, sempre tão tradicionalista...

"Mas hombre, se tinha esse cosmo tão poderoso nessa tal nave..." - Shura tinha os olhos mais espantados do que tudo - "O ser que Saori tenta localizar está voando por aí, isso pode ser muito grave e trazer consequências em qualquer lugar do mundo!"

"É verdade. Bom, eu disse à senhorita e digo a você, aqueles dois viram o que estava lá realmente, e podem nos ajudar com isso." - Mu tentou tranquilizar o espanhol.

"E se vão ficar por aqui, é melhor mesmo que fiquem no meu chalé, é mais seguro que os nossos templos. Se formos atacados estarão fora da área de combate."

"Obrigado, Shura." - Mu se levantou para sair - "Preciso ir agora, eles estão no meu templo e Shaka já deve estar até o pescoço de tantas perguntas..."

"Deixou Shaka com dois estranhos perguntadores, Mu?" - Shura olhou de esguelha para Mu, que o encarou desconfiado.

"Eu ia mesmo pedir para ele, mas ele se ofereceu primeiro..." - Mu respondeu, parecendo não entender.

"É muito amor mesmo..." - Shura comentou, mais para sí mesmo, mas Mu ouviu.

"Shura, quer parar com a gracinha? Sabe que Shaka está acima disso, merece nosso respeito." - Mu replicou, aborrecido.

"Tá, desculpe. Mas que ele faz tudo por você, isso faz." - Shura desviou de um tapa fingido de Mu, satisfeito pelo amigo ter levado na esportiva - "Posso ir com você? Quero conhecê-los logo, e também podemos já trazê-los para a casa..."

"Claro, Shura, a propósito... como está o seu inglês?" - Mu perguntou, com o bom humor de volta.

"Por quê? Eles não falam grego?" - Shura perguntou, inocentemente.

"São americanos, Shura. Falam apenas inglês."

"E Shaka está lá com eles?" - O espanhol perguntou, com um sorrisinho no rosto.

"Gastando todo o inglês que sabe." - Mu declarou, fingindo seriedade.

Nenhum dos dois agüentou, explodindo em risadas que ecoaram no salão e os acompanharam escadaria abaixo.

xXx

Chegando a Aries, Mu e Shura ouviam as vozes desde o lado de fora. O pobre Shaka parecia estar comendo um dobrado, tentando manter o inglês fluente enquanto o homem falava rápido, ávido por informações. Os dois se olharam e riram, percebendo o teor da conversa: a telecinese de Mu. No entanto, nâo se ouvia a voz da mulher. Os dois entraram na cozinha, e Shaka lançou seu melhor (ou pior) olhar de súplica na direção de Mu. Mulder parou de falar, e Scully abraçava as pernas na cadeira onde estava sentada.

"Voltei, pessoal. Me perdoem pela demora, mas ao menos uma parte das coisas está resolvida." - Mu anunciou, vendo Shaka se levantar e ir para seu lado, visivelmente aliviado com a chegada deles.

Mulder olhava interrogativamente para Shura, tentando entender por que aparecia gente nova naquela casa a cada momento. Scully até levantou o olhar, mas estava muito ocupada sentindo frio. Mu percebeu imediatamente que a mulher não estava muito bem, e num segundo apareceu com uma manta para cobrí-la, para total espanto de todos.

"O que foi? Ela estava com frio... não estava, senhorita..."

"Scully." - Scully tremia um pouco, mas já estava melhorando - "Dana Scully. Obrigada pela manta, Mu, não sei porque esfriou tanto..."

"Não esfriou, acho que seu corpo ainda está tendo problemas para se aquecer." - Shura se pronunciou, chamando a atenção de todos com um inglês perfeito - "É pequena e magra, por isso os efeitos da hipotermia são piores." - Percebeu que todos o olhavam, em silêncio - "O que foi? Divido muitos livros com Camus, oras! Deviam fazer o mesmo..."

Dessa até Shaka achou graça. Então era esse o entra e sai nas casas de Capricórnio e Aquário... se fosse de sua natureza interferir nas questões alheias, diria a Milo para se preocupar menos com a presença de Shura em Aquário, e o aconselharia a aprender a gostar de literatura científica.

"Mas permita-me apresentar..." - Disse, aproximando-se de Scully e tomando uma de suas mãos num cumprimento - "Sou Shura, cavaleiro de ouro do templo de Capricórnio."

"Cavaleiro? De ouro?" - Mulder espantou-se.

"Templo? De Capricórnio?" - Scully esqueceu-se temporariamente do frio, mais espantada ainda.

"Céus..." - Shaka e Mu suspiraram, quase que ao mesmo tempo.

Ah, essa explicação vai levar horas...

To be continued...