Scully achou que se cansaria imensamente com a caminhada de volta da praia do cabo, mas a conversa com Milo e Afrodite esteve tão agradável que nem sentiu. As roupas confortáveis ajudaram, claro, e pararam para descansar três vezes até chegarem ao pé do templo de Aries, onde Mu já os esperava.

"Srta Scully está cansada?" - Mu perguntou, amável - "Desculpe por não tê-los acompanhado na volta..." - Disse, um pouco sem jeito. Ainda estava desconfortável com a situação de antes.

"Milo, Afrodite, se importam se eu ficar aqui por um instante? Eu... gostaria de conversar um pouquinho com o Mu..." - Scully pediu, também um pouco sem-graça.

"Não se preocupe, agente Scully" - Milo sorriu - "Afrodite e eu precisamos dar um pulo na vila antes que escureça..."

"É verdade." - Afrodite confirmou - "Eu tenho que checar algo com as amazonas sobre as festividades. Está entregue... Mu, por favor, quando levar a senhorita para o chalé, passe na minha casa e pegue as roupas, sim? ela vai precisar para a viagem e eu esquecí de deixar em Capricórnio."

"Pode deixar." - Mu sorriu do cuidado do amigo e voltou-se para Scully - "Vamos entrar, então? Farei um chá para nós."

Scully o acompanhou para dentro do templo, até chegarem à pequena cozinha. Ela sentou-se à mesa com familiaridade, enquanto Mu punha uma chaleira no fogo. Sentou-se em frente a ela e começou a trançar os longos cabelos.

"Mu..." - Scully observou a atitude do jovem e adivinhou que aquela atitude - de mexer nos cabelos - parecia ser uma expressão de constrangimento - "Eu queria te pedir desculpas por hoje... pelo que aconteceu lá na praia. Eu... acho que passei uma impressão errada e..."

"Senhorita Scully, não tem do que se desculpar. Na verdade essa não é a primeira vez que me vejo no meio de duas pessoas assim, sabe..." - Sorriu um pouco - "Parece que estou sempre no lugar e na hora errados..."

"Não, Mu, por quê diz isso?" - Scully replicou mas Mu a interrompeu.

"O agente Mulder gosta de você. Sabe, no dia seguinte ao que os encontrei, eu pensei que eram um casal. Depois vocês explicaram que eram parceiros de trabalho e eu compreendi, mas o que vejo é mais que isso."

"Mu, é mais complicado que isso, não é que..."

"Desculpe, senhorita, estou me metendo onde não sou chamado, não é?"

"Mu." - Scully pegou uma das mãos do jovem, para ganhar sua atenção - "Eu e Mulder temos já uma relação bastante complexa. Eu daria a minha vida por ele, e ele pela minha, mas jamais nos permitiriamos ir além disso. Temos muita bagagem, eu e ele. Nossos trabalhos, nossas vidas, e mais uma série de situações não são favoráveis a isso, entende?"

Mu se levantou, contendo a indignação que sentia. Serviu chá quente em duas chícaras e voltou para a mesa, entregando uma delas à Scully.

"Acha que é possível ir além de dar a vida pelo outro?" - Fixou os grandes olhos verdes nos da agente, que baixou o olhar para o chá fumegante.

"Ô de casa!!!"

"Aqui!" - Mu sorriu docemente para a agente - "Pense nisso, senhorita, só existe uma circunstância desfavorável capaz de impedir vocês dois, e trata-se da única coisa certa em vida. Só a morte pode realmente impedir um amor de acontecer. O resto depende só de nós."

Scully estava atônita. Mu piscou para ela, e voltou-se para os três que chegavam à cozinha.

"Até que enfim chegaram!" - Foi até o filtro, encheu um enorme copo com água e o entregou a Mulder - "Agente Mulder?"

Mulder aceitou o copo e bebeu, num só fôlego, a água fresca.

"Nossa, eu nunca me sentí tão fora de forma quanto agora, estou com fôlego de fumante!" - Disse e devolveu o copo a Mu - "Obrigado, Mu, foi a melhor água que já bebi na vida..." - O exagero era sincero.

"É puxada a caminhada do cabo até aqui, ainda mais para vocês que estiveram lá em cima..." - Mu se referia à prisão do cabo, que ficava bem mais distante e acima do que o ponto onde o resto do grupo ficou.

"Ah mas o agente Mulder se saiu muito bem..." - Máscara deu um tapinha nas costas de Mulder, que se segurou para não se encolher - "O que acha de alongar conosco amanhã? A agente Scully vai estar no Japão, vai ajudar a passar o tempo..."

"Eu... posso responder só amanhã?" - Mulder sorriu, sem graça - "Preciso saber se vou conseguir me mover primeiro..."

Todos riram do prospecto de dor de Mulder, até ele mesmo. Scully se levantou de onde estava, querendo aproveitar o clima leve do grupo para subir para o chalé. Mu entendeu imediatamente.

"Vou levar vocês dois até Capricórnio. Shura já deve estar esperando, e a senhorita precisa descansar bem..." - Disse Mu, e voltou-se para Máscara e Aiolia - "Vocês dois vêm?"

"Nah, estamos bem." - Máscara recusou - "Vamos esperar Afrodite e Milo aqui, tudo bem?"

Mu assentiu e desapareceu no ar com os dois agentes.

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"Bueno!" - Saudou Shura assim que viu os três aparecerem bem no meio da salinha do chalé - "Acabei de vir de Peixes, trouxe algumas coisas que Afrodite esqueceu de deixar aqui antes..."

Haviam muitas sacolas sobre os dois sofás. Os agentes se entreolharam, intrigados. Shura tratou de explicar.

"Como vão passar ainda alguns dias aqui, Afrodite achou por bem se encarregar das roupas... ele é muito bom nisso, eu garanto." - Piscou para Scully e completou o comentário - "As minhas melhores camisas foi ele quem comprou..."

Scully sorriu da idéia e Mulder acabou contagiado.

"Temos que agradecê-lo então. Foi ele quem comprou o que estamos usando agora, não foi? Esse par de sandálias é de longe a coisa mais confortável na qual já pisei em toda a minha vida, definitivamente."

"Mulder está sincero hoje..." - Scully disse ao parceiro, levantando levemente a sobrancelha. Ele sorriu para ela, apenas.

"Bom, acho que vocês precisam de sossego agora, não é?" - Mu olhou para Shura, que concordou - "Eu vou indo. Senhorita Scully, tenha uma boa viagem e espero que consiga o que precisa na fundação. Boa noite, agente Mulder."

"Se tiverem fome, há coisas na geladeira e na despensa. Agente Scully, o trajeto até o aeroporto será de helicóptero, o que acha de estar pronta às seis? Muito cedo?"

"Não, Shura, para mim está perfeito."

"Então está certo. Eu vou me recolher, mas se precisarem de qualquer coisa me chamem, está bem?"

Os agentes agradeceram Shura, que saiu em seguida. Ficaram parados ainda um tempo, olhando para todas aquelas sacolas e pensando no que fazer, até que se olharam. E não puderam mais, riram um do outro, porque a expressão que tinham era de pura incredulidade.

"Scully..." - Mulder sentou-se, ainda rindo - "Eu não sei sobre você, mas eu estou me sentindo num desses programas de Make Over! Olha isso, eu acho que tem roupa aqui para um ano inteiro!"

"Eu nem sei o que fazer..." - Scully se aproximou das sacolas que dominavam os sofás e o chão - "Mulder, são compras! Se dá conta que estamos em um lugar que parece não existir, e que o que estamos vendo aqui, tudo isso... vem do mundo real, Mulder? São... compras! Compras feitas em lojas... pode imaginar isso?"

"Scully... você me atordoou com essa análise toda, sabia? Vamos ver o que temos aqui, acho que você tem uma mala para fazer, não?"

E começou a abrir as sacolas, e a dispor as peças de roupas e calçados onde podia. Scully ficava cada vez mais abobada com aquelas roupas, eram peças elegantes, bonitas mesmo, mas que jamais imaginou que usaria.

"Hum... Afrodite se lembrou de tudo mesmo, hein..." - Mulder achou uma lingerie muito bonita, cor de pêssego, duas peças.

"Me dá isso aqui!" - Scully ficou roxa de vergonha - "Ah, por que os homens têm que agir feito moleques cada vez que põem as mãos em uma peça de lingerie???"

Mulder apenas riu, continuando a garimpar entre as sacolas. Constatou que Afrodite tinha mesmo um excelente faro para compras. Pegou uma camisa branca e a experimentou. Ficou perfeita, ombros, gola, punho e barra, tudo em seu devido lugar.

"E não é que ele acertou o meu tamanho?" - Mulder exclamou - "Mas que coisa..."

"Afrodite é muito observador. Acertou o meu tamanho em cheio também." - Scully respondeu.

"Hum... na verdade ele te comprou coisas bem mais, er... justas. Não é? Scully?" - Mulder não resistiu e comentou - "Porque você sempre usa roupas bem maiores e..."

"Mulder?" - Scully estreitou os olhos.

"Han?"

"Cala a boca."

Mulder levantou as mãos, em rendição, e os dois continuaram o trabalho de separar as novas roupas.

To be continued...