Incandescente escrita por Catiele Oliveira


Capítulo 9
8. V de vingança.




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Oito.

POV Felipa Sullivan.

Meu rosto está mais apresentável, a pele tem leves tons avermelhados e eu consigo comer melhor. Apesar de tudo ainda coçar ao extremo banho gelado tem resolvido. Meu coração nesse momento está acelerado, porque Christopher está sentado no sofá da minha sala e eu não posso usar maquiagem. Ele me verá vermelha como uma pimenta, mas não será tão ruim assim. Ele já me viu bem pior... Pior mesmo.

De alguma forma é meio inacreditável ele estar aqui, dois dias se passaram desde que por sua causa eu estava tendo a pior alergia da minha vida, já que o tempo resolveu brincar comigo e tem feito um calor desnecessário em Seattle. Mas ele veio e agora é a deixa para eu falar sobre Valentina Dior.

Meus passos estão vacilantes, mamãe inventou que teria que ir encontrar uma amiga sua na rua e nos deixou a sós, não escutou minhas suplicas. Ao pisar na sala posso vê-lo observar o nada. A televisão está ligada, mas não sai som. Christopher está usando um de seus ternos Armani tão caro quanto o relógio Rolex em seu pulso. Ele levanta seu olhar sobre mim e se põe de pé.

― Parece melhor.

― Ainda está terrível! ― Murmuro sem jeito ― Pode sentar. ― Aponto para o sofá e ele volta a se sentar, eu sento em outro de frente para ele. ― Como você está?

― Bem. ― Cordialmente educado e quieto. Estranho demais. ― E você, além da alergia?

― Vou muito bem, obrigada. Molly esteve aqui ontem à tarde. Eu te liguei. Você não podia falar? ― Christopher negou com um aceno.

― Estava muito ocupado. Desculpe. ― Assenti ― Sobre o que queria falar?

― Valentina Dior.

― O quê? ― Suprimiu um grito ― Não vai me dizer que também quer que eu arrume um meio de contato com Valentina Dior? O que deu em vocês mulheres?

― Não é isso! ― Ele pareceu tão irritado ― Ela que entrou em contato comigo! Se acalme. Eu acho bobagem isso; não preciso de um vestido dela para me sentir bonita. Mas ela quer fazer meu vestido de noiva.

― Então ela quer? ― Assenti ― Tudo bem então. Sem problemas! Infelizmente amor, não posso lhe acompanhar nisso; dá azar o noivo ver o vestido da noiva antes do tempo, esqueceu bobinha? ― Tremi. Ele estava usando seu sarcasmo novamente.

― Claro que não, bobinho. Valentina Dior quer uma foto minha e sua; vestidos de noivos para a New York Times. O que acha?

― Uau ― Fora tudo que disse durante um longo tempo. ― É isso que você quer? Depois de ter quase te matado eu não consigo negar nada a você nesse momento. Uma foto nossa hein? Na New York Times! Vai ser bacana, se é isso que minha noiva quer.

Fiquei quieta. Ele estava agindo estranho, culpa com certeza. Respirei fundo.

― Você quer beber algo?

― Sua doce secretária do lar já ofereceu ― Sorriu divertido.

― Certo... Eu aviso a você então sobre as fotos...

― Claro. Só isso?

― Só... E obrigada... Hm, pelas flores. ― Apontei para o vaso no canto da sala. A linda orquídea solitária estava decorando o local. Christopher ficou de pé sem desviar seus olhos dela.

― Eu enviei rosas azuis. Suas preferidas...

― Não... Minhas preferidas são orquídeas brancas... ― O interrompi. Christopher ficou em silêncio por um tempo. ― O entregador deve ter trocado tudo. Mas seu cartão chegou, de qualquer forma.

― Certo... Orquídea. Branca. ― Parecia imaginar ― Até logo, Felipa.

xXx

Meu. Deus. Eu estava mesmo na edição de agosto da New York Times. Eu estava junto com meu noivo – nada lindo – na edição de agosto. Com certeza eu estava matando dezenas de mulheres de inveja. Centenas. Eu não me cansava de admirar o sorriso frouxo que ele me olhava e o meu completamente emocionado. Nossas testas unidas e sua mão prendendo com a força a sempre minha cintura. Na página dez havia um pôster da mesma foto. Mas essa não era a minha preferida, na página nove contava sobre nosso romance, a carreira de Christopher, meu futuro promissor na medicina – uma mentira inventada por ele – e a nossa linda foto. Um beijo romântico e apaixonado. Na doze era toda sobre mim e Valentina Dior, de como ela estava amando fazer meu vestido e de como eu estava ansiosa por meu casamento – de certa forma, era verdade.

Marta apareceu na sala eufórica. Ela também folheava sua revista.

― Olha está! Vocês estão perfeitos.

― Sim, é a minha preferida. ― A do beijo...

― Você deveria ir agora até ele. Na empresa. E mostrar essa belezura! ― Péssima ideia.

― Ele vai se zangar.

― E que se dane! Em duas semanas vocês já estarão casados, meu amor. Então dê alguns motivos para ele pensar duas vezes se é isso mesmo que ele quer.

― Você acha que desistiria se eu aparecer lá de surpresa? ― Ela pareceu pensar.

― Não é assim. Você vai ligar da portaria e dizer que estar perto, se tem algum problema se você entrasse e conhecesse o lugar e que você quer mostrar algo. Aí você entra independente da resposta.

― Mesmo se for não? ― Marta deu de ombros.

― Mesmo se for não.

POV Christopher Molina.

Minha mesa estava amontoada de papeis pardos e fedorentos, um dos sócios de meu pai resolveu continuar seu último projeto, um asilo sustentável. E tudo começaria com uma propaganda intensa sobre sustentabilidade. Há em minha mesa papeis reaproveitados e um tipo de fita adesiva que tem cheiro de comida estragada. É realmente péssimo. Tudo que deixa o clima mais tranquilo e até divertido por um lado é a cara de idiota que Pablo me encara vez ou outra, ele tem em uma de suas mãos a nova edição da New York Times; e, Felipa e eu, estamos estampadas na capa.

― Você já imaginou o que Nina dirá ao ver?

A resposta é não. E nem quero, mas desde a última que aprontei com a pobre da minha noiva me senti no dever de ceder em alguma de suas vontades já que não facilitava sua vida.

― Ela vai ter um ataque de nervos daquele que me faz querer mata-la.

― Tipo aquele que ela fez quando Lana passou a noite no seu quarto no verão passado? ― Nós rimos. A irmã mais nova de Pablo não era fácil, também pudera. Alguns anos trancafiados em uma escola para meninas qualquer um enlouqueceria.

― Pior que aquele, meu caro.

― Até que vocês ficaram bonitinhos, olha essa! ― Exclamou Pablo. Ele apontou um pôster grande em minha direção. Era uma foto. Um beijo. Quase pude sentir os lábios dela nos meus novamente, eram precisos, doces e ao mesmo tempo ágeis e firmes. Ela era uma mistura perfeita de desafio e fragilidade. Ao menos tempo que queria destruir os Sullivan, sentia vontade de cuidar. Peculiar e estranho.

― Não é um sacrifício grande... Rá rá.

― Eu apenas não entendo você Molina. ― Bufou voltando atenção dessa vez para o iPhone ao seu lado. Revirei os olhos e eles pararam diretamente no meu celular sob a mesa. Uma ligação. O nome “Felipa” brilhava no visor. ― Molly acabou de postar uma foto no instagram. Com a Felipa.

― Elas estão ridicularmente amigas. ― Rimos outra vez, parecíamos idiotas ― Falando sobre sua esposa, quais são os planos para o aniversário dela?

― Hm... Ainda não sabemos. Nós queríamos sair, mas a última vez foi o bastante para entender que a minha mulher e boate não combina! ― Possessivo ele grunhiu, lembrei-me vagamente do olho roxo de Pablo há uns meses atrás e de como ele estava raivoso por um cara tocar em sua esposa. ― Um jantar seria bem mais formal. Adulto. Vou falar com Molly e te aviso.

Assenti que sim. Pablo voltou ao seu vício da internet, estava confortavelmente deitado no sofá de couro marrom, sem seus sapatos e com uma revista de fofoca e um celular na mão. Parecia até uma daquelas pessoas que não fazem nada da vida. Antes que pudesse invejá-lo mais o telefone do escritório tocou. Antes que eu pudesse atender uma mulher que parece um furacão atravessa a porta com uma pressa surpreendível. Nina está vermelha ao extremo. Em seu rosto há um óculos de sol escuro que ela logo trata de tirar exibindo seus olhos negros opacos.

― Que palhaçada é essa Molina?! ― Ela está gritando e jogando coisas em mim. Várias revistas pesadas atingem meu corpo. Sou golpeado várias vezes antes de conseguir me desviar. ― Eu comprei a banca inteira! Mas andei dois quarteirões e achei mais! Há milhares delas espalhadas por Seattle! Exijo uma explicação Christopher, você já torrou toda a minha paciência!

― Se acalma, Nina! ― Pablo disse. Ele se levantou defensivo e me encarou. ― Eu... ― Sua cara dizia explicitamente “devo sair?” assenti que sim.

― Me acalmar? Não mesmo! Não mesmo! Você sabe o motivo desse noivado, Shepard. Você mais do que eu entende essa história doentia do seu amigo aqui.

― A vida não é um mar de rosas, Nina! ― Gritei no mesmo tom que ela. Pablo a encarava e procurava palavras.

― Mas devia ser! Você tem dinheiro. Tem tudo. Menos paz, por quê? ― O silêncio predominou por alguns instantes ― Vingar-se não vai trazer sua mãe de volta. Tão pouco fazê-la ser amada por seu pai, ele já morreu! Os dois. Você os perdeu, quer me perder também? Você joga tudo que tem fora! Eu estou cheia. No fim você também vai perder a sonsa da sua “noivinha” e vai ficar sozinho! Porque eu, Molina, eu estou fora! Chega.

― Fica calma! ― Gritei também procurando palavras ― Água com açúcar, Pablo...

― NÃO! ― Nina andou até minha mesa. Meu celular ainda vibrava insistentemente com as ligações repetidas de Felipa ― Você me humilhou. Sabia que Valentina Dior era importante para mim! E você me humilhou!

Nina encarou o celular e respirou fundo. A essa altura Pablo já estava fora da sala. Eu abri a capa do aparelho e retirei a bateria o guardando na primeira gaveta da mesa. Contornei-a e segurei fortemente os braços de Nina. Ela estava eufórica. Ruborizada e soava frio.

― A mãe dela estragou a vida da minha mãe. ― Disse baixinho.

― Isso já faz muito tempo...

― Não! Meu pai nunca a superou. Eu a odeio. Odeio toda essa família. ― A cortei. Nina respirou fundo.

― Ninguém teve culpa de nada... Essa sua obsessão é loucura.

― Meu pai já estava noivo da minha mãe quando se envolveu com Martha Sullivan! Em nome de Buda! Ele deixou minha mãe por aquela mulher...

― Mas ele voltou com sua mãe! ― Rebateu rapidamente.

― Porque ela o deixou. Por Gregório ― a soltei, Nina respirou fundo. Contornei seu corpo e me distanciei um pouco ―, ele não era ninguém. Meu pai tinha um sobrenome e uma carreira promissora. Mas ela preferiu o zé ninguém do Sullivan. Até que eles foram bem sucedidos, mas... Toda maré de sorte acaba um dia, querida. E hoje tudo que eles têm é meu.

― Você está falando dela... ― Havia mais que asco nas palavras de Nina.

― É! Isso; é ela! ― Voltei para sua direção, Nina estava de costas para mim. Abracei-a com rapidez, ela tentou se desvencilhar, mas sem sucesso ― Shhhh, se acalme amor... Será breve. Caso-me em duas semanas, você sabe. Até lá nós dois vamos juntos destruir os Sullivan. Você prometeu que me ajudaria. Eu preciso de você, Nina. Eu preciso da minha mulher! ― Senti sua força ceder. Nina relaxou nos meus braços e respirou tranquila. Sua cabeça descansou no meu ombro e eu sorri maliciosamente ― Eu amo apenas você, querida.


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Notas finais do capítulo

O dia do casamento só se aproxima... rs



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