Incandescente escrita por Catiele Oliveira


Capítulo 15
14. Depois de tanto caminhar, em casa.


Notas iniciais do capítulo

Memórias e lembranças de Felipa - de quando sua vida era normal - estarão presentes nesse capítulo!



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Depois de tanto caminhar, em casa.

Tudo estava minuciosamente em seu lugar. Organizado, limpo e tão meu... De repente eu já não me sentia mais a vontade em estar no próprio quarto. No quarto em que eu dormi a vida inteira. Era familiar, meu, mas fazia parte de um passado tão recente... Eu morria de saudade, mas me entenda, sabe quando você percebe que perdeu seu lugar no mundo? Tão clichê. Mas achei que quando eu chegasse em casa me sentiria eu novamente. Pelo visto não. Eu jamais seria eu novamente.

Encarei sem entender o mural de fotos pregado na parede dos fundos do quarto. Algumas fotos desbotavam de tão velhas, outras foram adicionadas meses atrás. Como uma de Frankie comendo um donut e toda suja de calda de chocolate. Ou nós sorrindo após nossa formatura da escola. Em como éramos felizes e eu não sabia! Não sabia mesmo. O preço que pagamos por certas coisas são tão caras...

Meu coração sacolejou e cabeça doeu. Eu não podia dormir e então podia remoer toda a porcaria que era ter uma vida fracassada. E saber que nesse momento o meu marido preferiu estar com outra mulher e não eu. Por que não eu? Eu nunca iria obter respostas, eu sei... Mas não consigo suportar a ideia de não ser eu.

Uma batida baixa na porta me distraiu. Martha abriu a porta e acendeu a luz do quarto, meus olhos doeram e automaticamente a cabeça também. Meus olhos estavam pesados e cansados.

― Você precisa de um banho. Eu fiz café e tem energético. Como foi que isso aconteceu?

― Um carro bateu na nossa traseira. Não foi nada demais, mãe.

― Você teve uma concussão, foi algo demais. E Christopher? ― Ela respirou calma.

― Ele vai ficar bem. Eu não podia ficar com ele e não queria ficar andando pela casa sozinha ― parei de falar por um momento, Martha ficou esperando a continuação ― banho?

― Sim. Quando acabar me encontre na sala.

Deixei algumas lágrimas descerem quando sai do banho. Meu roupão felpudo aqueceu meu corpo e eu enrolei meu cabelo em uma toalha. Voltei correndo para o quarto, na minha cama havia meu antigo pijama cor de rosa e calcinha limpa. Fui interrompida de vestir com o barulho do telefone tocando.

― Molly... ― Suspirei calmamente.

― Você está bem? Chris avisou para o Pablo! Deus do céu Felipa! O que aconteceu? ― Eu ri. Molly estava nervosa;

Caminhei até a porta e verifiquei, não havia sinais de Martha.

― Ele queria nos matar. Só pode ter sido isso...

― Mas por quê?! Christopher só pode ter enlouquecido! Isso está ficando perigoso amiga!

― Ele achou que eu estava paquerando Diego Santibñes. Faz algum sentido para você? ― Ficamos em silêncio. Molly respirou fundo.

Voltei para perto da cama e me sequei, equilibrava o celular entre o ouvido e o pescoço enquanto tentava desajeitadamente me vestir.

― Diego perdeu a esposa cerca de cinco anos atrás. Desde então ele é só. Ele elogia você excessivamente e Christopher morre de ciúmes, mas Diego é tão respeitador! Ele jamais se aproximaria de você com intenções maldosas... Entende? ― Agora eu estava entendendo.

― Sinto muito... Por ele. Parece ser um cara decente ao menos.

― Ele é. E lindo, não? ― Nós rimos. Deixei o telefone no autofalante e coloquei a blusa de mangas cumpridas.

― Acabamos com sua festa? Me perdoe, Molly!

― Não diga bobeiras! Amanhã eu vou visitar você! Me desculpe por ser uma amiga tão ruim, eu deveria ter impedido Christopher de te arrastar daquela forma. Brutal. Mas Pablo não deixou. Ele está se sentindo horrível agora.

― Não é culpa de ninguém, ok?

― Você está com uma voz pior de quem acabou de sofrer um acidente. Alguma coisa a mais aconteceu? ― Fiquei quieta e Molly respirou fundo do outro lado da linha.

― Felipa? ― Martha me chamou.

― Você está na sua mãe?

― Estou... Preciso ir. Amanhã eu te conto detalhadamente, tudo bem? Obrigada pela preocupação, mas vá dormir... Boa madrugada. Ou que resta dela. ― Nós rimos, dessa vez tensa e desligamos ― Era Molly. Ficou sabendo do acidente.

― Ah sim. Seu pai acordou com a movimentação. Está todo nervoso na sala, vamos?

Nós duas caminhamos distantes até a sala de estar. Greg fumava na janela da sala e um vento frio misturado com cheiro de chuva e areia molhada inundava o local. Ele deixou o cigarro no cinzeiro assim que me viu e andou rapidamente na minha direção. E eu não esperava seu abraço, quando o fiz me surpreendeu.

― Aquele idiota do seu marido ― Murmurou baixo no meu ouvido.

― Eu estou bem.

― Bem e não pode dormir? Isso não é estar bem. E se ele ainda está no hospital à coisa foi grave. ― Olhei para Martha que deu de ombros. Ela não precisava contar detalhadamente.

― Vocês podem ir para a cama, ok? Eu vou ficar bem, pai!

Ele revirou os olhos e bufou. E isso queria dizer não. Martha ligou a tv e sentou-se no sofá, Greg voltou para a janela. Na mesa de centro estava meu laptop antigo, garrafa térmica com café e três xicaras. Eles ficariam comigo o tempo que eu precisasse. Eu sabia disso. E isso me lembrou das diversas crises alergias ou algum ataque de asma durante as madrugas nas quais eu morria de medo de dormir e papai segurava minha mão, era meu herói...

xXx

Minha casa. A minha casa agora. Estava vazia, Martha olhou a sala de estar e eu sabia o que ela estava pensando, algumas vezes me perguntou no que mudaria na antiga decoração da casa de Christopher e eu nunca sabia o que responder, na verdade porque nunca quis mudar. Sempre achei perfeitamente adequada no jeito que está. Cada pequena móvel em seu lugar. Desde a cor das paredes ao piso de cada ambiente. Tudo perfeitamente alinhado. E da forma mais esquisita tudo combinava.

― Você chegou. Como está? ― Alva parecia bastante preocupada. Até me abraçou o que foi uma grande surpresa. Após cumprimentou minha mãe com um bom dia frio.

― Morta de sono, mas não pode dormir até às quatro da manhã. ― Mamãe respondeu por mim.

― Que terrível! Já tomaram café da manhã?

― Já sim Alva, obrigada. E Christopher? ― Atropelei as palavras, ela respirou fundo.

― Acordado também. Mas bem, não se preocupe. Pense em você agora, tá bom? Só em você. ― Assenti. Bem. E ela não mencionou Nina.

POV CHRISTOPHER.

Nina atravessou a porta com rapidez e me entregou um copo térmico.

― Café expresso. Amargo e bem forte. ― Aceitei. Ela sentou-se na poltrona emburrada, ainda estávamos sem nos falar.

Eu não conseguia encarar a mim mesmo. Estava tentando nos matar... Covarde. Eu sou um covarde.

― Você ligou para Alva? ― Perguntei em voz baixa.

― Sim. Ela virá em duas horas...

― E? ― Esperei que ela continuasse.

― E a coisa está bem. Parece que ficou na casa dos pais essa noite e a mãe vai cuidar dela durante o dia. Alguma coisa assim. Está mais calmo agora?

Ela estava puta da vida comigo, mas o que eu podia fazer? Era o mínimo. Eu tinha que saber como Felipa estava, passei o restante da madrugada tentando não dormir e pensando se ela por acaso havia fechado os olhos por alguns segundos. Poderia ser fatal, não? A noite foi uma merda. A manhã foi uma merda e o mau humor de Nina só piorava isso.

Dois dias depois.

Alva apertou-me em seus braços, o silêncio já dizia tudo. Ela estava indo embora e a culpa, adivinhe? Inteiramente minha. Parece que ela não aguentava ver a minha ruína de perto. Tão pouco a da minha mulher. Falando nela, Felipa estava debruçada na parede atrás de nós, ela analisava toda a cena em silêncio também. Após Alva me soltar foi sua vez.

― Não fiquem com essas caras, Alice vai cuidar muito bem de vocês dois. ― Nós rimos baixo.

― Nada como você. Vou sentir sua falta ― Felipa disse com a voz embargada. Alva me encarou.

― Eu sentirei falta de vocês dois. Podem tentar serem os mais apaixonados e casados possíveis? Algo me diz que em menos de um ano estarão mortos. ― Ela soltou uma risada animada e não disse em momento algum que era brincadeira.

― Apenas dê notícia. Eu vou te visitar em breve. Prometo. ― Alva assentiu.

― Fiquem bem e não me levem até a porta. Sentem-se aí e procurem conversar. Até logo, meus amores.

E ela só foi. Minha garganta apertou por alguns motivos que conheço bem, o medo... A culpa. A dor da perca. Mesmo sabendo que não estava a perdendo de fato. De soslaio observei Felipa secar suas lágrimas e virar as costas subindo as escadas com rapidez. Nós não estávamos nos falando. Não depois da calorosa discussão que tivemos.

... ― Você simplesmente podia ter chamado ela depois que eu fosse embora! Mas você não fez! Eu odeio aquela mulher! ― Felipa gritou assim que passei pela porta do quarto. Meu corpo estava moído e o sono me corroía por dentro. Tinha acabado de deixar o hospital, completamente debilitado, mas a mulher não podia ser compreensiva.

― Eu não fiz para te atingir, se é o que você está pensando. ― Disse baixo.

― Ah, você fez. É o que você sempre faz Molina! Eu sou a sua mulher! Para de tentar me afastar e faça isso dar certo! ― Paralisei, deixei meu corpo pesar contra a porta do quarto.

― Fazer dar certo? ― Ela assentiu.

Felipa andou até a mim. Estava perigosamente próxima, desci meus olhos por seu corpo. Linda... Pensei. Usava uma camisola curta de cetim e renda. Mais uma da sua coleção interminável. Aquela que deixa seus seios apertados e deliciosos. Fechei os olhos com força.

― Eu... ― Iniciou e tocou meu peito com a sua mão esquerda. Lá estava sua aliança, brilhando e me mostrando o quanto ela era minha ― Quero tentar. Você não quer? Eu quero que dê certo. ― Calada! Gritei mentalmente.

― Isso nunca vai dar certo! ― Grunhi exasperado e tirei sua mão de mim. Empurrei-a com delicadeza e andei para longe ― Me deixe em paz. Preciso dormir!

― Por que você diz que não vai dar certo? Ela é tão melhor que eu assim? ― O nó em minha garganta enforcou-me. Como? Eu nunca tinha comparado as duas, talvez algumas vezes... Mas? Não. Não quero pensar nisso. Tenho medo da resposta.

― Você estava flertando com o Santibñes! Depois disso você diz que quer fazer dar certo? Me poupe! ― A ataquei totalmente com a primeira mentira que veio na mente ― Eu te disse que você ficaria trancada nesse quarto. E você vai. Prepare-se para o inferno que está por vir.

Então eu lhe dei as costas trancando-me – mais uma vez – no banheiro.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pelos comentários! Me motivaaam, e mesmo as que não comentam aqui, mas no orkut e no face! MUITO ORBIGADAAAA! Lindas



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