Herança escrita por Janus


Capítulo 71
Capítulo 71




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     Apesar de prestar atenção em seus sentidos e observar bem a área que estava explorando, sua mente estava ainda divagando sobre os eventos do dia anterior.
     Nunca poderia imaginar que Prismey seria um dos seus inimigos agora. Era verdade que quando a conheceu ela não era um amor de pessoa e também era muito raivosa, mas não era do tipo de destruir tudo no seu caminho para obter algo. Ela poderia ter matado as crianças, mas não o fez. Apenas queria conseguir escapar com Urano. E o motivo para isso era também fácil de imaginar: Ela não queria ser seguida, e provavelmente só devia ter um local para levá-la. Um local não muito bem defendido, mas fora de suspeita.
     Ele parou de correr e saltou para o alto para observar a região onde estava. Usando seu poder sobre a gravidade ele se manteve flutuando há cerca de cinqüenta metros de altura. Era uma área rural ao sul da cidade, onde se podia ver grandes espaços abertos com plantações e algumas casas. Seu interesse por aquele local era devido a algumas daquelas fazendas terem sido vendidas para uma grande cooperativa, de forma que as casas dos antigos donos ficaram abandonadas. Um perfeito esconderijo para quem queria ficar perto da cidade mas sem chamar a atenção.
     Claro que deveria ser apenas um tipo de posto avançado. Eles tinham vindo usando o portal da Lua com um exército. Precisariam de uma base bem grande e com um certo numero de equipamentos. Pelo menos eram o que tinham naquele mundo onde Hotaru ficou presa. Ela tinha dito que eles tinham ali varias bases enormes com milhões daquelas criaturas em estado inerte, prontas para serem despertadas. Ela pessoalmente nunca viu a totalidade de uma ou como as criaturas eram mantidas, mas conseguiu explorar um pouco de uma delas enquanto procurava por uma nave para retornar. E o que ela viu ali dentro já lhes dava a certeza de que não poderiam ter construído uma nas proximidades sem chamar a atenção.
     Comandou seu visor para efetuar uma análise de infravermelho da região. Como não podia detectá-los, teria que utilizar meios mais convencionais para isso. Em uma das casas abandonadas detectou algo, mas pelo tamanho e forma devia ser um animal. Contanto que não fosse um gato, não iria se preocupar.
     Após alguns segundos, o visor identificou a criatura como um coiote. O que um coiote fazia na região era algo que ele gostaria de descobrir, mas não tinha tempo agora. Começou a flutuar lentamente para o chão quando algo parecia ter sido detectado pelo visor no meio da plantação. Era uma forma humanóide ao menos, mas quando o fixou no local não localizou nada. Talvez fosse apenas um trabalhador ou até o dono das terras verificando a colheita. Não teria dado importância caso as circunstâncias fossem outras e a imagem não tivesse subitamente desaparecido.
     "- Sohar?"
     - Estou ouvindo, Amy – respondeu ele ao chamado – encontrou alguma coisa?
     - Sim. Achei pelo menos mais três daquelas câmeras cristalo holográfica nas ruínas. Estavam mesmo observando as crianças e provavelmente Setsuna quando ela testou o aparelho de Orion".
     Ficou pensativo enquanto alterava o espectro de busca de seu visor. Tinha sido uma aposta, e acabou dando certo. Os generais estavam mesmo observando tudo o que faziam. Quando perceberam aquele dispositivo e o que podia fazer, viram uma oportunidade e decidiram aproveitá-la. A questão era: qual tipo de oportunidade? O dispositivo ou Urano? Talvez as duas coisas. Considerando o tipo e os itens de tecnologia que estavam utilizando talvez não possuíssem meios de desenvolver muitas coisas. As câmeras de cristal eles poderiam ter em uma certa quantidade, mas a fabricação destas não seria fácil sem os vários equipamentos industriais para tanto. No planeta não havia nenhuma indústria que produzisse material adequado para criar aquilo. Ou seja, teriam que criar uma indústria para isso, e para muitas outras coisas também.
     Portanto, podiam estar limitados em recursos, mas provavelmente bem servidos em capacidade de ataque com aquelas criaturas. Pelo menos umas trinta mil foram usadas contra a cidade da véspera, e isso basicamente para distraí-los enquanto capturavam sua presa. Se podiam dispor desta quantidade de criaturas apenas para criar uma distração era porque deviam ter muito mais destas.
     Mas isso também demonstrou para eles a capacidade de defesa que possuíam. Estavam coletando informações constantemente.
     Ficando desconfiado, modificou o espectro do sensor para uma gama mais alta. Ele tinha visto uma figura humana por ali, não podia simplesmente ter desaparecido e com certeza não foi defeito do visor.
     "- Sohar? Está ai ainda?"
     - Sim Amy. Apenas pensando um pouco. Não me lembro do alcance destas câmeras, mas sei que não deve passar de alguns quilômetros.
     "- Orion acredita que no máximo deve chegar a entre quinze e vinte quilômetros. O que deixaria a base deles mais próxima do que eu gostaria."
     Ele sentiu um movimento por ali nas proximidades, um fraco farfalhar ao longo da plantação. Tinha algo ali perto dele. Algo que não podia detectar com o visor ou com os seus sentidos. Não podia ser Prismey porque ele saberia se ela utilizasse seu poder de gravidade. Teria de ser alguém de passo leve e furtivo. E considerando as informações que tinha sobre os generais, podia ser o malviano ou o klartiano. Mas porque estaria ali? Estaria ele próximo de onde Haruka estava?
     Pensando nisso, comandou o visor para tentar detectar o dispositivo, mas não conseguiu nada.
     - Nesse caso é onde devemos concentrar nossas buscas – disse ele para Amy enquanto que com muito mais cautela se movia por entre a plantação. Esta era de trigo e já estava bem alta, próxima da colheita. Perfeito para permitir que alguém permanecesse escondido – e considerando os locais onde todas estas câmeras foram encontradas, você poderia determinar uma área propícia para isso.
     "- Já estou trabalhando nisso. Darei a resposta em alguns minutos."
     Eles não deviam ter uma base móvel. Não iriam se arriscar a serem vistos. Os portais usados para levar as criaturas para qualquer lugar os auxiliava em permanecerem fora da atenção. Se estavam mesmo utilizando um portal nemesiano, podiam abrir um em qualquer local do planeta, desde que houvesse um satélite para focar o feixe. Do contrário iriam precisar de alguma outra coisa para isso.
     Isso corroborava com o fato de Prismey estar entre eles. A tecnologia da cidade Ametista era basicamente toda de Nêmeses, com algumas coisas de outras civilizações. Aquelas câmeras de cristal eram padrão em toda parte na época anterior ao Milênio de Prata, mas os portais não. De fato... fora do planeta Nêmeses apenas a cidade Ametista utilizava estes. Mas ela tinha desaparecido muito antes da cidade ter caído. E não soube sobre ela ou outra pessoa ter roubado equipamentos deles.
     Mas se Prismey fizera isso, fazia sentido esta informação ser mantida em segredo. Um momento... esta sensação...
     Ele ficou subitamente estático e arregalou levemente os olhos.
     - Amy – disse em tom de urgência – esqueça isso agora. Estou sentindo Haruka. Ela esta do lado leste da cidade...
     "- Pode ser mais preciso? – clamou ela pelo visor – Espere, vou por Venus em conferência."
     Rangeu os dentes. Estava próxima de Anne, Ao alcance dos sentidos dela. Apostava que não era coincidência, fazia sentido ser uma armadilha para Anne ir direto até eles.
     "- Sohar – era Venus agora na comunicação – qual parte do lado leste?"
     - Ela esta perto de Anne – ele quase murmurou – Michiru esta praticamente do lado da filha, peça para ela segura-la.
     Um farfalhar de folhas próximas o colocou em alerta. Meio segundo depois ele girou para o lado escapando de quatro garras afiadas e bem cuidadas para serem capazes de rasgar e abrir grandes buracos na carne.
     "- Quão perto de Anne ela está? Esqueça, vá para lá e..."
     - Djogor está aqui – cortou ele de forma ríspida e lançando duas bolas de plasma contra o klartiano que saltou para escapar de uma e contorceu o corpo para esquivar-se da outra – Usem Anne para achar Haruka, mas mandem Lita e Joynah com ela. Vão precisar de força bruta se encontrarem Prismey – moveu o corpo de forma incrivelmente rápida para trás para escapar do contra ataque do oponente – vou tentar cuidar desde general aqui.
     "- Sohar... não consegui... – ele ouviu o som de alarmes pela comunicação, ao mesmo tempo em que a voz de Vênus emudecia – os robôs de Orion e as câmeras de vigilância... aquelas criaturas... – ela as vezes balbuciava e entrecortava as falas – estamos sob ataque... estão aparecendo na cidade inteira de novo..."
     Ele avançou e girou o corpo tentando acertá-lo, forçando-se a ir para trás quando este se desviou e tentou atingi-lo novamente com as garras – ele lembrava-se de que havia uma toxina naquelas garras, por isso estava sendo muito cuidadoso naquele combate – enquanto pensava no que aquilo significava. Assim que sentiu a presença de Haruka tinha sido atacado e agora um ataque estava surgindo novamente na cidade? Parecia com outra manobra para distrair, ainda mais com Haruka surgindo ao alcance dos sentidos de Anne. Se tinham observado bem como eles agiam, então sabiam que só se pusessem Anne em uma cela a impediriam de ir atrás de mãe.
     No entanto... já podiam ter feito isso. Já poderiam tê-la capturado. Mas como poderiam localizar Anne se o fizessem, talvez só por isso nenhuma criança foi considerada apta para ser seqüestrada. Isso esclarecia algumas coisas, mas criava outras dúvidas. A primeira era: Como esse klartiano o achou? O mais provável era que o estivesse seguindo o tempo todo. E o motivo para isso seria deixá-lo ocupado, para não ir atrás de Haruka, ou voltar para a cidade e auxiliar na defesa.
     Era isso!
     Esse ataque era outra distração. Eles queriam mais alguma coisa desta vez, e estavam dispostos a deixar Haruka livre para isso.
     - Venus – chamou ele ao notar que ela estava muito quieta para quem estava sendo bombardeada com alarmes para todos os lados – ouviu o que eu disse sobre usar Anne para achar Haruka?
     Ele apenas ouviu estática em resposta, como daquela vez na escola. Este ataque era um pouco mais serio. Apesar do risco, apurou os seus sentidos e percebeu Anne se movendo para onde a mãe estava, e Michiru não estava indo com ela. Sua esposa estava indo para a cidade ao passo que percebia as outras crianças começando a se mover rapidamente para vários pontos ao mesmo tempo. Foi então que percebeu algo.
     Não estava localizando Rita!
     Ele moveu a cabeça para trás para escapar daquelas garras e agarrou o pulso dele com firmeza. Sorriu levemente quando o viu usar a outra mão para atingi-lo e a poucos instantes disto ele o libertou e observou como ele tinha atingido a si mesmo. Se não fosse imune a própria toxina, estava com problemas agora.
     Aproveitando-se que seu oponente gritava de dor e surpresa, atingiu-o com força no peito, fazendo-o voar para trás causando um rasgo na plantação homogênea e lhe dando chance de concentrar-se novamente. Não estava sentindo Rita em parte alguma, o que devia ser impossível a menos que estivesse fora de alcance ou morta.
     E morta com certeza não estava. Demora para uma semente estelar dissipar-se quando o seu possuidor morre. Não, ela estava fora de alcance. De alguma forma ela não estava na cidade. Mas não tinha tempo de pensar em como isso teria ocorrido. O klartiano estava voltando para continuar o ataque.
     - Pensei que seu poder era igual ao do Prismey – começou ele naquela voz gutural – ela já teria me puxado para perto de seus punhos e me massacrado.
     Se ele fizesse isso seria um idiota. Era obvio que ele queria se aproximar dele para usar as garras. Lançou mais bolas de plasma apenas para vê-lo escapar destas com certa maestria.
     - Venus! – chamou ele novamente, mas o visor apenas captava estática. Pois bem... hora de usar outra forma de comunicação.
     [[Sume - chamou ele mentalmente – estou sem comunicação aqui]]
     [[Isso explica Vênus ter dito que perdeu o contato – ecoou a voz de Sume na sua cabeça – há um novo ataque pela cidade, e este parece ser maior que o de ontem]]
     [[Eu já sei, Sume. Avise Vênus ou peça para Ray avisá-la para usarem Anne para achar Haruka, mas levem Lita e Joynah com ela. Alias, já sinto ela indo na direção da mãe. E... parece que Suzette esta indo na mesma direção]]
     [[E ela está. Os fantasmas negros apareceram diante da casa de Michiru. Ela já os estava combatendo quando Anne sentiu a mãe. Ela chegou a avisar que estava indo na direção dela, mas também perdemos o contato. Por isso eu pedi para Suzie ir atrás dela. Ela estava mais próxima]]
     [[Também perderam a comunicação por lá? – ele lançou uma onda de gravidade contra o klartiano que o pegou de surpresa, mas não se arriscou a tentar atingi-lo]]
     [[Na verdade estamos perdendo a comunicação em toda a parte. Só o lado norte e oeste da cidade ainda estão íntegros. Mas há um blackout contínuo se espalhando, cortando toda comunicação conhecida. Orion está tentando descobrir a causa. Mas em poucos minutos esse corte na comunicação vai chegar ao castelo.]]
     [[Sume, você e Ray vão ter que manter a comunicação entre nós. E coloque as crianças também. Precisamos saber o que cada um está fazendo]]
     [[A propósito. Venus disse que você estava lutando com Djogor?]]
     [[Eu ainda estou – ele rangia os dentes e ponderava o porquê justo ele o estar atacando. Seria fácil sair correndo dali e ir ajudar os outros. E imaginava que era o que queriam – e sinto que isso foi planejado. Vou mantê-lo por aqui.]]
     [[Porque não sai daí correndo? Duvido que ele possa alcançá-lo]]
     [[Acho que é o que ele espera. Se Prismey estiver por perto pode estar apenas esperando eu...]]
     Ele parou de usar o elo mental pois o klartiano agora agia como uma fera selvagem, utilizando uma velocidade e agilidade bem parecidas com a de Artemis. Precisava de toda a sua concentração ou ele iria realmente ser atingido.
     O problema de se lutar contra um oponente assim era a dificuldade de manter a defesa. Ele não podia bloquear os golpes, tinha que esquivar sempre, ou aquelas garras iriam acertá-lo. Manter um escudo de gravidade reversa ao redor do corpo iria fazê-lo perder o equilíbrio, e manter uma gravidade positiva – como ele fazia para amplificar os golpes – só faria aquelas garras chegarem mais perto. A pessoa mais indicada para enfrentá-lo era Afonso, que podia manter um escudo telecinético e assim evitar ser atingido.
     Alem disso, não se arriscava a utilizar o seu recurso de alta velocidade. A melhor escolha dos generais para enfrentá-lo seria Prismey e não essa fera inumana. Ela sabia disto tão bem quanto ele. Ou era uma armadilha ou uma coincidência ele estar ali.
     O problema era não saber. Se o arremessasse longe usando a gravidade Prismey o enviaria de volta, pegando-o de surpresa. Voltou a comandar seu visor para fazer uma varredura ao redor. Ela não poderia se manter oculta de todas as formas de detecção possíveis. Precisava ter a certeza de que ela não estava por perto para agir.
     Pensou vagamente na conversa com Sume e no quanto de informação não tinham trocado. Podia senti-lo tentar retomar o elo, mas ele não podia permitir isso agora. Ainda estava em duvida em como Suzette iria conseguir alcançar Anne sem comunicação, ou como alguém iria falar com ela nesta mesma situação. Ninguém podia criar um elo mental com ela, e na véspera descobriram que ela era imune a qualquer manifestação psíquica. Segundo Sume, ela devia ter um escudo anti psíquico natural ao redor do corpo. Provavelmente um poder que tinha herdado do pai. Mas ainda precisavam efetuar testes para saber se era isso mesmo ou se ela tinha algo que bloqueasse esse tipo de poder. Bloquear e anular são coisas distintas. Alem disso, nem pôde dizer que Rita tinha desaparecido.
     Seu visor trabalhava freneticamente enquanto ele utilizava seus outros sentidos na luta. Sua visão estava um pouco prejudicada com as informações que este fornecia. E lutar sem quase utilizar seu poder era algo que não fazia havia já muitas décadas.
     Quando ele tentou atingi-lo com ambas as garras ele sorriu. Deixou que elas chegassem perto quando utilizou seu poder para detê-lo a meio caminho e em pleno ar. Conforme ele caia ao chão saltou por cima dele e atingiu sua coluna com uma força incrível, fazendo-o ficar enterrado alguns palmos no solo, lhe dando preciosos segundos.
     [[Sume, apenas ouça, porque não tenho tempo. Rita desapareceu e não sei onde ela está. Você e Ray vão ter de ser nossa fonte de comunicações até Orion resolver a causa da interferência. E apesar de saber que vai ser difícil para você ou Ray, vocês precisam colocar as crianças no elo mental]]
     Fechou sua mente novamente e partiu para cima do klartiano. Tomara que Orion resolva logo essa queda nas comunicações, porque por enquanto tudo parecia estar correndo conforme os generais queriam.

 

-x-

 

     Um segundo ataque e ainda maior que o primeiro era a maior das surpresas possíveis. E o pior era que esse parecia ser melhor coordenado que o último. A primeira leva das criaturas negras apareceu perto de onde estavam as sailors - na verdade abriu-se um portal praticamente na frente da casa de cada uma. E logo em seguida começaram a perder as comunicações. Como poderiam orientar e coordenar a guarda robô? Não tinham o suficiente para espalhá-los por toda a cidade.
     Além disso tudo começou logo após Sohar sentir Urano. E perto da casa de Anne! Quando contatou Michiru já era tarde. Ela já estava destruindo as criaturas que surgiram na rua onde morava quando notou que Anne não estava junto com ela. E não conseguiu se comunicar com a mesma. Primeiro achou que ela estava recusando a comunicação. Mas não...
     Seu visor de sailor não podia ser contatado, nem pelo visor da Sailor Mercúrio. Ela já estava no meio da interferência. Perdera contato com Michiru poucos segundos depois que ela disse que não sabia onde Anne estava. Ela devia ter sentido a mãe e seguido na sua direção. Quanto tentou – caso o tenha feito – contatar alguém já estava na área onde as comunicações caíram.
     Logo em seguida sua filha a chamou, informando que tinham localizado o youma. Ordenou que ela o levasse imediatamente ao castelo, não importando se ele queria ou não. Sabia que ela devia ter atacado as criaturas que disse estarem surgindo onde estava, mas também sabia que ela podia dar conta do recado. De fato, assim que as unidades da guarda robô ali chegaram, não havia mais nada. Sua filha e Maya devem ter destruído as criaturas e agora deviam estar retornando ao castelo. Como não conseguiu mais contato imaginou que ela já estava na área onde estavam perdendo as comunicações.
     Sailor Vênus observava as informações de seu console e tentava coordenar as sailors e guardiões que ainda podia contatar. Júpiter e a filha estavam retornando a cidade. Ray, ou melhor, Sailor Marte e o seu marido já estavam cuidando das coisas ao redor do templo. Amy entrara em contato – ela estava mais distante que todos, pois estava com Sume efetuando buscas nas ruínas que as crianças visitaram algumas semanas antes – para dizer que por ali estava tudo sob controle e que estavam retornando para a cidade. Tinham pedido para a filha tentar interceptar Anne, ou melhor, a sailor Titã.
     Porque eles teriam pedido isto para a filha ela não teve tempo de perguntar. Estavam chovendo alertas e solicitação de auxilio por todo lado. Mas essa cacofonia de emergência estava diminuindo conforme a perda de comunicação aumentava. Imaginava quando a rainha iria perceber o que estava ocorrendo.
     Estava tendo de usar sua memória para lembrar onde estava cada um naquele dia. Sabia que a princesa estava no castelo, e as asteroid procuravam pistas no local onde Haruka tinha sido capturada. Era melhor chamá-las antes que o corte de comunicações chegasse ao castelo...
     [[Mina...]]
     [[Ray! Que susto. Já faz tempo que não usa o elo mental. Tente contatar Anne, rápido]]
     [[Não posso. Ela nunca fez parte do meu elo e eu teria de procurar por cada mente da cidade até localizá-la. Tem algum perto dela? Alguma das inner senshi?]]
     [[Só a Netuno estava próxima, isso há cinco minutos atrás. É a única referencia que tenho. E a Suzette, quer dizer, Ariel. Amy pediu para ela alcançar Anne. Mas não sei como ela vai fazer isso]]
     [[Não posso nem mesmo sentir a mente dela, lembra? Bom, Sohar contatou Sume e nos orientou para montarmos um elo com todos. Me diga quem está próximo das inners. Vou tentar incluí-las no elo]]
     Ela apertou os lábios. Se as outers tivessem aceitado entrarem no elo de sailor Marte, agora teria sido fácil localizar Haruka. Mas aquelas teimosas... melhor deixar para lá.
     [[Joynah está com a mãe. Allete e Marina estavam no megaparque, Rita perto da catedral, mas agora deve estar voltando para o castelo. As asteroid estavam onde Haruka foi capturada, a princesa está aqui no castelo. Talvez com a rainha, se é que alguma das lunares já não se comunicou com ela. Seus filhos... acho que você já se conectou com eles...]]
     [[Mina... Sume me disse que Sohar não conseguia sentir Rita. Ela desapareceu]]
     Um tremor começou a percorrer a sua espinha, terminando em seu coração. A informação a tinha pego totalmente de surpresa.
     - Como assim desapareceu? – falou para a sala vazia cheia de alertas pipocando nos monitores. Logo depois percebeu o erro que tinha cometido e fez a pergunta mentalmente para Ray.
     [[Ele disse que não podia senti-la. Mas você com certeza sabe se algo aconteceu]]
     Demorou alguns instantes para entender sobre o que ela estava falando. Era verdade. Rita estava viva. Sabia disto. Mas não tinha como saber onde. E com as comunicações cada vez mais enfraquecidas...
     Espere. As comunicações estavam sendo cortadas na cidade. Se a Rita estava fora de alcance, não estava por ali. E como a central ainda funcionava e podia se comunicar com ela até na Lua agora...
     - Rita... sailor Miranda – chamou após comandar o contato com o visor dela – responda por favor.
     Aguardou. Sentia sua testa começando a transpirar de ansiedade. Porque ela não respondia? Teria sido capturada também? E Maya estaria com ela? Mal percebendo que apenas três segundos tinham se passado, ela já comandava o console para tentar contatar Maya quando recebeu a resposta.
     "- Estou um pouco... – ouviu um som oco, como se uma avalanche estivesse próxima – ocupada agora... espera... MAYA! A SUA ESQUERDA – seus olhos se arregalaram quando ouviu um som inconfundível de raios – olha mãe... dá para esperar... – uma longa pausa ocorre enquanto sailor Venus ouve pela comunicação sons de coisas de partindo, algumas explosões pequenas e algo que ela reconhecia muito bem: o som que aquelas criaturas faziam quando lançavam a nuvem ácida – DEMÉTRIO VOLTA AQUI – gritou ela já parecendo ter esquecido que sua mãe aguardava uma resposta – ah... droga... não de novo."
     - Rita - murmurou ela com uma angustia no coração. Ela estava lutando e de uma forma muito intensa, talvez pela primeira vez na vida e parecia tão... controlada...
     "- Desculpa mãe, esqueci da senhora. Dá para ligar mais tarde? Está difícil aqui – ela disse aquilo com o mesmo tom que diria caso estivesse numa festa e quisesse continuar a dançar"
     Apertou os lábios não acreditando. Controlada nada... ela parecia simplesmente estar encarando aquilo com naturalidade, como se fosse normal enfrentar... seja lá o que for que estava enfrentando.
     - Rita! Onde você está?
     "- Não sei, mas acho que é onde os fantasmas negros moram. Entramos no buraco no chão onde estavam saindo..."
     - VOCES FIZERAM O QUE? – ela não se controlou. Rita tinha entrado pelo portal de onde as criaturas estavam vindo? Mas o que ela tinha na cabeça? Se é que algum dia teve algo...
     "- O Demetrio entrou, e a senhora disse para pegar ele e.. espera.. espera... – mais sons de combate – onde eu estava mesmo? Maya... segura eles ai que preciso falar com minha mãe"
     Ela ouviu um estrondoso "O QUE?" ao fundo, sendo que era claramente a voz de Maya.
     "- Pronto mãe, estou em um canto aqui. A Maya segura as coisas para a gente conversar melhor."
     - Hã? – falou involuntariamente – Rita.. Miranda, me diga o que houve.
     "- O youma caiu no buraco negro e fomos atrás. E caímos numa sala enorme com umas prateleiras de onde saem essas coisas. Estamos destruindo elas até agora. Já esta ficando chato na verdade."
     - Porque não voltaram pelo portal?
     "- Bem...- ela conhecia àquela entonação de voz. Era típica de quando ela fez alguma coisa errada – acho que a gente destruiu o que fazia ele se abrir. Os fantasmas negros são enviados para o centro da sala e como não acham nada vêm para cima da gente."
     Ela olhou para os painéis da sala de controle. Ainda estavam aparecendo as criaturas pela cidade. Isso significava...
     - Rita, deve haver outro gerador de portal por ai. Procure e saia deste lugar. Alias... sabe onde está?
     "- Pelo localizador... – ela ouviu um grito enorme ao fundo – Maya! Estou conversando, não embaça meu cristal não... desculpa, estamos no leste da China, no oceano Pacífico. Mas não sei bem onde... Maya, por favor... Só tem uns duzentos ai... – houve uma nova pausa onde ela podia ouvir a voz de Maya ao fundo. Não conseguia entender o que dizia, mas algumas daquelas palavras não pareciam muito educadas - opa! Mãe, a Maya vai precisar de ajuda agora."
     Ela viu novos alertas e começou a perceber estática na sua comunicação. O que quer que estivesse cortando as comunicações estava chegando onde ela estava.
     - Rita, vou perder contato, procure outro portal para voltar, entendeu? Procure outro portal.
     Ela aguardou ma resposta, mas apenas recebeu estática. Sua filha estava no covil dos inimigos destruindo o exército deles. Mas como é que ela conseguia se meter...
     Ela abriu a boca levemente quando percebeu o que ela estava fazendo. Destruindo o exercito deles? Ela observou a forma como o ataque se desenvolvia antes de perder as comunicações. Realmente, pouco depois de perder contato com sua filha, a taxa de invasão tinha caído à metade.
     [[MINA! – finalmente percebeu Ray tentando em desespero se comunicar com ela]]
     [[Desculpe, eu estava ocupada. Rita esta em algum lugar ao leste da China, no oceano. Tente contatá-la]]
     [[Não posso alcançar tão longe, e você sabe. Como ela está?]]
     [[Meu coração de mãe quer lhe dar a maior surra de sua vida. Mas como sailor ela merece uma medalha. Ela esta na base dos inimigos destruindo o exercito deles antes que tenham tempo de reagir]]
     [[Ela... como?]]
     [[Depois eu explico. Contate todos as outras e as coloque no elo]]
     [[Estou fazendo isso. Sabe onde está Diana?]]
     [[Eu não sei. Ela estava com Luna]]
     [[Certo, vou pedir para Sume assumir o elo com as asteroid e eu me encarrego das outras. Marina e Allete devem ser as únicas jovianas no megaparque agora, não deve ser difícil identificá-las. E... e quanto a Serena?]]
     [[A rainha?]]
     [[Sim... o que ela está fazendo?]]
     [[Eu não sei. Tudo isso começou faz poucos minutos, eu acho que ela não sabe ainda. Poderia...?]]
     [[Depois que eu montar o elo com quem eu localizar – ela podia sentir certa hesitação vinda de sailor Marte – eu vou fazer isso. Serena vai me deixar louca exigindo informações. Você podia adiantar isso para mim?]]
     [[Eu vou falar com ela. Já perdi as comunicações aqui no castelo]]
     Não ouviu mais a voz dela em sua mente. Devia estar começando a localizar as lunares. E essa agora... duvidava que elas soubessem que Ray era telepática também. Bom, iriam saber agora.
     - Orion – chamou ela pelo comunicador interno. Essa comunicação não podia ser cortada pois era feita com fibras óticas – alguma idéia do que esta cortando nossas comunicações?
     "- Idéia sim, há um campo elétrico se formando acima da cidade, e está literalmente apagando as ondas portadoras. Mas não sei o que esta causando isso. Foi o mesmo que houve na escola quando você foi atacada. Minha aposta é que tem algo acima da cidade causando isso."
     - Sailor Júpiter poderia fazer isso?
     "- Não... talvez localmente, mas não numa área deste tamanho. Deve ser algum aparelho com uma antena defletora. Minha melhor aposta é que deve estar a uns sete quilômetros de altura. Não posso detectar nada por causa da estática."
     Ela pensou um pouco no que ele tinha dito. Se era algo gerando um campo elétrico flutuando acima da cidade, Joynah, ou melhor, sailor Terra era a melhor escolha para ir averiguar, justamente por estar junto de uma sailor que comandava raios. Apenas esperava que Ray não demorasse muito para integrá-la ao elo mental. E de qualquer forma, ela era uma inner. Merecia fazer parte o elo permanentemente agora.
     Mas apesar de estar tentando manter o controle, seu coração pensava em sua filha. Estava sozinha e sem meios de receber auxilio no momento. Maya sem duvida devia ter muito mais experiência e era bem mais treinada que ela. Mas duvidava que sozinha poderia dar conta dos generais caso eles descobrissem o que elas estavam fazendo agora, e acreditava que não iria demorar para descobrirem. Se tivesse sido mais fria e utilizado o sinal dela para conseguir uma posição exata, poderia enviar naves para resgatá-la.
     Talvez... talvez Orion pudesse descobrir. Ele deve saber como o comunicador dela foi contatado. Foi preciso fazer ligações com satélite para isso. Só precisava saber quais satélites foram e teriam um local para pelo menos ficarem próximos quando obtivessem uma posição mais...
     Mas que idiota! O corte de comunicações era apenas na cidade. Se saísse desta, poderia localizar sailor Miranda e Maya.
     [[Ray, passe um recado para Sumire, ela esta no hotel dos Diplomatas...]]


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