Herança escrita por Janus


Capítulo 55
Capítulo 55




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     Ambos caminharam em silêncio por cerca de duzentos metros. Sailor Mercúrio apenas acompanhava os passos de Sohar, sem fazer menção de olhar para ele ou puxar conversa.
     - Vá em frente... pode me xingar, acusar, esbravejar, o que quiser. Para mim, a maior ofensa que se pode dar a alguém é o silêncio. E... se este é o caso, eu devo dizer que mereci isso.
     - Não... – ela começou em uma voz triste – eu acho que não. Eu não quero admitir, nem agora nem nunca... Três delas são suas filhas, e eu vi como você as educou, acompanhando passo a passo o crescimento e amadurecimento delas. Até me inspirei em você para educar Suzette...
     Abaixou a cabeça e caminhou uns dois ou três passos assim, procurando as palavras certas. Ela estava encabulada, e sem jeito de dizer.
     - Você... foi incrível treinando elas desta forma – disse por fim – ensinou tudo o que uma sailor deve saber. Até mesmo a atacar seus amigos e aqueles em quem confia. Me diga... se Hotaru não fosse a única que poderia lutar contra elas, quem você escolheria para esta "prova de fim de curso"?
     - Quem você acha? – olhou para ela e sorriu – Lita e Haruka, lógico. As duas juntas podem dar uma surra homérica em Setsuna ou na Hotaru.
     - E porque não Setsuna e Hotaru?
     - Eu queria um desafio muito difícil, não impossível de se vencer – riu ele – mas... confesso que esperava muito mais de Hotaru. Ela deveria usar de cara a sua "revolução das tiras da morte"
     - Isso acabaria com a briga antes dela começar.
     - A idéia era essa. Eu queria um massacre humilhante, de quem menos esperavam. Ainda que tenham perdido, elas quase que se equipararam a segunda senshi mais poderosa.
     - E porque não eu? – brincou ela – não acho que meu nível de poder seja assim tão baixo...
     Ele olhou para ela de uma forma um tanto desconfiada, e ela riu daquilo. Até que foi uma boa pergunta, pelo menos para descontrair e esquecer um pouco os apertos que sentiu no coração quando viu Suzette, quer dizer, sailor Ariel ser atacada daquela forma tão terrível e agonizante. Sailor Saturno tinha voltado mais poderosa. Bem mais, na verdade. Talvez até pudesse ultrapassar sailor Plutão em escala de poder.
     Mas era uma convenção um tanto sem sentido isso de nível de poder deles. Sohar era tecnicamente um dos mais fracos mas, ninguém duvidava que podia encarar de frente todas as senshi de uma só vez. Sua estratégia de luta era tão difícil de se vencer – se é que havia uma forma de se fazer isso – que apenas ataques que afetavam uma ampla área – basicamente os de sailor Saturno e de sailor Júpiter – poderiam atingi-lo, e isso, por mero acaso. Não era a toa que Haruka tinha ficado uma fera com esta ordem da rainha. Ela ainda queria uma chance de resolver de vez toda a surra que ele já tinha lhe dado – bem, não exatamente surra, mas a fez de boba muitas vezes, antes de Lita ficar gamada nele, e sempre procurou uma oportunidade, seja em treinos ou qualquer outra situação para ir a forra. E nunca conseguiu isso em todos estes séculos...
     - Marina é imune a seus poderes.
     - Como?
     - Sua pergunta – ele sorriu para ela – seus poderes não afetam ela. Ela é imune a eles, completamente. Mas você não é imune aos dela.
     - Como... – ela não conseguia entender – como pode saber disto?
     Ela já estava um tanto perturbada pela rainha selecionar a ele para treina-las, pois, segundo ela, ele conhecia os poderes das crianças. Pelo que andou vendo nos últimos dois anos, isso era a pura verdade. Mas... como podia conhece-los se nem as crianças sabiam como usa-los direito na época?
     - Amy... você é muito inteligente. Já deve saber que sou capaz de sentir energia, e não propriamente as sailors ou as criaturas ditas malignas. Não é difícil dar um passo adiante e perceber que, se posso sentir isso, também posso classifica-la, e determinar a natureza da mesma. Os poderes elementares de Marina tem fundamentalmente a mesma origem dos seus. Só que você projeta os seus poderes, e ela manipula os dela. Se lançar seus poderes aquáticos contra ela, estes simplesmente não poderão atingi-la devido a aura que a cerca que ela usa para a sua manipulação. O mesmo ocorreria com os golpes de Michiru. Claro que aquele espelho dela fica fora disto. Ela pode manipular a água em um estado climático, e sempre ligado a frio. O poder dela é uma conseqüência, e o seu é uma causa.
     - Obrigada pela parte de inteligência, mas... – ela fez uma careta muito cômica – a parte que você falou depois que sente a energia... eu juro que não consegui entender mais nada.
     - Tá bom, sendo direto: Você faz chover e ela congela a chuva. Assim como a Ray acende o fogo e Allete cozinha uma sopa com ele. Os elementos lunares são conseqüências dos elementos planetários. Eu não posso ter neve sem água, nem rocha derretida sem calor. Com exceção de Anne, todas as outras tem poderes derivados. Mesmo Rita, apesar de ter como elemento a luz, que é um elemento cósmico, jamais poderá fazer um ataque direto assim. Será sempre um derivado. No caso, ela usa um caleidoscópio. Ela ainda vai descobrir que pode fragmentar isso como um prisma.
     - Minha filha domina o ar – agora ela estava entendendo um pouco mais - e ar é um elemento básico, assim como o fogo ou a água, que tanto eu como Michiru dominamos.
     - Não exatamente – ele deu uma passada mais larga para evitar um buraco no chão, provavelmente o local de descanso de uma pedra que alguém resolveu remover recentemente – ela manipula este elemento climatizado. Um tornado é um evento climático. Assim como um furacão ou uma tormenta. Haruka tem a terra como elemento, mas você nunca a verá atacar alguém com um terremoto, muito menos com uma rachadura no solo. Mas Allete pode fazer coisa similar. Na verdade – ele abaixou os olhos - ela pode fazer tudo o que um vulcão faz.
     Ela parou de andar de repente, e ficou olhando para o vazio. Sua mente analítica estava agora em toda a sua capacidade, totalmente concentrada nas informações dele, e avaliava as conclusões possíveis.
     - Você... – ela sorriu – você sabe como os pingentes funcionam. Conhece a natureza deles e o que fazem – olhou para frente e continuou sorrindo, como se tivesse descoberto algo que matava uma charada que a incomodava há muito tempo. Logo depois olhou para ele – estava lá quando foram criados, não é mesmo?
     - O pingente foi uma solução para que os defensores pudessem ter uma vida normal – disse ele didaticamente – mas ele não é a origem de seus poderes, se foi o que imaginou. É apenas um par para aquilo que já nasceu consigo. Bem diferente dos guerreiros estelares, que não tinham e nunca tiveram escolha.
     - Então... como sabe exatamente como funcionam os poderes das crianças? Ou os meus?
     Ele olhou seriamente para ela, sem esboçar emoção no rosto. Sabia que tinha cruzado a linha que ele mesmo tinha imposto muito tempo atrás, mas ela queria saber.
     - Amy... pesquise sobre os deuses greco-romanos. Talvez encontre algo interessante.
     Ele seguiu andando enquanto ela ficou parada.
     Quando ele disse aquilo, ela... ficou em choque. Da mesma forma que em um jogo de adivinhações, em que se tenta descobrir qual será o próximo número a ser exibido baseado em uma fórmula enigmática no qual quando se descobre a fórmula secreta isto é feito em um único estalo, ou seja, simplesmente vem a mente, ela resolveu o mistério. O mistério das origens destes poderes, bem como o de seus nomes.
     Por muito tempo, achou que cada planeta tinha uma defensora, uma sailor para si. Mas... não era bem isso. Não era mesmo! Haviam outras sailors no universo, sem dúvida. Nem todas com um nome idêntico ao de seu planeta de origem, e... nem sempre este planeta era habitado, ou poderia vir a sê-lo algum dia. Como Júpiter, Saturno, e outros planetas gasosos. Mesmo seu planeta guardião, Mercúrio, jamais poderia um dia vir a ser habitado por seres vivos.
     Sempre ficou em uma encruzilhada nas suas pesquisas devido a isso. Se tais mundos eram habitados na época do primeiro Milênio de Prata, devia ser feito por bolhas protetoras, como ocorria na Lua então. Mas seria um contra senso na maioria destes planetas, e, em alguns, em especial os gasosos, algo impraticável. Cidades flutuantes seriam bem mais práticas, mas, mesmo assim, não haveria motivos para estas estarem orbitando tais mundos, além o de explorar melhor seus recursos naturais – coisa que estava ocorrendo atualmente mas ainda em seus primórdios.
     Foi só quando ele disse aquilo - como não percebeu antes? – que foi capaz de colocar um novo e determinante ingrediente a equação complexa que estava trabalhando para descobrir suas origens. Estes planetas tem tais nomes pois foram nomeados pela civilização greco-romana. E os três últimos nem eram conhecidos por eles, e só foram batizados no século XIX e XX. O décimo planeta, Nêmesis, só foi conhecido no século XXI. E, nunca houve uma sailor Nêmesis. E jamais haverá.
     E, agora sabia o porque.
     Sailor Mercúrio... esse nome não vinha do planeta de mesmo nome, mas do deus greco-romano homônimo, assim como sailor Marte... ou Júpiter... ou ainda...
     Começou a abrir a boca, ficando cada vez mais impressionada com as ligações que fazia. Serenity()... Endymion... os mesmos nomes da lenda grega... Serenity, alias, Selene(), a Lua, e Endymion, que morava em uma caverna na Terra... Mércúrio... o deus da sabedoria e das águas... como... como ela!
     () No original, o nome da princesa Serenity é na verdade, Selene. Os americanos é que mudaram um monte de nomes, e por tabela, no Brasil tivemos o mesmo problema.
     Ela olhou para ele que ainda se afastava, e já estava há uns trinta metros, quando gritou, por pura compulsão. Pela simples vontade de se expressar, expressar a sua descoberta, a informação que fazia tudo ter sentido repentinamente em sua mente.
     - Os deuses gregos... e romanos... eles são... são os nossos precursores, os primeiros guerreiros estelares! NÓS SOMOS SEUS DESCENDENTES! OS HERDEIROS DE SEU PODER!
     - Somos – agora estava murmurando em voz baixa – seus herdeiros... herdeiros de seu poder e responsabilidades... e os nossos filhos... também...
     Ela o viu parar de andar e virar a cabeça e o tronco lentamente para trás. Podia notar um fraco sorriso em seu rosto. Após alguns momentos assim, ele ergueu a mão direita e a balançou, indicando que o que ela tinha dito, era "mais ou menos" a resposta. Ficou assim por mais alguns momentos e abaixou lentamente a mão.
     E voltou a caminhar lentamente, se afastando dela.
     Estava satisfeita. Ainda estava um tanto atônita com aquilo, mas o mistério estava definitivamente resolvido. As lendas gregas... a personalidade de seus deuses combinando com a personalidade atual das sailors... até mesmo a inversão de personalidades entre Saturno e Plutão fazia sentido. Eram lendas contadas pelo povo... lendas que floresceram como um resquício das coisas que ocorreram antes... no reino da Terra, da Lua... da época de Serenity... era natural que estas lendas acabassem distorcendo tudo com o tempo, sendo contadas, recontadas, aprimoradas, aperfeiçoadas... tornando-se praticamente mitos, para os quais seria impossível encontrar o origem exata.
     Claro que tinha ainda muitas coisas que não faziam sentido. Quem era a herdeira de Gaia? Seria realmente Joynah? E Gammy, aquela que teria sido a primeira sailor Terra? Alias, a primeira a usar o título de sailor. Será que ela se chamava realmente sailor Terra ou isto é uma confusão da tradução que Anne fez dos hieróglifos daquela estátua? Seria mais condizente ela se chamar sailor Gaia, e não Terra.
     E Serenity? Seria a Amazona Estelar da Lua ou a guerreira Selene? Ou ambas, talvez? Guerreira Selene, uma expressão que já tinha visto associada ao Milênio de Prata, naquela caixa de dados que ainda mantinha escondida de Anne, que, tanto ela como Michiru tinham estudo juntas, alguns séculos atrás.
     Guerreira Selene... para os gregos, Selene era a Lua. Há uma história de amor não correspondido entre Selene e um rapaz de nome Endymion. De uma certa forma, um correlato ao que ocorreu com a princesa Serenity() e príncipe Endymion, no Milênio de Prata. Até os nomes eram praticamente idênticos.
     Muito interessante. Uma verdadeira revolução nos dados que se tinha a respeito da cultura dos gregos e romanos. Anne ficaria maravilhada se descobrisse isto...
     Mas.. por enquanto, talvez fosse melhor manter isto guardado apenas para si. Séculos se passaram com estas histórias sendo atribuídas a deuses pagãos. Talvez o mundo acadêmico ainda não esteja preparado para esta reformulação em seus conceitos. Desculpe Anne, mas terá que descobrir isso por si mesma, sem ajuda. Aquela caixa de dados vai continuar fora de seu alcance, como sua mãe pediu. Ainda não é hora de você descobrir as informações contidas nela.
     Antes, isso se devia a ela não saber quem eram as sailors, agora, Michiru endossou isto devido a ela ter se tornado a sailor Titã. Sem dúvida ficaria muito curiosa sobre os dados que esta caixa continha a respeito de uma certa princesa, a herdeira unificada do trono de Urano e Netuno... A doce Nami-chan... a quanto tempo não a chamava assim? Umino Namida Anne, a encantadora lágrima do oceano... Michiru estava inspirada quando resolveu batizar a filha com este nome. hum... interessante ela ser filha das sailors atuais de mesmo nome.
     Parece que a máxima é realmente verdadeira: Aquele que não conhece o passado está fadado a repeti-lo.
     Olhou na direção em que Sohar seguiu, notando que já não estava mais a vista. Ela estava sozinha agora. As crianças já deviam ter ido se divertir, e já que era sábado, nada como dar uma passadinha em casa, para o seu Mercurius – há quanto tempo não o chamava assim? – para sua própria diversão. Talvez pegar um cinema holográfico, ou um passeio mais clássico, em um dos muitos parques da cidade...
     O dia estava apenas começando!
    

-x-

 

     Nas árvores próximas, dois olhos femininos - e vazios - observaram a sailor Mercúrio se afastar com uma certa alegria de adolescente. A dona dos olhos em nenhum instante esteve muito interessada na conversa que tinha conseguido ouvir deles enquanto caminhavam pela floresta. Já sabia daquilo que Sohar tinha dito a sua amiga, não era nenhuma novidade para ela. Seu interesse maior era o de simplesmente acompanhar a evolução daquelas crianças. As mesmas crianças que tinham derrotado Djogor na Lua.
     Algo para meramente passar o tempo.
     Ela sabia as identidades deles. De todos eles, os defensores daquele planeta. Era a única dos generais que sabia disto, e não era devido a estratagemas de espionagem ou coisa parecida. Ela sabia porque, assim como Anne e Sohar, tinha meios de detecta-los.
     E eles não podiam fazer o mesmo.
     Seria muito fácil se livrar de todas elas, as sailors, matando-as em suas formas humanas, frágeis, vulneráveis.
     A dificuldade maior era com os que tinham poderes em tempo integral. Os dois garotos – insignificantes – a rainha Serena - essa sim, merecia uma boa atenção, mas não era nada impossível de se contornar – o rei – da mesma forma que a rainha, requeria cuidados – e os chamados guardiões da Terra, os maridos das sailors. Um ou outro trariam inconvenientes, mas não acreditava que seria muita coisa.
     No entanto um destes guardiões a deixava um pouco preocupada, pois, apesar de nunca te-lo visto fazer nada excepcional, sentia que nele havia um poder que podia desafiar o seu. Um poder elementar... um poder cósmico, de natureza equivalente ou igual ao de um guerreiro estelar.
     Também sentia que o conhecia...
     Mas apesar deste a preocupar, seu verdadeiro temor provinha de duas outras criaturas. Não eram guardiões, nunca os flagrou fazendo nada além de coisas humanamente possíveis, mas não admitia poder estar errada. Um deles estava quase sempre no palácio, e as vezes o via agarrado naquela que tinha sido a guardiã do portal do tempo saindo para passear com ela.
     Já o outro era um mero garoto, que percebeu na escola daquelas crianças em um dia o qual sem ter o que fazer, as seguiu mais para passar o tempo e se divertir, imaginando como elas iriam reagir caso soubessem quem era e o que estava fazendo ali naquele planeta.
     Ambos pareciam ter uma capacidade latente. O garoto principalmente, apesar de ser algo ainda totalmente adormecido. Ele tinha uma semente estelar, mas esta reluzia tão fracamente que duvidava que aquela menina, a tal filha de duas mulheres seria capaz de senti-la – sua vigilância lhe rendeu esta entre muitas surpresas.
     No entanto, era um poder que... - ela só podia confiar em seus instintos, mas não acreditava que estivesse errada – assustava. Talvez fosse tão grande quanto o do rei. Já o outro, o que vivia enfurnado no palácio, era mais fácil de se perceber.
     E de se temer, também.
     Ele devia ser um guardião também... será que era? Nestes anos, foi o único que nunca viu ou percebeu agir como tal. Nunca teve sua rotina alterada, jamais. Parecia estar sendo guardado como um tipo de reserva, ou então ele simplesmente não queria participar daquilo.
     Para ela isso era mais provável. Alguém com tal aura, que podia ser sentida há centenas de quilômetros – ela já tinha tido a curiosidade de descobrir isso – devia mesmo se sentir incomodado de andar ao lado de criaturas tão inferiores, como eram os guardiões se comparados a ele. Ela se sentiria assim!
     Era um poder de um guerreiro estelar, sem dúvida. Tinha de ser! Ela tinha sido uma guerreira assim antes... antes de...
     Chaos...
     Aquele idiota... e ela foi mais idiota ainda por achar que teria algo a ganhar junto com ele. Até que realmente ganhou algo, a capacidade – ou maldição – de não poder ser localizada ou sentida por eles, os guardiões daquele mundo. Os seus protetores.
     E mais nada.
     Olhou na direção do megaparque. Uma nova semente estelar tinha acabado de reluzir no universo de seus sentidos. A daquela criança que agora podia se transformar. Devia ter acabado de voltar a sua forma humana. Curioso... ela tinha uma semente estelar em forma humana, e nenhuma em forma de sailor. Ou melhor, sua forma verdadeira. A forma humana era o seu disfarce, para onde realmente se transformava.
     Uma sailor que se transforma em humana... que interessante...
     Ela tinha nascido com poderes, poderes fracos, porém estranhamente com a singela e conveniente característica dos poderes dos antigos e extintos guerreiros estelares.
     Poderes que não podiam ser obliterados de nenhuma forma, por mais fracos que fossem.
     Sailor Saturno tinha descoberto isso, mas provavelmente nem imaginava a causa. Ela quase gargalhou quando a viu tentar desviar o ataque da criança. Que imbecilidade.
     Era a única que realmente podia ameaça-la.
     Também era a única que podia matar facilmente a rainha, embora além de provavelmente jamais ter a mínima vontade para tanto, nem poderia suspeitar disto.
     Ela seria o joguete ideal no futuro quando fosse a hora de conquistar aquele mundo, e depois de tudo já concluído, enfadados pelo tédio, partir para outro.
     E outro.
     E mais um, e continuando assim até simplesmente ficarem loucos com aquilo.
     Talvez já estivessem.
     Era loucura ficar ali cavando buracos para recuperar aqueles fragmentos.
     Porém... se isto lhes devolvesse suas sementes estelares, a sua rotina tediosa de destruir um mundo após o outro finalmente se alterasse. Talvez pudessem novamente ver motivação em fazer outras coisas.
     Pudessem nada... talvez ela pudesse. Só ela! Se o cristal das sombras fosse ressuscitado, ela o tomaria para si.
     E sua vida cuja linha havia sido podada há quase seis mil anos talvez pudesse ser retomada. Sua primeira providência seria reclamar para si o castelo que era seu por direito.
     Aquele que foi odiosamente rebatizado para castelo de Plutão.
     Era o seu castelo.
     A principal torre de seu reino, o extinto reino da cidade Ametista.
     Uma cidade espacial – a sua cidade - tão majestosa e reluzente quanto a cidade dourada. A lendária cidade onde tinha nascido. A odiada cidade onde nasceu, com seus odiados governantes, sua odiada população e igualmente odiada benevolência.
     Além, sempre é bom lembrar, de sua tola piedade em querer ajudar os outros.
     Isso destruiu a cidade.
     Isso matou seus governantes.
     Infelizmente ela já tinha se tornado escrava de Chaos muito antes. Nunca teve a real sensação de ficar satisfeita com o ocorrido.
     Mas ficou satisfeita quando a sua fonte de poder – de Chaos - foi estilhaçada. E mais satisfeita ainda quando soube que sua essência tinha sido definitivamente purgada por uma guerreira habitante do planeta Terra. Aquele antigo e enfadonho mundo – onde estava agora – que realmente só lhe despertava nojo.
     Até que era irônico... a responsável por tanta satisfação era descendente daquela a quem ela tanto odiou. Aquela que ousava lhe questionar. A lhe.. avisar para ser mais tolerante, piedosa, benevolente.
     Tolos conselhos... isso custou a ela praticamente tudo! Sua cidade, seus súditos, seu amado marido, sua vida. Talvez até a vida de seus filhos.
     Era mesmo irônico que a pessoa que destruiu Chaos, coisa que tanto lhe satisfez, fosse neta dela.
     Neta da Amazona Estelar do Sol.
     A neta da rainha Joynah.
     E a ironia maior era o fato de que, um dia, talvez viesse a usar uma pessoa de mesmo nome para eliminar esta neta.
     Até que era uma Ironia poética...
    


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