Herança escrita por Janus


Capítulo 31
Capítulo 31




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     Que dia lindo! Que dia lindo! O Herochi estava livre da sua mãe! Que ótimo! Agora podiam passear a vontade, sem restrições. Bom, haviam algumas, em especial a ameaça dela para que ele e a namorada – que ele ainda não teve coragem de dizer quem era – tomassem cuidado para não fazerem uma besteira de que poderiam se arrepender – logicamente, a Ray cuidaria desta parte de arrependimento – mas ele estava livre! Totalmente livre!
     Mas estava bem machucado também... cheio de não-me-toques... Percebeu logo depois que ele lhe contou a novidade, quando o abraçou de alegria...
     Ele gritou de dor. Tadinho... a mãe dele o massacrou, bateu forte mesmo! Dava para sentir as luxações e os calombos que ficaram no seu corpo, bem como os olhos um pouco escurecidos – provavelmente marcas bem mais recuperadas de olhos roxos – que ele estava ostentando. Considerando que assim como seu pai e ela própria, ele se recuperava muito mais rapidamente que um ser humano normal, ele devia estar um caco ontem...
     Felizmente, até amanhã, deveria estar em perfeitas condições, e, se não estivesse, ela cuidaria disto.
     Estavam saindo da escola de mãos dadas, sem nenhum medo agora. Todos podiam saber do namoro, felizmente. Ela estava mesmo disposta a ir com ele para casa e contar tudo para a sua mãe. O único motivo de aceitar namorar escondido tinha sido por causa da Ray e das regras bobas dela. O brinde especial desta situação era que estavam sendo observados com inveja pela Serena e o Yokuto – azar dela, quem mandou ele não insistir em enfrentar a mãe?
     Sorriu de forma marota... ela ia ganhar a aposta! Iria contar sobre o namoro para sua mãe antes que ela fizesse isso. Fazia tempo que não ganhava nenhuma aposta dela... muito tempo mesmo. A última tinha sido há mais de um ano, no baile da escola. Foi a primeira a fazer o seu namorado se morder de ciúmes e a pega-la para dançar. Claro que ele não gostou muito, mas ela tinha direito a suas particularidades.
     E não eram "frescuras" como aqueles dois costumavam chamar. Hum.. será que quando a Anne conseguir um namorado, ele também vai ter essa opinião? Ultimamente ela estava competindo forte com elas. Bom, podia pensar nisto depois. No momento, não sabia a quem contava primeiro: para sua mãe, ou para a sua... hum... UGH! Sogra...
     Melhor deixar a sogra para o seu queridinho cuidar mesmo. Afinal, não seria função dele proteger a "futura" esposa dos inimigos?
     - Por que está rindo?
     - Nada não amor – ela quase se engasgou – apenas umas coisas que estou pensando. Escuta... vamos para a minha casa? Estou louca para contar a minha mãe...
     - Hum...
     - Há não! Você não tem mais desculpa agora. Sua mãe te deixou livre! Ou vamos para lá, ou a gente termina agora mesmo.
     - Tenho quase certeza de que ela me disse isso para saber quem era a minha amada...
     Amada... ai! Que coisa linda de se ouvir...
     - Ela vai ter que saber mais cedo ou mais tarde... vamos indo. Te dou uma carona mo meu girociclo...
     - Você vai ir devagar, não vai? – ele claramente demostrou medo na voz.
     - Você não tem medo quando te carrego voando por ai... tá bom, você vai dirigindo e eu fico na garupa... "agaladinha" – completou com uma voz infantil.
     Ela jogou o cartão do girociclo para ele, que com uma certa dificuldade o pegou no ar. Enquanto ele fazia isso, olhou para o lado para ver como Serena e Yokuto estavam. Apenas trocavam um beijo rápido. Ia dar um beijo bem longo e demorado no Herochi - apenas para alfinetar um pouco o ego de Serena - quando percebeu mais atrás dela, Anne conversando com o Tony. O ex quase namorado da Rita. Era a primeira vez – ao menos, que ela sabia – que ela conversava com um "paquerador" por duas vezes no mesmo dia. Parece que ela realmente ficou um pouco interessada nele.
     Bom, já estava na hora mesmo.
     - Eu já volto – disse ele se afastando na direção do estacionamento onde deixava o girociclo – não vá embora sem mim...
     - Bobo... – disse sorrindo.
     Aproveitando que ele ia demorar um pouco, foi até mais perto de Anne para tentar ouvir alguma coisa. Bastou ficar a cinco metros para ela se virar sem sua direção e a olhar com os olhos um pouco incisivos. Sua capacidade de percebe-la estava mesmo ligada.
     Sorrindo meio sem jeito, ela ergueu as mãos e se afastou um pouco para lhes dar privacidade. Realmente, era muito bom apenas ela poder localiza-los. Bom, seu pai também podia fazer aquilo mas ele era bem mais "confiável" que sua mãe...
     Um som de buzina chamou a sua atenção, e ela viu seu girociclo sendo pilotado por Herochi parar do seu lado. Ele foi bem rápido! Olhou para Anne conversando com Tony e ficou indecisa entre perturba-la ou não. Queria saber se sua mãe estava em casa. Mas mudou de idéia ao se lembrar do que ela tinha dito da última vez que pediu para que usasse os seus dons para isso. Com certeza, Haruka não era a única fonte de palavrões que Anne conhecia...
     Deu uma corrida rápida e pulou na garupa de seu veículo – era a primeira vez que outra pessoa iria dirigi-lo – o abraçou forte na cintura e, pouco antes de dizer para ele ir em frente, suas irmãs a chamaram.
     - Ei! Aonde vocês vão? - perguntou Allete – temos que ir para casa.
     - Nós vamos para casa – respondeu encostando a sua cabeça nas costas de Herochi – vamos fazer uma comunicado oficial.
     - E não vão nos dar carona? – chorou Marina.
     - Carona? – perguntou Herochi surpreso – vocês não vem de bicicleta?
     - Sim, mas ela nos puxa pelo caminho inteiro – respondeu Allete sorrindo.
     - Hoje não – Joynah olhou de um jeito bem malicioso para elas – vai ser um dia especial. E vocês conseguem chegar lá em casa em vinte minutos ou menos, é só por essa preguiça para pedalar. Vamos meu amor...
     Sem esperar por uma resposta, Herochi acelerou o veículo e ficou fora do alcance da voz delas. Com certeza elas iriam ficar uma fera com aquilo mas estavam mesmo ficando mal acostumadas.
     Ela logo se esqueceu do incidente estando fazendo uma das coisas que mais gostava. Na verdade, ela adorava aquilo! Passear agarradinha com seu namorado na garupa de um girociclo. Mas bem que ele podia acelerar um pouquinho mais para que o vento levantasse mais fortemente o seu cabelo.
     A diversão não durou muito. Dez minutos depois estavam em frente a sua casa. Ela pediu para Herochi estacionar o girociclo dentro da garagem – teve que tocar a sua mão no painel para que esta se abrisse – e esperou na porta de entrada que ele terminasse com a tarefa.
     Assim que ambos entraram, ela olhou ao redor e foi até a cozinha. Não era o melhor local para procurar sua mãe, mas era o que estava mais perto.
     - Mãe? – chamou assim que entrou na cozinha. Além de não ouvir nenhuma reposta, era óbvio que ela não estava lá.
     - Por que não pergunta para o computador?
     - É mesmo... – ela ficou encabulada – computador, minha mãe está em casa?
     "Sua mãe se encontra no porão da casa, jovem Joynah"
     - Jovem Joynah?
     - Culpa do Orion. Depois que ele andou mexendo no computador, ele ficou assim meio formal e meio impessoal. Vamos.
     Seguiram até a sala de estar e, em um canto afastado logo abaixo do mezanino que dava acesso aos quartos da família, havia uma escada em espiral que descia até o porão. O quartel general da família onde ficavam os sistemas que auxiliavam seus pais a monitorar como estavam as coisas em Tóquio de Cristal. Também era o depósito de mantimentos deles, especialmente de alimentos que eram pouco perecíveis, como cereais e farináceos. Joynah parou bem defronte a esta e gritou.
     - Mãe? – olhou para Herochi com um sorriso meio bobo - Eu trouxe visita.
     - Estou aqui no porão filhota, pegando umas caixas de mantimentos para o restaurante. Pode falar para o seu convidado ficar a vontade.
     - Eu gostaria que você viesse aqui para ver ele – gritou ela no alto da escada em espiral que dava no porão – ele não pode ficar muito tempo pois prometeu – ela conseguiu dar uma entonação um tanto estranha àquela palavra – me levar para passear um pouco.
     - Passear? – cochichou Herochi no ouvido dela.
     - Shhhh! – ela sorriu como criança – eu quero que ela perceba que você é especial e venha rápido aqui para cima.
     - Tudo bem filhota – sua mãe respondeu – pode passear tranqüila. Só não atrase para começar no serviço, está bem?
     - Mãe... – ficou com as mãos na cintura não acreditando na falta de percepção dela – você ouviu o que eu disse?
     - Sim filhota – ela respondeu agora com um certo esforço na voz. Devia estar carregando algo pesado – você vai passear com um amigo. Tudo bem.
     - Ai, ai... – murmurou – eu não acredito. Sabe com quantos garotos eu costumo passear?
     - Bem, como você é bonita, acho que no mínimo com um por semana... Não foi o Anjika na semana passada?
     - Hã? – questionou Herochi com uma pontada de ciúme indisfarçável.
     - Aquilo foi trabalho de escola! – disse sem evitar de ficar vermelha de vergonha – mãe... eu estou tentando dizer de forma bem sutil que a pessoa que você exigia para que eu apresentasse está aqui em cima.
     - Quem? – perguntou ela.
     Aquilo era piada. Ela realmente não sabia do que estava falando?
     - Mãe! O MEU NAMORADO ESTÁ AQUI COMIGO E EU QUERO QUE VOCÊ O CONHEÇA!
     Houve um barulho de muitas coisas caindo no chão, logo seguido por passos acelerados nos degraus de metal da escada. Parecia-se muito com o som que ela ouvia dos passos dos alunos no colégio durante o treinamento de incêndio.
     Sua mãe irrompeu das escadas e a segurou nos ombros – havia um sorriso incrível em seu rosto.
     - Onde está ele? – perguntou olhando ao redor e saltitando como uma adolescente - Oi Herochi, seus negócios com esculturas estão bem?
     - Sim – respondeu um pouco acanhado - estão.
     - Que bom. Eu nunca lhe agradeci por aquele busto da Joynah. Gostaria que pudesse fazer mais dois. Um da Allete e outro da Marina. Elas ficaram com muita inveja. Se bem que acho que já superaram isso.
     - Mãe...
     - Ah.. é! – olhou para ela ainda com aquele sorriso – e então? Onde ele está?
     Joynah virou a cabeça para o lado esquerdo e arregalou o olho direito, como que não acreditando na pergunta. Sua mãe ficou um pouco confusa com aquilo. Olhou de volta ao redor da sala – em especial para os sofás, talvez achando que ele estivesse escondido atrás destes – mas continuou confusa.
     - Filhota... você não disse que seu namorado estava aqui?
     - Sim – ela não acreditava – eu disse. Eu disse que ele estava e ele está!
     - Eu só estou vendo o Herochi...
     - Sério? – disse com uma expressão bem confidente – sabe que eu não reparei?
     Sua mãe olhou para o Herochi e depois para ela. Tornou a por os olhos nele, observando-o atentamente. Principalmente por ele estar ficando muito vermelho e acanhado. Olhou para ela novamente, agora arregalando os olhos.
     - Não é tão difícil de acreditar assim – exclamou ela soltando-se de suas mãos e enlaçando Herochi com ternura. Deu uma rápida olhada para a sua mãe e logo em seguida forçou Herochi a lhe dar um estupendo beijo de língua.
     Quase um minuto depois ela o soltou – ai dele se tentasse escapar antes que ela decidisse que era o bastante – e voltou-se para a sua mãe que observou totalmente muda a cena.
     - O cristal brilhou agora? – perguntou ela estreitando os olhos.
    

-x-  

  

     - Acho que aqui é um bom lugar – comentou Sohar olhando a clareira delimitada pelas pedras em forma de círculo – ainda é uma área isolada e já foi bem castigada na guerra Blackmoon.
     Haruka apenas observava o local em silêncio. Não tinha dito uma única palavra no trajeto até ali. Estava muito pensativa desde que a reunião tinha acabado, e ele se perguntava qual seria o motivo disto.
     - Por quanto tempo vai me deixar falando sozinho? – inquiriu – está fechada em si mesma desde que saímos do castelo. O que a incomoda tanto?
     - Coisa pessoal – disse sem o olhar e muito menos alterando sua expressão indiferente. Ela permanecia observando a cratera feita por um dos ataques daquela guerra. Tinha sido tão poderoso que a terra tinha sido arrancada fora na explosão e só ficou a rocha nua, delimitada por escarpas que formavam um circulo ao redor. Muito parecida com uma cratera na Lua.
     - Bom, o que acha do local?
     - Apropriado. Pouca vegetação e bem resistente. Não vão causar grandes danos aqui e poderão usar suas capacidades livremente. Só temos que cuidar que não apareçam curiosos. E a pequena camada de solo que se formou nestas décadas servirá muito bem para o oponente que Afonso irá formar.
     As poucas árvores que haviam ali eram apenas as que tinham conseguido fixar suas raízes nas fissuras do solo conseguindo sustentação suficiente assim. O resto era permeado de grama rala mesmo. Parecia uma paisagem vulcânica, mas com pedras de granito ao invés de basalto.
     Aquele local não era o único a ter esta aparência. Marcas daquela guerra estavam por todo o planeta. As que ocorreram em cidades acabaram sendo "apagadas" com a reconstrução destas. Mas aquelas que como essa atingiram locais ermos e pouco habitados permaneciam como uma assinatura do preço pago por virar as costas aos problemas. Não se podia simplesmente exilar alguém assim sem enfrentar algum tipo de represália futura. O que incomodava Sohar até hoje era o fato deles terem poderes advindos do cristal negro. Quem teria dado tais poderes a eles?
     - Agora é você quem está fechado – disse ela sorrindo.
     - Você não assinou nenhum termo de exclusividade nisto – retrucou sorrindo levemente – não que eu saiba.
     - Tem razão. É melhor irmos. Preciso viajar para a Índia ainda esta noite para representar a nossa soberana para a cerimônia de posse do seu novo presidente.
     - Como é que você suporta esta vida tão chata?
     - Até que é fácil. Especialmente quando Michiru vem junto. Assim ficamos livres do fato de Anne estar por perto.
     - Não sei porque ficam encabuladas... – balançou a cabeça – ela é bem mais madura do que imaginam. Demais até.
     - É justamente por isso – ela abaixou a cabeça - Eu fico assustada dela encarar isso com tanta naturalidade. Tanto que acho que nunca vou conseguir coragem de pedir a ela para escolher bem o seu companheiro antes de... bem...
     - Você acha que ela precisa da figura de um pai. Pois eu acho que não. Tudo bem que ela nunca encarou você como um pai, mas sempre lhe atribuiu a autoridade de um.
     - Especialmente depois que eu quase a pendurei pelas orelhas...
     - Como?
     - Nada – ela riu – vamos deixar para lá.
     Subiram no flutuador e partiram do local. Cerca de uma hora depois saiam pelo terminal de passageiros do aeroporto de Tóquio de Cristal. Seguiram até o estacionamento onde Haruka pegou o seu girociclo de velocidade.
     - Quer carona? – perguntou ela.
     - Do jeito que você dirige? É pior que minha filha.
     - É só você se segurar bem. Eu não mordo não, sabia?
     - A Lita morde. De qualquer forma, eu chego mais rápido a pé. Até sábado.
     Ele sumiu da frente dela de forma tão inesperada, que ela mal conseguiu perceber o seu borrão se movimentando pelo estacionamento. As vezes ele parecia ser mais veloz do que estava acostumada.
     Ele chegou a porta de casa em poucos minutos, e meia hora antes de terem de abrir o restaurante. perfeito! Dava ainda para dar uns beijinhos na Lita e... e...
     Epa! Porque ela estava se sentindo assim tão irritada? Não tinha reparado antes no elo emocional que tinham, mas agora que estava bem próximo dela podia perceber. Sua esposa parecia prestes a ter um ataque de nervos.
     Ele olhou de um lado a outro da rua, imaginando o que deveria fazer. Pelo que percebia ela estava naquela situação de soltar todas as cobras de uma vez só. Tomara que não seja ele o alvo.
     Ele não tinha muita escolha. Andou calmamente até a porta da frente e, suspirando um pouco a abriu. Percebeu que as bicicletas das crianças não estavam no quintal, o que significava que já tinham ido preparar tudo no restaurante para abri-lo. Concentrou-se um pouco e sentiu-as na direção onde este se encontrava. Um dos motivos de sua esposa não ter ido também seria para conversar com ele. Ou melhor, gritar com ele. Melhor resolver o assunto – qualquer que seja – com muito tato.
     - Amor? – chamou ele entrando devagar na casa e deixando a porta entreaberta para uma saída rápida, já que da última vez em que ela ficou brava com ele um dos sofás acabou saindo pela janela. Mas ele não sentiu que ela estava transformada desta vez.
     Ela não respondeu mas ele sentiu que ela se aproximava vindo pela cozinha, as suas costas. Será que ela pretendia surpreende-lo? Seria...
     - Peguei!
     E ela conseguiu! O agarrou por trás em um abraço de urso. E pelas luvas em suas mãos ela estava transformada. Não ia dar para dar o fora até que se acalmasse não...
     - O que foi que eu fiz desta vez? Esqueci alguma data especial de novo?
     - Muito pior – rugiu ela em seu ouvido – muito pior mesmo! Há quanto tempo sabe que Joynah e Herochi estão namorando?
     Então era aquilo. Bom, ele tinha mesmo dado um tempo limite até que eles resolvessem contar aquilo para todos mesmo. Mas não precisava ser assim tão rápido.
     - Que horas são? – perguntou com uma voz curiosa e inocente.
     - Cinco e quinze – respondeu ela.
     - Ah... então faz uns dois anos...
     - Dois... – ela ficou tão surpresa que afrouxou os braços – dois... dois anos... DOIS ANOS?
     - É... mais ou menos na mesma época em que você me disse que o professor dela desconfiava que estaria de namoricos com alguém de sua classe.
     - E porque não me contou? – ela o girou para a encarar de frente. Ele preferia que ela não tivesse feito isso. Seu rosto não estava assim como a mais bela e serena das mulheres...
     - Porque ela me pediu.
     - EU SEI QUE ELA PEDIU ISSO! MAS EU DISSE PARA ME CONTAR, LEMBRA?
     - Se importa de se controlar antes de ficar viúva? – o aperto em suas costelas estava bem forte. Se ele fosse um humano normal já estaria desacordado – e pare de agir como donzela ofendida, ou vou ter de revidar.
     - Donzela ofendida? Ela namorou escondida por dois anos e você acha isso normal? Para mim? Eu que sempre iria apoia-la? Como não foi capaz de confiar em mim?
     - Você conseguiria esconder isso da Ray?
     - Claro que não! Seria a primeira a conversar com ela... ah... entendi - ela o soltou, sentindo-se um pouco encabulada – espera um pouco – prosseguiu em seguida – o único motivo para esconderem isso seria...
     - Para se agarrarem melhor, para Joynah sentar no colo dele, umas mãos bobas aqui e ali...
     - Como você pode encarar isso com tanta naturalidade? – ela estava com os olhos quase saltando do rosto.
     - Lita, eles tem mais de quinhentos anos. Não importa que tenham a idade mental de adolescentes, conhecem tudo da vida. E vai me dizer que isso é algo assim tão mal? Quantas vezes vou ter de repetir que não podemos viver a vida deles?
     - Mas... se eles cometerem um erro...
     - Todos nós erramos. Aprendemos com eles. Que graça a vida teria se só fizéssemos o que os outros sabem que vai dar certo? Estaríamos vivendo como queríamos ou como os outros querem? Deixe-os cometerem seus acertos e seus erros. E vamos indo que temos que abrir o restaurante.
     Ela o olhou atônita. Não estava acostumada a ser derrotada assim tão facilmente, especialmente apenas com palavras.
     - Tudo bem – ela reverteu a transformação – E Allete e Marina, estão namorando também?
     - Allete está caçando garotos, e Marina ainda está indecisa com que tipo de presa prefere – respondeu ele indo para o banheiro lavar o rosto para se refrescar um pouco. O ar daquela cratera era muito quente devido as pedras absorverem tanta luz solar.
     - Indecisa?
     - Foi isso o que você ouviu.
     - Uma Michiru como filha não... – murmurou ela – ah não...
     - Eu não disse isso - saiu do banheiro e a pegou no cotovelo induzindo-a a andar - Ela apenas é muito inocente para isso ainda. Vamos. E nada de ficar em cima dela, está bem? A vida é dela e ela escolhe. Além disso, sei que você já ficou indecisa quanto a Haruka.
     - Quem te contou?
     - Quem você acha? – sorriu maliciosamente.
     - Que fofoqueira – ela ficou indignada – tudo bem, eu aceito minha derrota. Tanto que acho eu vou dar uma caixa de preservativos para Joynah.
     - Espere ela acabar com a que eu dei antes.
     Ela olhou para ele assombrada, mas este simplesmente saiu pela porta e a aguardou que fizesse o mesmo. Ela cruzou os braços alguns momentos depois e começou a rir. Que bom que tinha ficado mais compreensiva com o passar dos anos.
     - Pelo menos agora você e Ray sabem deles.
     - A Ray não sabe ainda. Eu quero ter o prazer de lhe contar.
     Lita estava com um sorriso feroz, aquele típico sorriso de que iria se deliciar em breve com a surpresa da amiga.
    


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