Herança escrita por Janus


Capítulo 1
Capítulo 1




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     - Incrível! – exclamou Orion observando as leituras apresentadas no monitor – este broche possui as mesmas características de densidade e refração termoluminosa que o da princesa.
     Ele pressionou um monte de botões na mesa, e luzes diferentes iluminaram o broche da Sailor Terra. Joynah e Serena estavam uma de cada lado dele, observando ele estudar o broche.
     - É fantástico... ele parece possuir um acesso dimensional atemporal, mas sem muitas regras ou estrutura definida, talvez devido a sua rachadura. O Cristal de Prata não tem nada disso, mas pulsa com a mesma ressonância eletroestática...
     - Cadê a Anne quando se precisa dela? – murmurou Serena para Joynah, que apenas deu de ombros.
     - Além disso, parece que há certas semelhanças entre a energia do broche e a energia dos pingentes das sailors... como se sugerisse uma origem ou propósito em comum...
     - Orion... falando em nossa língua, o que quer dizer tudo isso?
     - Ainda não tenho a menor idéia.
     As duas ficaram com cara de tacho. Além dele falar um monte de nomes desconhecidos – alguns pareciam até palavrões – ele não sabia de nada?
     - Me dá essa coisa aqui  - disse Joynah pegando de volta o seu broche e o guardando na bolsa.
     - Espere! Eu ainda não terminei...
     - E nem vai terminar! Se eu deixar isto aqui, nunca mais vou vê-lo. Eu ainda tenho que trabalhar hoje. E você também Serena. Se Samantha faltar mais um dia, vai perder o emprego.
     - Quem?
     - Uma amiga nossa – disse Serena sem jeito, fuzilando Joynah com o olhar – eu também tenho de trabalhar, tchau Orion, dê um beijo na Setsuna por mim.
     As duas saíram do laboratório e seguiram até o grande pátio do palácio, onde o girociclo de Joynah estava estacionado. Ambas pegaram os capacetes que estavam no banco deste e o vestiram.
     - Mais uns dois meses... – comentou Serena, observando o veículo – e vou comprar o meu... todo rosa!
     - Um girociclo rosa, Serena? Que ridículo!
     - Eu gosto! Qual o problema?
     - Apenas que acho ridículo. Vai! Monta logo ai.
     As duas montaram no girociclo, e, após Joynah fazer as checagens de segurança, saiu cantando os pneus. A turnê pela cidade até o restaurante levou vinte minutos. Joynah parou o veículo na esquina, para Serena descer e, no beco ao lado, colocar a sua peruca preta, enquanto ela entrava no estacionamento do restaurante e guardava o girociclo. As bicicletas de suas irmãs já estavam lá, o que significava, em outras palavras, que ela estava atrasada.
     Ela tirou o capacete e entrou no restaurante, com este embaixo do braço. Foi até a sala que eles usavam como vestiário e trocou de roupa, colocando a de cozinheira. Aquela seria a primeira vez que iria encarar o serviço sem ter os seus poderes. Apesar de já ter comprovado que ainda sabia cozinhar muito bem sem eles, estava temerosa. Será que os clientes iriam notar muita diferença?
     - Boa noite... – disse Serena, ou melhor, Samantha entrando na sala – como estão as coisas?
     - Não tem ninguém aqui – disse Joynah – não precisa fingir. A propósito, uma mecha de seu cabelo está aparecendo por baixo da peruca...
     Serena foi até o espelho e, localizando a mecha traidora, tratou de enrola-la e a por debaixo da peruca.
     - E agora?
     - Está enganando bem. Vá se apresentar a minha mãe. Se der sorte, papai já inventou uma desculpa para você ter desaparecido no mesmo período em que fomos ao passado.
     - Que bom que minha mãe não tem essa capacidade de seu pai e da Anne de nos identificar.
     - Por falar nisso... agora a Anne pode me achar. Vai ser difícil me esconder quando me encontrar com o Herochi.
     - Que tal deixar isso para depois? – questionou “Samantha”  parada no vão da porta – como você gosta de dizer... temos trabalho.
     Ela saiu, deixando Joynah livre para ver se estava bem vestida. Mas ela tinha que reconhecer que era bom a rainha não poder achar eles tão facilmente assim. Mas, melhor que isso, era Ray não poder faze-lo.
     Deu uma última olhada no espelho e seguiu o mesmo caminho de Serena... quer dizer, Samantha! Mesmo depois de um ano trabalhando ali escondida, ela ainda tinha que pensar bem em como chama-la. Passou pelas mesas já limpas e arrumadas e viu, no balcão de atendimento, sua mãe pedindo explicações sobre o motivo da sua melhor garçonete desaparecer logo quando mais precisavam dela, uma vez que o restaurante ficou desfalcado de seus dois melhores funcionários no mesmo período – ela própria e o seu pai.
     - Oi mãe, boa noite.
     - Boa noite, filhota – disse ela a beijando na testa.
     Estava para fazer dezesseis anos e ela ainda a tratava como se fosse uma criancinha. As vezes, ela ficava um pouco encabulada com o jeito maternal de Lita, quer dizer, de sua mãe. - a visita ao passado estava confundindo ela. No passado ela era Lita, aqui, é a sua mãe, isso mesmo, ponto final.
     - Sua avó está melhor? – perguntou sua mãe para Samantha.
     - Ela... – Samantha estava sem saber como agir - está sim. Obrigada por perguntar. Se me der licença, acho que tenho que recuperar alguns dias de atraso de minha parte.
     - Tudo bem. Vá pegar os seus patins. Allete e Marina irão trabalhar com você hoje. Tem certeza de que não quer arriscar ser a cozinheira qualquer dia destes?
     - Se você não se incomodar em correr o risco de espantar a clientela... – disse ela.
     - Você cozinha bem – tornou ela – devia ter mais confiança em si mesma. Mas, se não quer tentar, não posso força-la.
     - Eu prometo que pensarei bem a respeito.
     Samantha seguiu para a sala ao lado da cozinha, onde guardavam os apetrechos das garçonetes e de limpeza.
     - Bom – disse Joynah depois que Samantha desapareceu pela porta – deixa eu ir ao meu posto.
     - Um momento ai menina – disse ela a encarando.
     - O que foi?
     Ela a olhou com um sorriso irônico e apoiou o cotovelo no balcão, desafiando-a para uma queda de braço.
     - Há não... – ela balançou a cabeça e sorriu divertida – eu não tenho mais chance agora...
     - Então é verdade... – ela saiu da posição de desafio – você é totalmente humana agora. E eu não estava lá para ver...
     - Estava sim – disse ela sorrindo – mas, por motivos de força maior, não pudemos deixar que se lembrasse disto.
     - Eu sei, seu pai me contou. E vocês nem tiraram uma foto para recordação. Minha filha... – ela suspirou - uma sailor completa. Só falta o cetro do reino da Terra....
     - O que? – ela não tinha entendido.
     - Anne não te contou? Estranho. Semana passada ela e Amy começaram a estudar um arquivo que tinha mais dados da primeira sailor Terra. Ela também tinha um cetro próprio, como a sailor Moon. Agora que você se transforma, quem sabe um dia ele não aparece para você?
     - Hum... não sei se conseguiria usar isso. Vendo sailor Moon e sailor Plutão lutarem com eles, me parece que as deixa mais... dependentes.
     - Sem querer ser chata – chamou Allete, da porta de entrada do restaurante – está na hora de abrirmos.
     - Está bem filha, pode abrir a porta.
     Sua mãe deu uma última olhada ao redor e viu que tudo estava pronto. Samantha, Allete e Marina estavam preparadas para atender os clientes, e Joynah já tinha corrido para a cozinha, para já começar o seu trabalho. Do lado de fora, pela janela, já podia ver que havia uma fila pequena de pessoas aguardando. Eles eram pontuais. Há cinco minutos atrás não havia ninguém.
     Lita tomou seu lugar no balcão e observou os clientes entrarem e escolherem suas mesas. As meninas foram uma para cada mesa anotar os pedidos. Eles eram um dos poucos restaurantes a manter aquele tipo de atendimento clássico. E era essa a metade das razões de seu sucesso.
     A outra metade? Ora... era a comida gostosa.

 

-x-

 
     - Anne, você não devia estar estudando as matérias que perdeu enquanto estava no passado?
     - Que nada Haruka... quero dizer, mãe. Eu estou quase que duas semanas adiantada. Não tenho realmente nada para fazer.
     Haruka olhou sua filha com desconfiança. Ela estava diferente. Bem diferente. Parecia mais... divertida?
     - Que sorriso é este?
     - Nada... – ela não conseguia evitar – é que... ora. Foi divertido ver como vocês agiam no passado. Sem contar que foi interessante meu poder ser maior que os das duas juntas.
     - Você é a mais poderosa das juniores – disse Michiru que estava, até então, concentrada em sua pintura – e, realmente, mesmo o mais fraco de vocês, é mais forte do que éramos então.
     - Juniores não! Lunar Senshi, por favor.
     As duas a olharam com curiosidade.
     - Como?
     - Lunar Senshi. A princesa inventou isso lá no passado. E, nós acabamos gostando e vamos votar no próximo treinamento. Mas já é quase oficial. Chega de juniores.
     - Depois do torneio – disse Michiru a encarando, de forma amigável – nós conversamos. Se – frisou – forem aprovadas. Até lá, nada de caçar briga com os fantasmas negros sozinhas. Apesar de vocês serem mais fortes que nós no passado, os inimigos de agora também estão mais poderosos.
     - Aquele orelhudo que enfrentamos por último era mais forte que tudo o que já vi. E, se tivéssemos tido tempo de trabalhar em equipe, teríamos vencido.
     - “Orelhudo”? – perguntou Haruka surpresa.
     - É. Ela não te falou? – apontou para Michiru – nossa última luta foi com uma criatura bem assustadora, com orelhas de gato. Derrotou vocês duas com um golpe só. Foi quando Joynah ensinou a você e a Lita que podiam combinar os seus poderes....
     - Eu me lembro! – exclamou ela – mas... não me lembro de vocês.
     - A gente apagou suas memórias. Eu contei isso.
     - É verdade – disse Michiru deixando o pincel na paleta – você nos disse. Mas não tinha dito que ele tinha orelhas de gato.
     - Acho que esqueci. Bom, deixa para lá. Acho que vou na praça dar umas voltas. Rita e Suzette estão por lá agora. Quem sabe hoje eu arrumo um namorado?
     Anne se levantou e subiu as escadas até o seu quarto, para pegar uma de suas roupas que realçavam as suas formas. Suas duas mães ficaram em silêncio. As meninas tinham sobrevivido a uma luta contra Rodler?
     Dez minutos depois, Anne desceu de volta, usando uma roupa preta colada ao corpo. Mandou um beijinho da soleira da porta, antes de fechar esta e sair.
     - Precisamos ter uma conversa com Sohar – comentou Michiru olhando para a porta fechada.
     - Talvez... mas estou preocupada com outra coisa. Se elas venceram Rodler no passado, quem foi que enfrentamos há seis anos atrás?
     Haruka olhou assustada para a sua bolsa. Seu comunicador estava tocando. Ela o pegou e ficou um pouco surpresa de ver a rainha neste.
     - Majestade... Algum problema?
     “- Talvez não. Sailor Vênus foi até uma fazenda nos arredores da cidade investigar uma notícia de que fantasmas negros foram avistados por lá. Gostaria que fosse dar uma olhada, apenas por garantia. Já pedi para Sohar ir dar uma ajuda. Talvez não seja necessário, mas...”
     - Tudo bem, eu vou dar uma olhada.
     Haruka desligou e olhou para Michiru.
     - Bem, parece que temos mais um incidente. Vou me transformar e ir até lá.
     - Acha que vai ser preciso?
     - Provavelmente, quando eu chegar eles já terão eliminado a ameaça. Mas quero participar das investigações. Não está fazendo sentido a forma em que estes incidentes ocorrem.
     - Boa sorte. E... cuidado.
     Haruka apenas sorriu, antes de pegar seu pingente.
     - Cuide para que Anne não vá também.
     - Por que? – Michiru ficou curiosa – ela é tão boa quanto sailor Mercúrio para fazer esses estudos.
     - É esse o problema. Não quero passar vergonha de novo.
     Michiru sorriu, para evitar de dar uma sonora gargalhada. Realmente, era para se ficar encabulada quando a sailor Titã começava a falar coisas mais complicadas que sailor Mercúrio. Ela se aproximou de Haruka e fez um simples carinho em seus cabelos. Haruka por sua vez, segurou as suas mãos. Docemente.
     - Depois – murmurou ela.
     - Anne não se incomoda mais com isso. Acho que nunca se incomodou. E ela não está aqui agora.
     - Mas ainda pode nos sentir. Até mais tarde.
     Haruka saiu sem nem ao menos mandar um beijo de despedida. Ultimamente ela estava muito incomodada. Com o que realmente seria?

 

-x-

 
     - Nossa – disse Samantha para Allete – a casa está cheia hoje!
     - Pois é – ela sorriu – o pessoal da escola deve ter avisado a família que a Joynah voltou. Foi difícil no fim de semana sem vocês. Como é que foi a visita ao passado?
     - Proveitosa – disse Samantha com um sorriso de confidência – conseguimos aprontar uma boa com Haruka e Michiru.
     - Mesmo? – Allete se aproximou – e o que fizeram?
     - Menos conversa ai e mais trabalho – disse Joynah pela abertura, colocando as bandejas com os pedidos a frente deles – está um forno aqui dentro, e quero logo uma folga para me refrescar.
     - Desde quando você se incomoda com o calor? – perguntou Allete surpresa.
     - Desde que ela não tem mais seus poderes – disse Samantha pegando a bandeja dela e já patinando para atender o seu cliente.
     - Como?
     - Eu explico depois – disse Joynah – basta dizer que, agora, o Herochi não tem mais desculpa para não deixar que eu dê aquele abraço nele... vai logo!
     Allete pegou a bandeja e seguiu patinando. No meio do caminho, teve de dar um giro para não trombar de frente com Marina. Ela tinha certeza de que ela fazia aquilo de propósito.
     Ela foi até a mesa que tinha feito o pedido, e, com maestria de anos de experiência, colocou todos os pratos no centro desta de forma coreografada, como em uma dança. A família de seu colega de classe aplaudiu ela pela “dança” ao  qual ela agradeceu se inclinando, como uma corista. Olhou ao redor para ver se tinha chegado mais algum cliente em sua área de atuação e, ao confirmar que, por enquanto, todos eles já tinham sido atendidos, relaxou.
     - Puxa, que noite! Tony – disse ela para o seu colega – o que aconteceu que todos vieram para cá hoje?
     - Bom – disse o pai dele – os outros eu não sei, mas Tony disse que sua irmã iria cozinhar hoje. Como no sábado ela ficou presa na outra cidade, decidimos repetir a dose hoje. Não que você não cozinhe bem, mas ela é mesmo excepcional.
     Aquilo a lembrou! Oficialmente, Anne, Joynah e a princesa ficaram impossibilitadas de voltar pois ficaram perdidas em uma cidade na América. Tinha que ficar atenta para dar essa resposta quando alguém perguntasse.
     - Por falar nisso – disse Tony – a comida está ótima, como sempre. Sabe porque a princesa e Anne estavam no intervalo apostando se ela ainda teria o mesmo toque mágico?
     Allete balançou a cabeça. Ela nem sabia desta história. Mas...
     - Quem você acha que perdeu a aposta? – perguntou ela curiosa.
     - A princesa!
     Se ela tinha apostado que Joynah não podia mais cozinhar bem, só podia estar louca.
     - Hum... – comentou o pai de Tony – e por falar na princesa, olha a família real ai.
     Ela se virou e viu a rainha, o rei e a pequena princesa entrando. Achou estranho aquilo. Normalmente, eles vinham lá aos sábados, e, mesmo assim, um ou no máximo dois sábados por mês. Provavelmente também queriam aproveitar que a melhor cozinheira estava de volta.
     - Allete – chamou seu colega de escola – acho que aquela mesa ali está te chamando.
     Ela olhou na direção que ele indicou e, realmente, eles estavam fazendo um sinal para chamar sua atenção. Foi rapidamente patinando até lá para recolher os pratos e pegar o cartão para cobrar pela refeição. Seguiu até o balcão onde ficava a sua mãe – onde estava o seu pai? Era a vez dele cuidar do caixa hoje – e entregou o cartão a ela, enquanto ia ao lado para por os pratos recolhidos para que o robô de limpeza cuidasse deles. Voltou logo em seguida para o balcão, para pegar o cartão com o registro de pagamento e levar de volta ao dono. Samantha também estava lá fazendo a mesma coisa.
     - Hoje nossos 10% vão render bem – comentou ela para a jovem de longos cabelos negros.
     - Também estou achando – respondeu sorrindo.
     - Samantha – disse Lita para ela – acho que, desta vez, você foi sorteada.
     - Como assim?
     - Olhe lá.
     Ela olhou na direção indicada, e ficou assustada. Seus pais e sua irmã estavam se sentando em uma das mesas que ela atendia. Ela sempre evitou isso, tanto que não trabalhava aos sábados, para não ter de testar se seu disfarce iria engana-los. Eles sabiam que ela tinha arrumado um emprego, mas não aonde. Não contou pois não queria eles vigiando o que ela estaria fazendo. Será que sua mãe seria capaz de percebe-la?
     Como iria escapar daquilo agora? Patinou rápido para emparelhar com Allete, que já estava indo entregar a conta paga e ajeitar a mesa para o próximo freguês.
     - Allete – chamou ela – não quer atender eles não? Estou apertada para usar o banheiro.
     - Fala a verdade, Serena – disse ela em voz baixa e com um ar de superioridade – você está é com medo.
     - Tem razão – confessou – faz esse favor para mim... estou implorando!
     - Por que não conta para eles de vez? Eles vão descobrir, mais cedo ou mais tarde.
     - E ter de encarar uma escolta de segurança para quando voltar para casa? Está brincando não é?
     - Certo, vai no banheiro para disfarçar que eu atendo eles. Mas você é quem vai cuidar de entregar os pedidos e cobrar pela conta depois!
     - Tudo bem... eles não pagam mesmo... – disse Samantha sorrindo.


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