O silêncio. Era tudo que eu tinha nesse momento. O silêncio. Edward e Jasper discutiram com o legista, Edward tentou bater nele e o chamou de desgraçado. O segurança que estava nos acompanhando o segurou em seu acesso de fúria e Jasper tentava mostrar a ele que isso não traria Kate de volta ou muito menos resolveria alguma coisa. Agora indo para o apartamento de Jasper nós tínhamos o silêncio. Ele não me olhou e muito menos falou alguma coisa, eu estava pensando em tudo que ele disse e grata pelo silêncio. Eu não matei Kate. Tinha vontade de chorar, gritar e sair correndo berrando que Kate não morreu pelas minhas mãos. Não matei Kate.

Chegamos e mais uma vez o silêncio. Ele parecia ser coletivo agora. Alice tinha uma expressão cansada e receosa, mas Jasper tinha uma determinada. Eu refleti sobre o relacionamento deles, algo que deveria estar nas suas fases iniciais e melosa estava sendo apagado por toda essa rede de mentiras e desenganos. Talvez, só talvez as duas coisas não tivessem nada haver com a outra. Tentaram me matar e na esperança de se livrarem do corpo jogaram Kate na frente do meu carro. Eu não conseguia mais pensar em nada quando uma dor de cabeça começou e pensei se Alice ou Jasper teriam algo para aliviar ela um pouco.

Respirei fundo e sentei no sofá do apartamento fechando meus olhos. Todos se movimentavam, eu ouvi o som que vinha do bar e pensei que Edward estava lá, afogando suas mágoas ou incertezas, eu só queria um remédio. O som de alguma coisa se movendo me fez abrir os olhos e então Jasper apareceu na minha frente com um grande quadro branco nas mãos.

– Ficou completamente maluco? – Edward perguntou e quando o olhei ele estava com um copo na mão. Eu queria jogar um copo na cabeça dele por estar bebendo a essa hora ou até mesmo não estar sentado do meu lado segurando a minha mão. Mas ele tinha acabado de descobrir coisas de Kate que nem mesmo ele um dia imaginou e eu não sabia como ele reagiria a uma coisa dessas. Eu senti um alívio quando pensei em Kate. Eu não a matei.

– Vamos recapitular tudo que descobrimos até aqui.

Alice sentou do meu lado e Edward veio mais perto, mas não sentou do meu lado. Eu o encarei e ele me olhou só por alguns segundos. Alguns segundos apenas.

– Bella sai para comemorar. – ele aponta para a fotografia do bar que estava colada do lado esquerdo. – Ela bebe e bate com o carro supostamente aqui. – Ele aponta agora para um mapa que estava no meio do quadro. E tem uma coisa em cima do mapa.

– O que é isso em cima do mapa?

– A distância de carro do bar até o local do acidente. São dez minutos em uma velocidade baixa.

– Hum...

Estamos no nosso momento particular de CSI. Eu não gosto da série por ser algo às vezes real demais. Detesto corpos de pessoas mortas contando histórias absurdas demais até para a nossa humanidade. É triste ver como o ser humano pode ser egoísta e mesquinho a ponto de matar um outro por ciúme, dinheiro, desentendimentos ou até mesmo não ir com a cara do vizinho.

– Você não deveria estar dirigindo aquele carro. – Jasper comunica com cautela e Edward parece acordar de um transe.

– Tem imagens dela!

– Não tem na verdade. O que vemos são imagens cortadas e alteradas. Eu descobri isso mais cedo quando mandei para análise e os resultados saíram. Tudo que o que supostamente viu é como um jogo de câmeras bem feito, coisa de cinema mesmo, o especialista disse que é um efeito bem comum, mas perceptível se houver uma análise.

– Ela estava aonde então.

– Edward o remédio que Bella ingeriu causa alucinações ela deveria estar no banco de trás cantando ou fazendo qualquer outra coisa até a droga causar mais dano no organismo dela. – Alice explicou e eu precisei concordar.

– A ambulância demorou 10 minutos para chegar, o que deu um tempo total de 20 minutos até a droga fazer o efeito desejado e acabar causando uma parada cardíaca a ela. - Jasper completou. Fazia sentido.

– Vamos lá. As imagens foram alteradas, o perito chantageado certo? – Edward perguntou um pouco confuso.

– Sim.

– O que nessa merda é verdade?

– A verdade vai ser descoberta. – Jasper estava calmo. Agora ele apontou para uma outra foto do lado direito. – Aqui você e Kate estavam hospedados. Você tinha negócios, ela não queria ficar sozinha e vieram juntos certo?

– Sim.

– Você falou que brigaram e ela saiu para andar.

– Isso mesmo, eu liguei para a recepção, avisaram que ela estava no restaurante o tempo todo. Eu não sabia que ela havia saído do hotel até a hora que me contaram.

– A moça do hotel que avisou isso se chama Melinda Palmer e ela simplesmente não consta em nenhum registro. Eu mesmo verifiquei, é como se ela fosse um fantasma. Ela começou a trabalhar um mês antes, estava só nos períodos noturnos que ninguém quer e sumiu na noite do acidente.

– Isso é fudido demais! – ele gritou – Por que alguém queria matar a Bella e Kate? Isso faz sentido?

– Não sei o que faz sentido Edward, esses são os fatos.

– E o que tem mais? – perguntei olhando para uma foto de um homem que eu tinha a leve impressão de já ter visto. Eu não sabia da onde, mas eu já tinha visto ele.

– Bom, senhores esse é James, namorado de Bree e filha do nosso legista.

– Ele estava lá. – levantei me lembrando dele me servindo a bebida. – Foi ele!

– O que tem ele Bella?

– Edward ele me serviu a bebida. Foi ele!

– Temos agora o nosso ponto em comum. – falou Jasper. – Ele namorava Bree e saía com uma amiga de Bella. Ele ficou no bar e ele estava com Bree escondida na parte de trás.

– Como pode ter tanta certeza? – perguntei.

– Porque ele estava no bar e em contato com nosso legista ao mesmo tempo e depois ele a levou com a bolsa de dinheiro. Não havia mais ninguém com ele provavelmente.

– Mike e Jéssica. – lembrei deles.

– Isso nos explica quem estava dirigindo ou quem ajudou a completar as coisas.

– Isso foi muito bem orquestrado. Foi algo planejado nos mínimos detalhes. - Edward estava imóvel olhando as fotos. Tinha uma foto de Kate que Jasper colocou junto com uma minha perto.

– Exato, mas o que se ganha com isso? Seu pai iria deixar a fortuna para alguém caso a sua morte fosse confirmada? Edward iria ser o quê depois que Kate morresse? Não consigo entender os crimes e os motivos dele.

– Eu preciso ir. – ele falou e eu me levantei para ir junto. Ele me olhou como se pedisse desculpa e eu só me aproximei querendo entender. – Não.... não venha... – ele tinha uma expressão de dor terrível como se eu causasse dor nele.

– Edward o que está acontecendo? – perguntei acho que no fundo sabendo a resposta. Eu senti depois de tantas coisas o cheiro de Kate e as lágrimas nasceram em meus olhos. – Não faz isso. Não faz isso.

– EU TE ACUSEI! EU TE JULGUEI!

– Não foi assim... – elas caiam em cascatas agora. O que ele fazia me causava uma dor terrível.

– Eu não te mereço Bella. Nunca mereci um olhar seu.

– PÁRE COM ISSO! – Gritei colocando as mãos em meus ouvidos de forma infantil.

– Não! Não pode ser assim! Eu te machuquei tanto... eu te tranquei naquele quarto... eu quase te matei sem o remédio.

– VOCÊ NÃO SABIA! NÃO SABIA!

E o cheiro ficando cada vez mais e mais forte me deixando tonta e desnorteada. Ela estava ali e se fechasse os olhos eu a veria com certeza. Ela estava do meu lado ou do dele?

– Bella você merece algo melhor que um homem que só soube te maltratar.

– Você está acabando comigo...

Os braços de Alice me envolveram e eu não sei como ele interpretou essa última frase porque ele foi embora logo em seguida. Eu caí no chão amparada por Alice e me senti de novo naquele quarto de criança com um vazio que não podia explicar. Algo surreal. Eu estava sozinha e de repente eu queria ter matado Kate, pelo menos assim ele estaria ali comigo agora e não sofrendo por algo que já acabou. Acabou. Eu e Edward. Acabou.