Eles sempre estiveram juntos, mas não sabiam. Eram tempos estranhos, tudo ao redor parecia de papel, frágil, liquefeito. Tudo era raro e desperdiçavel. Eles matavam todos que estivessem perto, assim, sempre estiveram sozinhos.

E juntos, mas não, eles nunca souberam.

A vontade impetuosa que mandava era a dele e ele matava sem perceber. Ele nunca quis estar sozinho e nunca viu a presença dela, que pareceria frágil numa pequena menina de corpo franzino, tão leve como o ar. Ele nunca imaginou que um dia, alguém, iria fazê-lo vê-la; iria separá-lo dela. Então, um poder imensurável, tão único como o seu, arrancou ela de dentro de suas entranhas, das costelas, da palma das mãos.

Não importava de onde: ela era uma parte dele. Talvez dolorosa, talvez infantil, quem sabe até de vontade, dos desejos, daquilo que move o ser sem pensar no mover, sem se dar conta do movimento. Era pra ser mulher, era pra ser assim: livre e dele.

Eram um só, sempre foram. Sempre estiveram juntos. Agora ele podia ver. Agora eles não estavam sozinhos. Agachada, sem vestes e ofegante, ela esperava que ele fizesse alguma coisa.

— Você tem nome?— Ele questionou com seus olhos curiosos.

— Lilinette, e você, tem?— Sua voz branda, cansada. – Apesar de você ser uma parte de mim.

Ele estava feliz mesmo que nada no rosto mostrasse. Jogou-lhe uma capa. Jogou-lhe uma visão de quem ela era, projetada num homem alto, de cabelos pretos. Jogou-lhe o próprio nome:

— Stark.

— Stark...— era curiosidade dela. – O que nós vamos fazer agora?

Ele poderia dizer várias coisas. Ele queria qualquer coisa, mas ele sempre comandaria quem eles eram, porque Stark sempre seria o mais forte. Lilinette era uma arma e lhe trouxe um sentimento. Apenas um.

— ...Para qualquer lugar, contanto que fiquemos juntos.

Ela sorriu, então, ele caíra pelas mãos de uma espada capciosa, de um deus da morte capcioso. Era uma guerra: as guerras são assim. Eles dois sabiam que os fracos não mereciam viver, mas, até nesse momento, onde a existência solitária deve permanecer só ao mergulhar no infinito das almas de quem já morreu, e agora morria outra vez, Lilinette ainda sorria pra Stark, porque eles estariam juntos...

— Para sempre.