Eu fui quem desviou o olhar desta vez.

Levantei da cadeira e então segui para o sofá, onde Dimitri já havia sentado e apenas, me aguardava silenciosamente. Uma de suas pernas dobrada sobre a outra e seus braços, posicionados em cima do sofá, formando uma postura quase relaxada.

–O que aconteceu? – Ele perguntou, embora eu tivesse certeza de que ele sabia mais, do que aparentava.

–Art sabe sobre nós. – Disse de uma única vez. Eu não tinha motivos para enrolar.

–Eu sei. – Dimitri baixou um tom, me fazendo voltar a encara-lo. Seus olhos eram inexpressivos.

–Ele também falou com você?

–Não precisou. – Ele deu de ombros, mudando sua postura mais uma vez. Encolhi-me um pouco no sofá, sentando em cima de minhas pernas. –Art me conhece há bastante tempo e sabe, quando algo esta me atormentando.

–Eu atormento você? – Saiu mais rápido do que eu imaginei. Automaticamente me amaldiçoei, mas já era tarde demais.

Dimitri sorriu. Um curto sorriso triste.

–Você consegue ser minha salvação e minha perdição ao mesmo tempo Roza. – Meu apelido russo surgiu de seus lábios, me fazendo estremecer.

–Me desculpa. – Eu quase choraminguei, me sentindo horrível.

Dimitri franziu o cenho, confuso.

–Pelo que?

–Por que eu não posso ser a sua perdição e eu simplesmente não consigo evitar. Merda! – Levantei do sofá e dei a volta, tocando minha testa. Onde eu havia me perdido? Aquilo não poderia estar acontecendo. Não agora quando estávamos tão sozinhos ali naquela cabana na neve. Uma vasta lembrança do meu desejo sobre neve e romance surgiram em minha cabeça, me fazendo sorrir de uma forma bastante irônica.

–Cuidado com o que se pede. – Me censurei mentalmente. Agora eu estava ali naquela merda de posição, sentindo todos os músculos de meu corpo tensos.

–O que está acontecendo? – Foi à vez de Dimitri se levantar, mas eu o parei com uma mão.

–Não se aproxime Okay? Apenas, não se aproxime – Sem o olhar, disse pausadamente. –Fique onde está. Eu não quero ser uma má influência.

Dimitri chacoalhou a cabeça em confusão, mas quando finalmente conseguiu entender o que eu queria, ele sorriu. Um longo amplo sorriso.

–Rose não faça isso. – Ele voltou a investir em minha direção e antes mesmo de eu voltar a protestar, ele me abraçou.

–Você está louco? Não podemos ficar desse jeito. É insano e eu não posso deixar eles te expulsarem! – Comecei a me debater, mas Dimitri manteve seu aperto firme em volta de mim.

–Eles não vão me expulsar. – Ele disse no meu ouvido. –Do que diabos você está falando?

Eu não sabia explicar, eu simplesmente comecei a enlouquecer. Era bem maior que eu. Era como se uma nuvem negra, estivesse em cima da minha cabeça.

–Art. Art me disse que eu estou atormentando você e que você é homem e que ele percebeu em menos de dois dias que estamos juntos e que... – Dimitri me silenciou com um dedo nos lábios.

–Rose, respire fundo e me conte com calma o que Art disse.

Fazendo o que ele me pediu mais de uma vez, o segui quando ele me puxou para o sofá e me sentou em seu colo. Por mais que eu me amaldiçoasse um milhão de vezes por me sentir confortável demais naquela posição, me deixei levar por suas mãos em meu cabelo e seu cheiro de pós-barba, me inundando por completo, como um remédio calmante.

Quando eu estava mais calma para prosseguir, voltei a falar.

–Art disse que ele nos descobriu pela forma que nos olhamos.

–Oh claro. – O tom quase irônico de Dimitri, me fez afastar um pouco para encarar seus olhos.

–O que quer dizer? – Franzi o cenho e ele então sorriu.

–Eu contei a Art sobre nós.

–Você contou? – Abri tanto meus olhos, que não me surpreendia se eles saltassem das órbitas.

–Sim contei. – Sua voz era tranquila e relaxada. O que eu havia perdido?

–E ele? O que ele falou? – Sem que eu me desse conta, estava apertando sua camiseta entre meus dedos.

–Ele riu. – Dimitri voltou a dar de ombros e então me senti enjoada.

–Como assim ele riu? Ele me deu um sermão daqueles. Ele insinuou sobre outros descobrirem e sobre Lissa.

–Rose. – Dimitri se mexeu um pouco e me ajeitou em seu colo. –Art sabe sobre nós por que eu contei, e não por que ele percebeu algo. – Uma de suas mãos levou uma mecha solta do meu cabelo, para trás da minha orelha.

–Ele me disse que... – Comecei, mas novamente ele me interrompeu.

–Ele estava te testando. – Os olhos de Dimitri encararam os meus com intensidade. – Ele queria saber até que ponto você se sacrificaria por Lissa e pelo escândalo que você fez, ele já teve sua resposta.

E então tudo pareceu se encaixar. Lentamente, tudo pareceu se encaixar.

–Ele sabe o quão triste você ficou quando ele citou sobre nós. Ele sabe que é um cargo extremamente pesado que você terá que levar consigo, mas mesmo assim... – Dimitri voltou a mecher no meu cabelo, com um aspecto sonhador. – Mas mesmo assim, ele sabe que você fará o que é necessário. Inclusive, sacrificar sua própria vida pelo bem dela. E mais que qualquer aprendiz da sua idade Rose, você sabe o verdadeiro significado da palavra guardião.

Suas palavras eram intensas e cheias de significado. Arthur Schoenberg estava me testando o tempo todo. A criança sem dúvida era uma distração para que eu não desconfiasse do “próximo teste” .Ele sem dúvida alguma, era esperto.

Mas ai então, algo se instalou em minha mente.

–Mas eu não disse para ele a resposta. Eu não falei nada quando ele me questionou. – O pânico voltou a mim com força, mas Dimitri logo me interrompeu.

–Não foi preciso Roza. Ele entendeu melhor do que você possa imaginar. – Dimitri baixou a mão do meu cabelo e me puxou para seu peito, para um abraço. –E de qualquer forma, está tudo bem agora.

Fechei meus olhos, tentando ao máximo tirar proveito daquele momento de nós dois juntos e a sós. Só o tempo iria dizer quando poderíamos ficar daquela forma de novo. Dimitri me fazia tão bem.

–Mas me fala uma coisa.

–O que quiser

Voltando a levantar a cabeça para encara-lo, eu perguntei.

–Por que você falou a Art sobre nós? Digo, ele pode ser seu amigo e tal, mas eu não imaginei que isso iria ser compartilhado com alguém mais, a não ser entre você e eu.

Dimitri corou um pouco.

–Eu disse por que não queria outros guardiões atrás de você.

Voltei a abrir meus olhos e boca em choque pela sua confissão tão inesperada. Dimitri desviou o olhar, mas eu puxei seu rosto para mim.

–Você está brincando. – Ironizei a minha forma e ele corou ainda mais. –Oh não. Você não esta brincando.

–Você faz ideia de quantos guardiões os Badica tem? Contando com Art são cinco –A voz de Dimitri era tão indignada que eu comecei a ter um ataque de riso. Ele me olhou severamente. –Eu não vejo graça.

–Mas eu vejo. Você está ciumento!

Ele então começou a me afastar do seu colo, mas eu me segurei nele.

–Não vou a parte alguma, só por que esta ciumento. Mas me conte o que você disse para Art.

Dimitri virou os olhos, parecendo seriamente desapontado com minha pergunta.

–Eu apenas disse que você não estava interessada no amigo dele. –Ele deu de ombros.

–Amigo dele?

–Oh Rose. Você consegue ser tão esperta para algumas coisas, mas tão ingênua para outras.

Com isso Dimitri me distanciou de vez e se levantou.

–Eu não entendi. – Juntei minhas sobrancelhas.

–Você não notou mesmo o olhar do que eles te deram quando você desceu do carro? Ou quando vieram entregar a comida pra gente e você de shorts?

Pensativamente, tentei recordar de quando havíamos chegado. Um par de homens nos saudou na entrada da casa, mas não reparei em nada mais do que cortesia. Já na entrega de comida, realmente um deles, o loiro de cabeço bagunçado, havia me encarado um pouco mais.

–Então é por isso que implica com meu shorts? – Cruzando os braços, eu ergui uma sobrancelha desconfiada pra ele.

–Não é só isso. – Dimitri então respirou pesadamente e virou de costas, caminhando em direção à escada. – Boa noite Rose.

–Hey camarada, esse quarto é meu. – Me levantei prontamente do lugar e ele começou a correr. Dimitri Belikov disputando corrida comigo em direção as escadas era algo memorável. Comecei a rir enquanto o empurrava para o lado.

Dimitri então segurou meu braço e me girou para si. Antecipação fervilhou em mim, quando senti seus dedos tocando meu rosto.

–Boa noite Roza. – Ele então beijou o topo da minha cabeça e se afastou.