Do or Die escrita por LadyThyssa, Dr Hannibal Lecter


Capítulo 17
Capitulo 17 - Fase 4


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, leitores! Nova fase para vocês, continuação da destruição dos satélites... Acho que ficou meio longo, mas vale a pena ler :D



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Fui acordada pelo gosto metálico de sangue na minha boca. Eu não me lembrava de ter machucado meu rosto em momento algum, mas agora o sangue escorria frio pelo meu rosto e já chegara até a minha boca. “Mas o que...” Eu murmurei, conforme abri os olhos.

Havia apenas uma luz em todo o recinto. De onde eu estava não podia ver o quão grande aquela sala era, e a luz forte iluminando um quadro negro logo á frente era forte o bastante para machucar minha vista, que ainda se esforçava para enxergar e procurar algum rosto familiar ao redor.

Mas eu não conseguia me mexer. Ambas as minhas mão estavam presas por uma algema que as prendia em uma carteira logo á frente. Meus pés também estavam presos por algo metálico que me obrigava a permanecer sentada, olhando para a frente, na primeira carteira de uma fileira encarando o quadro negro. Isso é uma escola, pensei conforme minha mente voltava ao lugar.

Eu não estava mais com a minha mochila, mas meu machado, entretanto, estava em cima da carteira, de um modo que eu só conseguiria alcançá-lo se me soltasse das algemas. Eu tentei virar para os lados, me debati muito por isso. Cada vez que conseguia um vislumbre sobre quem estava atrás de mim ou do lado, via apenas vultos sem cor com formas humanas de outros jogadores, presos assim como eu em suas carteiras. Eu me agitava para tentar vê-los melhor, reconhecer alguém, mas era uma tarefa impossível naquela escuridão.

– Pare de se mexer, vai chamar muita atenção – a voz grave e séria de Alaric disse atrás de mim, quase como um rugido de advertência. O líder do nosso grupo estava sentado na carteira atrás de mim. Eu não podia vê-lo daqui, mas pelo tom de sua voz parecia estar se esforçando para falar baixo.

Me coloquei sentada com postura na carteira, a visão embaçada pelo meu próprio sangue. Eu via apenas o quadro negro e uma mesa de professor logo á frente. A luz acima do quadro balançava em intervalos regulares.

– Alaric? – Perguntei para o vazio.

– Diga – Ele respondeu no instante seguinte.

– Cadê os outros? – Perguntei.

– Vamos encontrá-los quando a fase começar. Quando nos soltarem, corra para a porta á sua direita, de forma rápida e sem olhar para trás, entendeu? – Ele disse, e parecia preocupado.

Os vultos humanoides sentados a minha volta começaram então a se mexer. Um por um eles foram acordando na nova fase e logo a sala se encheu de murmúrios irreconhecíveis.

Imagino que todos estavam despertos quando um homem entrou na sala. Alto, vestia um terno escuro, cabelos longos, lisos e negros. Algo nele me era familiar, mas seu rosto estava coberto com uma máscara escura onde se lia ‘Do or Die’ escritos com tinta vermelha. Ele sentou-se à mesa em destaque na frente da sala, onde normalmente fica o professor, e apoiado nos cotovelos começou a falar:

– Bem vindos – Ele disse, com uma voz convicta e conhecida: a mesma voz do mágico que me ajudara a passar de fase no circo – Como já devem ter percebido, estão em uma escola. Para sair daqui, vocês precisam buscar a chave para o portão principal, no segundo andar. Ninguém disse que será fácil, portanto se preparem. Quando o sinal tocar, estarão dispensados para procurar a conhecida chave dourada. Os dez primeiros que passarem pelo portão vão passar de fase... Agora os que não conseguirem vão ter que, bom, esperar o próximo intervalo para tentar novamente – Ele emitiu um ruído que se assemelhava a uma risada, enquanto seu rosto movia-se entre as carteiras, analisando cada um – E será muito divertido.

Ele se levantou com uma elegância característica. Colocou-se de pé encarando a todos, e posso jurar que seu olhar, mesmo que oculto por um máscara ficou fixado em mim por tempo demais. No instante seguinte, ele se retirou da sala e uma voz mecânica começou a falar através dos auto falantes em algum lugar na sala: 30 segundos.

Os murmúrios dos outros na sala se estenderam. Hora ou outra alguém gritava um nome, procurando alguém. Nessa fase, tínhamos que ser rápidos para sair, tínhamos que agir rápido. “Corra para a porta”, Alaric dissera.

20 segundos, a voz repetiu. Eu olhei para os lados, mas a luz continuava apagada, tentei me debater e quebrar as algemas, mas era inútil. 10 segundos. Respirei fundo e tentei me acalmar, mas era difícil. A porta á direita, Alaric dissera. Era só correr para lá, por que dificultar tanto?

As luzes se acenderam em um estalo. Muitos se atordoaram com a repentina iluminação e quase como uníssono com a luz, as algemas se abriram de forma mecânica e soltaram meus pulsos e meus pés, agora já doloridos. Ouvi Alaric se levantando atrás de mim, alcancei meu machado e comecei a correr em direção á porta. E todos os outros ‘alunos’ fizeram o mesmo.

Tudo se tornou uma corrida desesperada, que se resume a flashes de pessoas passando por mim. Eu passei pela porta e me encontrei em um corredor estreito que seguia sempre reto. Era comprido e largo o bastante para todos conseguirem correr com folga, ou quase folga, já que vários esbarraram em mim e me empurraram conforme corriam. Eu nunca vi essas pessoas na minha vida. Todos tão diferentes, mas na mesma faixa etária que eu e os outros – talvez uns dois anos mais velhos ou mais novos – e eles carregavam armas tão distintas... Eu consegui correr bastante, passei por várias salas que estavam fechadas e continuei sempre adiante.

Perdi Alaric de vista facilmente, e agora estava por minha conta. Tentei limpar o sangue de um ferimento na minha testa, um pequeno corte que eu não sei como foi parar lá, mas o sangue já estava seco em meu rosto. Eu imaginava o quão assustadora minha aparência deveria estar por conta do sangue. Eu continuei a correr, até que alguém me acertou com um golpe por trás.

Eu cambaleei para o lado, meu braço machucado latejante, ergui meu machado, mas o agressor foi mais rápido e ergueu uma faca contra meu rosto. Só tive tempo para tentar desviar, o que não foi muito útil já que a faca acertou meu rosto em cheio e abriu um corte profundo na minha bochecha. O rapaz que me atacou parecia mais velho do que os outros, e eu posso jurar que ele ia me matar, até que algo o tirou de cima de mim.

Alaric o segurou com uma mão e o puxou para trás, o jogando no meio do monte de corredores que seguia para o pátio da escola.

– Alaric, seu braço... – Eu disse conforme me levantei e olhei melhor para ele: o líder do nosso grupo, Alaric, era um rapaz alto e forte, cabelos escuros e olhos castanhos avermelhados. Seu rosto tinha traços profundos e característicos, mantendo sempre uma expressão dura e severa que o fazia parecer anos mais velho do que realmente era. Mas o que mais me intrigava era que no lugar onde deveria estar um de seus fortes braços, estava um braço artificial prateado, era feito com um material rústico, mas mesmo assim mantinha os contornos e o tamanho proporcional ao outro braço.

– Eu sei, vamos! – Ele gritou e eu o segui. Ele me puxou para andar mais rápido, apertando meu braço ferido com sua mão de metal. Foi muito doloroso. Ele me guiou até uma sala e entramos lá. Alaric bateu a porta atrás de mim, como se estivesse fugindo de algo.

Eu olhei ao redor: era uma sala pequena e sem janelas, com várias mesas e armários, havia uma série de objetos como potes e esculturas, assim como aqueles frascos de experiências que usamos nas aulas de química. – O laboratório da escola – eu disse, saindo de perto da porta e andando até uma mesa.

– Sim – Disse uma voz feminina no outro extremo da sala. Era uma garota ruiva com sardas e uma lança na mão. Eu a reconheci daquela fase do circo como uma das aliadas de Alaric. Ela se chamava Nicolle, eu acho, e mexia em um armário onde havia vários tipos de panos e gases para curativos. Ela me trouxe um pano molhado. – Melhor limpar seu rosto.

Eu passei o pano molhado no rosto. O tecido rapidamente se tingiu de um vermelho escuro conforme eu limpava o corte na testa e o mais profundo na bochecha. Meu rosto todo ardeu, mas foi um alivio quando acabei. Alaric, agora sentado em uma cadeira olhando pela fresta da porta disse: - Está ouvindo?

Nicolle se aproximou dele e curvou sua orelha para a porta. Eu podia ouvir daqui também. Algo estava acontecendo lá fora. Eu ouvia pessoas correndo e gritando, como se algo as perseguisse. – Estão matando uns aos outros – Nicolle concluiu.

– Não – Eu disse – Estão fugindo de algo.

– Subindo as escadas para o andar de cima, onde está a chave. Estamos perdendo – Alaric disse, parecendo frustrado.

Tudo ficou silencioso, e assustador. – Temos que ir... Temos que sair daqui – eu sussurrei para Alaric quando som de tiros cortou todos os barulhos lá fora. Foram três disparos vindos de algum lugar. – Armas de fogo... pensei que não usassem isso aqui.

– Não usam – Alaric respondeu.

Foi quando alguém entrou no laboratório. Desesperado, Tommy caiu no chão depois de abrir a porta, uma poça de sangue ensopando sua camiseta. – HEY! – Alaric gritou, conforme fechou a porta alarmado com o que poderia entrar.

– Tommy – Eu disse, ajudando ele a se levantar – Você está ferido!

– Tudo bem – Disse ele arrumando os óculos, e tentou ficar de pé – Alguém... atirou em mim, do telhado. – A voz dele estava falhando.

– Aqui – Nicolle disse atrás de mim – Vamos ver algum curativo – Ela correu para procurar alguns curativos nos armários, desesperada para ajudar.

– Tudo bem – Tommy disse e depois se voltou para mim – Voraz me mandou te procurar... Ele disse alguma coisa sobre ter achado um satélite lá na secretaria da escola... Seja lá o que isso for.

Ele fez muito esforço para dizer isso, estava perdendo sangue. – Ele está lá? Na secretaria de escola? – Perguntei, ajudando Nicolle a limpar o ferimento no abdômen de Tommy.

– Fomos os primeiros a chegar lá, e depois vieram os outros... E depois aquelas coisas... – Ele se contorcia de dor, e eu entendia. – Agora nós dois levamos um tiro – Ele disse, tentando sorrir. O garoto dos óculos trincados não parecia bem.

– Vamos lá então – Alaric se apressou em se levantar, animado – Nicolle pode cuidar dele, sim?

– Claro – A ruiva respondeu.

– E você – Ele apontou para mim – Me deve explicações sobre esse tal de satélite. Deve saber o que Voraz quer dizer mandando esse garoto aqui.

– É como vamos sair do jogo – Eu respondi, agarrando meu machado com força e correndo até a porta, atrás de Alaric – Tem cinco deles, destruindo eles saímos do jogo e tudo isso acaba. Já destruímos um na fase anterior – Disse tudo o que sabia muito por cima, mas Alaric era um rapaz esperto e entendeu com facilidade. “Sim...” Ele disse, balançando a cabeça em afirmativa, surpreso. “Vamos logo então. Nicolle e Tommy esperem a gente no portão da escola. Vamos todos sair daqui” Ele pegou seu arpão e juntos, corremos pelo corredor da escola, passamos pelo pátio cheio de corpo de humanos e de criaturas humanoides – que pareciam alunos - caídos mortos no chão. Nós seguimos sem dar muita atenção para o banho de sangue que aconteceu ali. Até que alcançamos as escadas e o verdadeiro inferno começou.

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Nós subimos as escadas, e nos deparamos com um corredor cheio daqueles armários que você está acostumado a ver naquelas escolas americanas dos filmes, cercando o corredor dos dois lados. E havia muitos jogadores quebrando aqueles armários, vários deles com as portas arrebentadas e amassadas. “Estão procurando a chave” Alaric disse.

Mas além de terem que se preocupar com os armários, havia aquelas criaturas ali. Elas tinham aquele corpo humanoide com os membros alongados excessivamente, não tinham olhos, não tinham rosto, apenas uma lisa pele no lugar onde deveriam ter rosto. A maioria era careca, e vestiam o mesmo uniforme: uma camiseta branca e o que mais parecia um short ou calça rasgada. Os dedos alongados das criaturas eram como garras, sua pele era clara de mais de modo que podíamos ver as veias pulsantes através delas, como um emaranhado de fios sanguíneos. Esses bichos eram ligeiramente rápidos e ágeis, atacavam tudo e a todo que tentavam avançar, e estavam em tantos que poluíam a visão para qualquer vista de onde o satélite estaria. Os jogadores presentes naquele andar se ocupavam, além de quebrar os armários, em matar aquelas coisas.

Entre esses jogadores, Alaric avistou Pan e Maysa, as duas golpeando um armário com um pedaço de madeira e quebrando e estreita porta. “Nada também!” Pan gritava, frustrada.

Theo estava com uma espécie de facão, servindo de guarda para as duas. Desde que eu me lembre, eu nunca vi esse garoto carregando uma arma antes e foi estranho vê-lo agindo com tanta coragem atacando os monstros tão certeiramente e cheio de motivação. E então eu me lembrei que ele e Pan haviam de envolvido de algum jeito romântico e de repente a ideia de que ele estava se exibindo para agradá-la deixou a situação mais engraçada.

– Onde está Voraz? – Perguntei ao me aproximar de Pan.

Ela parou no meio de um golpe em um armário, e me encarou alarmada: - Ele saiu correndo no meio desses bichos gritando alguma coisa sobre satélites. – Ela voltou a quebrar mais um armário.

– E sobre fogo – Maysa completou – Provavelmente está ficando louco.

– Vamos atrás dele – Alaric disse atrás de mim, com uma certeza espantosa na voz.

– O que... Ric, olha só o seu braço! Onde diabos você arranjou isso? – Pan disse, a o perceber o braço mecânico de Alaric.

– Longa história – Ele disse, rolando os olhos.

– Vamos logo – Eu o puxei, e passamos por Theo que nos viu e cumprimentou com um aceno da cabeça, antes de golpear um outro monstro com o facão. “É só acertar na cabeça” ele sussurrou baixo, quase como oração para si próprio.

Alaric e eu passamos correndo por uma extensão bem longa do corredor até avistar Voraz no final do corredor dos armários. Ele empunhava sua espada com uma mão, matando aquelas coisas e tentando avançar enquanto segurava um lança-chamas com a outra mão.

– Onde você conseguiu isso? – Ric perguntou quando nos aproximamos, apontando para o lança-chamas.

– Roubei de um outro garoto, afinal precisamos de fogo para destruir essa coisa, lembra? – Voraz me encarou – A porta da secretaria estava aberta, eu vi o satélite, é uma caixa de madeira bem grande, com o número II desenhado lá. Depois que eu sai a porta se fechou e agora esses malditos não me deixam passar!

– Tudo bem – Alaric recuperou o fôlego, segurando seu arpão com mais força – Layla entra lá e queima tudo o que encontrar de madeira, Voraz e eu cuidamos desses bichos até você destruir.

– Por que eu? – Perguntei, no instante que um animal estranhamente alongado pulou nas costas de Alaric, e o derrubou no chão. Ele estava o arranhando com as garras, deixando uma trilha de sangue por onde passava. Não demorei muito para erguer meu machado com a familiar maestria, e golpeei o animal na cabeça.

– Porque é sua vez de destruir essas coisas – Voraz disse, me entregando o lança-chamas. Era mais pesado do que parecia, e por isso me desequilibrei um pouco para passá-lo nas costas e depois segurar a outra parte com a mão esquerda – o machado com a direita.

– Por aqui – Ele disse depois que Alaric se levantou, e nós três caminhamos até encontrar a sala fechada que Voraz falou. Vários daqueles monstros nos atacaram, mas tanto eu quanto Voraz conseguimos abatê-los enquanto Alaric tentava arrombar a porta. Foram vários golpes desesperados e incertos na cabeça daqueles bichos. Eu errei vários, já que eles eram muito ágeis, e me lembravam aquele lagartos da fase anterior, mas assim que Alaric conseguiu derrubar a porta – graças á seu braço mecânico – eu entrei lá, levando comigo o lança-chamas e o machado agora sujo de um sangue escuro e aguado.

A sala era uma típica secretaria de uma escola, com a mesa da secretária, da diretora, as estantes cheias de papéis, o quadro de avisos, de regras, e afins. Eu avistei o símbolo II desenhado em um móvel de madeira do outro lado da sala, era uma caixa na verdade, fixada na parede e tão alta quanto um homem adulto. A sigla Do or Die escrita de vermelho brilhava na madeira.

Eu liguei o lança-chamas na mesma hora, e logo ateei fogo á o satélite, e também a todos os papeis e mesas que estavam ao redor. O satélite emitiu um estranho ruído robótico, como se estivesse entrando em curto, e logo as chamas foram se alimentando da madeira e adentrando na caixa. Eu continuei apertando o lança-chamas, sentindo aquele calor insuportável no rosto. Os sons de algo se quebrando, dos estalos de algo dando errado era bem alto, e quando um som como um ‘bip’ começou a soar da caixa eu soube o que iria acontecer.

– Vai explodir, sai daí! – Alaric gritou, agarrando meu braço e me tirando da sala. Joguei o lança-chamas lá, no meio do fogo que se alastrava á medida que Voraz, Alaric e eu corríamos para a saída da escola.

Pan nos encontrou no andar de baixo, ela parecia muito agitada. “Encontramos a chave, vamos dar o fora”. E quando atravessamos o portão da escola, eu senti minha mente caindo em um abismo de novo. A familiar sensação se estar passando para a próxima aventura.


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Notas finais do capítulo

E é isso ai! Não deixe de comentar se você gostou, qualquer sugestão ou critica é muito bem vinda. Até o próximo, bjs



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