California Wine escrita por Jiggle Juice


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Uma espécie de desmembramento de Quinn Fabray sob as minhas perspectivas. Sua personalidade, suas qualidades, defeitos, lutas e com aquilo que eu acho que Quinn merece para o seu futuro. Também há alguns acréscimos pessoais que não condizem com a série, mas que, na minha opinião, creio que combinam muito bem com ela.
E também um pouquinho de Faberry já que ninguém é de ferro :)



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Rachel Berry suspirou de maneira doce quando viu taças penduradas no bar daquele restaurante vegano duas estrelas. Aquelas com certeza não eram taças requintadas de cristal compradas em um bairro nobre da Espanha. Eram feitas de vidro barato e comum – ela sabia a diferença pelo brilho. Taças de cristal cintilavam orgulhosamente, enquanto tudo o que o vidro fazia era refletir a luz branca pendurada no teto –, mas ainda sim eram taças, e taças a faziam se lembrar de vinho, e vinho a fazia se lembrar de Quinn Fabray.

—Você trata o vinho como uma preciosidade. Não é ouro líquido, são apenas uvas fermentadas. Vinho não é a solução da vida – Recordava-se de dizer uma vez, com censura em seu tom de voz.

Lembrava-se também da maneira que ela a havia olhado. Tinha uma expressão engraçada como se Rachel fosse a mais insana das criaturas. A testa franzida e as maçãs do rosto coradas e salientes, seus olhos de fascinante mistura esverdeada e dourada brilhando tanto quanto o cristal da taça em suas mãos.

—Vinho resolve tudo, ameniza tudo. Você está triste? Tome uma taça de vinho para se alegrar. Está feliz? Tome uma taça de vinho para comemorar. Está estressado? Uma taça de vinho para relaxar. Está excitado? Tome uma taça de vinho e deixe seu sangue esquentar. Para cada situação, uma taça de vinho basta – E então ela sorria e Rachel tinha quase certeza que aquele era o lema de sua vida – Ou duas ou três, dependendo da sua resistência – E se entregava a um riso contido, daqueles de quem conta uma piada inteligente que só os muito espertos compreendem, enquanto os ignorantes tentam raciocinar.

Na maior parte do tempo, seus lábios tinham gosto de vinho. Tinto de Portugal ou branco da Argentina. Vinhos de inverno e verão, vinhos caros e mais caros ainda. Às vezes Rachel suspeitava que a face ruborizada de modo saudável de Quinn era causado por essa imensa quantidade de bebida e, se os cientistas estiverem realmente corretos ao afirmarem que vinho prolonga a vida, Rachel não tinha ideia de quando seria sua possível morte.

Mas, apesar dos pesares, Quinn nunca estava embriagada. Ela degustava o vinho, não o colocava goela abaixo para perder os sentidos para o álcool. Costumava dizer que ficar bêbada era a coisa mais estúpida a se fazer, já que a pessoa perdia o controle de seus atos e virava outro alguém, o lado obscuro. Mas Rachel bem sabia que ela pensava daquele jeito por ter se embebedado na adolescência e perdido sua juventude, sua casa, seus pais, seu corpo e sua popularidade ao engravidar de sua cópia exata, mas mais adorável – segunda ela mesma –, a pequena Beth. Embora se arrependesse muito do que fizera, sua filha não entrava nesse mundo. Beth foi o erro mais fantástico que já cometi, ela disse uma vez, quando tinha os olhos marejados de melancolia, cometeria esse erro mais mil vezes se pudesse.

Era difícil não cair de amores por Quinn. Sua beleza era sensualmente tentadora e sua voz tinha uma doçura especial, mas sempre com uma pitada de acidez. Tinha olhos inocentes e maliciosos, dois elementos que Rachel nunca imaginou que pudessem caminhar juntos, e o seu sorriso era enigmático, quase como sempre estivesse escondendo um segredo que custaria a cabeça de alguém. Sua gentileza, muitas vezes, vinha com um pouco de maldade por trás, julgando os inferiores com seu ar superior. Constantemente confundia a mente das pessoas, deixando-as na incerteza se sua cortesia havia sido verdadeiramente sincera ou com um propósito camuflado. Todos sabiam e ela mesma admitia: A manipulação era uma arte que ela dominava e por mais que Rachel soubesse que era algo muitas vezes errado, não podia evitar admirar sua astúcia em moldar os demais da maneira que mais lhe agradasse. Foi uma mentirosa nata, que viveu desta rica e curta droga por um longo período de sua vida. Era tão convincente que às vezes brincava, com um fundo de verdade, que talvez aquele fosse o motivo por ser tão boa atriz.

Doce era a palavra que Rachel descrevia Quinn assim que a conhecesse de verdade. Era ainda uma menina que gostava de cor-de-rosa e poemas românticos. Tinha uma imensa bondade no coração, mesmo que estivesse muitas vezes escondida no lugar mais afastado de si. Mas quando esta era encontrada explodia em uma festa reluzente e trazia um sorriso nos lábios de quem passasse. Também era forte, a pessoa mais forte que Rachel algum dia já conheceu. Quinn havia passado por tantas coisas e sempre as superou, com o queixo apontado para o alto e um ar de determinação, mesmo que por dentro estivesse prestes a cair no chão e se estilhaçar. Sua história era superação pura e poderia dar um belo livro, onde as pessoas derramariam lágrimas e suspirariam com sua coragem e perseverança.

Todos os erros e tropeços que um dia Quinn já cometera terminaram com um bonito final, onde as pessoas que os acompanharam sempre se recordariam com admiração. Foi uma amiga de verdade quando se permitia a isso, e Rachel sempre sorria com orgulho quando se lembrava de uma conversa que tivera com Mercedes, em uma das noites das garotas, quando ela lhe contara como Quinn a socorrera depois de um treino pesado das Cheerios e das bonitas palavras que lhe disse. Ela estava passando por muita coisa naquele tempo, Mercedes comentou emocionada, mas mesmo assim me ajudou. Foi naquele momento que eu finalmente percebi que Quinn Fabray tem o coração mais grandioso que já tive o prazer de conhecer.

E mesmo depois de tudo o que passou, mesmo depois de todos os tombos que a vida a fizera levar, saiu vitoriosa rumo a uma das melhores universidades do país e Rachel sabia que todos tinham certeza que um dia ainda ouviriam muito falarem dela e estaria mais do que feliz em assistir de perto sua grandeza.

Rachel não tinha muita certeza de quando Quinn começara aquela sua quase obsessão por vinhos. Em um dia ela apareceu assim, acrescentando algo a mais em sua aura sofisticada. Ela sempre foi diferente e parecia mais elegante e culta que os demais. Passava algumas aulas no Glee Club ignorando toda a cantoria e discursos sentimentalistas de Mr. Schuester imersa com um livro nas mãos e Rachel nunca compreendeu o porquê de na verdade não se importar. Ela geralmente enlouqueceria se alguém não desse a merecida atenção ao coral, mas nunca se viu capaz de levar de maneira negativa aquela atitude de Quinn.

Suspirou com um leve sorriso nos lábios.

Quinn sempre foi um quebra cabeça que nunca fora capaz de montar completamente, mas, para sua própria surpresa, amava o mistério que ainda a envolvia.

—Sinto muito pelo atraso – Quinn tirou Rachel de sua bolha de pensamentos, sentando no banco ao seu lado quando finalmente chegara e acenando para o barman. “O de sempre”, ela sibilou e o rapaz foi prontamente atende-la – Agenda cheia.

Rachel sorriu suavemente. Ela compreendia. Tinha sua própria agenda. Não era tão cheia quanto à de Quinn, mas o suficiente para deixa-la cansada no final do dia e desejar passar uma semana enterrada em seus cobertores. Era uma atriz da Broadway e, por mais conhecida que fosse, tinha mais destaque em New York. Quinn era uma atriz de Hollywood e seu rosto estava em todo o mundo.

A taça de vidro barato posou na frente de Quinn, cheio de vinho branco californiano. Era um vinho simples e sabia que não era um de seus preferidos, mas ela bebia aquele todas as vezes que ia naquele restaurante, por falta de opção. Era o restaurante preferido de Rachel, por menor e insignificante que fosse em comparação ao requinte de grandes restaurantes, e Quinn sempre a acompanhava, mesmo que não fosse muito o seu estilo. Gostava daquele lugar por ser reservado e quase nunca serem abordadas quando alguém as reconhecia.

Observou-a segurar a taça pela haste com a ponta dos dedos, já que dizia que a temperatura da pele modificava o aroma e a textura do vinho se a taça fosse segurada pelo copo. Uma grande frescura pra falar a verdade. É só o que as regras de etiqueta mandam, Quinn respondeu quando Rachel uma vez a perguntou sobre isso.

—Eu estava pensando em você – Rachel confidenciou baixinho.

—Mesmo? – Rachel assentiu – Sobre o que?

—Acho que sobre tudo. Só estava pensando no seu jeito e nas coisas que você já passou.

—Nas coisas que já passei? Isso leva bastante tempo, mais do que eu gostaria – Ela riu divertida.

—Sim, mas é uma história bonita. Linda, na verdade e vale a pena ser lembrada.

—Você acha?

—É incrível, Quinn. Eu até hoje não entendo muito bem como você passou por tudo aquilo.

—Pra ser sincera, eu também não – Ela riu timidamente – Às vezes eu me lembro das milhares de vezes que fiquei desesperada naquela época, em como eu achava que aquele era o fim de tudo. Mas agora eu vejo que não foi nem o começo. Foi como uma preparação. Tudo pelo o que eu passei me ensinou algo. Foi uma maneira de mudar pra entrar no mundo real. Eu não sobreviveria nesse mundo louco pós-colegial sem levar uma surra ou tomar um tiro no meio da testa se eu tivesse toda aquela arrogância de antes. Eu aprendi a ser mais humilde e a aceitar as pessoas como elas são. Todas as limitações pelas quais eu passei me fizeram enxergar a vida em uma nova perspectiva. Quer dizer, eu sei que ainda tenho muito que melhorar, mas eu sou mais aceitável do que antes, não é?

—É claro que sim, Quinn – Rachel sorriu e buscou uma de suas mãos, apertando-a – Você não é a mesma de antes e eu gosto de pensar que você não mudou, mas que se descobriu. Todas essas qualidades estavam dentro daquele Cheerio malvada do primeiro ano, mas estavam escondidas. Você só precisou encontra-las.

—Você tem um jeito diferente de pensar – Quinn sorriu agradecida.

—É uma das minhas qualidades – Respondeu presunçosa e Quinn a puxou para um beijo.

O vinho da Califórnia estava na língua de Quinn e Rachel podia sentir seu gosto perfeitamente. Era suave e doce, mas também havia nele um sabor amargo e ácido, uma combinação de sabores que Rachel não compreendia completamente, mas que não se incomodava em prova-lo. Era dessa mesma maneira que se sentia em relação a Quinn.


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Notas finais do capítulo

Porque quando você lê A Song of Ice and Fire você descobre que a base da vida é o vinho.
Muito obrigada por ler, se puder comente e até a próxima ♥
mizzdlovato.tumblr.com



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