O Legado de Lily Potter escrita por O Coração Negro, Lana


Capítulo 13
Capítulo 12 – A sombra que paira do passado.




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Capítulo 12 – A sombra que paira do passado.

O apito da locomotiva soou uma última vez quando vi da janela embaçada da cabine que o fluxo de gente que congestionava o corredor cessava. Em minha mente, veio à tona toda a história do envenenamento acompanhada com as intrigantes suspeitas que tencionava para a verdade. Eu precisava dividir com alguém, e não havia ninguém melhor para isso do que Hugo e Tabitha. Assim que julguei minimamente seguro, comecei a destrinchar minhas inquietações.

– Temos um assunto a tratar, vocês sabem, sobre o envenenamento de Elia. – Eu disse receosa, até porque não tivera notícias de como ambos lidaram com o ocorrido.

Tabitha sequer era da Grifinória, o que diminuía ainda mais os laços de afinidade com a garota morta, mas demonstrava ser muito mais sensível que eu. De qualquer forma, uma morte inesperada sempre causa abalos profundos, contudo, ela sustentou meu olhar, enquanto Hugo preferiu voltar seus distraídos olhos para a janela, de onde se observava as grandes montanhas.

Decidi continuar já que não disseram nada. Eles pareciam curiosos por eu ter iniciado tal assunto, pois querendo ou não, sabiam que algo muito estranho acontecia há tempos por trás dos muros de Hogwarts.

– Eu acho que ela morreu por engano. Queriam envenenar outra pessoa. – Eu disse tentando manter o controle de minha voz e não transparecer que me importava tanto. Se eu lhes dissesse que a vítima era pra ter sido eu soaria paranoico demais, e eu precisava que acreditassem em mim. Eu sei que o fariam.

– Mas Lily, ainda não concluíram que foi, de fato, um envenenamento. – Tabitha murmurou olhando insistentemente para a minúscula janela, talvez com medo de alguém nos escutar. Hugo finalmente se mostrava interessado no assunto.

– Eu tenho certeza, tudo se encaixa perfeitamente. As conversas que eu escutei comprovam as tentativas falhas e James, mesmo sem querer, acabou descobrindo quem a envenenou. A questão principal é que não era para ela. – Um pouco eufórica, as palavras praticamente criaram vida e saltaram da minha boca rapidamente, sem que eu tivesse qualquer controle sobre elas.

Hugo franziu a testa de tal forma que suas sobrancelhas se encontraram. Se ele olhasse num espelho naquele exato instante, com certeza se assustaria, no entanto eu estava ansiosa demais para sorrir de suas expressões involuntárias.

– Dá pra você explicar melhor Lily? Eu não consigo acompanhar, acho que não estou sabendo de tudo. – Lançou um sugestivo olhar para Tabitha, que deu de ombros.

Respirei fundo pelo menos três vezes, tinha de contar detalhe por detalhe, desde as previsões certeiras de Giovanna Trelawney, a conversa de Kirche e Alexander que ouvi poucas horas antes da festa de Horácio Slugorn até o monólogo doentio de Arika que eu soube por meu irmão, e também, é claro, relembrando todas as tentativas anteriores a esta em que quiseram me assassinar. Quando terminei, o silêncio reinou por algum tempo até que fosse quebrado pela verbalização da ira de Hugo Weasley.

– Esse tal de Alexander sempre está metido nessas coisas... Argh! Esse garoto merece um belo de um corretivo. – Meu primo esmurrou o ar.

– Mas não será você a fazer isso. – Tabitha o censurou e em seguida virou-se para mim - Você tem ideia de em que hora tentaram te envenenar? – Eu ainda não havia pensado nisso, mas não precisei refletir muito para ter certeza.

– Na festa de Slugorn, no jantar. Elia estava do meu lado, e acabou comendo minha comida. – Eu rememorava a cena, no instante em que me sentei para o banquete e com a mesma pressa tive de levantar.

– Por que ela comeu, e não você? – Hugo assinava seu atestado de lerdeza nesse instante. Não era possível que ele não se lembrava do motivo que me fez levantar de supetão.

– Hugo te salvou, não foi? Você estaria morta se ele não tivesse cismado que viu seu tio Fred e nos obrigasse a ir com ele até o corredor, fora da festa. – Tabitha mantinha os olhos fixos em mim, enquanto Hugo arregalava os olhos mostrando inevitável surpresa. Quando recuperou-se do choque, usou seu dedo indicador para cutucar as costelas de Tabitha.

– Eu já disse que o vi, sim. Quem sabe ele não tenha aparecido justamente para te salvar? Mas eu me contento com o posto de heroi da vez. – Ele inflou o peito. Nós duas rimos, mas não pude deixar de rolar os olhos.

– Está ficando idiota igual o James, mesmo assim, obrigada primo.

– Não tem de que. Volte sempre. – O clima tinha ficado mais leve, mas o assunto ainda não fora terminado. A residente da Corvinal o retomou.

– E agora que já sabemos de tudo isso, o que vamos fazer?

– Ir até o fim. Já pensou se mais pessoas inocentes acabaram morrendo quando o alvo recorrente sou eu? Preciso descobrir o que querem comigo. – Eu disse, pela primeira vez sucumbindo diante de outras pessoas, mas a eles eu podia mostrar o quão vulnerável estava.

– Sabe que pode contar com a gente, nós iremos te ajudar. – Hugo falou e Tabitha assentiu.

Depois disso, não demorou muito até que o trem apontasse a seu destino final. O sol se escondia enquanto o desembarque ocorria sem maiores problemas e em poucos instantes já me encontrava novamente dentro do castelo, sem deixar de fazer uma necessária varredura com o olhar.

Assim que entrei na sala comunal da Grifinória me deparei com quem procurava: Alexander e Escórpio estavam desajeitadamente acomodados em poltronas perto da lareira, alheios ao que acontecia ao redor. Quando me viram, ajeitaram a postura e principalmente o intrigante Alex pareceu assustar-se com o que via, e só então percebi que provavelmente o fuzilava com os olhos. Virei o rosto e segui para o dormitório como se não os tivesse visto, mas o fato é que me irritei com a ideia de não se importarem com a morte de Elia Andreiko.

O dormitório possuía uma aura taciturna, e fiquei muito incomodada de entrar naquele lugar cujo a garota que morreu em meu lugar dormira seus últimos meses de vida, e pior, na minha companhia. Como eu esperava, Ester, a gêmea de Elia, não havia retornado á escola junto com todo o resto dos alunos que visitaram a família. Ela levaria tempo para superar...

Sozinha, joguei-me em minha cama após arrastar o malão pelas escadas, um pouco ofegante. Esperava que o silêncio permanecesse por mais uns instantes, mas assim que virei para o lado a escandalosa Petra Dobembolt adentra o quarto com passadas duras e barulhentas. Ao me ver, ela pareceu entrar em um conflito interno se me dirigia a palavra ou não, contudo, acho que decidiu ficar calada, o que para mim não fazia a menor diferença.

Naquela noite apenas desci para o salão para o jantar de boas-vindas, onde nada foi dito além de formalidades. Mais uma vez avistei Alexander, e não consegui disfarçar minha raiva, afinal, ele também estava envolvido no crime. De resto, não prestei muita atenção do que falavam à mesa, mas certamente eram coisas fúteis. Quando dei por mim, já estava na hora de dormir e eu necessitava urgentemente de descanso, tanto que chegar até a Torre da Grifinória pareceu uma missão infindável.

***

A manhã seguinte chegou com uma rajada de vento forte que entrou pela janela e me fez despertar assim que passou por mim. Por ser muito cedo, observei que Petra ainda nem se mexera e eu imaginava que assim estariam os outros, inertes em seu precioso sono.

Imaginei que ter o castelo só para mim seria uma boa ideia, e talvez para que eu descarregasse um pouco as energias que pareciam explodir dentro de mim. Eu ainda não sabia como descobrir qual era o plano do mestre de Arika, Alexander e os outros, todavia não tardaria que a resposta chegasse. E dessa vez, ela veio muito rápido.

Vozes soavam no fim do corredor, ruídos praticamente inaudíveis e incompreensíveis a essa distância. Achei que seria pertinente se eu me aproximasse, e assim que o fiz fui logo notada por uma senhora muito velha, de olhos doces e sorriso bondoso, cuja a expressão transparecia a esperteza que provavelmente carregara durante muitos anos.

– A garota de Harry Potter. Como gostaria de conhecê-la! – A senhora virou-se para mim ignorando o diretor Neville Longbottom, que estava logo atrás, e por essa razão, deduzi que seria ela.

– Sim Vovó. Lily Luna Potter, aluna no primeiro ano de Hogwarts. Esta é Augusta Longbottom, que cuidou de mim desde sempre. – Odiretor nos apresentou.

A senhora tomou minhas mãos e fixou seus olhos nos meus, o que eu achei um tanto desconfortável, pois parecia olhar minha alma através desse gesto. Quando desviei os olhos ela me tomou num abraço fraco, mas agradabilíssimo, do tipo que eu gostaria de receber da mãe de meu pai, de quem eu herdei o nome.

Neville apenas nos olhava, com uma expressão indecifrável, pelo menos para mim. Com o passar dos anos ele deixou de ser o garoto ingênuo e atrapalhado para se transformar em um bruxo inteligente e cauteloso.

– Preciso ir até minha sala, os problemas não deixam de me perseguir. Tenho certeza que a Lily não se incomodará de ficar algum tempo com a Senhora, estou certo?– Ele perguntou a mim.

– Claro. Será um prazer. – Eu apenas disse.

– Nós podemos dar uma volta pelo castelo. Gostaria de ver as mudanças que fizeram desde quando me despedi da escola, há muito tempo. Vai ser legal, Lily. – Ela pareceu animar-se com a ideia.

Suas dificuldades em andara tornavam uma caminhante formidável, embora eu fosse acostumada a andar muito mais rápido e por vezes acabar me distanciando um pouco dela.

– As coisas devem ser observadas devagar. Os detalhes que passam despercebidos podem fazer toda a diferença. – Ela falou com o tom de quem ensina. Percebi que aquele passeio me faria aprender muito.

Andamos calmamente observando cada pilastra do castelo de Hogwarts, sempre com Sra. Augusta narrando as diferenças de seu tempo, que na verdade não eram muitas. O que pude notar é que a atmosfera era bem medieval na época em que ela era aluna. Os tempos eram outros, e abordavam outros parâmetros.

O sol matinal invadia a janela à essa altura, exatamente quando chegávamos perto de um quarto corredor à esquerda, local onde eu não me recordava de ter estado sequer uma vez. A passagem tornou-se mais escura e teria assustado caso não houvesse vozes sussurrando à poucos metros. A curiosidade saía por meus poros e acontecia o mesmo com a avó de Neville, eu pude perceber. Sorrateiramente, nos aproximamos.

Á curta distância e completamente encobertas pela escuridão, podemos observar de quem se tratava: um grupo de estudantes de nariz empinado e opiniões austeras, que reconheci de primeira, o FOOP. Consegui identificar Kirche, Joriel, Kate e Arika, os outros estavam de costas.

A Sra. Longbottom observava a conversa deles, sobre angariar seguidores para um movimento bruxo anti trouxas, ainda na escola. Augusta pareceu arrepiar-se a cada palavra que ouvia, e de repente ficou com o olhar desfocado e a mente fora do ar. Confesso que me assustei um pouco com medo de ser algum ataque fulminante ou algo do tipo, devido a idade avançada dela. Voltou a si enquanto as palavras afiadas de Kirche retalhavam o ego do grupo, que tinha aproximadamente sete pessoas, e Alexander Miller não estava entre eles.

Mais do que depressa decidimos por contato visual que era melhor sairmos dali antes que notassem nossa presença, e dessa vez a idosa se mostrou muito mais rápida com seus passos. Estávamos a uma distância segura quando lancei um olhar inquisitivo a ela, que percebeu de primeira do que se tratava.

– Eu fiquei surpresa Lily, apenas isso. A cena que vimos é deveras semelhante ao que ocorreu quase setenta anos atrás, quando eu ainda estudava aqui e um movimento bruxo com as mesmas características era liderado por um garoto muito bonito da Sonserina.

Comprimi os lábios, controlando a língua para não interromper a senhora, e esta era uma tarefa muito difícil neste momento.

– Com o tempo, o conhecimento do poder e o aumento de seguidores, o movimento do garoto começou a cometer atrocidades, transgredir as leis mágicas e consequentemente ele passou a ser temido. Você sabe, claro que sabe sobre a Ascenção das Trevas. E então, Tom Riddle e sua ânsia por poder transformaram-se em Lord Voldemort. O resto da história é de conhecimento geral. – Ela falou, olhando para o nada como se o filme de tudo o que dissera.

– A Sra. acha possível que Voldemort esteja organizando novamente um grupo para implantar o Império das Trevas? – Eu estava com os olhos semicerrados repudiando o que acabara de dizer.

– Seu pai e os amigos dele destruíram as horcruxes que mantinham Voldemort vivo há dezenove anos. Pela lógica, é completamente impossível que ele tenha voltado. Ele está morto. Mas com certeza alguma força tão maligna quanto ele esteja regendo o grupo, e você vai ter que tomar cuidado. – Passou as mãos entre os cabelos grisalhos, a face denotando cansaço e medo. – Preciso descansar querida, estou de partida. Foi bom conhece-la, você é corajosa, vai precisar de toda a sua bravura para enfrentar o que vem pela frente.

Augusta Longbottom se pôs a andar enquanto eu continuava imóvel olhando ela afastar-se. Eu não tinha tanta certeza de que Lord Voldemort não teria como voltar, já que era o maior bruxo das trevas e pode ter feito algum outro feitiço de magia negra para resguardar seu espírito, assim como fizera as horcruxes. E faria completo sentido se viesse atrás de mim, assim como perseguiu meu pai após ter recuperado seu poder.

Será que ele tinha voltado?

O pensamento me fez sentir um frio agudo na espinha, e então para minha própria sanidade decidi acreditar que o verdadeiro líder do FOOP fosse outro. Talvez assim eu conseguisse ter outras noites de sono, já que Tom Riddle agora parecia um pesadelo interminável.

Era hora de voltar. Não teríamos aula pela manhã, mas a parte da tarde estava repleta de afazeres, e eu ainda precisava colocar minhas coisas em ordem, já que não havia feito isso ontem, quando cheguei.

Corri para a casa ansiando por ver o quadro que guardava a passagem. Seria muito ruim que alguém do FOOP visse o alvo deles espreitando seus planos, e eu não precisava dar um motivo a mais para quererem a minha morte, seja lá quais fossem os outros.

Não se passou nenhum segundo entre o momento em que disse a senha e passei pelo portal, e ouvi o grito de Giovanna.

–Lily! – sua voz era estridente e muito alta, que se fosse ouvida de muito perto perfuraria os tímpanos de qualquer um, assim como o berro das mandrágoras.

Ela respirou aliviada por verificar que eu estava em perfeito estado e sem nenhuma deformidade no corpo. Em seguida, arrastou-me para uma mesa afastada da sala comunal, onde além de nós haviam dois garotos do quinto ano jogando xadrez de bruxo.

– O ataque aconteceu Giovanna. E Elia morreu em meu lugar. – eu disse tentando não parecer frágil, mas isso era inevitável.

– Eu sabia, sabia! Eles não vão parar, você não aceitou fazer parte do grupo sujo deles e agora querem que pague com a morte. Eu torço para que seja apenas isso, já pensou na possibilidade de te perseguirem para te usarem em alguma espécie de sacrifício?

Torci o nariz. Não, eu nunca tinha pensado nisso, mas também era um palpite plausível, entretanto eu já tinha passado da fase das suposições, agora eu precisava de respostas.

– Eu vou investigar, mais pessoas não devem morrer inutilmente. – Murmurei e ela assentiu, aprovando minha decisão.

– Ajudarei você, à minha maneira. É bem provável que eu tenha sucesso porque as pessoas me amam por aqui, especialmente seu irmãozinho... – Ela mexeu nos cabelos. Fiquei em dúvida se contava ou não sobre James e Beatriz, mas decidi que era melhor que eu não criasse mais um problema. Eles poderiam muito bem se resolver.

– Faça do jeito que achar melhor. O importante é que consigamos informações verdadeiras. – Foquei no assunto em questão.

– Já sabe por onde começar? – ela inquiriu.

– Tenho uma ideia. Acho que Alexander Miller sabe de muita coisa que me seria útil, mas não sei a forma certa para descobrir.

– Você pode segui-lo. Eu sei que tem meios para fazer isso sem que ninguém saiba. – Ela piscou para mim. Era bem provável que soubesse da capa da invisibilidade de meu pai, que James passaria a mim. Com um pouco de coragem e a capa eu realmente conseguiria sair da estaca zero.

– É uma boa ideia. Obrigada. – Eu sorri discretamente.

Giovanna levantou-se e saiu saltitando pelas escadas até as dependências da Lufa-Lufa, casa da qual ela pertencia. Fui ao meu organizar os livros que usaria na aula da Transfiguração, matéria que eu teria durante a tarde. À noite eu poria em prática meu plano, com a capa a me acompanhar.

***

Eu estava exausta. Acho que o pouco tempo em que passei em casa me fez desacostumar do ritmo rígido da prima Victoire em suas aulas... Ilusão de quem pensa que ela aliviaria pro meu lado por sermos da mesma família. Mas não fora apenas por isso que a tarde demorara tanto a passar. A ânsia em descobrir qualquer coisa sobre o envolvimento de Alexander nas tentativas de me matar e no homicídio consumado de uma de minhas colegas de quarto.

Eu o faria, só precisava de uma coisa antes.

Bati na porta do dormitório de meu irmão. Quando me viu, eu diria que não tinha ficado muito feliz... Ele teria que se desfazer da capa, e meu pai tinha razão em dizer que eu precisava muito mais do que ele.

– Já vou pegar, espere aí. – James sumiu de minha vista e ainda teve o disparate de fechar a porta na minha cara. Eu podia entender que ele relutasse em me entregar o que era meu por direito, mas se irritar por isso era algo egoísta demais. De qualquer forma, bastava que ele cumprisse o que lhe fora determinado.

Uns bons minutos depois, voltou emburrado e estendeu um pacote de tecido marrom para mim. Peguei e fui embora antes que ele mudasse de ideia e resolvesse me tomar a capa da invisibilidade, que era instrumento essencial nessa minha necessária empreita de investigadora.

Andei a passos lentos organizando mentalmente cada ação que executaria para que não soubessem que eu estava procurando a verdade. Continuar na ignorância pelos olhos do FOOP poderia ser mais vantajoso do que confrontar-lhes diretamente, já que então eu estaria demonstrando que já era hora de me atacarem mais uma vez. Não, eu seria extremamente cautelosa.

Escondi-a em meu dormitório quando percebi que a hora do jantar se aproximava. Petra não estava mais no dormitório, o que deixava provável que a maioria dos alunos já estivessem reunidos, e provei estar certa quando entrei no salão e vi que Hugo guardava meu lugar.

– Pensei que não viria. Por onde andou Lily?

Olhei para frente. Escórpio me encarava como se ansiasse pela resposta que eu daria a meu primo. James não serviria de álibi, pois já estava devorando um prato repleto de frango assado que empurrava goela abaixo com suco de abóbora, e a verdade, bem Hugo merecia saber mas o Malfoy não deveria escutar.

– Estava descansando um pouco, acho que ainda são reflexos da viagem. Não me acostumei à rotina. – Dei de ombros deixando claro que não era algo realmente importante. Só então vi Alexander do lado de seu melhor amigo, contudo, ele parecia fazer questão de fingir que eu não estava ali, e não sei se considero esse fato algo bom ou ruim.

Comi rapidamente enquanto os outros se demoravam demais, com a ansiedade gritando em minhas veias, num som que somente meus ouvidos eram capazes de escutar. O garoto levantou-se sem sobreaviso e deixou Escórpio e suas mãos engorduradas para trás. Senti o ímpeto de segui-lo, mas seria óbvio demais que iria acompanhar seus.

Ao ver minha expressão confusa, o garoto de cabelos platinados e sorriso irônico não se conteve:

– Ele deve ter ido á biblioteca. Faz isso todas as noites e passa horas por lá. – Ele rolou os olhos, mal sabendo que havia entregado o ouro em minhas mãos. Pelo menos agora eu não teria o trabalho de procurá-lo, e isso fazia parecer que seria mais fácil.

A adrenalina baixou, e eu quase sorri para o Malfoy.

Tabitha passou por trás de mim no exato instante em que Hugo terminara.

– Lily, preciso te mostrar uma coisa. Venha! – Ela me puxou e meu primo veio atrás.

Quando alcançamos o corredor, que estava deserto, Tabitha disparou sem titubear por nenhum instante:

– E então, o que vai fazer? – ela estava serena, mesmo que tenha me abordado tão diretamente. Hugo estreitou os olhos denotando confusão sobre o assunto de que minha amiga falava, o que era de se esperar em se tratando dele.

– Vou pôr o plano em prática hoje. Já tenho tudo o que preciso. – Eu disse simplesmente.

– Por que não nos disse nada? – Ela voltou a inquirir, mas de modo algum transparecia chateação por não estar sabendo de meus planos. A maturidade – um tanto precoce, assumo – era uma das qualidades inestimáveis de Tabitha.

– Apenas por falta de oportunidade. James entregou-me a capa. Vou esperar que todos recolham-se e em seguida já saio atrás dele. Preciso ver o que tanto ele faz na biblioteca todas as noites. – eu disse com a mão no queixo, pensativa.

Era questão de poucas horas agora.

***

Finalmente estava tudo escuro. Sem barulho, ou qualquer movimentação aparente, embora não passasse das onze horas da noite, e imaginei que ainda seriam reflexos da viagem o cansaço geral.

Não acendi uma vela sequer, pois Petra ressonava e certamente acordaria se o fizesse. Desembrulhei a capa e a vesti no breu, sem me dar ao trabalho de observar ao espelho como estava, até porque não veria nada.

Silenciosamente andei, passo ante passo, alternando o olhar entre os pés e a escuridão em que mergulhava cada vez mais. Por sorte, não encontrei quem quer que fosse pelo castelo. Depois de muitos minutos de caminhada melindrosa, a grande porta da biblioteca se fez visível, e meu coração pela primeira vez naquele dia, bateu descompassado.

Eu estava com medo do que poderia descobrir, porque eu ainda tinha a esperança de que tudo que eu sabia sobre Alexander Miller fora um completo mal entendido. Só que isso não era provável, dadas às circunstâncias.

A porta estava entreaberta. Pela fresta não se via nada além de uma fraca luz no fundo. Seção reservada, eu deveria saber que ele estava por lá, do contrário não teria necessidade de vir á biblioteca durante a noite. Entrei, controlando o barulho para que não despertasse sua atenção, e fui vagarosamente ultrapassando as pesadas estantes de livros. Na última, eu parei.

Inúmeros livros espalhados pelo chão, uns abertos e outros ainda fechados. Encostado na parede com uma lanterna, Alex tinha um jornal em mãos, que só podia ser O Profeta Diário.

A luminosidade incidia sobre mim e ofuscava minha visão. Dei um passo para trás e classicamente uma tábua solta no assoalho me denunciou, exatamente como em muitos filmes do mundo dos trouxas. Respirei fundo. Não haveria problemas, eu estava com minha capa da invisibilidade.

Alexander olhava diretamente em minha direção, e assustadoramente, ele parecia me ver. Sorriu brevemente antes de franzir o cenho.

– Por que você está com um lençol rendado na cabeça? - Agora ele já estava abertamente rindo.

Como ele estava me vendo? Não era possível... Ou era. James me enganou!

– Já sei, você está tentando me assustar! – Alex gargalhou, ele estava perto de mim agora. – Deixa eu te contar uma coisa: não tenho medo de fantasmas. – Ele passou a mão por minha cabeça e puxou o “lençol”.

Fiquei boquiaberta. James tinha me dado uma capa falsa, meu plano acabava de ruir e eu não sabia como prosseguir. Mas como? Eu ainda não conseguia me ver... A não ser que a capa seja internamente invisível, e não o contrário como a original faz. James vai se ver comigo!

Baixei os olhos e por impulso, tomei o jornal de suas mãos e me pus a ler.

Era a edição do dia, e como manchete, estava estampado o que eu deduzi assim que saiu a notícia sobre a morte de Elia Andreiko: estava confirmado, ela foi envenenada.

Ergui o olhar para encarar o crápula à minha frente. Enrolei o jornal nas mãos e o apontei contra Alexander, empurrando seu peito.

– Você e seus amigos tentaram me matar, mas acabaram tirando a vida de alguém que nada tinha a ver com toda essa história. Você é um assassino, Alexander Miller.


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Notas finais do capítulo

Sem ameaças hoje, apenas comentem. Agradecemos a Luna pela terceira recomendação, capítulo dedicado a você. =)



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