O Legado de Lily Potter escrita por O Coração Negro, Lana


Capítulo 1
Prólogo




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A avenida Jardim Primaveril era uma típica rua de subúrbio, os moradores eram as pessoas mais pacatas que se poderia desejar, o lugar perfeito para quem gosta de uma vida calma. Contudo, até mesmo nessa rua totalmente sem graça havia um mistério.

A Mansão sem Dono - como havia sido chamada pelos moradores dos arredores - era a última casa da pequena avenida. Faz exatamente vinte e três anos que havia sido vendida, e mesmo sendo, sem dúvida, a mais imponente e bela casa que algum vizinho podia imaginar, ninguém nunca havia vindo morar ali. Os moradores não puderam deixar de notar esse mistério, afinal quem gastaria uma pequena fortuna para comprar uma propriedade tão majestosa e não se dar ao trabalho nem mesmo de visitar?

Os moradores mais antigos da avenida diziam que há vinte e três anos um homem alto vestindo roupas excêntricas, cabelo loiro e rosto liso havia comprado a mansão. Muitos se lembravam do homem não devido a sua boa aparência, mas pelo olhar de nojo que ele lançava ao lugar, e ainda assim comprara a casa.

Diziam que os antigos donos, um casal de ricos burgueses que trabalhavam no ramo de importações, saíram da casa tão ás presas que haviam deixado até a mobília. Os vizinhos ficaram escandalizados, afinal os Cravinoves eram excelentes vizinhos, educados, corteses e adoravam dar festas em que toda a vizinhança era convidada. Apesar de ricos, eram o tipo de pessoa generosa e humilde que não se podia deixar de gostar, e mesmo assim haviam saído inesperadamente, sem se despedir dos amigos. Todos esperavam o mesmo tipo de tratamento do novo dono, e mesmo após a venda da mansão, ninguém jamais regressou para ver a casa.

Nos primeiros anos, a mansão era alvo de olhares saudosos dos antigos vizinhos, mas com o passar do tempo começou a perder o glamour e se tornou mira de fofocas. “Assombrada”, era o que diziam. As crianças da vizinhança começaram a criar jogos inúteis, desde quem conseguia subir até determinados cômodos da casa e roubar pequenos objetos sem valor aparente, até mesmo pichar a parede da casa com seu nome. A partir daí o rumor havia se espalhado, todos que entravam na casa diziam sentir alguma força que parecia não gostar deles ali, sussurros como se a própria casa quisesse expulsá-los. Até que um garoto tropeçou no tapete e rolou pela escada acabando, de alguma forma, preso em um armário durante dois dias, os jogos foram desencorajados e não havia ninguém na rua que não olhasse para a casa com receio.

O mistério da mansão sem dono apenas aumentava, pois todos os objetos roubados pareciam retornar para o cômodo exato em que deviam pertencer e toda a pichação sempre desaparecia da parede de um dia para o outro. Diziam que até mesmo investigadores paranormais haviam vindo à mansão e tentado pernoitar, mas aparentemente isso era impossível. Ninguém conseguia ficar na mansão mais do que quatro horas sem se dar conta de que devia voltar para casa com urgência com alguma desculpa esfarrapada.

Quinze anos após ninguém viver ali, diziam também que homens do governo haviam vindo para inspecionar a residência, pois como uma propriedade tão grande poderia ficar sem ser usada? Segundo os funcionários a propriedade devia atender a função social e seria desapropriada, mas não apenas o antigo dono jamais pode ser encontrado, como também os funcionários saíram às presas como se não se lembrassem nem do motivo de estarem ali.

Após os anos que se passaram, a mansão havia perdido todo seu brilho, e era apenas uma relíquia da antiga glória que um dia representara. Mas ainda estava ali, com a cerca viva tão alta e mal cuidada que alguns vizinhos se dispunham a aparar a mesma regularmente de maneira a não causar problemas à vizinhança, o jardim antes exuberante repleto dos mais lindos arbustos de animais, agora era uma floresta de mato e folhas secas, o capim havia invadido as paredes, a fonte e coberto grande parte das janelas, mas o interior da mansão permanecia intocado e repleto de poeira.

***

Aquela noite havia alguém na casa, um fogo vivo ardia na lareira da sala, enquanto uma figura permanecia sentada acomodada em uma poltrona de couro, os móveis do cômodo estavam incomparavelmente limpos em contrapartida com o resto da casa.

– A garota Potter... Como se chama? Lily, acho que é isso, irá para Hogwarts este ano – disse a figura, porém não devia haver resposta, não havia ninguém no quarto.

– A caçula? – respondeu uma voz fina, sibilante, que seria facilmente confundida com o silvo de uma serpente – Você deve tentar recrutar ela também... O nome Potter – a voz parecia cuspir o nome como se odiasse aquele som – tem muita influência hoje em dia, seria bom que um deles aderisse ao movimento.

– Eu sei, falhei em conseguir seus irmãos, mas a pequena Lily Luna Potter será minha. E cuidado com seu tom – disse a figura na poltrona – apenas gosto de ouvir sua opinião sobre determinados assuntos, afinal sem seus conselhos qual seria sua utilidade?– a voz permaneceu em silêncio, porém a atmosfera ficou tensa.

– Odeio que me façam esperar. – disse a voz sibilante e fria que parecia vir da própria parede – Quando nosso convidado irá chegar?

– Meu convidado. – disse a figura na cadeira deixando mostrar os dedos brancos que seguravam uma varinha de madeira estranhamente detalhada para um simples pedaço de pau. A voz parecia uma pálida imitação da primeira, era gélida, mas não possuía o mesmo vibrar que tornava a voz idêntica a uma de serpente, como acontecia com o som que vinha da parede.

– Tsc... Esqueceu o que é respeito? – disse a primeira voz, então a figura na parede fez um pequeno gesto com a varinha e um pano preto saiu do quadro revelando a mais horrível pintura que se podia imaginar. Era um homem sentado em um trono, seus olhos eram fendas vermelhas, não possuía nariz ou cabelo e a pele era tão pálida que passava a impressão de nunca ter sentido o calor do sol. O retrato se mexia e acariciava a cabeça de uma grande serpente que deslizava em volta dos pés do dono – “Eu dito as regras”– disse a pintura de Lorde Voldemort com sua voz sibilante que causava calafrios.

– Mesmo? – perguntou a figura sentada na cadeira com uma voz ligeiramente divertida, a varinha cortou o ar mais uma vez e o quadro se desprendeu da parede e começou a dançar como se tentasse pular na lareira.

– O que pensa que está fazendo, criança ingrata? Avada Kedavra! – rugiu a pintura de Voldemort. Durante instantes, uma luz verde inundou a tela do quadro, porém nada aconteceu além da figura na poltrona soltar uma grande gargalhada.

– Um triste retrato que não sabe o seu lugar. – disse quem quer que estivesse na poltrona continuando a brincar com a pintura. A serpente guinchava e tentava abocanhar a tela ao mesmo tempo em que o retrato ia e voltava das chamas sem se incendiar. Era incerto se o quadro seria ou não entregue para alimentar o fogo.

Pode-se ouvir um estampido no quarto ao lado, a figura fez um aceno com a varinha e o quadro se fixou novamente na parede. Seu residente lançou um olhar de ódio, ao mesmo instante que um pano preto cobriu a pintura.

– Lucy, Joriel podem entrar. – disse a figura com sua voz, que passaria por uma simples imitação da voz de Lorde Voldemort.

Uma garota pequena, provavelmente dezesseis anos, entrou no quarto. A figura acenou com a varinha e uma mesa ligeiramente oval apareceu no meio do recinto, cadeiras confortáveis de madeira apareceram convidativas. A garota tomou um lugar à direita da figura, que apesar de tudo continuava a contemplar o fogo da lareira.

– Onde está meu convidado? – Perguntou a figura friamente, a nota de desgosto na voz tornava ainda mais parecida com a de Lorde Voldemort – espero que você e Joriel não tenham estragado o plano que eu passei duas semanas preparando... – Era impossível não sentir a ameaça que aquela simples frase continha.

– Joriel está trazendo o prisioneiro, ele fez questão de torturar um pouco o homem. – disse Lucy como se fosse algo normal.

– Lucy, quero o Sr. Schneider inteiro. Impeça que ele chegue aqui machucado. – disse a figura na poltrona sem se virar uma única vez, sua voz tinha um tom suave, porém havia algo dizia que não deviam falhar. – Seria um problema se ele não conseguir falar o que quero saber, e lembre-se: sem magia fora da escola, ou o ministério descobriria nossa base temporária.

A garota assentiu e se retirou do quarto, a figura ouviu a serpente deslizar na pintura de seu retrato e um assovio que provavelmente era a pintura acalmando a cobra. Um garoto alto e musculoso, devia ter provavelmente dezoito anos, entrou no quarto arrastando um homem velho e calvo com excessiva brutalidade.

Joriel empurrou o homem em uma cadeira e conjurou cordas que prenderam o velho firmemente. O homem, que devia ser o Sr. Schneider, tinha um corte que sangrava acima do olho direito se estendendo ao esquerdo, e também parecia ser ligeiramente corcunda pela idade.

– Joriel, por que se divertes à custa desse pobre homem? – disse a figura na poltrona ainda fixando sua atenção ao fogo.–Ah... Não importa, apenas tenha em mente que não somos monstros, tudo o que fazemos é por um bem maior. Deixe-nos a sós. Joriel trate de levar Lucy para casa, os pais dela vão ficar preocupados...E depois vá para a sua, devemos ser cautelosos.

O velho não entendia o que podia estar acontecendo. Como ele, um bruxo formado e antigo guarda de Askaban, pode ser pego por duas crianças? Ele balançou a cabeça tentando se lembrar, uma pequena parte da memória veio à tona: ele estava em um bar... No Caldeirão Furado precisamente, e então uma linda garotinha veio pedir ajuda. Sim, ela estava perdida, se separou dos pais e não sabia como entrar no beco diagonal, então ele foi ajudá-la e alguém o pegou por traz... Sim havia sido isso. Sr. Schneider olhou em volta, aquela casa não parecia pertencer a um bruxo, na parede em cima da lareira havia apenas um quadro coberto por um pano negro.

– Quem são vocês? Por que me trouxeram aqui? – perguntou ele, porém Joriel e Lucy se retiraram sem responder e a figura continuou fitando as chamas.

– Seja bem vindo em nossa humilde morada. – disse a voz de Lorde Voldemort vindo da pintura. Schneider estremeceu, ele conhecia aquela voz. Não havia nenhum funcionário antigo do Ministério que não a conhecesse, pois todos haviam se encontrado com o antigo Lorde das Trevas pelo menos uma vez, seja na última batalha ou até mesmo quando o Lorde visitou Askaban em busca dos dementadores. – Você está aqui porque tem informações que preciso...

– Não pode ser! – gritou Schneider – Você está morto!

– Acredite Schneider, o legado de Lord Voldemort nunca irá desaparecer, eu cuidei disso há muitos anos... – disse o Voldemort da pintura com sua voz de serpente.

– O que você quer de mim? – gritou ele para a figura, sem se dar conta de que a voz não vinha da figura sentada na poltrona e sim do quadro na parede.

– Apenas uma informação e então você estará livre... – disse Voldemort se deliciando do sofrimento que cada silaba pronunciada causava ao prisioneiro.

– Informação? – repetiu Schneider sem entender direito, definitivamente devia estar ouvindo errado, afinal o Lord das Trevas nunca demonstrava clemência... E que informação poderia ter ele, um guarda aposentado que tivesse de alguma valia?

– Sim, quero saber tudo o que você sabe de Askaban. – disse a voz de Lorde Voldemort.

– Askaban? – disse Schneider sem entender, o que o Lorde das Trevas poderia querer com a prisão dos bruxos? Suor frio começou a escorrer pela careca do homem, sentia que a qualquer momento seria assassinado.

– Sim – disse a voz sibilante – onde o Ministério guardou os dementadores de Askaban, meu caro Schneider?

– Dementadores?! – disse Schneider visivelmente assustado – Os Dementadores foram destruídos! A prisão funciona sem eles há anos!

– Não minta para Lorde Voldemort, pois ele sabe, sempre sabe. – disse o Lord das Trevas parecendo se deliciar do momento. – Eu vou tornar as coisas mais fáceis para você, direi exatamente o que quero e você apenas responderá, então está livre para ir para casa, para sua família.

Schneider assentiu apreensivo, não queria ser morto, seria cooperativo, porém também não queria ajudar em nada o Lord das Trevas. Ele havia trabalhado em Askaban durante quarenta anos e conhecia melhor do que ninguém o que Voldemort e seus seguidores poderiam causar, o momento mais feliz de sua vida foi quando o Partido das Trevas caiu e não havia mais precisado trabalhar ao lado de dementadores.

– Há anos quando perdi novamente meu poder, aquele estúpido Kingsley Shacklebolt assumiu o Ministério e trabalhou incansavelmente para achar uma forma da prisão dos bruxos ser mantida sem os dementadores – disse Voldemort, Schneider engoliu em seco -, porém ele simplesmente não podia se livrar dos dementadores, sua habilidade de tirar a esperança e felicidade do ar era justamente o que precisava para manter bruxos prisioneiros...

Schneider começou a suar ainda mais, ele sabia o que o bruxo das trevas queria e seria perigoso para todos. Ele queria libertar os dementadores.

– Eles foram destruídos meu Lorde! Todos eles! – disse Schneider aflito.

– Não minta para Lord Voldemort, pois ele sabe, sempre sabe. – Disse a voz do Lord das Trevas – Agora por que não me diz em que lugar de Askaban eles guardaram a Pirâmide de Luz? Então eu libertarei os dementadores e você poderá rever sua família.

Foi nesse ponto que qualquer nesga de coragem que havia em Schneider desapareceu, o velho homem finalmente percebeu que o que estava em jogo não era apenas sua vida, mas sim a de sua família e ele contou tudo que sabia sobre Askaban.

– O senhor encontrará a Pirâmide bem no centro de Askaban, enterrada e protegida com os mais poderosos feitiços de proteção que existem. – disse Schneider – O senhor... me permite uma pergunta? Por que o senhor quer libertar os dementadores?

– A resposta é muito simples, para anunciar ao mundo que o Partido das Trevas ainda vive e começar a reformar meu exército. – Disse a voz de Voldemort, a figura na cadeira começou a se mover finalmente, mostrando seus dedos brancos ligeiramente alongados ainda segurando a varinha.

– Então me liberte, juro que não contarei nada a ninguém sobre isso, me deixe rever minha família – implorou Schneider.

Avada Kedavra. – Foi a figura na cadeira que disse as palavras, um raio de luz verde iluminou o quarto e por um momento a criatura que se encontrava na poltrona se tornou uma perfeita cópia de física de Lorde Voldemort, embora aos poucos sua aparência começasse a se tornar humana de novo – Nunca minta para Lord Voldemort, pois ele sabe, sempre sabe...

A misteriosa figura se sentou na poltrona e passou alguns minutos tomando o cuidado de deixar a sala coberta de poeira, a cada magia ficava mais evidente que ninguém havia estado ali, então com um último aceno da varinha, o corpo do velho homem se incinerou até não sobrar nada, e as cinzas desapareceram com um segundo movimento.

– Não falhe comigo meu legado – disse o quadro de Lord Voldemort em um tom que se podia confundir com as letais ameaças que o bruxo fazia em vida.

– Oh... Parece que você ainda não entendeu o que é respeito. – Disse a figura acenando com a varinha e o quadro começou a ir e voltar nas chamas mais uma vez, o Voldemort da pintura gritava “Avada kedravra, Avada kedrava”, mas nada acontecia além de momentaneamente a tela se inundar de luz verde. A serpente Nagini tentava inutilmente abocanhar a moldura.

N/A: Nunca foi explicado se havia bruxos também em Askaban, mas acreditamos que haveria, embora os requisitos para trabalhar lá deviam incluir a capacidade de afugentar as criaturas e se proteger, por exemplo, usando patronos.


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Notas finais do capítulo

Bem, para todos os leitores que tem nos aguardado ansiosos, está ai o inicio de uma pequena jornada que esperamos ser do agrado de todos ou da maioria.Vale ressaltar que escrever qualquer coisa de HP é muito difícil, precisa ter algo em cada capítulo para os acontecimentos ficarem bons, tem capítulos que demoramos meses para fazer, outros saíram com uma semana, mas de toda forma foi difícil, espero no mínimo um comentário de agradecimento e também porque me da prazer ler o que a pessoa (você) achou dos capítulos, comentar não consome nem um mínimo e não mata. Eu mato.Próximo amanhã.