A Garota Errada escrita por N Lovett


Capítulo 1
Capítulo único




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Gwendolyn gritava, batendo na porta de ferro, tentando sair. Emma ria, amarrando no braço as fitas de seu vestido preto de seda, mexendo com os pés na chave.

— Emma, por favor! — Gwendolyn choramingou pela décima vez, o que apenas fez a outra rir mais.

— Gwen, querida, já era — ela chegou perto da porta e sorriu maliciosamente. — Você vai ficar presa aí até amanhã de manhã. Enquanto isso, o príncipe Elliot, seu príncipe Elliot, dançará comigo, será meu por toda noite, até que ele perceba que não sou você. Que, na verdade, sou muito melhor! Aí, querida irmãzinha... Seu reinado acabará antes mesmo de começar. Eu serei rainha, todos se curvarão para mim!

— Ninguém se curvará para você quando souberem o que fez! — A garota presa tentou berrar, mas só o que saíram foram palavras em meio a soluços desesperados e lágrimas amargas.

— Ninguém saberá! — Com essas palavras e uma risada diabólica, Emma afastou-se e colocou o que faltava para complementar sua fantasia de corvo: uma máscara preta como o resto de sua roupa, com alguns detalhes em dourado.

Olhou-se no espelho pela última vez e, sorrindo ao mesmo tempo triunfante e esperançosamente, saiu do closet, mas não sem se esquecer de trancá-lo para garantir que sua irmã não escapasse.

* * *

Emma sorriu pela milésima vez naquela noite, enquanto se afogava no oceano profundo que eram os olhos de Elliot. Tinha que morder o lábio toda vez que olhava para o príncipe, apenas para certificar-se de que não estava sonhando.

Ela sempre sonhara em ter o amor dele, desde que ela e Gwendolyn eram duas garotinhas que brincavam de serem rainhas, sem nem imaginar que algum dia aquilo poderia ao menos chegar perto de acontecer.

Eis que o príncipe resolveu dar um baile para comemorar seu vigésimo primeiro aniversário, onde escolheria uma moça, a “garota certa”, em suas palavras, com quem casar-se. Foi aí que a viu. Gwendolyn, com seu vestido rosa claro, seus cabelos negros como a noite caindo em ondas às costas, seus olhos verdes e seu sorriso resplandecente.

Ela foi a escolhida. Ela era a garota pela qual Elliot procurava. A “garota certa”. Foi ela quem recebeu um beijo na mão, foi ela quem pôde tocar no príncipe, foi ela quem pôde dançar com ele e teve toda sua atenção durante todo o baile.

Enquanto isso, Emma, com seu vestido vermelho escuro, olhos da mesma cor dos da irmã e cabelos também pretos presos num coque propositalmente malfeito, ficou apenas olhando, com um olhar triste na face.

Todos que a conheciam diziam que ela só desejava estar no lugar da irmã para um dia se tornar rainha, mas, na verdade, ela era perdidamente apaixonada por Elliot.

Agora, finalmente estava realizando o sonho de ser a garota do príncipe, a que bailou com ele por todo o salão, recebeu toda sua atenção e teve sua mão beijada antes da dança.

— Ah, Elliot, estou tão feliz de estar aqui com você... — ela suspirou.

— Também adoro ficar com você, Gwen — o príncipe sorriu e a rodopiou.

Emma sentiu uma pontada no coração ao ouvir o nome da irmã saído da boca de Elliot. Ela não gostava de ser lembrada constantemente de que não deveria estar ali. Mas um pensamento a contentava — o pensamento de que, em breve, o rapaz se apaixonaria por ela e esqueceria Gwendolyn por completo.

— Preciso te mostrar uma coisa – Elliot pegou a mão dela e a guiou por entre as pessoas que dançavam ou apenas observavam, indo em direção a uma porta lateral.

Saíram do salão e viram-se num saguão ao ar livre que tinha pelo menos a metade do tamanho do outro cômodo. Emma não teve tempo de observá-lo, pois continuou sendo guiada até a porta deste, para logo dar de cara com uma floresta cujas árvores tinham folhas que pareciam negras à luz da lua.

Elliot se dirigiu para entre elas, por uma trilha quase oculta que ele nunca teria encontrado se não soubesse onde ficava. O caminho era estreito e tão fechado que nem a luz do sol penetraria por entre as copas das árvores.

Por fim, a floresta foi se abrindo até que eles chegaram à parte lateral, onde não havia mais árvores. Algumas pedras grandes estavam ali, bloqueando a beira de um penhasco.

— Sente-se, Gwen — Elliot sentou em uma das pedras e fez um sinal para que Emma fizesse o mesmo.

— O que foi? — ela perguntou, sentando-se na beirada de uma pedra ao lado da dele.

— Eu tenho uma coisa muito importante para lhe contar... — ele mordeu o lábio inferior.

— Fala logo!

— Tudo bem... Há algum tempo, quando eu tinha 16 anos, eu namorei uma garota. Seu nome era Stephanie, e ela tinha os olhos e cabelos mais claros que eu já vi. Ela era encantadora, eu não conseguia parar de pensar nela por um segundo sequer.

“Um dia, estávamos andando por esta mesma floresta e decidimos fazer um piquenique neste local onde estamos. No caminho, eu vi um corvo machucado e decidi ajudá-lo — enrolei-o no meu casaco e levei-o comigo. Stephanie era extremamente fútil e, quando me viu segurando o corvo no casaco, começou a gritar que não acreditava que eu estava usando o casaco para ajudar um ‘animal insignificante’ e não para ela sentar, que eu não a amava mais, essas coisas. Tentei explicar-lhe o que aconteceu, mas ela se revelou uma bruxa e me rogou uma maldição: todas as noites, da meia-noite ao amanhecer, eu me transformo num corvo. Eu só posso ser salvo pelo beijo de uma garota, a garota certa. Ela tem que me beijar enquanto eu estiver em forma de corvo. Mas é apenas essa garota quem pode me salvar. Se eu beijar a errada... Bem, eu não sei o que acontece, mas não gostaria de descobrir.”

Emma sentiu uma mão gélida apertar seu coração ao ouvir essas palavras.

— E... Você acha que eu sou a garota certa? — ela perguntou, engolindo em seco.

— Não. Eu tenho certeza — Elliot sorriu. — Falta um minuto para a meia-noite — ele abraçou-a e ficou observando as estrelas enquanto ela refletia sobre o que acabara de ouvir.

Ela poderia revelar a verdade e talvez salvar a vida de Elliot, mas isso implicaria em assisti-lo casado com a irmã para sempre. Mas, por outro lado, se ele não notou a diferença entre ela e Gwendolyn, Emma poderia muito bem ser a garota certa, não a irmã.

Emma percebeu que o corpo do príncipe estava ficando mais iluminado e afastou-se para deixá-lo se transformar. Não quis olhar enquanto acontecia.

Notou então um clarão súbito que, tão rápido como surgira, desapareceu. Virou-se para dar de cara com um pequeno corvo negro que a encarava com os mesmos olhos azuis de Elliot.

Com uma pontada de medo, abaixou-se e estendeu o dedo para que ele se empoleirasse ali. Suas mãos tremiam quando ela levou a mão para perto do rosto e encostou os lábios no bico da ave.

Houve outro clarão. Emma fechou os olhos para que a luz não a cegasse. Quando os abriu de novo, não viu mais Elliot em sua mão. Olhou para baixo e encontrou-o em sua forma humana, jogado no chão, o sofrimento estampado em seu rosto.

— Elliot — disse Emma com a voz embargada, abaixando-se e colocando o rosto perto do dele.

— Quem... é... você? — ele falou com esforço, para logo depois a garota ver a vida deixando seus olhos.

— O que eu fiz? — ela perguntou a si mesma com as lágrimas rolando por sua face e seu coração sendo lentamente estraçalhado dentro de seu peito.

Decidiu que não viveria assim. Não sabendo que matara o amor de sua vida. Pegou o corpo de Elliot com esforço, pois suas mãos tremiam, e subiu nas pedras carregando-o. Emma respirou e, abraçando o cadáver do príncipe com força, deixou-se cair no abismo.


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Notas finais do capítulo

:D



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