O espelho refletia a figura pálida e distorcida da garota, os cabelos negros resplandeciam contra a luz forte da lâmpada. As duas mãos pálidas de unhas curtas e descuidadas estavam uma contra a outra, os dedos entrelaçados e apertando-se com uma força desnecessária.

Mordeu o lábio inferior, analisando sua imagem no espelho. Os cabelos negros eram curtos e desregulares, sem brilho, sem identidade. Os olhos eram de uma cor de lama morta e sem brilho, os cílios não eram tão longos quando ela gostaria, os olhos pareciam pequenos demais em seu rosto.

Forçou um sorriso, mas este era distorcido e oscilante, os músculos de seu rosto não conseguiam mantê-lo por muito tempo. Era um sorriso feio, sujo e triste. Ao menos algum sentimento podia ser visto, pois seus olhos castanhos não transpareciam emoção alguma, eram vazios como aquele céu.

Desceu o olhar pelo corpo, era magro demais, pequeno demais, como o corpo de uma boneca. A pele era demasiadamente pálida, era bela em seu conceito, mas não contrastava com sua imagem rígida e medíocre. Os joelhos eram ossudos e finos demais, os pés eram muito pequenos.

Aquela figura imperfeita e quebrada provocava-lhe ânsias de vômito. Chegara ao ponto de não conseguir mais encarar a si mesma sem sentir aquele ardor estranho em seu peito que a fazia perder o fôlego, ou sem sentir as lágrimas fluírem de seus tão imperfeitos e vazios olhos castanhos.

Empurrou o espelho com força, observando enquanto ele rasgava o ar até cair contra o chão, a superfície lisa que antes refletia sua imagem agora se espalhava pelo chão do quarto em inúmeros pedaços pequenos e cortantes. Um destes acertou seu pé desprotegido, rasgando a carne.

Gritou com a dor, a voz estridente e desagradável. Deu alguns passos para trás até atingir a cama com as pernas, deixando-se cair sobre os lençóis ásperos. Levantou o pé, observando o sangue fluir do corte e macular o branco do lençol. Apertou o corte com força, soltando grunhidos com a dor forte.

Mordeu os lábios para evitar um novo grito, não que alguém fosse se importar já que não havia ninguém em casa, apenas não queria dar ao inconsciente a satisfação de gritar de dor quando estava tão dolorida com suas próprias desilusões. Odiava Yasuhiro Taeko a tal ponto.

---

Finalmente encontrou algo em que conseguia ser verdadeiramente boa ao ponto em que ninguém podia vencê-la, embora tenha levado muito tempo até que chegasse a esse ponto. Muito tempo e muito dinheiro. Achou que fosse perder o pouco que tinha antes de conseguir algum ganho com isso.

Foi então que as coisas começaram a mudar e ela começou a ganhar. E ganhar. E ganhar. E ganhar. Ninguém podia vencê-la. E todos queriam desafiá-la, queriam sentir com os próprios bolsos o que era jogar contra uma menininha quebrada, o que era perder para Yasuhiro Taeko.

Um novo jogador estava na cidade e ele havia se interessado pelos rumores da garota que não perdia nenhum jogo. E estava disposto a pagar caro para ver o quão boa ela era. Taeko havia finalmente encontrado um pouco de felicidade em sua vida curta e infrutífera.

Ela o venceu.

Ela realmente o venceu.

- Compre um belo vestido para você. - O homem não ficou irritado, apenas lhe sorriu com seus dentes brancos perfeitamente alinhados e acariciou sua cabeça, como se fossem velhos amigos.

Foi o que ela fez. Comprou um vestido. Comprou então maquiagem, sapatos novos, uma pessoa nova. Yasuhiro Taeko não combinava com coisas belas e delicadas. Aquele nome também não combinava com essa nova pessoa que surgia.

Um dia, em um livro que havia encontrado por acaso na biblioteca, ela lera sobre uma dama em um castelo antigo e glorioso, cercada por servos de beleza indescritível. Por fim ela percebera que aquela princesa sempre esteve adormecida nela.

Seu nome era Celestia.