Como Se Livrar De Uma Vampira Apaixonada escrita por Rafa


Capítulo 2
Capítulo 2




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— Verdade, Rachel? – perguntou mamãe, demonstrando surpresa. Foi minha vez de empurrar Mindy pra fora do caminho. Entrei e bati a porta, deixando minha amiga do lado de fora. Mindy acenou, gargalhando, enquanto mamãe e eu nos afastávamos da calçada.

— Um namorado Rachel? No primeiro dia de aula?

Ela não é minha namorada – resmunguei, prendendo o cinto de segurança. - É uma aluna esquisita de intercâmbio que andou me seguindo.

— Rachel, tenho certeza de que você está exagerando. Os adolescentes costumam ser socialmente desajeitados. Na certa você está interpretando mal um comportamento inocente.

Como todos os antropólogos, mamãe acreditava que sabia tudo sobre as interações sociais humanas. Ela sabia que eu era uma garota que gostava de viver sem qualquer tipo restrições ou distinções, por isso não surtou quando falei ela ao invés de ele.

— Você diz isso porque não viu a garota hoje cedo no ponto de ônibus – argumentei – ela estava parada com um sobretudo preto enorme... E aí meu dedo sangrou e ela lambeu a boca...

Quando falei isso minha mãe pisou no freio com tanta força que minha cabeça quase bateu no painel. Um carro atrás de nós buzinou furioso.

— Mãe! Qual é o problema?

— Desculpe Rachel – disse ela, parecendo meio pálida. E acelerou de novo. – Foi só uma coisa que você disse sobre ter se cortado.

— Eu cortei o dedo e ela praticamente ficou babando, como se fosse uma batata frita coberta de ketchup. – Estremeci. – Foi asqueroso.

Mamãe ficou mais pálida ainda e eu senti que lá vinha bomba.

— Quem... Quem é essa garota? – perguntou ela quando paramos num sinal de trânsito perto da Faculdade Grantley, onde minha mãe dava aula.

— Qual é o nome dela?

Percebi que ela estava se esforçando muito para parecer despreocupada e isso me deixou mais nervosa ainda.

— O nome dela é... – Mas antes que eu pudesse dizer “Quinn”, eu a vi. Estava sentada no muro baixo que rodeava o campus. E estava me olhando. De novo. Minha testa começou a suar. Mas dessa vez eu fiquei injuriada. Agora chega.— Olha ela ali! – gritei, apontando com o dedo. – Está me encarando de novo! – Não era um comportamento “socialmente desajeitado”. Era perseguição.— Quero que ela me deixe em paz!

Então minha mãe fez algo inesperado. Parou o carro junto ao meio-fio, bem onde Quinn estava.

— Qual o nome dela Rach? – perguntou ela de novo enquanto soltava o cinto de segurança. Achei que minha mãe iria confrontá-la, por isso segurei seu braço.

— Não, mamãe. Ela é... Tipo... Desequilibrada, sei lá. Mas minha mãe soltou meus dedos com delicadeza.

— O nome dela, Rach.

— Quinn. Quinn Fabray.

— Ah, minha nossa! – murmurou minha mãe, olhando para minha perseguidora. – Acho que isso era mesmo inevitável. – Ela estava com o olhar esquisito, distante.

— Mamãe? O que era inevitável?

— Espere aqui – disse ela, ainda sem me olhar. - Não se mexa. – Minha mãe parecia tão séria que nem protestei. Sem dizer mais nada, ela saiu da Kombi e foi em direção a garota assustadora que havia me seguido o dia todo. Será que a mamãe tinha enlouquecido? Será que ela tentaria fugir? Será que iria surtar de vez e machucá-la? Mas não. Ela escorregou graciosamente do muro e fez uma reverência para minha mãe, uma reverência de verdade, dobrando a cintura. Que negócio é esse?

Baixei o vidro, mas elas falavam tão baixo que não consegui escutar nada. A conversa pareceu durar séculos. E então minha mãe apertou a mão dela.

Quinn Fabray se virou para ir embora, mamãe voltou a Kombi e deu a partida.

— O que foi aquilo? – perguntei, chocada.

Minha mãe me olhou bem nos olhos e disse:

— Você, seu pai e eu precisamos conversar. Hoje à noite.

— Sobre o quê? – exigi saber, com um frio na barriga. Uma sensação ruim. – Você conhece aquela garota?

— Vamos explicar mais tarde. Temos muita coisa pra lhe contar. E precisamos fazer isso antes que Quinn chegue para o jantar.

Meu queixo ainda estava no chão quando mamãe deu um tapinha na minha mão e voltou a dirigir.

Acabou que meus pais nem tiveram chance de me explicar qualquer coisa. Quando chegamos em casa, meu pai estava no meio de sua aula de ioga tântrica para hippies exageradamente sexuados e exageradamente ultrapassados no salão que ficava atrás da casa. Por isso minha mãe mandou que eu fizesse minhas tarefas.

E aí Quinn chegou cedo para o jantar.

Eu estava no estábulo limpando as baias quando vi de relance uma sombra entrar pela porta.

— Quem tá aí? – gritei assustada, ainda com os nervos a flor da pele por conta dos acontecimentos do dia.

Quando não houve resposta, tive a sensação ruim de que deveria ser a nossa convidada para o jantar. Lembrei que mamãe convidara a aluna de intercâmbio quando ela atravessou a empoeirada arena de equitação. Ela não pode ser tão perigosa.

Ignorando o aval de mamãe, continuei segurando o forcado com firmeza.

— O que está fazendo aqui? – indaguei enquanto ela se aproximava.

— Olhe os bons modos – reclamou Quinn com seu sotaque metido a besta, levantando pequenos tufos de poeira a cada passada longa. Chegou perto de mim e outra vez fiquei espantada com sua postura tão segura. – uma dama não se exalta no meio de um estábulo – continuou ela. – e que espécie de saudação foi essa?

A garota que me perseguiu o dia todo está dando aula de etiqueta para mim?

— Perguntei por que você está aqui – repeti, apertando o forcado com um pouco mais de força.

— Para conhecer você, é óbvio – respondeu ela, enquanto parecia me avaliar, andando em volta de mim, olhando minhas roupas. Girei, tentando mantê-la em meu campo de visão, e a peguei franzindo o nariz. – Sem dúvida você também está ansiosa pra me conhecer.

Não mesmo... Eu não fazia ideia do que ela falava, mas me medir da cabeça aos pés não era nada legal.

— Por que está me olhando desse jeito?

Ela parou de me rondar.

— Você está limpando as baias? Isso aí nos seus sapatos são fezes?

— São – respondi confusa com seu tom de voz. Por que ela se importa com o que tem nos meus sapatos? – Eu limpo as baias todas as noites.

— Você? – perguntou ela, parecendo horrorizada e perplexa.

— Alguém tem que fazer o serviço.

Por que essa garota acha que isso é da conta dela?

— No lugar de onde venho temos pessoas pra fazer isso. Criados. – Ela fungou. – Uma dama da sua magnitude nunca deveria fazer uma tarefa inferior. É ofensivo.

Quando ela disse isso, meus dedos apertaram o forcado outra vez e não foi por medo. Quinn Fabray não estava só me apavorando – estava me deixando possessa.

— Olha, já estou de saco cheio de você ficar atrás de mim e dessa sua pose – esbravejei. – Quem você pensa que é? E por que está me perseguindo?

A raiva e a incredulidade brilharam nos olhos verdes de Quinn.

— Sua mãe ainda não contou, não é? – Ela balançou a cabeça. – A Dra. Corcoran prometeu que lhe explicaria tudo. Seus pais não são muito bons em cumprir promessas.

— A gente... A gente ia conversar mais tarde – gaguejei, com o ultraje enfraquecendo um pouco diante de sua raiva óbvia. – Papai está dando aula de ioga...

— Ioga? – Quinn deu uma risadinha desagradável. – Contorcer o corpo numa série de configurações ridículas é mais importante do que informar a filha sobre o pacto? E que tipo de homem pratica um passatempo tão pacifista? Os homens deveriam treinar para guerra, não perder tempo entoando “om” e pregando a paz interior.

Hein?

— Pacto? Que pacto?

Quinn observava as traves do teto do estábulo, andando de um lado para o outro, as mãos cruzadas às costas, e murmurava:

— Isso não está certo. Não tá nem um pouco certo. Eu disse aos Anciões que você deveria ter sido convocada de volta à Romênia há anos, que nunca seria uma noiva adequada...

Epa, espera aí.

— Noiva?

Quinn fez uma pausa e girou nos calcanhares para me encarar.

— Estou cansada da sua ignorância. – Ela chegou mais perto de mim inclinando-se. – Como seus pais se recusam a informa-la, eu mesma darei a notícia. E vou fazer isso do modo mais simples. – Ela apontou para o próprio peito e anunciou como se falasse com uma criança: - eu sou uma vampira. – e apontou para o meu peito. – Você é uma vampira. E vamos nos casar assim que você alcançar a maioridade. Isso foi decretado desde o nosso nascimento.

Não cheguei a processar a parte do “vamos nos casar”, muito menos o lance do “decretado”. Eu já tinha me perdido na parte da “vampira”.

Pirada, Quinn Fabray é completamente pirada. E estou sozinha com ela num estábulo.

Por isso fiz o que qualquer pessoa sensata faria. Cravei o forcado no pé dela e corri feito louca pra casa, ignorando seu grito de dor.


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Notas finais do capítulo

Estou quase terminando o terceiro, se der e somente se der, eu posto o terceiro ainda hoje.



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